O renomado juiz jubilado, João Carlos Trindade, disserta, na sua página de Facebook, sobre a expulsão de Moçambique de Eva Moreno, uma cidadã espanhola, facto acontecido na semana passada. Não me ocorre agora discordar com o post de Carlos Trindade (isto aguardo para melhor momento). Ocorre-me sim dizer aqui, e de viva voz, que eventualmente não devia ser ele a vir a público debater estes assuntos, sabendo que o seu passado recente é muito negro. Aliás, Trindade só chegou a juiz jubilado exactamente por ser serviçal do partido no poder, no auge do monopartidarismo.
Há uma passagem na minha vida, envolvendo a pessoa de João Carlos Trindade, que vale lembrar (isto vai constar do meu livro que brevemente vou publicar). Quando fui preso tinha por volta de 25/26 anos de idade. Pouco sabia sobre a trajectória de juízes-conselheiros. Numa conversa em que estava eu, Nini Satar, o meu falecido irmão Ayob, o decano dos advogados moçambicanos e também falecido Domingos Arouca; eu, diferentemente do meu irmão, não confiava muito na justiça moçambicana.
Recordo-me que estávamos os três à conversa numa das salas da cadeia da BO e discutíamos o recurso relativo ao processo Carlos Cardoso. Ayob, o meu falecido irmão, era da opinião que os nossos recursos iriam ser analisados positivamente pelos juízes-conselheiros do Tribunal Supremo, uma vez que o processo em questão era mediático.
Domingos Arouca disse, no entanto, que conhecia a todos os juízes-conselheiros. Falou de Luís Mondlane que para ele era uma pessoa que não representava perigo porque só recebia ordens não baseava com Leis. E disse que tinha medo de Trindade porque este sim, era o pior juiz que conhecera e era, nas suas palavras, até capaz de vender a sua própria mãe para agradar a nomenklatura política do dia. Acabou apelidando-o até de comunista. Sobre Norberto Carrilho, pouco disse mas deu para perceber que também não era flor que se cheirasse. Nesse instante, a minha desconfiança sobre a justiça moçambicana avolumou-se.
Vão me desculpar os meus amigos do Facebook. Coloquei aquele trecho exactamente para não se assustarem ao ler o que a seguir irei dizer sobre João Carlos Trindade. Na minha opinião, não porque ele não tenha razão, mas devia abster-se de comentar assuntos envolvendo a polícia e a justiça moçambicana porque se estão tortos como estão hoje, em parte devem isso a Trindade. Definitivamente ele não foi um bom exemplo. Num país sério nem chegaria a ser um juiz jubilado.
Carlos Trindade, quando era juiz da primeira instância, lavrou sentenças em que os nossos irmãos moçambicanos eram chamboqueados em plena praça pública por o seu delito ter sido vender pão cinquenta centavos a mais do que o preço da padaria.
Muitos moçambicanos soçobraram às ordens de Trindade por tocar rádio num volume não recomendável. Outros por vender duas barras de sabão, dois quilos de arroz, meio litro de óleo e outras miudezas que até me fazem um nó ao estômago quando tento relatá-las. João Carlos Trindade foi o carrasco do povo moçambicano. Os milicianos obedeciam as suas ordens e chamboqueavam nossos irmãos a torto e a direito enquanto ele (Trindade) refastelava-se com vinhos importados e mordomias típicas da época, só por servir aos interesses mesquinhos do partido no poder.
Recordo-me que no dia em que Carlos Cardoso foi assassinado, Trindade correu à Redacção do “metical”. Com autorização de Zacarias Couto e outros colaboradores de Carlos Cardoso, entrou no computador deste (Cardoso) como quem vinha por bem. Afinal, queria deleitar todo o material ali existente que comprometia os “camaradas”. Chegou até ao extremo de apagar um texto sobre Octávio Muthemba, antigo PCA do Banco Austral, repito Banco Austral, esquecendo-se que o mesmo texto já havia sido publicado no “metical” três dias antes.
O texto era comprometedor a Octávio Muthemba e cabia a Trindade apagar todas as pistas para que este não fosse levado a julgamento. Trindade, efectivamente, apagou tudo o que no seu entender comprometia as suas chefias. E é o mesmo Trindade que em público se alvora de amigo do falecido Carlos Cardoso.
Trindade, como disse o Dr. Arouca, não é amigo de ninguém. Muito menos de si mesmo. Ele é um tirano e os tiranos não têm amizades. Tiram proveito de tudo. São mesquinhos. Vendem até a sua própria alma ao diabo para sobreviverem.
João Carlos Trindade até bateu palmas quando o Governo do dia.mandou fechar a Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane. Ele já era licenciado. Portanto, não queria que houvesse pretos advogados ou juízes para lhe roubarem o protagonismo. Há muito que falar sobre esta figura esquisita que dá pelo nome de João Carlos Trindade, mas prefiro terminar por aqui. Prometi que nos próximos dias trarei mais desenvolvimentos sobre a sua infeliz intervenção na expulsão de Eva Moreno de Moçambique.
PS: Como podem ver nalgumas fotos aqui postadas, o Trindade agora já ataca o Governo. Por exemplo, cita o jornal Wall Street que fala do negócio dos 850 milhões de dólares da Ematum (foto 1). Na foto 2, ele partilha um artigo que diz a “criminosa” que o Governo decidiu expulsar do nosso país. A foto 3 ilustra o seguinte: instaurado processo-crime contra os polícias envolvidos na detenção da magistrada do MP. E ainda diz que se não for brincadeira de um de Abril, a notícia é muito boa.
Meus caros, durante o julgamento de Carlos Nuno Castel-Branco, em que Trindade era advogado deste, ele fez duras críticas ao judiciário e mandou recados ao juiz da causa para que este credibilizasse a justiça que já está a cair de podre. O que eu noto, é que João Carlos Trindade, nesses últimos tempos, está a fazer um esforço hercúleo para se redimir do seu passado tenebroso. Esquece que as feridas deixadas na memória colectiva dos nossos concidadãos ainda não cicatrizaram.
Como muitos sabem, eu, aqui no Facebook, tenho mais de 50 mil seguidores. E pessoas há, pode ser em minoria, que me enviam mensagens no meu inbox dizendo que o que Trindade está a fazer mostra que tem peso de consciência do que andou a fazer no passado. Outras, a maioria, dizem que quer se desculpar pelas atrocidades cometidas. Nada mau. Mas é preciso que ele seja original. Tem de fazê-lo publicamente e ele sabe quando e onde fazer isso.
Nini Satar
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