Edgar Barroso
1 h ·
Ao Elvino Dias
(e a todos os que tombaram com ele)
Hoje, 22 de Outubro de 2024, todos nós – os enteados da pátria moçambicana – reunimo-nos para lamentar a perda irreparável de um homem de integridade inquestionável, um defensor incansável da justiça, um advogado comprometido com a verdade e um amigo leal que tu foste para todos nós, Elvino Dias. Foste brutalmente arrancado do nosso convívio, de forma vil e cobarde, na noite de 18 de Outubro de 2024, junto com Paulo Guambe, mandatário do partido PODEMOS, e uma mulher cuja identidade ainda nos permanece desconhecida. Foram 25 balas contra a nossa cidadania. Vocês receberam, por todos nós, 25 balas contra a nossa democracia. Aquela associação criminosa de parasitas, ladrões, arrogantes e facínoras despejou sobre vocês 25 balas contra a nossa soberania… Não obstante, e que é mais revoltante, vocês foram friamente assassinados por um esquadrão da morte, representando pretensamente as forças republicanas de defesa e segurança do nosso próprio país. Vocês foram, incompreensivelmente, vítimas da barbárie vermelha que se instalou nas sombras daquela noite e em todas as nossas noites e dias – passados, presentes e futuros – alimentados por esse sórdido regime que teme e oprime, selvaticamente, a soberania do nosso povo.
Na sua nobre e louvável função como advogado pro bono dos seus mais necessitados (e revolucionários) compatriotas, e como diligente assessor jurídico de Venâncio Mondlane – que se diga, de sobra, o candidato legitimamente vencedor, no coração dos moçambicanos comuns, das eleições presidenciais deste ano – Elvino lutou não apenas pelas leis escritas em letra e espírito dos nossos cânones jurídicos, mas também pela dignidade e direitos efectivos de cada moçambicano que deseja uma nação justa, igualitária e livre. Com efeito, a visão máxima de um activista social e político do seu calibre foi e continua sendo, acima de tudo, o bem-estar da colectividade que o circunda – e não apenas de um sindicato sanguessuga no poleiro do poder – no acesso aos mais básicos padrões de vida, de direitos e de dignidade humana. Indubitavelmente, nos seus últimos dias a vida do Elvino foi largamente dedicada, dentre outras coisas, a garantir que a verdade e a justiça prevalecessem num momento crítico da nossa história – um momento em que a fraude eleitoral, abjectamente organizada pelas carrascas forças ocultas que açambarcaram o poder estatal em Moçambique, tenta sufocar a vontade legítima de um povo que clama por imediatas e inadiáveis mudanças.
Vivemos tempos sombrios hoje, onde o medo, a intimidação, a intolerância e a perseguição política, invariavelmente tenebrosas e violentas, ameaçam aqueles que ousam sonhar e lutar por um Moçambique livre. Um Moçambique livre de um partido-Estado, crescentemente autoritário, que não hesita em separar e em escrutinar (ou até em sacrificar), violenta e impiedosamente, os seus melhores filhos em função da sua orientação política e não do seu sentido de pátria e de nação. O teu sonho, como o de muitos de nós, era o de descolonizar a grosseira insensibilidade dos que, com base em futilidades do género “este é nosso, aquele não é nosso”, não olham a meios para açambarcar recursos, oportunidades e privilégios colectivos em nomes de interesses individuais, familiares ou de grupo, por um lado; e para ostracizar os compatriotas que ousam se insurgir por maior e melhor redistribuição, por outro lado. Elvino, evidentemente, sabia de todos os riscos associados a esse ousado sonho. Ele conhecia os perigos, sobre os quais recorrentemente se debruçava publicamente, mas nunca hesitou em fazer o que era certo. Nunca recuou diante da omnipresente ameaça da morte, porque a sua coragem e o seu amor pela justiça eram maiores do que o terror do Estado e dos seus agentes que buscavam, diligentemente, silenciá-lo.
Estamos todos aqui, presencial ou virtualmente, não apenas para chorar a sua morte; estamos aqui também para honrar a sua vida. Dentre inúmeros feitos heróicos, Elvino foi um pilar de irreverência, de integridade e de competência técnica de excelência em alguns dos nossos processos eleitorais mais recentes, invariavelmente marcados por sistemáticas (e deliberadas) irregularidades, ilícitos, ilegalidades e crimes (muitos deles encobertos, deliberadamente, pelos nossos poderes judiciais a todos os níveis). Não obstante, e como ele mesmo acreditou até ao fim da sua própria vida, apesar de todos os maquiavélicos esforços de uma específica (e muito bem conhecida) elite política para manipular os resultados eleitorais passados e presentes, Elvino nunca se escusou de salientar que a esperança do povo de Moçambique se revia e se revê, crescentemente, em Venâncio Mondlane e tudo o que ele simbólica e praticamente representa para o país.
Heroicamente, Elvino provou a todos os moçambicanos que o prevalecente regime – feito daqueles pouquíssimos a que se outorgam o direito inalienável (?) de serem os únicos (?) e sacrossantos (?) governantes do povo moçambicano – pode tentar calar todas as vozes daqueles que defendem a verdade e a justiça, mas que a legitimidade dos resultados eleitorais pertence ao povo, e essa verdade ressoará doravante, suprema e bravamente, em todos os cantos do nosso Estado, do nosso país e da nossa nação.
Frisamos hoje, para a pátria e para o mundo, que o sangue de Elvino, de Paulo Guambe e da mulher que com eles pereceu – e de todos os outros verdadeiros heróis das massas, no passado, no presente e no futuro – não foi e não será derramado em vão. Este sacrifício fortalece, une e alimenta, crescentemente, a determinação, em todos nós, de continuar a lutar por um Moçambique livre da opressão, onde cada vida tem o merecido valor e onde a justiça não se curva, nunca, ao algoz e pútrido poder que hoje nos despreza, combate e aparentemente aniquila.
Hoje despedimo-nos de um herói de facto. E mesmo com todas as suas imperfeições, és agora o nosso herói! Um homem que se ergueu, corajosa e inabalavelmente, contra as trevas da corrupção e da leviandade dos nossos sistemas de administração da justiça e de administração eleitoral – autênticos vampiros insolentes da soberania popular moçambicana. Todavia, mesmo na sua morte, Elvino e todos os nossos heróis populares tombados ou por tombar, iluminam-nos crescente e fervorosamente com o seu exemplo. Que o seu legado nos inspire a continuar a luta pela verdade e pela justiça para todos, e sem excepção, até que o nosso país conheça, finalmente, a ansiada paz, a efectiva prosperidade, a verdadeira democracia e o pleno exercício dos direitos e liberdades fundamentais que Elvino e todos os outros (e nossos) heróis tanto defenderam e continuarão a defender.
Descanse em paz, prezado amigo e compatriota. A sua luta agora é a nossa luta. O seu sonho é o nosso sonho, até também a vez de cada um de nós chegar. Não obstante, eles, os nossos algozes, nunca nos terão a todos. Um dia, muito brevemente, triunfaremos. E, só por isso, prometemos continuar a luta porque, como diz a máxima, “as revoluções são a locomotiva da história”. Até lá, a sua memória, prezado Elvino e demais heróis, vocês viverão, infalivelmente, em cada corpo, mente e coração que acredita – e que continuará a acreditar – num Moçambique melhor.
Até breve!
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