terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Crónica de um encontro no restaurante

 

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FRElimo-Renamo-Audiencia-Governo_12x12x625x230Governo e Renamo extremam posições no primeiro encontro.
Pacheco acusou a Renamo de ter introduzido temas não agendados previamente. “Vimos por parte da Renamo a sugestão de dissolução do Governo, dos tribunais... de tudo, e constituir-se um governo de transição, mas nós recordámos que havia a necessidade de se ver se o quadro legal vigente permitia isso ou não”, disse Pacheco.
Uma mão cheia de nada! É como se pode qualificar o resultado do primeiro encontro entre a delegação do Governo, chefiada por José Pacheco, e a Renamo, liderada por Manuel Bissopo. O encontro teve lugar ontem, numa sala privada do restaurante do Indy Village, na capital do país. José Pacheco e sua equipa negocial, constituída pelos vice-ministros das Pescas e da Função Pública, nomeadamente, Gabriel Muthisse e Abdurremane Lino de Almeida, respectivamente, foram os primeiros a chegar ao local escolhido pelo Governo para se encontrar com a Renamo. Pacheco justificou a escolha de um restaurante para receber em audiência a delegação da Renamo com o facto daquele espaço ser também parte “da República” e de “ser neutro e bom”. Meia hora depois, era a vez de Bissopo, juntamente com a sua equipa, constituída por Eduardo Namburete, Meque Brás e Abdul Magid Ibrahimo, chegarem ao local. Bissopo disse que, para a Renamo, o facto de a audiência solicitada ao Governo ter lugar numa casa de pasto não era determinante, na medida em que o “diálogo mesmo na estrada” é que era importante.
Já dentro da sala principal do restaurante, as duas delegações cumprimentaram-se rapidamente e seguiram para uma sala privada no interior do restaurante, que normalmente acolhe figuras que ali se deslocam para encontros empresariais ou jantares de negócios. A primeira parte da reunião foi até às 11h30, tendo se seguido um intervalo de menos de dez minutos. Seguiu-se a segunda parte, que terminou por volta das 12h30, com os elementos da Renamo a deixarem a sala com um semblante de desalento e fúria, exteriorizados pela maneira como Manuel Bissopo falou para os jornalistas numa improvisada conferência de imprensa, que teve lugar numa mesa do restaurante. Enquanto a conferência de imprensa decorria, a sala ia ficando composta de vários clientes da casa que iam tomar o almoço!
Em cima da mesa estavam as seguintes questões levantadas pela Renamo: Alegada partidarização das forças Armadas, consubstanciada pela expulsão dos elementos vindos da guerrilha da Renamo; partidarização das instituições públicas; fraudes eleitorais, supostamente protagonizadas pelo Governo da Frelimo, e exclusão da maior parte dos moçambicanos no processo de acumulação da riqueza, com especial enfoque para os sectores conotados com a oposição.
“Não tememos a guerra”
Na sua longa explanação sobre o resultado das negociações, ficou bem claro que a Renamo não conseguiu obter nenhuma garantia junto da equipa liderada por José Pacheco. Disse Bissopo que José Pacheco em nenhum momento reconheceu mérito às questões apresentadas, e qualificou a atitude do ministro de “infeliz”.
“O Governo da Frelimo sempre é o mesmo e não apresentou reconhecimento e legitimidade no leque de assuntos que apresentámos. Não pode ser este Governo que não vai reconhecer legitimidade dos assuntos apresentados pela Renamo”, disse Bissopo, para de seguida determinar que “o próximo encontro deverá ter lugar na zona centro do país”, deixando ao Governo a responsabilidade de escolher a capital provincial. José Bissopo fez saber, também, na mesma conferência de imprensa que a sua delegação estava de partida para Gorongosa, local onde a Renamo faz os seus “planos” e que “foi ali (Gorongosa) onde iniciou a guerra para a implantação da Democracia... volvidos 20 anos, o Governo da Frelimo mostra-se relutante em se corrigir, assim sendo, não esta mais nada que voltar a Gorongosa e iniciar uma nova fase de luta por uma democracia efectiva e um Estado de Direito”, referiu Bissopo, denotando certo nervosismo.
O PAÍS – 03.12.2012

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