quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"A Cauda do Escorpião - O Adeus a Moçambique", de Giancarlo Coccia(3)

 

Caudaescorpiao_capa Leia aqui mais algumas páginas de “A CAUDA DO ESCORPIÃO” – O Adeus a Moçambique, de Giancarlo Coccia:
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a correr perfeitamente». Na meia hora que esteve no meu quarto, contou-me o que se passava na Capital do Norte. No dia anterior estivera em Nampula, com o colega Bruce Loudon do Daily Telegraph de Londres. «É um jornalista muito especial», disse o Luiz. «Tinha uma ligação bem conhecida com muitos políticos e militares antes de 25 de Abril». Perguntei-lhe qual seria, agora, o seu relacionamento com o MFA.
—Tens de te lembrar, Giancarlo, que em 1973, quando o Jorge Jardim e os zambianos jogaram a cartada de «Wiriamu», foi o Bruce Loudon e o fotó­grafo francês Patricke «qualquer coisa» que apoiou o plano deles. Lixaram o coronel Videira e outros oficiais superiores mas, mais importante, forçaram o Jaime Neves a colaborar com os revoltosos por este ter sido ameaçado com um Conselho de Guerra no futuro.
—Sim, compreendo. Mas agora o que está o Jorge Jardim a fazer? — perguntei.
—Está no seu ocaso... mas espera um pouco... Toma isto. Trouxe-te alguns papéis «interessantes» para o teu livro.
Era a formação do Gabinete do MFA junto do Comando-Chefe (CC) em Nampula. Dei uma olhadela às cópias que Luiz me entregou. Estava escrito:
A. FUNCIONAMENTO
1. O Gabinete do MFA junto do CC trabalha paralelamente com o CCP [Comissão Coordenadora do Programa]-MFA em íntima coordenação com este e está orientado essencialmente para assuntos de natureza militar.
2. A constituição do Gabinete é a seguinte: Cap. ten. Rui Pereira Cruz
Ten. cor. Nuno Alexandre Lousada Maj. Mário Tomé Maj. Nuno Mira Vaz Cap. Aniceto Afonso
3.O Gabinete funciona em regime permanente no Gab. Plan. CCM [...] Nota: o regime permanente é assegurado pela presença de pelo menos um elemento do Gab. [...]
4. Todos os militares podem e devem apresentar sugestões [...]
Assim, na prática, o documento dizia que quem mandava na «guerra» era o MFA.
* * *
Falando com alguns doentes, maioritariamente soldados pretos, che­guei à conclusão de que muitos apoiantes da Frelimo não tinham uma opinião precisa sobre o 25 de Abril, muito menos tinham conhecimento do «programa» do MFA ou sequer sabiam quem eram os membros do movi­mento entre os militares estacionados em Moçambique. Aqui não havia nem bons nem maus. Os militares faziam todos parte da máquina do adver­sário. O interessante era que enquanto os portugueses iniciavam o «des­moronamento» das suas defesas, Samora Machel incitava os seus homens a levarem a guerra até à «derrota total do inimigo». Três dias depois das fotografias serem publicadas no Notícias (domingo, 23 de Junho), Samora Machel repetiu em Dar-es-Salam que o seu objectivo era a independência total de Moçambique; até esta ser conseguida dizia, «a guerra não iria parar». Claro que a Frelimo nunca aceitaria parar a guerra e ir a votos ou a refe­rendo, como se propunha em Portugal. Os seus dirigentes não eram parvos e queriam receber de bandeja o futuro Governo. Tudo fariam para correrem com os portugueses de Moçambique. «Paz» e «cessar-fogo» foram palavras nunca mencionadas pela liderança da Frelimo nos contactos efectuados com o MFA. Luiz disse-me muitas vezes que quanto menos portugueses ficassem em Moçambique, mais fácil seria para a «escumalha» branca e os comunistas tomarem conta do Governo...
Neste momento, a inteligência da Frelimo afirmava o empenho em «aca­bar com a guerra colonial». Mas o que é que isto queria dizer? Na prática, significava levar a guerra até ao fim para os deixar com o poder total e com­pleto. O think-tank do movimento nacionalista reconhecia que o referendo não lhes interessava e estava determinado a forçar Lisboa a entregar-lhes o país numa salva de prata. A sua atitude, a falta de «trunfos» de Portugal e o apoio que os comunistas portugueses davam à Frelimo, eram mais-valias. A sua recusa de entrar em qualquer acordo com os «spinolistas» deu-lhe bons dividendos. «E os Joe Slovo's e seus camaradas sul-africanos estavam numa boa», comentava-me o Luiz.
Três meses mais tarde, em Lusaka, o MFA e os governantes de Lisboa desistiram de negociar o que quer fosse e aceitaram todas a condições impostas pela Frelimo que incluíam um acordo autónomo para Cahora Bassa e um outro, de carácter militar, que exigia que a defesa e segurança de Moçambique fossem asseguradas por Portugal até ao dia marcado para a data da Independência, a 25 de Junho 1975! O acordo principal, assi­nado entre as duas partes na capital da Zâmbia, foi tornado público mas os outros dois, considerados «reservados», ficaram no segredo dos deuses. Na prática, Machel disse aos portugueses: «Foram vocês que fizeram aquele muro (Cahora Bassa). É vosso, fiquem com ele». O acordo militar que criou a Comissão Militar Mista foi apenas parcialmente divulgado. Nele, as Forças Armadas Portugueses eram obrigadas a defender as fronteiras terrestres e marítima moçambicanas de qualquer invasão ou incursão por parte de for­ças «hostis» à Frelimo. Em mente tinha-se as agressões vindas da África do Sul e da Rodésia. Os acordos «reservados» ditavam que também a segurança interna de Moçambique seria uma responsabilidade de Lisboa.
Até hoje, ninguém foi capaz de compreender como é que o orgu­lho lusitano se deixou envolver nesta armadilha que, por ironia política, obrigava os portugueses a proteger o antigo inimigo! Na altura em que os Acordos de Lusaka foram firmados era ministro dos Negócios Estran­geiros de Portugal o Dr. Mário Soares. A sua sombra do MFA era o major Ernesto Melo Antunes. Do team faziam também parte: Almeida Santos, Victor Crespo, Almeida Costa e Casanova Ferreira. De Moçambique vieram Antero Sobral, representando o «Governo» e o coronel Nuno Alexandre Lousada, delegado do MFA do QG de Nampula. Todos eles, debaixo dos flashes da imprensa internacional, assinaram por Portugal. Pela Frelimo, «bastou» a assinatura de Samora Machel! Da parte dos portugueses, o pri­meiro a pôr o seu nome no protocolo foi Ernesto Melo Antunes, ministro sem pasta e o mesmo que estabelecera com Aquino de Bragança, imedia­tamente a seguir ao golpe de Lisboa, a ponte com uma das «Frelimos»... Aquino de Bragança, natural de Goa, era membro de um movimento comunista pró-independência da índia Portuguesa e, desde 1969, prin­cipal conselheiro de Samora Machel. Na Argélia, onde viveu, conheceu o general Humberto Delgado e todos os outros anti-salazaristas que ali residiam com a «etiqueta» de refugiados políticos. Foram estes contactos que o levaram, e que por tabela levariam também Samora Machel, direc­tamente ao homem certo da Revolução de Abril, o major Melo Antunes. Nada era surpresa para os jornalistas internacionais como eu. Soares e os seus amigos socialistas tinham feito a vida negra ao Governo de Marcello Caetano. Foram estes, com a ajuda do árabe da rent-a-crowd que organi zou as manifestações de Julho 1973, que deram o golpe final ao regime de Caetano. Logo a seguir, socialistas e comunistas portugueses reuniram-se em França para planear a queda do Governo.
* * *
Eu lá ia, «sobrevivendo» no hospital e embora melhorasse de dia para dia não podia fazer o que mais desejava: viver os últimos momentos da guerra junto àqueles que tinham «dado o litro» para trazer a Moçambique a verda­deira paz e harmonia racial.
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Estávamos a 25 de Junho. Aos corredores do hospital chegou a notícia da bronca que tinha havido em Ressano Garcia, na fronteira de Moçambi­que com a África do Sul, com uma chusma de mineiros e uma secção de Comandos. Segundo as informações recebidas, um grupo de combate de Comandos tinha sido enviado para a fronteira de Ressano Garcia-Koma-tipoort para acalmar os mineiros que estavam em ebulição por razões «altamente políticas». Segundo um alferes, milhares de mineiros atraves­savam regularmente a fronteira entre Moçambique e a África do Sul e, normalmente, regressavam a casa logo que terminassem os seus contratos. Os serviços que apoiavam os trabalhadores moçambicanos, tanto em Res­sano Garcia como na RSA, funcionavam em Joanesburgo, na Curadoria dos Negócios dos Trabalhadores, agora Instituto do Trabalho. A sua activi­dade foi regulada pela Convenção de 1929, que seria alterada em 1963 por um protocolo «secreto», que fixava o valor do ouro enviado para Moçambi­que pela Câmara de Minas da África do Sul como pagamento de parte dos salários, sendo o seu valor nominal de 42 dólares/onça. Que ouro é este? Podemos perguntar... Pela Convenção, parte dos salários dos mineiros era pago em escudos moçambicanos para, no regresso a casa, poderem gastar algum nas suas terras com as famílias. O dinheiro necessário era obtido pela venda de ouro no mercado internacional; o lucro obtido era para Lisboa. O Governo de Pretória vendia este ouro no mercado mundial
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(Páginas 149/150/151/152)
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2011/06/a-cauda-do-escorpi%C3%A3o-o-adeus-a-mo%C3%A7ambique-de-giancarlo-coccia2.html
 

2 comentários:

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