sábado, 13 de outubro de 2012

Homem radical luta por direito de andar sem roupas

 

11/10/2012 14:50, Por Redação, com BBC - da Escócia

Stephen Gough diz que é seu direito fundamental poder andar sem roupas pelas ruas da Escócia
Um homem que insiste em caminhar nu pela Grã-Bretanha já passou mais de seis anos em prisões, acusado de perturbar a paz. As autoridades da Escócia deixaram claro que não o querem na prisão, mas ele diz que a nudez é um direito fundamental do ser humano e se recusa a vestir roupas. O resultado é talvez o mais estranho impasse já ocorrido na Justiça britânica.
Stephen Gough, de 53 anos, conhecido como “o andarilho nu”, acaba de ser libertado de uma prisão em Edimburgo após cumprir mais uma pena por nudez pública.
O ex-fuzileiro naval da cidade inglesa de Eastleigh, no condado de Hampshire, já foi condenado 18 vezes e ficou preso quase ininterruptamente desde maio de 2006.
Nesse período, seus momentos de liberdade duraram, na maioria dos casos, apenas alguns segundos, já que ele se recusou a vestir roupas ao sair da prisão.
Os delitos pelos quais foi condenado são perturbação da paz, desacato à autoridade e recusa em vestir roupas na presença do juiz.
Gough já percorreu nu, duas vezes, a distância entre Land’s End, no extremo sudoeste britânico, e John O’Groats, no extremo nordeste do país. Ele fez isso entre 2003 e 2004 e entre 2005 e 2006. Nas duas jornadas, vestiu meias, botas e, muitas vezes, um chapéu, carregando uma mochila nas costas.
Na Inglaterra, Gough teve alguns problemas com a polícia, mas, na Escócia, a posição das autoridades tem sido mais linha-dura. De maneira geral, parece haver um consenso entre a polícia e os tribunais escoceses de que estar nu em público é uma perturbação à paz.
A posição de Gough também endureceu. Ele se recusa a vestir roupas no tribunal ou após ser preso, resultando em condenações por desacato à autoridade.
Nova tática
Segundo a promotoria, tanto os tribunais quanto a polícia haviam feito tudo o que podiam romper o círculo vicioso que leva Gough a ser preso novamente logo após ser libertado.
Em julho, por exemplo, ele foi libertado da prisão da cidade de Perth e os guardas permitiram que ele saísse do prédio nu. O chefe da polícia local, Andy McCann, disse que a ideia era libertar Gough e só prendê-lo se seu comportamento fosse gratuito. “Pedimos a ele que tivesse um pouco de consideração”, disse McCann.
Mas, três dias mais tarde, o andarilho estava de volta ao tribunal após ter caminhado nu em frente a um parque infantil na cidade de Fife.
Pânico
Um promotor da Justiça escocesa, Adrian Cottam, disse que, apesar de inúmeros pedidos da polícia, Gough “causou choque e alarme em crianças e em seus pais”.
No tribunal da cidade de Kirkcaldy, o juiz James Williamson disse que a indiferença do réu em relação a outras pessoas, em particular, a crianças” revela a “arrogância” de Gough. O juiz diz ter perdido a paciência com ele por sua recusa em permitir que assistentes sociais façam uma avaliação de sua saúde mental.
- Quando ele caminhou de um extremo ao outro do país, foi, às vezes, ignorado, festejado e preso – disse o chefe de polícia McCann.
Ele explicou que a polícia pode optar entre prender ou não uma pessoa por estar nua em público. Se a nudez é vista como uma “esquisitice”, não há problema em deixar que ele siga em liberdade.
- É uma questão de contexto e o pânico que ele está causando, sua intenção de causar pânico e se os delitos são flagrantes e persistentes.
A segunda caminhada de Gough até John O’Groats terminou em fevereiro de 2006. A jornada levou oito meses porque foi interrompida por passagens pela prisão. Mas nem mesmo a neve no extremo norte da Escócia impediu que ele caminhasse nu.
Em maio daquele ano, quando voava para Edimburgo para uma audiência no tribunal, Gough tirou a roupa no banheiro do avião e foi preso quando o avião pousou. Desde esse incidente, passou quase todo o tempo na prisão. E, como se recusa a vestir roupas no presídio, os guardas são obrigados a mantê-lo separado dos outros presos.
Tom Fox, do serviço penitenciário escocês, disse que todos os dias os guardas pediam a Gough que vestisse suas roupas, mas ele se recusava.
Segundo Fox, o regime de segregação causa dificuldades aos administradores da prisão, mas as regras dos presídios estipulam que roupas devem ser vestidas.
O advogado escocês John Scott, presidente de uma organização que faz campanha por reformas no sistema penal escocês – a Howard League for Penal Reform in Scotland -, disse que os custos de manter Gough na prisão por tanto tempo já ultrapassam centenas de milhares de dólares.
Um prisioneiro custa o equivalente a cerca de R$ 130 mil por ano ao Estado britânico. E o preço aumenta quando ele é separado dos outros e quando é libertado e preso repetidas vezes.
Direito à nudez
Gough alega que estar nu em público é uma liberdade fundamental e que a nudez é um aspecto de sua individualidade. “O corpo humano não é ofensivo”, ele disse ao jornal britânico The Guardian em março deste ano. “Se isso é o que estamos dizendo, como seres humanos, isso não é racional”.
O andarilho disse que está determinado a fazer sua jornada de um extremo ao outro no país “sem concessões”. Mas Scott, especializado em direitos humanos, disse que estar nu “não é aceito, de maneira geral, como um direito humano”.
- Você pode criar seu próprio conceito do que é um direito humano, mas, se ele se choca com os direitos de outras pessoas de não serem perturbadas ou alarmadas, você tem um problema.
Andrew Welch, gerente comercial da British Naturism, sociedade nacional de nudistas britânicos, disse que o comportamento de Gough sugere confronto, intolerância e falta de consideração.
Mas Welch concorda com o princípio de que optar por estar nu não é um delito. Não há provas de que a nudez seja prejudicial a qualquer pessoa de qualquer idade, ele disse. E, pelo contrário, afirmou que “a vergonha do corpo” tem efeitos negativos amplos e graves, principalmente sobre crianças e jovens.
- A nudez não é ilegal. Muito tem a ver com a forma como a lei é aplicada. “Os nudistas respeitam a lei, mas gostaríamos de saber qual é a lei. As pessoas em posição de autoridade parecem deixar que opiniões pessoais se sobreponham à lei”.

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