“Podemos tocar todo os batuques ao mesmo tempo em Moçambique. Ninguém ouve. Paz, paz, paz. Qual paz? Ás vezes a gente não entende que até que os nossos políticos se envergonhem de falar do Acordo Geral de Paz de Moçambique, os dois beligerantes devem saber a razão porquê estão a fazer guerra. Isso é com eles. Mas nós não queremos guerra, em Moçambique. A questão da guerra deve terminar. Ou os moçambicanos acabam com a guerra ou a guerra acaba com eles. Não podemos brincar de guerra civil. A guerra civil é para matarmo-nos ”, (Fim da citação. Extraído do discurso de Dom Jaime Gonçalves).
Ao relermos este trecho por mais de duas vezes, percebemos que o maior culpado pela perpetuação desta guerra somos nós, o povo moçambicano. Governo nenhum tem que ver com isto. Nós, o povo moçambicano, é que admitimos estas barbaridades. O Nyusi, o seu filho e algum seu parente próximo jamais serão atingidos por esta guerra. O povo sim.
O povo moçambicano tem que tomar atitude e dizer aos políticos: basta! Desde criança aprendi que a união faz a força. O Governo e a Renamo não são capazes de derrubar um povo unido. Aliás, eles não são nada sem o povo moçambicano. Não podemos deixar que o medo de dizer basta tome conta de nós sob o risco de tornarmo-nos impotentes. Temos que, ao mesmo tempo, dizer basta!!!
Por outro lado, fiquei estupefacto quando li algumas notícias nas redes sociais que davam conta que a TVM, a televisão pública, não transmitiu o funeral de Dom Jaime Gonçalves, realizado sábado passado na Beira.
Que eu saiba, a TVM é uma televisão pública. Portanto, é de todos os moçambicanos. Todos nós é que, sob forma de impostos, subsidiamos a TVM. Sem nós ela não existiria. É nossa televisão. É de todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo. O funeral de Dom Jaime Gonçalves merecia ser transmitido pela TVM ao pormenor. Ele fez muito por Moçambique do que qualquer trabalhador da TVM. Na escala de heróis deste país, Dom Jaime Gonçalves ocupa lugares cimeiros. Jamais o seu nome será esquecido na História de Moçambique.
Numa noite escura de Abril de 1988, Dom Jaime aterrou em Cainxixe (Maringué, província de Sofala), para iniciar as negociações com Dhlakama que conduziram aos Acordos de Roma e ao fim de 16 anos de guerra civil.
Na noite da sua aterragem não havia luzes. A avioneta foi orientada por uma luz de gambiar. E foi o próprio Dhlakama que lhe foi buscar numa motorizada. Já na boleia da motorizada, Dhlakama disse a Dom Jaime: “Segura-te bem para não caíres. E não te preocupes com a mata. Eu conheço tudo isto.” Foi nessa aventura, que mais parecia um filme, que foram lançadas as primeiras sementes daquilo que viria ser a paz que vivemos por 20 anos.
“Ouvi que queres atacar Maputo”, estas foram as primeiras palavras de Dom Jaime a Dhlakama. E este respondeu: “Não quero atacar ninguém. Se haver vontade do Governo de negociar, eu quero paz.” E é a este Dom Jaime Gonçalves que sacrificou tudo por nós que a TVM exclui nos seus noticiários? Quer falar de quem? De algum ministro quando completa anos? De lambebotismo estamos fartos. Este país precisa de um povo unido e que saiba o que quer. Político nenhum, mesmo que tenha todo o arsenal pesado de sempre, pode derrubar um povo unido.
Ao Dom Jaime Gonçalves, a minha singela homenagem. Descanse em paz homem de Deus.
Nini Satar
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