segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Os caminhos sinuosos em busca da paz!

Reflexão de: Adelino Buque

APaz não tem sido fácil para a “Perola do Indico”. Na minha geração, como pessoa, apenas conheci a paz entre os 0 aos 16 anos. Digo eu porque em algumas partes de Moçambique já se sofria com a luta de libertação nacional onde, de forma indiscrimina­da, o colono perpetrava o sofrimento aos negros de uma forma geral e, de nacionalistas moçambicanos em particular.
Desta idade e até aos 32 anos, vivi momentos de verdadeiro terror, as reportagens que nos chegavam nos aglomerados populacionais eram graves, mortes por tudo quanto é sítio, felizmente, 1992 voltamos a respirar de alívio com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em Roma Itália. Foi um momento de verdadeiro alívio, como que devolvendo a esperança de vida a todo um Povo. De 1994 a 2009, sucederam­-se eleições que, regra geral, a oposição as contestou.
Em 2012, a Paz conseguida em Roma viria a estre­mecer de novo, entre as conversas no Centro Interna­cional de Conferências Joaquim Chissano (CICJC) e tiros na Nº1. Duas linguagens diametralmente opostas, se considerar que são mesmos actores políticos que estão em um e outro canto do território nacional, Governo e Partido Renamo, no CICJC, conversam em ar condi­cionado equipes sob comando de José Pacheco, do Governo e Saimone Macuiane, da Renamo, na nº 1 a linguagem dos tiros se desenvolve entre Graça Chongo Afonso Dhlakama, há quem diga que Dhlakama saiu­-se a contento, pode ser, em Paris, entre 88 mil soldados e Polícias contra quatro jovens terroristas, quem se saiu bem! Aqui a resposta não é líquida.
Felizmente, quando tudo indicava que os acor­dos rubricados a 05 de Setembro de 2014, entre o Presidente da Republica Armando Guebuza e o líder da Renamo Afonso Dhlakama, viriam colocar a pedra sobre as tensões, engano nosso, mesmo antes de proclamação dos resultados eleitorais de 15 de Outubro, pelos órgãos competentes, a mesma oposição que sempre contestou movimentava-se no sentido de se fazer ouvir e, acima de tudo, ameaçando, as autoridades que tem por competência fazer a referida divulgação, com uma nota de realce, a oposição saiu da retórica a prática, enquanto em 2009 dizia que iria “incendiar” o país e parece que faltaram palitos. Em 2015, Afonso Dhlakama falou pouco e fez-se à rua, constituindo uma verdadeira ameaça à estabilidade devido a incitamento a deso­bediência civil e não foram poucas as pessoas que o acompanhavam, sobre isso, reservo-me a comentar.
Existe uma nota excepcional a destacar: aquando da eleição do candidato da Frelimo as eleições de 15 de Outubro, muitos analistas e políticos consideraram que a Frelimo não tinha hipótese de ganhar. Um ilustre edil viria mesmo a público proclamar que “a Frelimo facilitou-nos a Vitoria” ao escolher Filipe Jacinto Nyusipara concorrer por aquele partido político.
Neste entretanto, um grupo de cidadãos promove a imagem da Governação de Armando Guebuza e as qualidades do candidato da Frelimo e é rotulado de G40, este grupo, de forma incansável esteve em todas, comunicação escrita, televisiva e radiofónica e, dizia-se que “era o grito de desespero” porque “pobres e incapazes” de alcançar os objectivos a que se propuseram…
Outra nota interessante nas eleições de 15 de Outu­bro é o facto de se ter negociado o pacote eleitoral no Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano e levado à Assembleia da República para chancelar. Este facto levou o líder da Renamo a afirmar de pés juntos que pela primeira vez Moçambique teria elei­ções livres justas e transparentes, para em menos de sessenta dias depois, vir a público dizer que a fraude eleitoral teve uma magnitude jamais vista, quer dizer, o oposto ao que disse dois meses antes. No meio deste barulho todo, volta a avultar o cognominado G40 na defesa daquilo que consideraram eleições livres, jus­tas e transparentes, até porque, os partidos políticos tiveram representação em todo o processo, desde as mesas de votação à Comissão Nacional de Eleições e no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Hoje, o Filipe Jacinto Nyusi se movimenta no sen­tido de trazer a paz e sossego para o país. Aqueles que consideravam o cognominado G40 como “pobres e incapazes” vem a público dizer que esses do G40 estão a engolir sapos vivos. Aqui parece residir algum equívoco que urge esclarecer.
Como é obvio, o meu nome consta deste presti­giado grupo, esse grupo não produz resoluções, não produz determinações a serem seguidas pelos políti­cos, esse grupo, baseando-se naquilo que é publico, procurou mostrar o óbvio à opinião pública. Enquanto diziam que a Governação de Guebuza tinha sido um “desastre”, esse grupo buscava exemplos práticos dos feitos e mostrava-os em público. Posso dar um exemplo de um debate encerrado a pouco.
Os deputados da Renamo na Assembleia da Repú­blica não tomaram posse e, de acordo com o regimen­to da própria Assembleia da Republica, ao não tomar posse, no espaço de 30 dias, perdem seus mandatos. Se quisermos ser honestos, são os deputados da As­sembleia da República que aprovaram um regimento que se conclui ser inconstitucional, não é, como é obvio não podia ser, esse grupo a criar esse disposi­tivo inconstitucional, não podendo lhe ser atribuída a paternidade dessa inconstitucionalidade, no entanto, existe algo positivo na atitude dos parlamentares da Renamo, conseguiram trazer a debate um assunto que, em outras circunstâncias continuaria na mesma, um regimento com traços de inconstitucionalidade.
Pelo andar da carruagem, alguns ilustres analistas irão responsabilizar o G40 por problemas conjugais, por perca de direitos nisto ou naquilo, o esforço de se apropriarem do lugar deles é, hoje por hoje, indisfar­çável, ainda bem, mostra que, o cognominado G40 é de alguma utilidade e, muitos não conseguem articular uma opinião sem evocar esse G40, bem hajam.
CORREIO DA MANHÃ – 16.02.2015

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