Opinião
Se a União Europeia ceder um milímetro que seja à chantagem grega estará liquidada.
Será a sua sentença de morte.
Porquê?
Será a sua sentença de morte.
Porquê?
Por duas razões, uma de passado e outra de futuro, ambas evidentes:
1. Porque cobrirá de ridículo os governos 'bem comportados' que andaram a impor medidas de austeridade aos seus países. Os responsáveis desses governos (como Passos Coelho, Rajoy ou mesmo Hollande), terão andado a fazer figura de parvos;
2. Porque estimulará a ocorrência de fenómenos idênticos noutros Estados-membros.
De facto, ceder ao Syriza será convidar os espanhóis a votar no Podemos, os franceses a votar em Marine Le Pen, e por aí fora.
De facto, ceder ao Syriza será convidar os espanhóis a votar no Podemos, os franceses a votar em Marine Le Pen, e por aí fora.
Será dizer: votem nos partidos radicais e a vossa vida mudará como por encanto, pois reconquistarão tudo o que perderam com as medidas de austeridade.
Mais: será convidar os partidos socialistas europeus a radicalizarem-se.
Como, aliás, já se viu em Portugal, com António Costa a demarcar-se do PASOK (o histórico partido irmão do PS) e a endurecer o discurso anti-austeridade.
E outros partidos moderados farão o mesmo, indo à boleia dos radicais gregos.
Para evitar a propagação deste fenómeno, a União Europeia tem de cortar o mal pela raiz - e depressa.
Tem de tornar claro que o caminho não pode ser esse.
Tem de tornar claro que o caminho não pode ser esse.
É evidente que uma comunidade só pode sobreviver se cada país tiver um orçamento equilibrado - e não esperar viver à custa das dádivas dos outros.
A regra tem, pois, de ser o rigor - e era para aí que se caminhava nos últimos anos.
Os países cronicamente 'incumpridores' começavam a respeitar as suas obrigações.
Os Estados do Sul - Grécia, Chipre, Itália, Espanha, Portugal, França - e mesmo alguns mais a norte, como a Irlanda ou a Bélgica, que ano após ano tinham registado défices excessivos e acumulado dívidas incomportáveis, começavam a pôr as contas em ordem.
Apesar das movimentações de grupos extremistas, os governos tinham conseguido impor medidas de rigor, recuperando a credibilidade dos Estados e passando a financiar-se nos mercados a juros razoáveis.
Em Portugal, por exemplo, o défice público baixou de 11,2% em 2010 para 7,4% em 2011, 5,5% em 2012, 4,9% em 2013, 3,6% em 2014 (estimativa) e 2,7% em 2015 (previsão); e os juros desceram a mínimos históricos.
Em Portugal, por exemplo, o défice público baixou de 11,2% em 2010 para 7,4% em 2011, 5,5% em 2012, 4,9% em 2013, 3,6% em 2014 (estimativa) e 2,7% em 2015 (previsão); e os juros desceram a mínimos históricos.
Irlanda, Espanha e Itália também conseguiram controlar as contas, a França não descarrilou (apesar das ameaças de Hollande), e até a Grécia parecia ter encarrilado com Samaras.
Era esta a situação quando estalou a crise política que levou o Syriza ao poder.
E a revolução grega veio outra vez pôr tudo em causa.
Em vários países vemos a extrema-esquerda e a extrema-direita juntarem esforços para destruir a disciplina financeira que estava em marcha, voltando à estaca zero.
Ora isto tornará a União Europeia inviável.
Porque a Alemanha não aguentará muito tempo essa situação.
Mesmo que a senhora Merkel quisesse, os alemães não aceitarão indefinidamente pagar e calar.
Escrevia Sarsfield Cabral no último SOL: «As medidas anunciadas pelo BCE foram positivas e corajosas. Mas a violenta reacção que suscitaram na Alemanha leva a temer que este país ponha em causa manter-se a si próprio na Zona Euro. Sobre essas medidas, o Bild, jornal alemão de maior tiragem, publicou na 1.ª página em letras enormes: O que vai acontecer ao meu dinheiro?. Altos dirigentes da democracia-cristã mostraram o seu desagrado face às decisões anunciadas por Draghi. E o Tribunal Constitucional alemão poderá anular a participação financeira da Alemanha no programa de Draghi, tirando-lhe toda a força».
A saída da Grécia da Zona Euro preocupa muita gente - mas a saída da Alemanha deveria preocupar muito mais.
Se a Grécia sair, o euro poderá sobreviver; mas se a Alemanha sair, o euro morrerá.
Por todas as razões e porque deixará de haver quem esteja disposto a pagar as facturas dos outros.
Mesmo em Portugal já se ouve muita gente dizer que não quererá arcar com os prejuízos de um perdão da dívida grega.
Mesmo em Portugal já se ouve muita gente dizer que não quererá arcar com os prejuízos de um perdão da dívida grega.
Assim, se os alemães disserem adeus à moeda única, esta ficará ferida de morte - e atrás dela acabará a União Europeia.
Ora o fim da União Europeia será, nos tempos que correm, um acontecimento perigosíssimo.
Porque mudará os equilíbrios mundiais numa altura em que renasce o imperialismo russo (patente no ataque à Ucrânia), se multiplica o terrorismo islâmico e se acelera a invasão económica (silenciosa) por parte da China.
Porque mudará os equilíbrios mundiais numa altura em que renasce o imperialismo russo (patente no ataque à Ucrânia), se multiplica o terrorismo islâmico e se acelera a invasão económica (silenciosa) por parte da China.
Para resistir a estas ameaças, a Europa precisaria de estar unida.
Mas isso só acontecerá se os governos cumpridores rejeitarem com vigor a ameaça grega.
Caso contrário, a mancha dos partidos extremistas alastrará: anarquistas, comunistas pró-russos, fascistas, nacionalistas antieuropeus, radicais de esquerda e de direita começarão a ganhar eleições na Europa e será impossível controlar a situação.
Caso contrário, a mancha dos partidos extremistas alastrará: anarquistas, comunistas pró-russos, fascistas, nacionalistas antieuropeus, radicais de esquerda e de direita começarão a ganhar eleições na Europa e será impossível controlar a situação.
O Podemos em Espanha, a Front National em França, o UKIP em Inglaterra cantarão vitória e aí já não haverá nada a fazer.
Claro que esta amálgama de gente não conseguirá, depois, pôr de pé nenhuma nova ordem política na Europa - mas, qual Cavalo de Troia, pode destruir a actual ordem existente.
Vladimir Putin estará agora a esfregar as mãos de contente - preparando-se para estimular e apoiar (se é que já não o está a fazer) estes movimentos radicais.
Vladimir Putin estará agora a esfregar as mãos de contente - preparando-se para estimular e apoiar (se é que já não o está a fazer) estes movimentos radicais.
jas@sol.pt
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