Monday, June 3, 2019

Brasil apoiou a FNLA em 1975 na guerra civil angolana


Grupo de combatentes brasileiros e portugueses que estavam ao lado da FNLA em 1975
Jornal brasileiro revela a história desconhecida do envolvimento do então regime militar no poder neste país a um dos movimentos que combateu contra o MPLA na guerra civil em Angola, iniciada antes da declaração da independência em 1975.
O Brasil esteve envolvido na guerra civil de Angola, que a partir de 1975 opôs o MPLA à UNITA e FNLA, apoiando este último movimento.
O objetivo era garantir que, em caso de vitória dos movimentos anticomunistas e no quadro de uma época marcada pela lógica da Guerra Fria, o Brasil manteria a sua influência em África e, designadamente, em Angola. Ao mesmo tempo, o Brasil, então a viver sob regime militar, foi o primeiro país a reconhecer a independência declarada a 11 de novembro de 1975 pelo MPLA em Luanda.
Segundo um dos intervenientes na operação, ouvido pelo Estado de S. Paulo, a ordem para esta intervenção terá partido do então presidente brasileiro, o general Ernesto Geisel.
Ficavam assim salvaguardados os interesses geoestratégicos e económicos do Brasil, quer em caso de vitória da FNLA, então militarmente relevante e que contava nas suas fileiras com ex-militares portugueses e ex-membros da PIDE-DGS, quer em caso de vitória do MPLA, apoiado pela União Soviética e que contava com tropas cubanas e combatentes do PAIGC na defesa de Luanda.
Esfera soviética
Por outro lado, refere ainda o mesmo diário, que cita a investigadora Gisele Lobato (do ISCTE-IUR) que está a trabalhar documentação ligada a estes factos, o Brasil tentava também influenciar a formação de equilíbrios em África, num momento em que as três ex-colónias portuguesas tinham caído sob influência da esfera soviética (caso da Guiné-Bissau e de Moçambique) e o mesmo parecia estar para suceder com Angola.
O facto é revelado num trabalho do Estado de S. Paulo em que se refere a ajuda brasileira ter sido feita por especialistas em explosivos e instrutores em contraguerrilha num momento em que as forças da FNLA e ex-militares portugueses, comandados por Gilberto Santos e Castro e um dos principais impulsionadores das tropas Flechas no exército português, Álvaro Alves Cardoso, desencadeavam a ofensiva sobre Luanda que culminaria na batalha de Kifandongo, em que o MPLA acabou por triunfar.
Além do Brasil e dos EUA, a FNLA foi apoiada pela áFrica do Sul e pelo então Zaire
O jornal ouviu três antigos membros dos serviços de informações brasileiros e ainda um dos combatentes brasileiros, Pedro Marangoni, que participou na ofensiva sobre Luanda. Além de Marangoni, um outro militar brasileiro, José Paulo Boneschi, de quem existe uma foto ao lado do líder da FNLA, Holden Roberto. Foto essa publicada num livro de 1978 pelo ex-agente da CIA John Stockwell, In Search of Enemies.
Enquanto agente da CIA, Stockwell esteve envolvido no apoio americano à UNITA e FNLA em 1975.
Além do Brasil e dos Estados Unidos, a FNLA e a UNITA contaram ainda, nomeadamente, nesta época com o apoio do então Zaire (hoje RDCongo) e da África do Sul.
Marangoni afirmou àquele jornal brasileiro ter-se encontrado com outros compatriotas quando se juntou ao grupo comandado por Santos e Castro. Uma outra fonte do Estado de S. Paulo conta que o envolvimento de Brasília na guerra civil angolana teria sido organizada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), chefiado à época por um outro presidente sob o regime militar, o general Baptista Figueiredo que sucedeu a Ernesto Geisel.
Se a FNLA entrasse em Luanda, o Brasil enviaria tropas, com apoio americano, a Angola
Segundo um outro testemunho recolhido pelo diário brasileiro, o do coronel Paulo César Amêndola, fundador do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), o "Brasil não poderia se comprometer de início. Por isso, enviou a missão de forma clandestina. Eram precursores. O Boneschi me disse que, se a FNLA entrasse em Luanda, o Brasil enviaria tropas, com apoio americano, a Angola".
Mas tendo falhado a ofensiva da FNLA sobre Luanda e tornando-se claro que não haveria condições para nova tentativa, uma parte dos brasileiros começa a regressar antes ainda data da declaração da independência e os restantes algo tempo depois, segundo Pedro Marangoni.

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