O jornalista angolano Xavier de Figueiredo, que nasceu em 1947, em Nova Lisboa (Huambo), defende que, tal como acontece frequentemente, a História de Angola irá engrandecer o líder histórico e fundador da UNITA, Jonas Savimbi.
Segundo o antigo director do Africa Monitor e autor do livro “Crónica da Fundação Huambo/Nova Lisboa, com prefácio de Marcolino Moco e Jaime Nogueira Pinto, Jonas Savimbi que, 17 anos após ter sido morto em combate e cujo corpo foi sequestrado pelo MPLA, foi sábado enterrado na terra natal dos pais, em Lopitanga, 30 quilómetros a oeste do Andulo, na província do Bié, foi uma personalidade “absolutamente marcante” nos 45 anos de História de Angola.
“É uma personalidade absolutamente marcante naquilo que foram estes 45 anos da História de Angola, pelo papel que aqui exerceu, pelas causas que se bateu e fazendo isso de uma forma exemplar. Acompanhei na minha vida profissional de jornalista aquilo que foi a acção dele como líder e como grande inspirador de causas”, sublinhou Xavier de Figueiredo.
Convidado pela direcção da União Nacional para a Independência Total de Angla (UNITA) para as exéquias fúnebres do fundador do partido do Galo Negro, Xavier de Figueiredo disse admirar em Savimbi o facto de “nunca ter vacilado” e de ter seguido uma vida “dando critérios de exemplo”.
“Acho que marcou muito e teve um papel determinante naquilo que foram as grandes mudanças que ocorreram em Angola a seguir ao fim da Guerra Fria”, que, tal como noutros países africanos, opôs os Estados Unidos da América, a apoiarem a UNITA, e a então União Soviética, ajudada por militares cubanos, a ajudar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), destacou.
Questionado sobre se a História há-de reconhecer o papel de Savimbi em Angola, Xavier de Figueiredo lembrou que, “tal como as grandes figuras”, a “grandeza acaba sempre por prevalecer e por se impor”.
“Isso aconteceu sempre assim. Na História, em geral, sempre se viram figuras que, numa determinada fase das suas vidas, ou após as suas mortes, ainda eram muito desprestigiadas, lançavam ónus sobre elas, mas, depois, a sua grandeza acabava por prevalecer e por se impor”, sustentou.
“Mas, apesar de ainda existir esse fenómeno de diabolização de Savimbi, o conceito que há dele na sociedade angolana já é muito diferente daquilo que era há alguns anos. Estamos diante de um processo que vai levar, seguramente, a uma reabilitação plena dele”, acrescentou.
Instado sobre se teria sido possível uma homenagem como a realizada sábado em Lopitanga no regime de José Eduardo dos Santos (1979/2017), o jornalista, actualmente na reforma, lembrou que o antigo presidente angolano “não estava receptivo” à ideia.
“Julgo que não. [Eduardo dos Santos] deu sempre mostras de que não estava receptivo a isso, a começar pela forma como, indirectamente, se mostrava contra a entrega das ossadas [de Savimbi, depositadas no cemitério do Luena, província do Moxico, sempre sob a alçada do Governo angolano]. Acho que não era possível”, opinou.
Para Xavier de Figueiredo, a “luz verde” dada pelo actual Presidente, João Lourenço, à entrega dos restos mortais de Savimbi à família e à UNITA, “só se tornou possível no quadro de um processo de reformas que está em curso em Angola”.
“Acho que é importante fazer parte de um novo espírito de concórdia e de reconciliação nacional, que passa por coisas também como estas”, sublinhou, aludindo à aceitação de João Lourenço de um pedido feito pela família e pelo líder da UNITA, Isaías Samakuva, em 2018.
Para Xavier de Figueiredo, a abertura política que João Lourenço está a tentar impor em Angola é um “passo” na direcção certa, apesar de ainda lidar com “fenómenos internos” dentro do MPLA, partido de que o Presidente angolano também é líder.
“[João Lourenço] Ainda lida com fenómenos internos, que têm a ver com uma relação precárias de forças. Ainda persiste [no MPLA] uma certa mentalidade [ligada a Eduardo dos Santos] e isso será uma coisa que irá evoluindo com o tempo”, referiu.
Para Xavier de Figueiredo, o Presidente angolano já deu “passos importantes” nesse sentido, sendo, por isso, inevitável” que outros se sigam.
“É importante que Angola modifique completamente aquilo que foi a sua reputação de um país onde existia uma democracia limitada, onde havia aquele ambiente de corrupção. É essencial que Angola saia deste tormento económico em que se encontra”, concluiu.
Xavier de Figueiredo nasceu em 1947, em Nova Lisboa – ao tempo, nome da cidade que desde os seus primórdios e até 1928 se chamara simplesmente Huambo. Aí viveu até 1970. Em 1971, acabado o serviço militar, entrou como estagiário na Redacção do jornal “A Província de Angola”, em Luanda.
Foi o início de uma longa e multifacetada carreira de jornalista, verdadeiramente ainda não encerrada e quase toda passada no campo dos assuntos africanos. O seu primeiro artigo de imprensa tinha por tema a sua terra natal. Foi na adolescência que o escreveu. E com o alvoroço próprio de um adolescente, viu-o publicado no jornal “O Planalto”, de Nova Lisboa.
Segundo o Jornal de Angola, em artigo publicado em 7 de Janeiro de 2016, Xavier de Figueiredo «é um antigo e estreito colaborador da tenebrosa “South African Bureau For State Security”, conhecida por BOSS, os serviços secretos do regime do apartheid na África do Sul que foram responsáveis pela repressão a Nelson Mandela e a outros patriotas do ANC».
Acrescenta o pasquim nesse miserável texto que «durante a guerra em Angola, o torcionário mediático Xavier de Figueiredo destacou-se como o mais fiel colaborador dos serviços de inteligência ocidentais na subversão contra o Governo angolano. O editor do “Africa Monitor” foi o grande legitimador na comunicação social portuguesa da guerra de Jonas Savimbi e da África do Sul em Angola. Foi por isso responsável pela morte e o estropiar de milhares de angolanos».
E prossegue o Pravda do MPLA: »Apesar das sanções da ONU decretadas contra os mais directos colaboradores de Savimbi, ainda hoje os serviços de informação de Xavier de Figueiredo continuam activos em Portugal e a atacar as autoridades angolanas como se a hostilidade da UNITA continuasse. O seu escritório está mesmo situado num edifício ligado aos serviços secretos portugueses».
«Com a paz em Angola, o figurão Xavier de Figueiredo fracassou numa tentativa de lançar uma publicação lusófona, isso porque depois de tanta patifaria e de tanto crime, ninguém lhe deu crédito. A não ser Nicolau Santos e Francisco Pinto Balsemão, que agora o pegam ao colo. É este assassino moral dos angolanos que serve de fonte principal ao director adjunto do “Expresso”», dizia ainda o órgão oficial do MPLA.
Folha 8 com Lusa
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