quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DIALOGANDO - Fim do apagão: que lições a tirar?

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Quinta, 12 Fevereiro 2015
SIM, senhores, terminou (embora de forma tímida, pelo menos na cidade de Nampula) o martírio no norte do país em resultado do apagão prolongado. Digo de forma tímida porque mesmo com o fim do apagão, a energia na capital do norte ainda não chegou a toda urbe, por isso opino aqui sobre este assunto sem optimismos exagerados.
Prosseguindo, sublinho que foi quase um mês que os habitantes da zona norte de Moçambique estiveram nas trevas que nunca imaginaram que um dia passariam semelhante situação, depois de Cahora Bassa que nos fornece energia eléctrica ser nossa, esta grande infra-estrutura que nos faz sentir que o futuro do desenvolvimento social e económico depende dela.
Em outros escritos tive a ocasião de dar a minha opinião sobre este triste assunto. O que pretendo com a minha insistência é demonstrar, através deste espaço, o sofrimento que os moçambicanos que vivem no norte foram sujeitos a um sofrimento terrível. Voltamos a escolher este tema, propositadamente, tendo em conta, sobretudo, o impacto que teve em todas as esferas da vida no norte. Até porque a verdade manda dizer que se há acontecimentos que marcam sinais, histórias e perduram sempre na memória individual e colectiva de forma negativa, este apagão é um deles. Não há e nem pode haver razão para duvidar, principalmente para quem foi directamente afectado.
Durante os dias do apagão éramos confrontados com situações tristes, como o agravamento de preços de produtos, principalmente de primeira necessidade. Já tínhamos voltado à vida primitiva. O custo de vida atingiu um nível insuportável. “Chorou-se” pela putrefacção disto ou daquilo. “Chorou-se” pela paralisação prolongada de empresas e indústrias da região.
Enfim, o tempo foi difícil e foram vários e grandes prejuízos causados pelo apagão, que como está dito, nunca será esquecido, existam ou não distintos pontos de vista em relação à sua ocorrência. Mesmo que a EDM fosse ou não sujeita às críticas, com os seus trabalhadores a serem acusados de nada fazerem ou de morosidade na resolução do problema. Porém, o importante é que o fornecimento de energia eléctrica a esta região foi restabelecido.
Mas o mais importante é que se torna imperativo e imediato que se tirem lições desta situação, mesmo que não sejam consensuais. Ou melhor dizendo, que grandes e necessárias lições a tirar com este inédito apagão na nossa pátria amada? Logo à partida, e tendo em consideração a dimensão do apagão, qualquer lição que se possa tirar é preciso ter em conta razões múltiplas e complexas.
Por exemplo, uma das lições que se podem tirar é que há uma necessidade de se traçarem desde já estratégias exigentes de manutenção permanente das linhas de transmissão de energia, para que situações destas nos encontrem prevenidos. Isto é, a partir de agora a EDM precisa de ter a cultura de manutenção e inspecção. São necessários investimentos no sentido de se modernizarem os actuais equipamentos, neste caso torres e postes de transporte de energia e outros.
É verdade que nalgum momento não somos capazes de prever ou enfrentar certos problemas criados pelos fenómenos da natureza, mas não basta pensar que a manutenção é um bom processo, torna-se necessária para daí se tirarem resultados, em termos da durabilidade e segurança das linhas de transmissão de energia eléctrica.
É preciso passar à prática da retórica das boas intenções, para que não continuemos a demonstrar aspectos que podem nos “explicar” uma aparente insensibilidade na tomada de medidas atempadas face aos efeitos de uma situação desta dimensão, promovendo a formação e capacitação dos trabalhadores.
O apagão demonstrou igualmente que a empresa está desprovida de tecnologias à altura de responder às exigências dos problemas daquela magnitude, com agravante de haver uma aparente falta de imaginação para se encontrarem soluções válidas e rápidas. Contudo, com tudo o que aconteceu com este apagão, a EDM mostrou que não havia razão de cruzar os braços, fazendo esforços na reposição provisória da energia eléctrica no norte. Estão de parabéns os que estiveram envolvidos na “guerra” contra o apagão jamais visto desde que a região norte começou a consumir a energia de Cahora Bassa.
Mouzinho de Albuquerque
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