segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Negociadores das Farc e da Colômbia atrasam chegada a Oslo para início do diálogo

 

15/10/2012 13:24, Por Redação - do Rio de Janeiro    Services
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As negociações de paz já falharam diversas vezes anteriormente
Negociadores do governo colombiano e rebeldes marxistas adiaram o desembarque na Noruega para as negociações de paz voltadas para encerrar quase meio século de conflito, mas ainda planejam chegar a tempo para seu único evento público no país, programado para quarta-feira. Autoridades do governo colombiano, as quais se esperavam que chegassem à Noruega durante o fim de semana, não chegarão até terça-feira devido a “dificuldades logísticas”, afirmou uma porta-voz do governo. Não ficou claro quando as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegariam.
As duas partes concordaram em agosto em iniciar negociações nas primeiras duas semanas de outubro, mas já haviam adiado a chegada uma vez, à medida que trabalhavam para repassar todos os detalhes para as conversações, que serão realizadas sob o princípio de que “nada será acordado até que tudo seja acordado”. A Noruega, mediador entre as partes há anos, recuou-se a comentar o atraso e um representante do Ministério de Relações Exteriores afirmou que ambos os envolvidos ainda planejavam comparecer a uma coletiva de imprensa na quarta-feira, seu único evento público no país.
O jornal colombiano El Espectador disse que o novo atraso é resultado de uma mudança tardia no grupo de negociadores das Farc, que gerou preocupações no governo colombiano. Os rebeldes das Farc incluíram a holandesa Tanja Nijmeijer em sua equipe, uma medida que o governo colombiano recusou a aceitar, porque ela não era uma cidadã colombiana, noticiou o jornal. Entretanto, os rebeldes argumentaram que os termos do acordo permitiam-lhes escolher livremente os membros de sua equipe.
As negociações de paz já falharam diversas vezes anteriormente. Espera-se que as conversas em Oslo concentrem-se em estabelecer o terreno para negociações posteriores e depois se espera que as partes envolvidas mudem-se para Havana, em Cuba, para a parte mais substancial das discussões.
Batalhas em curso
A proximidade das negociações de paz entre as Farc e o governo colombiano não tem impedido, porém, que a luta siga adiante no interior daquele país. As Farc dinamitaram, na véspera, duas torres de energia numa zona rural do departamento (província) colombiano de Norte de Santander, na fronteira com a Venezuela. O ataque praticado pela frente 33 guerrilha foi registado no município de Tibú e deixou sem energia os casarios de Petrólea, Versalles, Campo Dos e La Gabarra, segundo o coronel Jorge Camacho, chefe de polícia local. Em uma auto-estrada principal da mesma região, os guerrilheiros também instalaram vários artefatos e participaram de combates com tropas do Exército.
– Esta semana devemos exigir à guerrilha, chame-se Farc ou ELN, que por favor respeite a população civil, menos minas anti-pessoais, menos sequestro, menos terrorismo. Quando a sociedade civil quer viver em paz, queremos não ser agredidos pela guerrilha – disse o vice-presidente colombiano, Angelino Garzón.
Este domingo, dezenas de familiares de vítimas do conflito se reuniram na praça de Bolívar, em Bogotá, pedindo que sejam levados em conta no processo de paz. Procedentes de várias regiões do país, os manifestantes expuseram seus testemunhos em um tablado improvisado, no qual exibiram ainda fotos de jovens, mulheres e idosos que denunciam ter sido sequestrados pela guerrilha.
Fundadas em 1964, as Farc são a guerrilha mais antiga da América Latina. Atualmente, contam com aproximadamente 10 mil combatentes. Na Colômbia atua, ainda, o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista), com 2,5 mil integrantes, segundo dados oficiais.
Nota oficial
Em uma rara nota oficial conjunta, a ELN e as Farc divulgaram a recente intenção de aliar seus esforços na busca “de uma verdadeira democracia” no continente, com o fim do capitalismo como forma de governo na região. Leia aqui os principais trechos da nota:
- O Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo (FARC-EP), inspirado nos sentimentos mais profundos de fraternidade, solidariedade e camaradagem, com otimismo e moral de combate de alta, estreitou em um forte abraço à mudança revolucionária, a união para discutir nacional e internacionalmente a situação política, os problemas da guerra e da paz na Colômbia, e avançar o processo de unidade que, desde 2009, foram forjando passo a passo, com o propósito de convergência de idéias e ações para lidar com as pessoas da oligarquia e do imperialismo, como elementos que impõem exploração e miséria em nosso país.
- Na nossa determinação inflexível, continuamos a buscar a paz na Colômbia e no continente, o que significa o estabelecimento de uma verdadeira democracia, soberania popular, justiça social e liberdade.
- Realizamos este encontro num momento em que se desenvolve a mais profunda crise do sistema capitalista mundial, caracterizado por uma corrida desenfreada de guerras, pilhagens, invasões e mais – a exploração de recursos naturais, gerando as condições precárias de trabalho que têm condenado à fome e à morte milhões de seres humanos em um mundo impulsionado pela ganância do imperialismo, no caos e destruição.
- Em nosso país, as calamidades que se seguem a este sistema desumano de exploração e exclusão dos pobres ampliaram a desigualdade e o confronto de classes em dimensões nunca vistas. Estas decorrem diretamente da aplicação das políticas neoliberais que favorecem aos grandes grupos financeiros e às empresas transnacionais, em detrimento da maioria nacional. Dentro do panorama internacional de crise sistêmica do capital, seus rostos mostram a crise financeira múltipla, econômica, ambiental, urbana, energética, militar, política, institucional, moral e cultural. A Colômbia é um país configurado como uma economia financeirizada e reprimarizada.
Nesta condição, levaram aqueles no poder a permitir saques ao país, roubar seus recursos naturais e promover a especulação financeira. Milhões de nossos compatriotas vivem na miséria e na guerra impostas pelas elites para conter o descontentamento das massas contra esta iniquidade.
O governo de Juan Manuel Santos foi criado para garantir planos de continuidade de desapropriação por expropriação que o imperialismo impõe ao povo colombiano. Uma nova espacialidade do Capital acompanhada de ordenamentos jurídicos e disposição militarista de segurança e defesa, imersas na velha Doutrina de Segurança Nacional e no terrorismo de Estado, afiançam-se em nosso país para proteger os “direitos” do capital, o bem-estar dos ricos em detrimento ao dos trabalhadores e das pessoas mais humildes. Dentro desta perspectiva se define a nova fase de desapropriação de terras, que agora se disfarça sob o nome falso de ‘restituição’. Na prática, as milhões de pessoas deslocadas e vítimas das sucessivas fases de espoliação patrocinado pelo Estado, estão agora juntas em novas legiões de camponeses, indígenas e pessoas comuns em geral, que eles arrancam ou negam o direito à terra através de procedimentos legais enganosos que ampliam os números da pobreza e da miséria que garantem o lugar à Colômbia no ranking como o terceiro país mais desigual do mundo.
É este o sentido cruel da segurança ao investidor e da prosperidade da forma como espalha o presidente Juan Manuel Santos, enquanto ainda aprisiona, mata e reprime seus opositores.
Diante desta realidade, não pode ser outra forma a unidade revolucionária e de luta, ação de massas nas ruas, a revolta popular no campo e nas cidades, desafiando a criminalização do protesto e exigindo os fatos reais do governo. A paz não pode ser outra coisa do que fatos para resolver problemas sociais e políticos enfrentados pela maioria em nome do terrorismo de Estado da casta dominante, cujas tendências guerreiras levaram os destinos do país durante a última década.
Não será com demagogia e ameaças de repressão e guerra que se vai acabar com o conflito. Não é com mais compras de equipamentos militares ou a entrega do país ao Pentágono para se alcançar a paz. Não é com planos belicistas e terra queimada, como o “Plano Patriota” ou “Espada de Honra”, que se promoverá a reconciliação almejada entre os colombianos. Muito menos será com ultimatums à insurgência a partir da ideia vã de que a paz seria produto de uma quimérica vitória militar do regime, que leve de roldão a insurgência, rendida e desmobilizada, ante essa aberração chamada marco jurídico para a paz.
Nosso desejo de paz reside na convicção de que o destino da Colômbia não pode depender dos interesses das oligarquias arruinadas. A decisão política e a participação social e plena das pessoas são uma necessidade e uma exigência inevitável. Assim, a unidade e a mobilização do povo em favor de mudanças estruturais, baseadas na justiça, na construção da paz, são a verdadeira chave para sua conquista.
Com passos firmes de unidade de pensamento e ação, fraternalmente
Comando Central, o ELN
Secretaria da Central, FARC-EP
Montanhas da Colômbia, setembro 2012

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