PAQUERADOR
Talvez por ter nascido pobre – embora eu pense que seja mais devido à maneira como escolhi viver do que outra coisa –, no que concerne às mulheres, eu sempre fui um paquerador.
Sempre vivi balançando entre o olhar penetrante do...s meus olhos e as palavras cortantes que a minha lábia soltava nas tardes e noites em que me encontrasse inspirado ou arrebatado por alguma beldade.
Em boa verdade, não éra preciso muito para que eu me pusesse a paquerar uma mulher. Um bom rabo, por vezes, éra motivo suficiente. Noutras vezes, seios picantes, daqueles seios cheios e tesos que apontavam para o homem como se estivessem suspirando um “Me chupa, me morde”, me impeliam a paquerar uma mulher. E teve vezes em que pulei para a paquera somente pelo desafio de paquerar.
De paquera em paquera, fiz o meu nome de paquerador que hoje carrego com orgulho.
No meu currículo paqueral, ao longo de 13 anos de carreira, paquerei acima de 300 mulheres. E só conquistei 2. Foram estas duas – junto com as mulheres que embebedei mais aquelas de que me aproveitei e também as prostitutas que paguei – que me ensinaram e fizeram tudo que sei sobre sexo, em todas as posições e condições.
Ainda assim, das maiores paqueras que foram ditas neste Maputo, algumas foram da minha autoria. Se se fizesse um Top 10 das Maiores Paqueras Maputenses, eu teria umas 3 paqueras na lista. Para paquerar mulheres sempre fui criativo.
Lamentavelmente, a criatividade na paquera quase que nunca compensou neste Maputo. Eu apresentava grandes paqueras, e as mulheres me golpeavam. Mudava para uma paquera superinspirada, e as mulheres me golpeavam. Tentava uma paquera ainda mais arrojada, e as mulheres, à mesma, me golpeavam.
Enquanto crescia, tendo uma boca rasgada, não éra fácil, impor-me no mercado feminino. As meninas eram cruéis demais para comigo. E eu éra tímido e reprimido. Praticamente não me aproximava delas.
Na transição da adolescência para a juventude é que comecei a paquerar. Porém, as meninas, tornadas mocinhas, continuavam cruéis. Elas não me poupavam: partiam-me todos os dias! Mas eu não desistia: quando éra rejeitado por uma, logo seguia para paquerar outra.
Mesmo tendo uma boca rasgada, nunca me fiz de vítima. Nunca parei para chorar por isso. Nunca culpei ao defeito da minha boca pelo meu insucesso feminino. E nunca me acovardei ao ponto de paquerar as mais feias ou desajeitadas ou rejeitadas, por aí ser um campo onde mais facilmente pudesse ter sucesso. Nunca!
Eu sempre queria as melhores mulheres. Ia paquerar as melhores mulheres. E eram essas que, invariavelmente, davam-me golpes muito duros. Eu encaixava os golpes com dignidade, e partia para outra paquera.
Éra o tipo de homem que, de manhã, podia estar apaixonado por uma mulher, para, de tarde, estar a amar outra e, de noite, estar quase a suicidar-se por conta de uma terceira. Sempre encarei as paqueras com seriedade e diversão.
Claro, entretanto, nem sempre foi divertido. Teve vezes tristes. E foram duas apenas. As mulheres golpeavam-me e eu mantinha-me em pé, todavia, nessas duas vezes, fui realmente ao tapete. KO! Knock-Out! E arrastaram-me pelos pés para fora do ringue, eu desmaiado.
Na primeira vez, ainda adolescente, uma menina disse-me, no meio de uma multidão, que mesmo que eu fosse o último homem do planeta ela não me aceitaria. E a multidão fez a festa às minhas custas: eu ali, caído, eles, animadamente, tripudiando de mim.
Na segunda vez, na escola de uma miúda, foi a humilhação total. A miúda, junto com as amigas, fazendo a roda, petiscando e bebendo a mim, eu ali, como um parvo, assistindo até aos homens a ridicularizarem-me. Foi mesmo uma grande humilhação. E foi também a partir daí que decidi não mais ir à escola de uma mulher.
Entretanto, até mesmo nestas vezes tenebrosas, passados alguns dias, levantei-me, sacudi a poeira, e voltei a paquerar.
Os paqueradores aqui de Maputo sempre tiveram algo a que chamavam de “papo”. O papo éra a conversa que se dizia a uma mulher, o convencimento que se impunha a uma dama para que ela aceitasse ao paquerador e, finalmente, se deixasse conquistar.
No papo, eu sempre fui bom. Bom mesmo. Não foi pelo papo que as mulheres me rejeitaram, foi por um outro motivo – motivo esse que não me interessa conhecer, afinal, eu sou um paquerador e os paqueradores preocupam-se com o papo somente e nada mais.
E só podia ser bom de papo. Eu acompanhei a evolução do papo em Maputo e aprendi do mesmo. Eu vi, ainda menino, um velho aqui do meu bairro a dizer a uma outra velha que “Loku niku vona a muzimba va mina vo hisa” (“Quando eu te vejo, o meu corpo aquece”). Acompanhei a “Geração Romântica” em acção, aqueles que decoravam as letras de Leandro e Leonardo, as adaptavam, e as diziam, em jeito de papo, às mulheres (“Não me olha assim, dama. Tu és linda demais e tens tudo o que eu preciso em uma mulher”). E comecei a paquerar na “Geração Directa”, aquela que já dizia directamente à mulher que “Dama, tu tens um bom rabo!”.
Todas as influências destas 3 gerações de paqueradores maputenses passaram para mim e enraizaram-se. Eu cresci com as mesmas.
Hoje em dia, praticamente, já não há paqueradores em Maputo. Os homens de agora optam pela estratégia prática de seguirem as mulheres enquanto conduzem um carro e/ou as levarem a sair para um lugar caro e… toma que te dou!
As mulheres também já não apresentam muita dificuldade. Já não deixam os homens de molho nem fazem aquele charminho da demora para dar uma resposta.
Ah, como éra gostoso ir buscar uma resposta! Embora eu quase sempre fosse buscar respostas perturbadoras, ainda assim, aquela ansiedade, aquele friozinho na barriga, o nervo miúdo, a expectativa de ser aceite, e o olhar e fala da mulher quando fosse anunciar o veredicto final ao réu paquerador… oh, éra tudo lindo quando não conseguisse ser mágico! No tempo em que as mulheres eram princesas! Claro, hoje as mulheres ainda são princesas, mas, cada vez mais, vão parecendo princesas que vêm da Transilvânia, terra do Conde Drácula…
Em pura verdade, foram as mulheres que contribuíram para o declínio da paquera e, por conseguinte, do paquerador. Quando deixaram de ser difíceis, as mulheres lixaram o esquema. Afinal de contas, o trabalho do paquerador sempre foi convencer a mulher mais difícil a aceitar-lhe. Fora de que, como escrevi acima, a arma do paquerador éra o papo, portanto, como é que iria ele lutar contra o carro e contra as saídas?
As mulheres, ao darem primazia ao carro e às saídas na corrida – em resumo, aos bens materiais – para sua conquista, mataram a paquera. Sem a paquera, o que restou foi esta falta de humanidade, falta de sentimentos, falta de sonhos, falta de decisão que guia a geração actual. E, deste modo, as mulheres, decididamente, contribuíram para o amor pelo fácil que está enraizado nos homens maputenses.
Hoje estão todos a conquistar as mulheres sem sequer passar pela paquera. Um homem que tenha carro ou dinheiro tem tantas mulheres consigo e/ou atrás de si. Só descobre que ele não vale nada quando perde o carro e/ou o dinheiro, pois, todas as mulheres também se vão.
Entretanto, como diriam alguns homens, o fim da paquera é mesmo a conquista, pois não? Então, porquê perder tempo com a paquera ao invés de se ir directo ao ponto – que é conquistar a mulher, não importando os meios?
Bom, para um paquerador, o meio para conquistar uma mulher é só um: a paquera, a lábia, a conversa, a sedução, a cabeça funcionando simplesmente, sem truques materiais. Isto é algo antiquado? Que seja! Todavia, ser paquerador é ser mesmo isto.
É por isso que digo que eu sou o herdeiro dos paqueradores do passado. E o último grande paquerador anónimo de Maputo.
Com os homens actuais preocupados apenas com a conquista, eu vou mantendo a paquera viva, acima de tudo, com dignidade. Após mim, será o dilúvio para a paquera…See more
Talvez por ter nascido pobre – embora eu pense que seja mais devido à maneira como escolhi viver do que outra coisa –, no que concerne às mulheres, eu sempre fui um paquerador.
Sempre vivi balançando entre o olhar penetrante do...s meus olhos e as palavras cortantes que a minha lábia soltava nas tardes e noites em que me encontrasse inspirado ou arrebatado por alguma beldade.
Em boa verdade, não éra preciso muito para que eu me pusesse a paquerar uma mulher. Um bom rabo, por vezes, éra motivo suficiente. Noutras vezes, seios picantes, daqueles seios cheios e tesos que apontavam para o homem como se estivessem suspirando um “Me chupa, me morde”, me impeliam a paquerar uma mulher. E teve vezes em que pulei para a paquera somente pelo desafio de paquerar.
De paquera em paquera, fiz o meu nome de paquerador que hoje carrego com orgulho.
No meu currículo paqueral, ao longo de 13 anos de carreira, paquerei acima de 300 mulheres. E só conquistei 2. Foram estas duas – junto com as mulheres que embebedei mais aquelas de que me aproveitei e também as prostitutas que paguei – que me ensinaram e fizeram tudo que sei sobre sexo, em todas as posições e condições.
Ainda assim, das maiores paqueras que foram ditas neste Maputo, algumas foram da minha autoria. Se se fizesse um Top 10 das Maiores Paqueras Maputenses, eu teria umas 3 paqueras na lista. Para paquerar mulheres sempre fui criativo.
Lamentavelmente, a criatividade na paquera quase que nunca compensou neste Maputo. Eu apresentava grandes paqueras, e as mulheres me golpeavam. Mudava para uma paquera superinspirada, e as mulheres me golpeavam. Tentava uma paquera ainda mais arrojada, e as mulheres, à mesma, me golpeavam.
Enquanto crescia, tendo uma boca rasgada, não éra fácil, impor-me no mercado feminino. As meninas eram cruéis demais para comigo. E eu éra tímido e reprimido. Praticamente não me aproximava delas.
Na transição da adolescência para a juventude é que comecei a paquerar. Porém, as meninas, tornadas mocinhas, continuavam cruéis. Elas não me poupavam: partiam-me todos os dias! Mas eu não desistia: quando éra rejeitado por uma, logo seguia para paquerar outra.
Mesmo tendo uma boca rasgada, nunca me fiz de vítima. Nunca parei para chorar por isso. Nunca culpei ao defeito da minha boca pelo meu insucesso feminino. E nunca me acovardei ao ponto de paquerar as mais feias ou desajeitadas ou rejeitadas, por aí ser um campo onde mais facilmente pudesse ter sucesso. Nunca!
Eu sempre queria as melhores mulheres. Ia paquerar as melhores mulheres. E eram essas que, invariavelmente, davam-me golpes muito duros. Eu encaixava os golpes com dignidade, e partia para outra paquera.
Éra o tipo de homem que, de manhã, podia estar apaixonado por uma mulher, para, de tarde, estar a amar outra e, de noite, estar quase a suicidar-se por conta de uma terceira. Sempre encarei as paqueras com seriedade e diversão.
Claro, entretanto, nem sempre foi divertido. Teve vezes tristes. E foram duas apenas. As mulheres golpeavam-me e eu mantinha-me em pé, todavia, nessas duas vezes, fui realmente ao tapete. KO! Knock-Out! E arrastaram-me pelos pés para fora do ringue, eu desmaiado.
Na primeira vez, ainda adolescente, uma menina disse-me, no meio de uma multidão, que mesmo que eu fosse o último homem do planeta ela não me aceitaria. E a multidão fez a festa às minhas custas: eu ali, caído, eles, animadamente, tripudiando de mim.
Na segunda vez, na escola de uma miúda, foi a humilhação total. A miúda, junto com as amigas, fazendo a roda, petiscando e bebendo a mim, eu ali, como um parvo, assistindo até aos homens a ridicularizarem-me. Foi mesmo uma grande humilhação. E foi também a partir daí que decidi não mais ir à escola de uma mulher.
Entretanto, até mesmo nestas vezes tenebrosas, passados alguns dias, levantei-me, sacudi a poeira, e voltei a paquerar.
Os paqueradores aqui de Maputo sempre tiveram algo a que chamavam de “papo”. O papo éra a conversa que se dizia a uma mulher, o convencimento que se impunha a uma dama para que ela aceitasse ao paquerador e, finalmente, se deixasse conquistar.
No papo, eu sempre fui bom. Bom mesmo. Não foi pelo papo que as mulheres me rejeitaram, foi por um outro motivo – motivo esse que não me interessa conhecer, afinal, eu sou um paquerador e os paqueradores preocupam-se com o papo somente e nada mais.
E só podia ser bom de papo. Eu acompanhei a evolução do papo em Maputo e aprendi do mesmo. Eu vi, ainda menino, um velho aqui do meu bairro a dizer a uma outra velha que “Loku niku vona a muzimba va mina vo hisa” (“Quando eu te vejo, o meu corpo aquece”). Acompanhei a “Geração Romântica” em acção, aqueles que decoravam as letras de Leandro e Leonardo, as adaptavam, e as diziam, em jeito de papo, às mulheres (“Não me olha assim, dama. Tu és linda demais e tens tudo o que eu preciso em uma mulher”). E comecei a paquerar na “Geração Directa”, aquela que já dizia directamente à mulher que “Dama, tu tens um bom rabo!”.
Todas as influências destas 3 gerações de paqueradores maputenses passaram para mim e enraizaram-se. Eu cresci com as mesmas.
Hoje em dia, praticamente, já não há paqueradores em Maputo. Os homens de agora optam pela estratégia prática de seguirem as mulheres enquanto conduzem um carro e/ou as levarem a sair para um lugar caro e… toma que te dou!
As mulheres também já não apresentam muita dificuldade. Já não deixam os homens de molho nem fazem aquele charminho da demora para dar uma resposta.
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As mulheres, ao darem primazia ao carro e às saídas na corrida – em resumo, aos bens materiais – para sua conquista, mataram a paquera. Sem a paquera, o que restou foi esta falta de humanidade, falta de sentimentos, falta de sonhos, falta de decisão que guia a geração actual. E, deste modo, as mulheres, decididamente, contribuíram para o amor pelo fácil que está enraizado nos homens maputenses.
Hoje estão todos a conquistar as mulheres sem sequer passar pela paquera. Um homem que tenha carro ou dinheiro tem tantas mulheres consigo e/ou atrás de si. Só descobre que ele não vale nada quando perde o carro e/ou o dinheiro, pois, todas as mulheres também se vão.
Entretanto, como diriam alguns homens, o fim da paquera é mesmo a conquista, pois não? Então, porquê perder tempo com a paquera ao invés de se ir directo ao ponto – que é conquistar a mulher, não importando os meios?
Bom, para um paquerador, o meio para conquistar uma mulher é só um: a paquera, a lábia, a conversa, a sedução, a cabeça funcionando simplesmente, sem truques materiais. Isto é algo antiquado? Que seja! Todavia, ser paquerador é ser mesmo isto.
É por isso que digo que eu sou o herdeiro dos paqueradores do passado. E o último grande paquerador anónimo de Maputo.
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