O ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano, Oldemiro Balói, disse hoje que as organizações internacionais de que Moçambique faz parte estão a acompanhar com "atenção máxima" a situação do país, quando a Renamo ameaça tomar governos provinciais pela força.
"Todas as organizações de que o país está filiado estão a acompanhar com atenção a situação que se vive em Moçambique. Temos interagido, só que no âmbito da diplomacia silenciosa. A atenção é máxima", afirmou Balói, citado pela Agência de Informação de Moçambique, à chegada à África do Sul, onde acompanha o Presidente moçambicano na cimeira da União Africana.
Segundo o chefe da diplomacia de Maputo, as ameaças da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), maior partido de oposição, ainda não tiveram reacção das autoridades estatais, mas assegurou que estão em prontidão para responder ao que for necessário.
Na quinta-feira, o Conselho Nacional da Renamo anunciou que ia criar autarquias provinciais à força em seis regiões do centro e norte do país e criar uma polícia, além da de redistribuir o seu efectivo militar para responder a eventuais ataques do Governo.
O mesmo órgão avisou que iria evacuar e ocupar os edifícios públicos onde funciona o Governo da Frelimo e que aos actuais dirigentes do partido no poder ser-lhes-ia dada oportunidade de escolha, de filiarem-se na Renamo para se manterem nos cargos ou abrirem caminho para a oposição.
Mas no dia seguinte, o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama recuou na ameaça do uso da força e deu um prazo de três dias para começar as negociações com o executivo sobre a descentralização do Estado.
Dhlakama retomou a ideia, que já tinha indicado anteriormente em Nampula, de alargar a proposta de criação das autarquias provinciais a todo o país, seis das quais (Sofala, Tete, Manica, Zambézia, Nampula e Niassa) a serem governadas de imediato pelo seu partido, e as outras cinco a criar depois das eleições gerais de 2019.
O presidente da Renamo disse ainda que seria mal entendido se decidisse "usar armas para forçar as províncias autónomas", acrescentando que vai pressionar a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) para "parar com brincadeiras e manipulações".
As declarações de Dhlakama aconteceram no mesmo dia em que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou a preparação de uma nova ronda de contactos com os partidos de oposição.
Sem mencionar a Renamo, Nyusi reiterou a sua disponibilidade para se encontrar com os líderes da oposição e representantes da sociedade civil, "com vista a dar prosseguimento a um diálogo orientado para resultados concretos no domínio da consolidação da paz".
Em resposta, Afonso Dhlakama sustentou que "tem de haver um trabalho de consenso", insistindo que apenas estará disponível para uma nova ronda negocial com o Presidente Moçambicano "se a conversa for para dar frutos e pôr a andar o projecto e não para aparecer na fotografia".
No início do seu mandato, Filipe Nyusi avistou-se duas vezes com o líder da Renamo e também com o presidente do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), Daviz Simango, e representantes de vários partidos extraparlamentares.
Depois dos encontros entre o Presidente da República e o líder da oposição, a Renamo submeteu um anteprojecto de lei ao parlamento, preconizando a criação das autarquias provinciais em seis regiões do país, mas a proposta foi rejeitada pela maioria da Frelimo.
A iniciativa da Renamo visava ultrapassar a crise política em Moçambique, motivada pela recusa do principal partido de oposição em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro.
Filipe Nyusi chegou hoje à África do Sul, onde participa no domingo na 25.ª cimeira da União Africana.
Lusa – 13.06.2015
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