segunda-feira, 8 de outubro de 2012

KGB matou Samora?!...

 

KGB promoveu morte de Machel com conivência de quadros da Frelimo - Revelação de dois antigos agentes da polícia política soviética
Por Orlando Cabral
A União Soviética, em aliança com destacadas figuras do regime frelimista de então, teria planeado o atentado de que resultou a morte do presidente Samora Machel, em 19 de Outubro de 1984.
Esta revelação, que vem adensar ainda mais o mistério que paira sobre a queda do "Tupolev" presidencial em Mbuzini, feita recentemente por dois antigos agentes da KGB soviética, que resguardaram a sua identidade. Um deles, ucraniano, formado em Kiev, diz que era o número 333 e que operava na África Austral, o outro, de nacionalidade russa, também operou na zona austral africana, sendo hoje empresário da área turística em Portugal. Segundo afirmaram, em 1984, «a morte de Samora Machel interessava a muita gente, incluindo aos seus inimigos internos».
Controlo cerrado
Nos anos oitenta do século passado, com a guerra fria no auge, a URSS, através dos seus agentes secretos, «mantinha sob controlo cerrado os países da linha da frente, a maioria com sistemas de partido único e economia centralizada, e com Moçambique e Angola candidatos assumidos à Internacional Comunista». Ao mesmo tempo, mantinha-se o conflito sino-soviético, e cada um deles tentar puxar Machel para uma aliança exclusiva.

Os ex-agentes apontam a KGB como promotora do assassinato do primeiro presidente moçambicano, alegadamente porque Moscovo se sentiu traído quando Machel se encontrou com Ronald Reagan e lhe prometeu reformas económicas em Moçambique, com sujeição às receitas capitalistas do FMI, que levariam ao PRE (Plano de Reabilitação Económica), e à economia de mercado.
Plano
Os soviéticos teriam chegado então á conclusão de que era necessário engendrar um plano para liquidar o presidente moçambicano, e substitui-lo por um homem da sua confiança. O plano, segundo as mesmas fontes, contou com conivências internas, e a prova disso seria que alguns dirigentes do então Governo de Maputo não acompanharam o seu presidente na sua viagem fatídica, e ministros como dos Negócios Estrangeiros, Joaquim Chissano, da Segurança, Sérgio Vieira, e da Defesa Nacional, Alberto Chipande, não se fizeram representar, ao lado de Machel, em reuniões de grande importância para o futuro de Moçambique, como em Mbali, Zâmbia. Os ex-agentes secretos afirmam ainda que Moscovo, nesse seu alegado plano, contou também com o apoio do regime do "apartheid", também interessado, por outras razões, no desaparecimento de Samora Machel.
Segredos de Estado
Para o abate do aparelho presidencial, teria sido utilizado um míssil sul-africano "termo-sensível", que teria penetrado numa das turbinas do jacto e penetrado nos sistemas electrónicos do avião, provocando a desorientação do aparelho e sua queda. «As caixas negras foram imediatamente trocadas, e por isso a sua descodificação não revelou nada», frisam. Se até hoje pouco ou nada se diz sobre as verdadeiras razões da queda, seria porque elas «mexem com segredos de Estado». Por exemplo, «as primeiras investigações tão somente disseram que os pilotos estavam bêbedos, quando na verdade dois deles estavam ligados ao KGB e não sabiam do plano central , que incluía a sua utilização como "carne para canhão".
É também do conhecimento público que a torre de controle no aeroporto de Mavalane tinha instruções para desviar a rota do avião, que estava a cinco minutos de Maputo, e na única passagem da caixa negra que pode não ter sido adulterada, os pilotos questionam o seu posicionamento geográfico, porquanto o comandante possuía mais de 20 mil horas de voo e já tinha experimentado adversidades como aterrar com chuva, neve, e à noite, e alarmou-o a desorientação repentina da aeronave.
Traidores e conspiradores
Nos últimos meses, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, actualmente casado com a viúva do falecido presidente, que aquando do funeral aludiu à existência de traidores e conspiradores no interior da Frelimo, preocupado em desvendar o mistério de Mbuzini, tem impulsionado o reinício das investigações sobre a morte de Machel.
A unidade policial sul-africana, "Scorpions", ao reabrir o processo baseia-se somente nos depoimentos recolhidos pela Comissão da Verdade e Reconciliação, onde pouco ou nada se falou do envolvimento secreto da KGB.
Supõe-se que alguns deles, no entanto, tenham focado nomes dos considerados inimigos internos e externos de Machel, em "dossiers" que estão a ser analisados numa operação dirigida por Torje Pretourius, vice-director do Ministério Público da RAS.
Renovadores querem saber
Roberto Chitsondzo, deputado da Frelimo ligado ao grupo dos renovadores daquele partido, exige saber a verdade sobre as circunstâncias de Samora Machel.
Falando ao IMPARCIAL, Chitsondzo disse não ter dúvidas de que o primeiro PR moçambicano foi assassinado, sem contudo ter conseguido saber até hoje a identidade dos autores do crime. Refira-se que, enquanto a viúva de Machel, durante o seu funeral, aludiu, sem os nomear, a traidores e conspiradores internos que teriam colaborado na morte do marido, a ala dura da Frelimo, liderada pelo actual SG, Armando Guebuza, aponta o dedo ao "apartheid".
«Ficamos à espera de novos desenvolvimentos das investigações, mas pouco ou nada se saberá nesta geração», salientou Chitsondzo. No entanto exige-se a verdade «porque vivemos hoje uma calamidade de vida, sem direcção, e com Samora não era assim».
In jornal/fax IMPARCIAL Maputo, 23 de Outubro de 2004

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