sábado, 13 de outubro de 2012

O futuro a Chávez pertence?

 

"Quarto, quando a canhota ideológica defende o presidente venezuelano por ser norte-americanófobo, escamoteia que desde Adolf Hitler até Ion Antonescu compuseram os anti-Washington"
Nunca fui fã do presidente da Venezuela, Hugo Chávez (foto). Discursa como Fidel Castro, mas concentra multidões vestidas padronizadamente de dólmãs vermelhos, a exemplo das camisas negras da Milícia Voluntária de Benito Mussolini. Como se fosse populismo, ideologicamente, de limpador de para-brisa. Entre mais restrições, primeiro, como tenente-coronel, Chávez tentou em 1992 derrubar num golpe o presidente Carlos Andrés Pérez, apesar de corrupto, eleito democraticamente.
 
No Brasil do mesmo ano, os caras-pintadas foram mais competentes, com militares, de dentro das guarnições, avalizando constitucionalmente a transição pacífica de Fernando Collor para Itamar Franco. Segundo, Chávez é desagregador. Estando-se contra ele, fica logo estigmatizado de “gusano” (verme). Nossos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, erros à parte, já se vacinaram contra essa doença infantil também do petismo.
 
Terceiro, Chávez foi breguíssimo ao ser derrotado no referendo de 2007 para perpetuação no poder, afirmando que a oposição tivera “uma vitória de m...” Quarto, quando a canhota ideológica defende o presidente venezuelano por ser norte-americanófobo, escamoteia que desde Adolf Hitler até Ion Antonescu compuseram os anti-Washington. Quinto, a reeleição contínua, que Chávez conseguiu em outro referendo, de 2009, teve precedentes no século XX na América do Sul com dois criptonazistas: o argentino Juan Perón procurou isso na Carta Constitucional de 1949 e o paraguaio Alfredo Stroessner atingiu-a. Depois de tomar o poder por quartelada em 1954, conseguiu sete reeleições diretas consecutivas, de 1958 a 1988, em alguns casos tolerando candidatos da oposição consentida e que perdiam por fraudes.
Entretanto, contraditoriamente, a terceira reeleição de Chávez no domingo passado, dia 7, pode ter sido a mais legitimável dele. Até pela razoável votação do candidato adversário Henrique Capriles, 41%, diante de 59% do líder. Foi alternativa de maior sapiência dos dissidentes, ao contrário do putsch cívico-militar de 2002 contra o presidente, no qual quem o sucedeu, Pedro Carmona, foi atropelado pelos acontecimentos com a recondução de Chávez numa contragolpe.
Contudo, sem, provavelmente, contar com São Pedro na devoção dele, Chávez ou a Venezuela podem cair em armadilha da História. Portador de câncer, nunca se ouviu falar que o presidente preparasse um sucessor. Autocratas da direita e da esquerda foram mais precavidos, de Francisco Franco a Mao Tsé-tung, de Getúlio Vargas a Fidel Castro, havendo resultados diversificados com relação a isso. Em Portugal, houve a falta de um herdeiro político escolhido por Oliveira Salazar, cujo afastamento num AVC em 1968, sucedido pelo rival intragoverno Marcelo Caetano, precipitou a volta da democracia seis anos depois.
Frederico Fontenele Farias
Repórter do Núcleo de Conjuntura do O POVO

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