Jiadista português dá entrevista a televisão curda: “Cometi um erro, estou pronto para ir para a cadeia”
27.06.2019 às 18h00
Steve Duarte afirma estar disposto a cumprir pena numa cadeia no Luxemburgo onde vivia antes de partir para a Síria. Pertencia à propaganda do Daesh e foi filmado no deserto a executar inimigos
Steve Duarte, de 30 anos, enverga um uniforme cor de laranja durante uma entrevista à cadeia de televisão curda Rudaw, traduzida pela RTL. "Cometi um erro, estou pronto para ir para a cadeia", afirmou o lusoluxemburguês que foi detido em maio pelas forças curdas que combatem o grupo terrorista e se encontra retido num campo na Síria. "Estou a pensar em voltar para o Luxemburgo para cumprir uma pena de prisão. Cometi um erro e esse erro merece uma pena. Estou pronto para ir para a cadeia".
Aos jornalistas revela que partiu no final de 2014 do Luxemburgo para a Síria, via Istambul. "No início havia petróleo, dinheiro, comida e tudo mais. No entanto, houve divergências em relação ao casamento e às mulheres", conta. "Os problemas começaram mais tarde quando o exército atacou o Daesh. A vida quotidiana tornou-se muito difícil."
Hoje é pai de duas crianças, um rapaz de três anos e uma menina de dois. E marido de uma mulher africana, ex-emigrante francesa de quem não sabe do paradeiro. É também alvo de um mandado de captura internacional emitido pelas autoridades do Luxemburgo.
Questionado se tem falado com a família de origem portuguesa que reside no Luxembugo, Steve Duarte revela que tem contactado a mãe via Internet, mas as más ligações não têm permitido uma conversa contínua. "A internet era muito má nas áreas controladas pelo Daesh. Conversei principalmente com a minha mãe para me mandar dinheiro. Queria tirar minha esposa e filhos dessas áreas, mas a ligação era muito má e a minha mãe estava com medo de enviar dinheiro para um grupo de criminosos."
Steve Duarte, ou Abu Muhadjir Al Andalousi (o seu nome de guerra),era um dos mais importantes lusodescendentes do grupo terrorista, sendo uma figura influente em Raqqa. Pertencia ao departamento de media e propaganda do Daesh. "Houve uma separação entre o trabalho militar e o trabalho de media. Ee apenas fotografava lugares lindos. Isso é tudo. Disse-lhes que não queria lutar."
As autoridades têm fortes suspeitas que foi Steve Duarte quem surgiu num vídeo de propaganda, em fevereiro de 2016, a discursar em francês, de rosto tapado com um passa-montanhas que deixava apenas de fora os olhos e o cabelo louro. No fim mata a tiro um dos cinco reféns que surgem no vídeo de oito minutos, identificados como traidores do Estado Islâmico. é o elemento mais importante dos jiadistas que surgem nas imagens, e que abatem as vítimas a sangue frio.
As imagens terão sido gravadas em Ninive, no norte do Iraque, num local bombardeado pelas forças da coligação. "Juro que pagareis um preço muito alto e que o vosso final será muito doloroso", ameaça Steve Duarte, em tom ameaçador, de pistola na mão. Aos seus pés, ajoelhado, está o homem que matará pouco depois. E acrescenta: "Se Deus quiser, recuperaremos Al Andalus", designação dada à Península Ibérica.
Na entrevista, Steve Duarte revela que foi atingido por uma explosão de uma bala na espinha. "Não me consegui mexer durante seis meses. Precisei de reabilitação. Transferiram-me para o "escritório dos feridos". Deram-me uma renda mensal e fiquei lá por seis ou sete meses."
Detentor de nacionalidade e passaporte português, nunca perdeu a ligação ao país dos pais. Nascido em Meispelt, na comuna de Kehlen, cresceu no Luxemburgo mas regressava frequentemente à Figueira da Foz, terra onde ainda tem família. Criado numa família católica, converteu-se em 2010 ao Islão numa mesquita da Argélia e até pôs o video do ritual no YouTube. Foi também aí que se casou com uma mulher argelina.
"Quero uma nova vida, se Deus quiser", afirmou no final da entrevista.
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