23.06.2019 às 18h27
O candidato da oposição, Ekrem Imamoglu, ganhou com 53% dos votos. É a segunda derrota para o Presidente Recep Tayyip Erdogan, cujo partido já tinha perdido as eleições em março, depois anuladas. Na repetição, este domingo, Imamoglu deverá ter ampliado a vitória, segundo os primeiros resultados. Para Erdogan, a perda de Istambul poderá representar o princípio do fim do seu reinado
"Her sey cok guzel olacak." Tudo vai ficar bem. O slogan de campanha de Ekrem Imamoglu, o candidato da oposição que acaba de ganhar – pela segunda vez, as eleições locais em Istambul, poderá bem ser o mote para o fim do reinado do hegemónico e autocrático Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que começou a sua fulgurante carreira política precisamente ganhando a câmara de Istambul, há 25 anos.
Segundo os primeiros resultados, acabados de publicar, Imamoglu terá ganho por 53% dos votos – uma margem bem maior do que os 13.000 votos que lhe deram a vitória em março passado, numas eleições locais gerais que marcaram a primeira derrota de Erdogan num quarto de século. O partido do Governo perdeu então a maioria das grandes cidades turcas, incluindo a capital, Ancara, e a maior metrópole do país, mas o voto em Istambul foi anulado numa controversa e arbitrária decisão do Comité Nacional de Eleições, que muitos consideram ter sido um desvio flagrante dos princípios democráticos e de justiça.
Erdogan terá forçado a repetição do voto na sua Istambul, uma câmara com um orçamento de €7 mil milhões e que representa um terço do produto interno bruto do país, e uma peça importante na vasta rede de negócios e de influencias que apoiam o Presidente, mas os mais de 10 milhões de eleitores bateram este domingo o pé pela segunda vez ao Presidente, que está agora numa rara posição de fraqueza.
Imamoglu – até há pouco um ilustre desconhecido, presidente de uma câmara municipal local na região de Istambul, militante do CHP, esquerda republicana laica, o maior partido da oposição - ganhou uma notável notoriedade política fazendo uma campanha inclusiva e tolerante, calma e positiva, fazendo jus às suas raízes, humildes e muçulmanas. O candidato governamental, o ex-primeiro ministro Binali Yildirim, falou já às televisões e admitiu a derrota, num discurso sereno e amistoso.
O resultado confirma também a resiliência da democracia e do povo turcos, sujeitos nos últimos anos a diversos atropelos, e confirma o enorme erro estratégico de Erdogan. Resta saber se o controlo quase absoluto que Erdogan tem sobre o país abrirá agora algumas brechas – fala-se de dissidências importantes no seio do seu partido (AKP, jJustiça e Desenvolvimento), nitidamente exausto após 17 anos de poder quase total.
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