Reflexão de: Adelino Buque
APaz não tem sido fácil para a “Perola do Indico”. Na minha geração, como pessoa, apenas conheci a paz entre os 0 aos 16 anos. Digo eu porque em algumas partes de Moçambique já se sofria com a luta de libertação nacional onde, de forma indiscriminada, o colono perpetrava o sofrimento aos negros de uma forma geral e, de nacionalistas moçambicanos em particular.
Desta idade e até aos 32 anos, vivi momentos de verdadeiro terror, as reportagens que nos chegavam nos aglomerados populacionais eram graves, mortes por tudo quanto é sítio, felizmente, 1992 voltamos a respirar de alívio com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em Roma Itália. Foi um momento de verdadeiro alívio, como que devolvendo a esperança de vida a todo um Povo. De 1994 a 2009, sucederam-se eleições que, regra geral, a oposição as contestou.
Em 2012, a Paz conseguida em Roma viria a estremecer de novo, entre as conversas no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano (CICJC) e tiros na Nº1. Duas linguagens diametralmente opostas, se considerar que são mesmos actores políticos que estão em um e outro canto do território nacional, Governo e Partido Renamo, no CICJC, conversam em ar condicionado equipes sob comando de José Pacheco, do Governo e Saimone Macuiane, da Renamo, na nº 1 a linguagem dos tiros se desenvolve entre Graça Chongo e Afonso Dhlakama, há quem diga que Dhlakama saiu-se a contento, pode ser, em Paris, entre 88 mil soldados e Polícias contra quatro jovens terroristas, quem se saiu bem! Aqui a resposta não é líquida.
Felizmente, quando tudo indicava que os acordos rubricados a 05 de Setembro de 2014, entre o Presidente da Republica Armando Guebuza e o líder da Renamo Afonso Dhlakama, viriam colocar a pedra sobre as tensões, engano nosso, mesmo antes de proclamação dos resultados eleitorais de 15 de Outubro, pelos órgãos competentes, a mesma oposição que sempre contestou movimentava-se no sentido de se fazer ouvir e, acima de tudo, ameaçando, as autoridades que tem por competência fazer a referida divulgação, com uma nota de realce, a oposição saiu da retórica a prática, enquanto em 2009 dizia que iria “incendiar” o país e parece que faltaram palitos. Em 2015, Afonso Dhlakama falou pouco e fez-se à rua, constituindo uma verdadeira ameaça à estabilidade devido a incitamento a desobediência civil e não foram poucas as pessoas que o acompanhavam, sobre isso, reservo-me a comentar.
Existe uma nota excepcional a destacar: aquando da eleição do candidato da Frelimo as eleições de 15 de Outubro, muitos analistas e políticos consideraram que a Frelimo não tinha hipótese de ganhar. Um ilustre edil viria mesmo a público proclamar que “a Frelimo facilitou-nos a Vitoria” ao escolher Filipe Jacinto Nyusipara concorrer por aquele partido político.
Neste entretanto, um grupo de cidadãos promove a imagem da Governação de Armando Guebuza e as qualidades do candidato da Frelimo e é rotulado de G40, este grupo, de forma incansável esteve em todas, comunicação escrita, televisiva e radiofónica e, dizia-se que “era o grito de desespero” porque “pobres e incapazes” de alcançar os objectivos a que se propuseram…
Outra nota interessante nas eleições de 15 de Outubro é o facto de se ter negociado o pacote eleitoral no Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano e levado à Assembleia da República para chancelar. Este facto levou o líder da Renamo a afirmar de pés juntos que pela primeira vez Moçambique teria eleições livres justas e transparentes, para em menos de sessenta dias depois, vir a público dizer que a fraude eleitoral teve uma magnitude jamais vista, quer dizer, o oposto ao que disse dois meses antes. No meio deste barulho todo, volta a avultar o cognominado G40 na defesa daquilo que consideraram eleições livres, justas e transparentes, até porque, os partidos políticos tiveram representação em todo o processo, desde as mesas de votação à Comissão Nacional de Eleições e no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Hoje, o Filipe Jacinto Nyusi se movimenta no sentido de trazer a paz e sossego para o país. Aqueles que consideravam o cognominado G40 como “pobres e incapazes” vem a público dizer que esses do G40 estão a engolir sapos vivos. Aqui parece residir algum equívoco que urge esclarecer.
Como é obvio, o meu nome consta deste prestigiado grupo, esse grupo não produz resoluções, não produz determinações a serem seguidas pelos políticos, esse grupo, baseando-se naquilo que é publico, procurou mostrar o óbvio à opinião pública. Enquanto diziam que a Governação de Guebuza tinha sido um “desastre”, esse grupo buscava exemplos práticos dos feitos e mostrava-os em público. Posso dar um exemplo de um debate encerrado a pouco.
Os deputados da Renamo na Assembleia da República não tomaram posse e, de acordo com o regimento da própria Assembleia da Republica, ao não tomar posse, no espaço de 30 dias, perdem seus mandatos. Se quisermos ser honestos, são os deputados da Assembleia da República que aprovaram um regimento que se conclui ser inconstitucional, não é, como é obvio não podia ser, esse grupo a criar esse dispositivo inconstitucional, não podendo lhe ser atribuída a paternidade dessa inconstitucionalidade, no entanto, existe algo positivo na atitude dos parlamentares da Renamo, conseguiram trazer a debate um assunto que, em outras circunstâncias continuaria na mesma, um regimento com traços de inconstitucionalidade.
Pelo andar da carruagem, alguns ilustres analistas irão responsabilizar o G40 por problemas conjugais, por perca de direitos nisto ou naquilo, o esforço de se apropriarem do lugar deles é, hoje por hoje, indisfarçável, ainda bem, mostra que, o cognominado G40 é de alguma utilidade e, muitos não conseguem articular uma opinião sem evocar esse G40, bem hajam.
CORREIO DA MANHÃ – 16.02.2015
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