Fixando a leitura na Nota de Imprensa, com data de 31 de Agosto, libertada pelo Moza um dia depois de o Montepio ter anunciado em Portugal sua saída do Banco Terra (vendendo uma participação de 45,78% ao Arise Fund), até parece que, de repente, o banco fundado por Prakash Ratilal e controlado hoje pela Kuhanha, o fundo de pensões do Banco de Moçambique, decidiu exibir musculatura para reforçar sua posição entre os BIG 5 do sector financeiro nacional. Mas nao! Trata-se de uma operação para acomodar a entrada do Arise Fund no Moza. O Arise é um grupo formado pelos holandeses Rabobank e FMO e o Norfund norueguês. Os três fundos, like-minded, decidiram unir suas acções em África.
Em Moçambique, o Arise já detinha uma participação de relevo no Banco Terra (52,3%, ). Mas queria se reforçar e atacou o Moza. As negociaçōes terão culminado recentemente com a possibilidade de o Arise passar a deter 30% do Moza, realizando parte desse capital com a sua participação no Banco Terra, agora melhorada com a compra da porção do Montepio. E como o Arise quer ter um banco mais robusto em Moçambique, está a arrastar o Banco Terra para o Moza. Ou seja, na futura estrutura do Moza, depois que se consumar esta “aquisição”, a Kuhanha vai reduzir sua participação para apenas 50%, continuando no entanto a controlar a gestão.
O Arise Fund, disse uma fonte próxima das negociaçōes, queria mais do Moza…mas a Kuhanha terá argumentado que ela, como uma entidade de moçambicanos, podia muito bem se manter maioritária (no banco continuam o Novo Banco português e o nosso Moçambique Capitais, uma entidade que reúne cerca de 400 accionistas). Ou seja, os mesmos argumentos que inspiraram Prakash Ratilal e seus pares a criarem o Moza estão agora a ser usados pelo fundo do Banco de Moçambique para não perder o controlo do banco, perpetuando uma situação de conflito de interesses entre regulador/supervisor e entidade supervisionada (existe no sector financeiro uma forte percepção de que o banco central actua de forma complacente em relação ao Moza).
A nota de imprensa do Moza refere-se a uma proposta de “aquisição” da totalidade do capital do Banco Terra SA e posterior “fusão” (merger) entre o Moza e o Terra. Ao fim ao cabo, o que vai acontecer é mesmo uma fusão. O recurso à aquisição é uma formulação que evita algumas implicações legais para o Moza, nomeadamente uma “due diligence” para apurar o estado real da sua carteira de negócios, incluindo a dimensão do seu crédito mal parado (o Moza foi um dos bancos locais que adquiriu as nocivas bonds da Ematum, com garantia soberana caloteira). Uma perspectiva de “merger” obrigaria a que se olhasse para os staff dos dois lados, atacando-se a alegada “gordura” laboral do Moza. Mas com a opção por uma perspectiva de aquisição, o Moza estará em condições de decidir se levará consigo todos os cerca de 200 colaboradores do Terra ou apenas alguns.
O anúncio do Moza foi feito um dia depois de ter sido noticiada em Lisboa a saída do Montepio do Banco Terra. O banco português, responsável pela recuperação do Terra desde 2012 depois de anos de prejuízos acumulados, não entrou na equação do Moza. A GAPI que, por sua vez detém uma minoritária participação de 1.9% no Terra, está a analisar se vai entrar no Moza nos moldes em que a operação foi anunciada, disse uma fonte. O Banco Terra tem 181 trabalhadores, 10 agências, um activo de 54 milhōes de Euros e um passivo de 32 milhões. A situação do Moza é menos boa. Fonte relevante do Moza prometeu-nos uma entrevista para breve.
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