Sexta, 12 Junho 2015
O PRESIDENTE da República defende que o país deve se concentrar em actividades que levem ao progresso e ao bem-estar do povo e sair da condição de refém do processo do diálogo político entre o Governo e a Renamo, que não produz resultados.
Filipe Nyusi fez este pronunciamento reagindo a uma pergunta colocada por jornalistas, na segunda-feira, sobre a falta de resultados no actual formato do diálogo político que se arrasta desde o ano passado no Centro de Conferências, Joaquim Chissano, em Maputo.
“Para ser produtivo, o diálogo tem de resultar numa paz efectiva. Nós sentarmo-nos e dizer: não há problemas à paz efectiva”, referiu o Chefe do Estado, que reconheceu que neste momento o país carece, na verdade, deste elemento, porque o povo está a ser ameaçado.
“Se nos meus comícios ameaço as pessoas, devo parar com isso. Se de facto existem pessoas que se sentem excluídas e eu é que estou a exclui-las do sistema, tenho que parar com isso. Se estou a governar o país e a usar uma força que não seja a Polícia ou as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, devo parar e eliminar essa força”, vincou o Chefe do Estado, insistindo que no nosso país a paz efectiva não existe, porque as pessoas se cruzam todos os dias nas aldeias e localidades com homens armados que não são da Polícia nem das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.
NÃO QUERO SER DRÁSTICO
O Presidente da Republica, que falava segunda-feira, perante jornalistas, no final da sua visita de trabalho de quatro dias à província de Nampula, mostrou-se na ocasião disponível para continuar a manter as reuniões que tem vido a promover em prol da paz, ressalvando, porém, que esses encontros têm de produzir resultados concretos, denunciando a sua preocupação com o vazio que se verifica no diálogo político em curso, que já vai para além das 100 rondas, entretanto, sem resultados visíveis.
“São reuniões que discutem os mesmos problemas há mais de 100 rondas, mas ainda sem resultados e sem se saber qual será o passo seguinte, de cada sessão. Isso cansa o povo, porque as pessoas ficam sem saber nada sobre as matérias em debate”, deplorou o Chefe do Estado, revelando não querer ser drástico no sentido de dizer: “agora chega, parem com isto”.
“Vejam só, quando dissemos que a EMOCHM deve parar surgiram tantos comentários e interpretações erradas à medida, que desviaram o sentido da nossa decisão”, lamentou o Chefe do Estado, que explicou que a EMOCHM foi criada para um problema concreto: desarmar e reinserir os homens residuais da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança e reintegrar na sociedade civil aqueles que não tenham a idade exigida para serem incorporados na Polícia ou no Exercito.
“Então este trabalho não foi feito e a presença da EMOCHM no país consumia rios de dinheiro. Milhões e milhões de dólares que podiam ter sido úteis noutras áreas foram gastos (inutilmente) nesta operação”, anotou o Presidente da República, fazendo referência depois aos subsídios que as pessoas que participam neste diálogo recebem.
“Ora, se o problema (que faz com que o diálogo marque passos) for dos subsídios, que nos digam (claramente) que gostariam que o diálogo tivesse 200 sessões e nós faríamos o cálculo para saber quanto é que isso iria custar para podermos pagar e parar com esta conversa sem resultados, para as pessoas poderem viver e trabalhar sossegadas e em tranquilidade”, referiu ainda o Chefe do Estado.
Filipe Nyusi deplorou ainda o facto de o presente diálogo político estar a ocupar tempo demais aos moçambicanos, que no lugar de usá-lo para questões de desenvolvimento, concentram-se mais apenas nas questões sobre a paz.
“Imaginem, vocês (jornalistas), neste momento deviam estar a ocupar o Chefe do Estado com questões sobre como criar mais empregos para as pessoas, como desenvolver o nosso país! Mas, agora estamos aqui e sempre a discutir sobre a paz, e é assim em todas as reuniões. Nós investimos 60 por cento do nosso tempo falando de uma coisa em que deveriamos estar livres dela, há muito tempo!...” reprovou o Presidente da República.
Apesar desta censura, Filipe Nyusi reiterou a sua disponibilidade, prontidão e flexibilidade necessária para continuar a conversar sobre a paz.
“Os jovens de Ribáuè apelaram-nos ontem que devêssemos continuar o diálogo, mas sem pisar o risco, e pisar o risco é “furar a lei” (a Constituiçao). E para “furar a lei” só se ela for alternada. Agora não podemos fazer isso, porque perderiamos a nossa credibilidade e seriedade perante os moçambicanos e o mundo. Se isso acontecesse (a alteração imediata da Constituiçao), seria a própria população a julgar e a questionar; afinal, como é que é, escolhemos um programa de governação e as coisas alteram-se, assim, de qualquer maneira?!”, explicou o Chefe do Estado, censurando as pessoas que apoiam e encorajam a alteração constitucional para acomodar o propalado projecto das autarquias provinciais.
“Nós não podemos viver num país extra-mundo. Não somos diferentes dos outros países, inclusive desses com pessoas que procuram nos encorajar a “furar” as nossas leis. Que experimentem elas nos seus países mudar ou alterar o figurino das leis em plenas eleições. Nós vamos ver depois se deu certo ou não. O que não queremos ser é campo de treino. O que nós queremos em Moçambique é trabalhar tranquila e serenamente pelo desenvolvimento do nosso país”, defendeu o Chefe do Estado.
POPULAÇÃO ENCORAJOU-NOS A AVANÇAR
O Presidente da República falou ainda dos objectivos que o levaram a Nampula, situando-os no contexto do “agradecimento aos cidadãos que no passado dia 15 de Outubro foram às urnas votar nas eleições gerais, independentemente em quem votaram”, mas porque o seu gesto legitimou o processo democrático em Moçambique.
Porém, Nyusi dirigiu uma saudação especial aos que votaram nele e no seu partido, a Frelimo, porque assim lhe deram a oportunidade para contribuir, àquele nível, no desenvolvimento do país.
“Temos estado também a dar explicações sobre o produto resultante do manifesto das preocupações populares que se traduziu no nosso programa quinquenal de governação, e, neste caso, o Plano Económico e Social deste ano”.
O Presidente da República considerou excelente a visita a Nampula, pois, conforme revelou, a recepção de que foi alvo, o carinho manifestado pela população, o movimento e o calor humano, superaram todas as expectativas, tornando-se numa “verdadeira celebração total da nossa vitória eleitoral nesta provincia”.
“Vimos claramente que os distritos de Nacala-à-Velha, Ribáuè, Mogovolas e a cidade de Nampula assumiram-se inequivocamente como donos da vitória. Vestiram a camisola da vitória e encorajaram-nos a avançar, porque eles sabem que na votação tomaram uma opção correta para a continuação dos projectos de governação da Frelimo Simo”, reconheceu Nyusi.
Segundo ele, os outros distritos assumiram de longe, também com uma grande contundência, o seu programa, no qual acreditam ser o único que pode melhorar a vida dos moçambicanos.
Com efeito, foi notável nos comícios que dirigiu, que quando o Chefe do Estado falava do Programa Quinquenal do Governo, a população respondia em coro, colocando em primeiro lugar, na lista das prioridades nacionais, a paz e a unidade nacional. “Queremos que Moçambique continue unido e indivisível”, gritou, por exemplo, de forma bastante ruidosa a multidão reunida no comício realizado no emblemático e populoso bairro de Namicopo, arredores da cidade da Nampula.
“Tivemos este tipo de mensagens em todos os comícios”, reconheceu, mais tarde, o Presidente da República, observando, porém, que o ponto mais alto do seu trabalho ocorreu no contacto “terra-a-terra”, quando visitou o Porto de Carvão em Nacala-à-Velha, e foi informado da iminente industrialização da zona, “e ficou claro que podemos resolver as preocupações dos moçambicanos criando oportunidades de emprego, como as que ali estão a ser geradas”.
“Também foi possível ver que quando entrar em vigor o movimento ferro-portuário vai ajudar muito no desenvolvimento de Moçambique”, considerou o Chefe do Estado na conferência de imprensa que concedeu a jornalistas em Nampula para o balanço da sua visita à província.
NOVA DINÂMICA RESULTA
O PRESIDENTE da República disse na mesma ocasião que durante as sessões com os Governos distritais procurou sempre imprimir um estilo de trabalho orientado para os resultados. “Estamos a dizer que o administrador é um especialista para administrar a sua área e que o seu trabalho tem características diferentes. Apelamos e estamos a incutir a mentalidade de profissionalização no trabalho distrital. Cada um deve saber o que é que o distrito tem, o que precisa e qual é a potencialidade dos recursos humanos, materiais e patrimoniais que têm de ser explorados”, referiu o Chefe do Estado, mostrando-se satisfeito por ter constatado no terreno que os administradores e outros dirigentes locais colaboram muito na compreensão profunda do que devem fazer.
“Isso nos permite avaliar as capacidades e qualidades de cada um, porque temos de explorar essas capacidades, pois somos muitos moçambicanos e entre nós existe uma boa capacidade humana que deve ser devidamente explorada e esta interacção ajuda para sabermos em quem é que devemos ajudar e onde temos de reforçar essa ajuda.
Em Mogovolas, o Chefe do Estado visitou a fábrica de descasque da castanha de caju e disse ter ficado impressionado com o nível da industrialização do sector.
Para além da matéria-prima localmente obtida, a fábrica emprega mais de 800 operários, metade dos quais mulheres, que trabalham em condições aceitáveis e a qualidade do produto ali manufacturado é considerada excelente.
Mogovolas é considerado uma das regiões de muita produção da castanha de caju, superando em termos de colheita o conjunto das três províncias do sul do país, havendo informações de que a fábrica local tenciona transformar a casca da castanha em óleo, o que vai ser “muito bom para os próprios traballhadores”.
GOSTEI DO QUE VI E NÃO DO QUE OUVI
Para o Chefe do Estado, a visita foi um momento em que “sentimos que o nosso país pode dar muito”.
Na cidade de Nampula, o Presidente da Reública inaugurou o laboratório de plantas e solos e disse ter constatado no terreno, numa feira da mandioca, que visitou no distrito de Ribáuè, que com as técnicas novas e melhoradas de sementes de diferentes tipos pode se tirar, onde antes se obtinha apenas três toneladas de mandioca, por hectare, 30 toneladas deste tubérculo por hectare.
Aliás, um produtor da mandioca revelou, numa reunião com o Chefe do Estado, em Ribáuè, ter obtido 36 toneladas do tubérculo por hectare.
“Estamos a arrancar com determinação e esperança no nosso projecto de produtividade. E agora estamos em condições de falar de competividade, porque quando há abundância, já há escolha. O único problema agora é o mercado”, congratulou-se o Chefe do Estado.
Nyusi considerou interessante, quando na reunião com os produtores, em Ribáuè, lhe foi colocado o problema de atraso na implementação do projecto PROSAVANA, porque os camponeses olham agora para este programa como uma solução do crescimento.
“Foi espantoso porque antes o debate não era esse. Temos que continuar a compreender mais as sensibilidades das populações sobre o projecto PROSAVANA. A população, que está no terreno, está esperançada nos resultados deste projecto. E nós precisamos de compreender este aspecto. Por isso, iremos, com os nossos parceiros, investir mais neste projecto”, prometeu.
Questionado na conferência de imprensa sobre a avaliação que faz ao desenvolvimento socioeconómico da província de Nampula, Filipe Jacinto Nyusi foi peremptório: “Gostei mais do que vi e não do que ouvi”.
Defendeu que quando a população fala de novas estradas, de comboios novos e longos, das redes de telefonia móvel e da energia eléctrica, em todos os locais, significa que estamos a crescer.
Reconheceu que actualmente a população já não fala dos centros de Saúde sem maternidade. Exige agora centros de Saúde com materniddade, serviços de cirurgia e de Raio X.
“As coisas estão a andar. Aquilo que nós ouvimos nos relatórios e aquilo que vimos no terreno se adequam”, concluiu.
DAVID FILIPE
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