terça-feira, 5 de abril de 2016

Antes de morrer, ex-líder da Mossad acusou Netanyahu de pôr o interesse pessoal acima do país

Em declarações divulgadas após a sua morte, Meir Dagan diz que do actual primeiro-ministro israelita: "É o pior dirigente que conheci".
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel RONEN ZVULUN/REUTERS
Meir Dagan, antigo líder dos serviços secretos israelitas, disse numa entrevista póstuma publicada pelo jornal Yedioth Ahronoth que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, preocupa-se mais com o interesse pessoal do que com o interesse do país. O jornal publicou excertos de uma entrevista inédita com o antigo líder da Mossad, a agência de espionagem e de operações especiais israelita, que morreu a 17 de Março deste ano. 
“Conheci muitos primeiros-ministros. Nenhum deles era um santo, mas tinham um ponto em comum: quando o interesse pessoal entrava em contradição com o interesse nacional, este último prevalecia. Não posso dizer o mesmo de Netanyahu e de [Ehud] Barak [antigo primeiro-ministro e actual ministro da Defesa israelita]”, afirmou Dagan na entrevista.  
Meir Dagan dirigiu a Mossad entre 2002 e 2010, durante os mandatos de Ariel Sharon (2001-2006), Ehud Olmert (2006-2009) e de Benjamin Netanyahu (desde 2009). Foi uma figura bastante crítica do actual primeiro-ministro israelita, sobretudo depois de ter abandonado a agência secreta.Netanyahu é o pior dirigente que conheci”, disse Dagan ao Yedioth Ahronoth. “Ele tem a tendência, tal como Ehud Barak, para se considerar o maior génio do mundo, só que não sabe o que quer”.
Dagan afirmou que Netanyahu era bastante indeciso, recordando situações em que o actual primeiro-ministro israelita dava instruções à Mossad para determinadas operações e que depois voltava atrás nas suas decisões, tendo entrado várias vezes em conflito com a agência secreta e com os serviços de segurança do país. “Ele foi o único primeiro-ministro que chegou a um ponto em que a discordância não era pessoal, mas sim substancial, com o todo o serviço de segurança a não aceitar os seus pontos de vista”.
Dagan referia-se à proposta de Netanyahu de atacar o Irão. O primeiro-ministro israelita e o seu ministro da Defesa, Ehud Barak, prepararam, em 2010,  um ataque contra as instalações nucleares iranianas, operação que esbarrou no Exército e nos serviços secretos israelitas, que se opuseram à proposta, que teve como um dos principais críticos o próprio Dagan, na altura ainda líder da Mossad.
“A proposta de que um ataque militar poderia parar o projecto nuclear iraniano é imprecisa. Esse tipo de capacidade militar não existe. Tudo o que poderia ser alcançado seria uma suspensão [do programa nuclear iraniano], e apenas por um período limitado”, afirmou Dagan.
No entanto, apesar das fortes críticas à forma como Netanyahu lidou com esta questão, o antigo líder da Mossad nunca escondeu as suas preocupações em relação à ameaça nuclear iraniana, defendo a necessidade de Israel estar prevenido. “Penso que Israel deve desenvolver a capacidade para atacar o Irão. É importante que tenhamos essa opção, mas não com o objectivo de utilizá-la. Os custos são maiores do que os benefícios”, reiterou.
Durante os oito anos em que esteve à frente da agência secreta, Dagan foi uma figura importante na tentativa de conter o programa nuclear iraniano. Segundo a imprensa israelita, durante o mandato de Ariel Sharon, Dagan foi o responsável por diversas operações onde foram eliminados vários cientistas nucleares iranianos, e onde foram causados vários danos às centrifugadoras de enriquecimento de urânio do país. Estas operações nunca foram confirmadas oficialmente pela Mossad.
Meir Dagan morreu vítima de cancro em Março deste ano, com 71 anos. Antigo general militar retirado, Dagan serviu durante 32 anos as forças de defesa de Israel. Liderou muitas missões, entre elas a Guerra dos Seis Dias em 1967, a Guerra de Yom Kippur de 1973 e a Guerra do Líbano em 1982. Durante o seu mandato de oito anos, a Mossad levou a cabo uma série de operações, incluindo o assassínio de líderes do Hamas e do Hezbollah, no Dubai e em Damasco, respectivamente, revela o Times of Israel. Nos seus últimos anos de vida, foi um dos maiores críticos da liderança de Netanyahu.
Desde que foi assinado o acordo sobre o nuclear iraniano entre o grupo dos 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China + Alemanha) e o Irão, Israel tem-se assumido como um dos seus principais opositores, considerando-o um“erro histórico”. Netanyahu considera que o acordo, que estabelece um sistema de verificação internacional do programa atómico e da actividade das unidades nucleares iranianas, não irá impedir o Irão de continuar a desenvolver o seu armamento nuclear, fazendo constante referência à eventual intenção iraniana de destruir o Estado de Israel.
Texto revisto por Ana Gomes Ferreira

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