terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Bósnia e Herzegovina foi dividida sem testemunhas: Voz da Rússia

18.12.2012, 19:13, hora de Moscou
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stjepan mesic
© ΠΑΣΟΚ/flickr.com

O conhecido político e antigo presidente da Croácia Stjepan Mesic, entrevistado pela a emissora Voz da Rússia, fala dos acontecimentos marcantes da recente história da Iugoslávia e de seus encontros com Josip Broz Tito e Slobodan Milosevic.

Conheci Stjepan Mesic no início de 1992 quando cheguei à Croácia para filmar um documentário sobre os jornalistas russos desaparecidos Viktor Naguin e Guennadi Kurinnoi. Os dois correspondentes do telejornal Vremia tinham partido de Belgrado a 1 de setembro de 1991 e no dia seguinte desapareceram perto da cidade Kostajnica. Até hoje, não se conseguiu obter informações verídicas sobre aquele acidente dramático.
O filme sobre esta tragédia foi feito, mas os telespectadores não o viram: a direção de alguns canais televisivos russos, por motivos estranhos, não quis que o documentário fosse exibido. Apenas passado um ano, num programa de TV, foram exibidos fragmentos do meu filme, intitulado O Sacrifício pela Informação. Pode ser que tenha sido a partir desse momento que decidi dedicar mais tempo e atenção aos Balcãs.
Em 1992, graças ao apoio de Stjepan Mesic, que conheceu pessoalmente Viktor Noguin, acabamos por colher várias informações sobre os eventos trágicos ocorridos nos arredores de Kostajnica. Mais tarde, encontrei-me com ele em Moscou, Zagreb e outras capitais europeias. Hoje quero dar a conhecer aos leitores do site da Voz da Rússia as suas opiniões mais interessantes sobre políticos que ele conheceu ao longo da sua longa carreira.
Josip Broz Tito
“Tito era, antes de mais, um político sagaz. Estava ciente de que a Jugoslávia se assentava em três pilares: o carismático Tito, a União dos Comunistas da Jugoslávia e o Exército Popular Jugoslavo, encarregado de cumprir todas as ordens e indicações do Comitê Central do Partido Comunista.
Sendo um político sagaz, Tito conseguiu criar um sistema de direção coletiva do país. Tinha certeza absoluta de lhe poderem substituir, se necessário, algumas pessoas capazes de exercer, em conjunto, a direção do país e do partido. Era um meio específico de transformar a confederação jugoslava. Enquanto vivo Tito não se cansava de repetir de que após a sua morte tal sistema confederativo estaria em condições de garantir a vida normal do país. E na pior das hipóteses, após um eventual colapso, cada República poderia seguir a sua própria via de desenvolvimento independente. Diga-se de passagem que, em conformidade com a Constituição de 1974, as Repúblicas passaram a designar-se Estados.”
Slobodan Milosevic
“Falei com ele repetidas vezes durante reuniões oficiais e em encontros frente-a-frente. Foi então que uma vez eu lhe disse na cara: Slobodan, tu não és um lutador, não queres que a Jugoslávia seja salvaguardada ou modernizada”.
Franjo Tudman
“Conheço-o pessoalmente como político desde 1965 quando nós dois éramos deputados do Parlamento da Croácia. Mantivemos as relações de trabalho após 1965. Durante a Segunda Guerra, Franjo Tudman, juntamente com o pai dele e o irmão, participou na guerra de guerrilha. Trabalhávamos num círculo de pessoas de confiança, cientes de que iríamos lutar pela democracia com base em ideias antinazistas. E, nesse sentido, prestávamos apoio a Tudman. Pensávamos poder mantê-lo nos quadros do antinazismo e princípios democráticos. Por outro lado, as pessoas que inspiraram a Primavera Croata não confiavam nele, receando que fizesse declarações políticas inconvenientes e inesperadas. Foi isso que ele terá feito mais tarde. Tudman ficou cercado por emigrantes sem o devido conhecimento da situação política e da realidade vivida naquela altura. Foi isso que causou o nosso distanciamento, o qual redundou na cisão partidária. Depois de abandonarmos o partido, eu dizia que as superpotências não apoiariam a desintegração e a partilha da Bósnia. Pronunciamo-nos contra esta ideia e acabamos por mostrar um enfoque realista. A política de Tudman fracassou.”
Karadordevo
“Sugeri então que à mesa de conversações se sentassem Franjo Tudman, Stjepan Mesić, Borisav Jovic e Slobodan Milosevic. Vamos discutir todos os problemas e tentaremos resolvê-los por via pacífica, sem o emprego de armas, disse eu. Jovic concordou comigo. Acabamos por agendar mais uma reunião. Falei disso a Tudman, ele também aceitou tal formato das conversações em que participassem dois políticos sérvios e dois croatas. Ao mesmo tempo, Tudman recebeu um convite pessoal de Milosevic para um encontro a sós em Karadordevo.
Eles não queriam alargar o número de participantes, pois que não precisavam de testemunhas. Por isso, a Bósnia, por iniciativa de ambos, foi dividida sem testemunhas. Foi por causa disso que eu apresentei um pedido de demissão do posto de presidente do Parlamento da Croácia. Frisei que não queria participar nessa política. Se Milosevic se opusesse ao cenário de guerra, se Tudman se recusasse a alargar as fronteiras croatas à custa da Bósnia - foi isso mesmo que eu havia proposto - teríamos podido assinar um Tratado de Confederação transitório a vigorar por um período de 4-5 anos. Desse jeito, poderíamos seguir de perto o desenrolar dos acontecimentos: se a Confederação funcionasse, poderíamos coexistir neste formato. Se não, proclamávamos a independência e seguíamos a via própria. Tal teria sido a melhor solução do problema bosníaco. Infelizmente, a minha proposta foi declinada tanto em nível internacional, como nacional. Tudman queria que as fronteiras da Croácia fossem alteradas. Mas isso podia ser feito só por via militar, ou seja, por meio da guerra na Bósnia. Em resumo, Tudman esperava contar com o apoio político de Milosevic

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