terça-feira, 23 de outubro de 2012

SIGNIFICADO DO PATRIOTISMO NA JUVENTUDE ACTUAL: SEU PAPEL E VALORES

Por Americo Matavele
 

“Se o boi conhecesse a sua força, jamais o homem o domaria.” Ditado popular

Actualmente há um despertar surpreendente de jovens para o nacionalismo e para a participação política do que há anos atrás. Pessoalmente entendo este boom como resultado de a juventude ter conquistado uma consciência crítica, fruto das facilidades educacionais que actualmente existem e da sua entrega a investigação científica, que dá ferramentas comparativas entre a realidade e o dever ser.

Assim, os jovens tem tido um protoganismo, senão visível a olho nu, pelo menos é visível nos seus respectivos fóruns, criados por eles mesmos, onde o respeito ganha-se com coerência e não pela posição defendida. Com isto, quero dizer que o dogmatismo, a emoção e a falta de clareza tendem a se afastar de muitas visões que os jovens lançam cá para fora, e com isso tem conseguido fazer um mundo a parte, que possivelmente será o que substituirá o da geração que está em voga actualmente. E isso é de salutar, aliás, é natural.

Por outro lado, a juventude tem ficado órfã de uma direcção forte no aspecto do patriotismo. Quando falo de direcção não falo do líder ou de uma bitola ou farol que possa guia-los a um caminho certo, mas de uma ideia genuina e aglutinadora, que possa casar a parte positiva de capacidade de análise e o déficit assustador de patriotismo que grassa nos jovens. Quando falo da “falta de direcção”, refiro-me a falta do funcionamento do volante do ego dos jovens, que se deixa arrastar pela informação que nos chega (facilmente), e tentam a todo custo implantar numa realidade totalmente diferente da fonte da mesma, sem querer entender a sua exiquibilidade, tendo como meta o bem e harmonia social a longo prazo.

Aqui falo do patriotismo como aquele em que os indivíduos de um certo território estão unidos por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns, e que constituem uma individualidade política com direito de se autodeterminar e de decidir sobre o seu próprio destino. Aqui a territorialidade é que vinca, pois parto do princípio de que um nascituro de um território ou um cidadão que foi adoptado por essa pátria-território, deve toda a lealdade a essa mesma pátria.

Socorro-me de Rosseau para me cingir na territorialidade do patritismo, através do seu conceito de soberania, no seu Do Contrato Social, uma vez que no centro desta teoria jaz o carácter civilizador da construção de um Estado. “O tratado social tem como fim a conservação dos contratantes. Quem deseja os fins, também deseja os meios, e tais meios são inseparáveis de alguns riscos e, até, de algumas perdas.
Quem deseja conservar a sua vida à custa dos outros, também deve dá-la por eles quando necessário. Ora o cidadão não é mais juiz do perigo a qual a lei quer que se exponha e, quando o princípio lhe diz É útil ao Estado que morras, deve morrer, pois foi exactamente por essa condição que até então viveu em segurança e que a sua vida não é mais mera dádiva da natureza, porém um dom condicionável pelo Estado” (Rosseau, 1987, Pag 51-52).

Aqui, não entendo este escrito de Rosseau como dirigido a pessoas individualmente, mas a um conjunto de pessoas que tem sentimentos comuns, e que professa a mesma fé na durabilidade, justeza e invencibilidade dessa sua coesão. Este exemplo do escrito do Rosseau, vem mostrar que o patriotismo é algo que condiciona a coesão de um certo grupo de cidadãos com interesses de sobrevivência comuns, e que a necessidade de sobreviver sobrepõe-se a quaisquer visões externas a esses interesses de sobrevivência a TODO O CUSTO.

É esta parte que penso que falta na juventude actualmente, o que faz com que o desenvolvimento do seu lado visionário, crítico e de construção de uma sociedade do futuro seja coxo, porque falta a parte da coesão e do sacrifício pelo todo. O jovem actualmente está alienado, não só pela “suprioridade” que ele assume que a virtude estrangeira tenha, mas também pelas vicissitudes e condicionalismos internos, cujos interesses muitas das vezes chocam com qualquer esforço de coesão.

Sendo assim, o seu contributo (juventude como um todo), é facilmente manipulável, e usado como um escudo contra ele mesmo, fazendo-o refém das suas próprias ideias. Isto é possível porque os jovens levam em primeiro lugar os seus interesses individuais, levando os interesses comunitários para mais tarde. Assim, autodivididos, os jovens são manipuláveis e facilmente controláveis, pois estão a granel.

A sua união não se mostra possível a curto prazo, pois o jovem actualmente não tem o espírito patriótico, o espírito comunal, onde o bem comum é mais importante que o bem individual, e está a mercê de interesses alheios que se aproveitam desta fragilidade, e isto conduz a um beco sem sáida. Por isso que os jovens estão divididos em grupinhos cuja principal difrença é exactamente o acesso que tem, não aos recursos, mas aos que exploram esses recursos.

Eles estão assim porque não estão em comunhão, e os caminhos que seguem conduzem a uma necessidade individual, onde a competição selvagem e animal é que serve, de modo a serem visíveis para os que detém o poder, para que lhes facilite a vida individualmente.

Se os jovens tivessem uma visão patriótica dos seus direitos, se fossem capazes de aliar esta sua capacidade de análise de chegar á conclusão, mas de uma forma patriótica e comunal, então aí seriam uma força viva da sociedade, e seria obrigatório a sua consulta em caso de formulação e implementação de políticas públicas, já que são a maioria da população.

Se tivessem uma visão ampla da sua capacidade em construir a pátria como identidade, se tivessem uma visão a longo prazo desta pátria, então os jovens reclamariam menos e se sentiriam donos dos seus próprios destinos e como parte da solução e não do problema como se vê hoje em dia.

Portanto, o déficit do patriotismo é que condiciona este grupo etário, pois ele não tem identidade de coesão, e cada um tem seus objectivos pessoais que se sobrepõem aos objectivos da juventude como uma comunidade com necessidades e interesses comuns, fazendo com que os seus anseios não tenham a força que a sua união pode oferecer, uma vez que as brechas criadas ao longo da sua muralha, são facilmente penetráveis.

Exige-se uma juventude, não só crítica, mas actuante, e engajada nos objectivos comuns de uma pátria que tem identidade própria, e se mostra ao mundo com um objectivo a longo prazo, onde os que tentam desviá-la a granel para a sua autodestruição, não tenham espaço para tal.

Exige-se uma juventude respinsável, e que se preserva para as tarefas de continuidade e não para as tarefas momentâneas e de correcção de posições; uma juventude solidária entre si; uma juventude, não só reprodutora de ideias, mas implementadora das mesmas, mostrando que tem responsabilidade, sociabilidade e capacidade de conhecer os seus objectivos que, invariavelmente devem estar de acordo com os supremos objectivos da nação.

Enquanto a juventude guiar-se pelos ganhos momentâneos, então que continue a reclamar, a insultar e a barafustar, mas os resultados tangíveis, esses estão a espera de uma juventude unida e que se guia pelos sentimentos patrióticos como sua principal bitola, tanto para o seu pensamaneto, assim como para as suas acções.

Usando o ditado da introdução, diria que se a juventude soubesse a força que o patriotismo militante pode oferecer...

Juventude, surge et ambula...

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