Mesmo que perca as primárias no Wisconsin, esta terça-feira, o magnata continuará bem colocado para ser o nomeado do Partido Republicano. Única hipótese da ala tradicional é apresentar na convenção um nome mais forte para agradar ao restante eleitorado.
A epopeia das eleições para a escolha dos candidatos à Casa Branca pelo Partido Democrata e pelo Partido Republicano já teve alguns momentos que pareciam ser decisivos e outros super importantes – primeiro foi a Super Terça-feira de 1 de Março; depois o Super Sábado de 5 de Março; e finalmente uma segunda Super Terça-feira, a 23 de Março. Chegados a Abril, a epopeia transformou-se numa saga semelhante ao filme Sexta-feira 13, daquelas que têm sempre um capítulo a mais do que o desejado – nesta terça-feira, 5 de Abril, todos os olhos vão estar postos no estado do Wisconsin, onde os adversários de Donald Trump terão, mais uma vez, uma última grande oportunidade para travar a sua nomeação, e onde Bernie Sanders terá, mais uma vez, uma última grande oportunidade para se aproximar de Hillary Clinton.
Apesar do suspense que vai alimentando o filme das primárias no Partido Republicano e no Partido Democrata, a verdade é que já se pode falar num número limitado de finais alternativos, que só muito dificilmente sofrerão reviravoltas de fazer cair o queixo.
No Partido Republicano, o magnata Donald e o seu "trumpismo" caminham a passos largos para um de três cenários. Ou consegue amealhar até Junho os 1237 delegados necessários para ser coroado na convenção, um mês mais tarde – e lá vai ele representar o partido nas eleições gerais; ou terá de enfrentar uma segunda votação nessa altura e esperar um de dois resultados prováveis: ou confirma o favoritismo e ganha à segunda volta – e lá vai ele representar o partido nas eleições gerais –, ou perde à segunda, muito provavelmente para o senador Ted Cruz – e lá vai ele de volta para o mundo do imobiliário em Manhattan ou fazer render politicamente a sua nova aura de defensor dos brancos e desiludidos.
A grande esperança do movimento anti-Trump no interior do Partido Republicano é que os eleitores do Wisconsin tenham em conta o desastre que foi a última semana do magnata, e que o penalizem nas primárias desta terça-feira, onde estão em jogo 42 delegados. Depois de ter chegado a liderar as sondagens no Wisconsin com dez pontos de avanço sobre Ted Cruz, Donald Trump deu um trambolhão e está agora dez pontos atrás, segundo uma sondagem da Faculdade de Direito da Universidade Marquette.
Haverá outros factores, mas a série de trapalhadas em que o magnata se deixou envolver nos últimos dias não ajudou: primeiro partilhou na sua conta no Twitter uma imagem em que pretendeu mostrar que a sua mulher, Melania Trump, é mais bonita do que a mulher de Ted Cruz, Heidi Cruz; depois, e ainda aos comandos de uma locomotiva desgovernada contra o eleitorado feminino, defendeu que as mulheres que interrompem a gravidezdeviam ser punidas com penas de prisão ou com multas, se o aborto voltasse a ser banido em todas as suas formas no país, para mais tarde voltar atrás e depois ficar a meio, sem se perceber muito bem qual é a sua posição; para terminar a semana de pesadelo, Trump disse que se for Presidente irá tirar os EUA da NATO se os outros parceiros não contribuírem com mais dinheiro, e deu a entender que pouco se importa que o Japão desenvolva armas nucleares, até porque desse modo o país poderia "varrer" a Coreia do Norte "num instante".
O menor de dois males?
O caminho de Trump para a nomeação no Partido Republicano é difícil de travar, mas está longe de ser inevitável. Já se percebeu que grande parte dos eleitores do partido está revoltada com a ala mais tradicional (o chamadoestablishment, que se arrepia ao ouvir falar em saídas da NATO e guerras nucleares entre o Japão e a Coreia do Norte), e a prova disso é que o segundo mais bem colocado para se candidatar à Casa Branca é Ted Cruz, um senador ultraconservador eleito na onda de sucesso do movimento Tea Party, em 2010 e 2012.
Em suma, se o establishment do Partido Republicano conseguir escapar à nomeação de um candidato que defende a construção de um muro "grande e maravilhoso" na fronteira com o México e a suspensão da entrada de todos os muçulmanos nos EUA (Trump), poderá ver-se obrigado a apoiar o candidato que forçou a paralisação do Governo federal americano em 2013, numa guerra contra o Obamacare mas também contra os limites da paciência da liderança do seu próprio partido (Cruz).
A terceira hipótese de que se fala é a de um príncipe montado num cavalo branco irromper pela convenção adentro para resgatar os valores conservadores moderados (os nomes mais falados são Mitt Romney e Paul Ryan). Esta hipótese deixa de ser apenas um conto de fadas quando se olha para as sondagens a nível nacional.
Se Donald Trump não garantir os 1237 delegados necessários antes da convenção, haverá uma primeira votação em que todos os delegados são obrigados a manter-se fiéis aos seus candidatos – o resultado natural é que tudo fique na mesma, sendo necessária uma segunda votação. Neste caso, os delegados ficam livres para votarem em quem entenderem, e podem decidir dar o seu apoio a alguém mais moderado, que permita ao Partido Republicano dar luta nas eleições gerais ao nome escolhido pelo Partido Democrata.
A hipótese de uma derrota histórica em Novembro é o maior medo do Partido Republicano neste momento. Apesar de ser muito cedo para haver certezas, nem Donald Trump nem Ted Cruz vencem qualquer duelo nas sondagens contra Hillary Clinton e Bernie Sanders. No caso de Trump, e apesar de o magnata surgir aos olhos do mundo como um candidato muito forte, a verdade é que está 10,8 pontos atrás de Clinton, e se o duelo for entre ele e Bernie Sanders, a derrota poderá ser ainda mais humilhante – por uma diferença de 16 pontos, segundo a média das sondagens consideradas pelo site Real Clear Politics.
Sanders precisa de um milagre
No lado do Partido Democrata, e apesar do suspense que transpira de cada título sempre que se aproxima uma eleição importante, uma nomeação de Bernie Sanders seria o equivalente à mais brilhante reviravolta da história do cinema.
Há três factores que explicam a tarefa hercúlea que o senador do Vermont tem pela frente para conseguir derrotar a antiga secretária de Estado: a vantagem que Hillary Clinton arrecadou até agora no número de delegados que estão obrigados a votar nela na convenção (1243 contra 980); o facto de o Partido Democrata distribuir todos os seus delegados de forma proporcional, o que significa que Clinton teria de sofrer derrotas muito pesadas até Junho para deixar escapar a vantagem que conseguiu amealhar; e a preferência de grande parte dos superdelegados pela antiga secretária de Estado (469 contra 31, faltando ainda saber a inclinação de mais de 200). Estes superdelegados são livres de votar em quem entenderem e podem mudar de opinião até à convenção, mas não terão muitas razões para o fazer se Clinton chegar ao fim das primárias com mais delegados do que Sanders.
Esta terça-feira, no Wisconsin, vão estar em jogo 96 delegados no lado Partido Democrata, e o senador que não tem problemas em assumir-se como socialista na pátria do capitalismo tem reais hipóteses de vencer Hillary Clinton – o problema é que uma vitória à tangente, como indicam as sondagens, pouco irá mexer naquilo que verdadeiramente interessa: a coluna com os números de delegados.
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