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17.06.2015
Esta foi a pergunta que a fotógrafa francesa Bénédicte Desrus fez a si própria quando uma reportagem a levou até à Casa Xochiquetzal, para fazer o retrato da mentora do espaço, Carmen Muñoz. As mulheres e as histórias de vida que lá encontrou nunca mais lhe saíram da cabeça e foi assim que nasceu o projeto “Las Amorosas Más Bravas”, que resultou num livro verdadeiramente comovente.
Em conjunto com a escritora mexicana Celia Gómez Ramos, passou seis anos em visitas constantes à Casa Xochiquetzal, o único abrigo do género na Cidade do México. Primeiro conquistou a confiança daquelas mulheres, cujas cicatrizes da vida as tornaram resistentes a intrusos. Depois, ouviu-as. Por fim, fotografou-as. Ao todo são 26 mulheres, entre os 55 e os 68 anos, que foram ao inferno e voltaram mas que não perderam nem a força, nem o amplo sentido de humor. Naquele abrigo encontraram carinho, apoio e compreensão. Além de uma cama, comida e condições de higiene, pequenos gigantes luxos para quem viveu em condições miseráveis toda a vida. Já nestas fotografias encontraram um reflexo de toda a dignidade que merecem ter.
No México a prostituição não é criminalizada, mas também não é legal. No fim da vida, poucas ajudas sobram às mulheres que dela viveram toda a vida. Por aquela casa já passaram mais de 250, graças a Carmen, a alma por trás do projeto. Também ela ex-prostituta, passou vinte anos a tentar convencer ONG’s e o Governo a abrir o abrigo. Missão cumprida.
HISTÓRIAS DE VIDA INACREDITÁVEIS
Hoje, dentro daquelas paredes misturam-se histórias de vida inacreditáveis. Laetitia, por exemplo, fugiu do marido quando este a quis obrigar a viver com a amante dentro da própria casa. Tentou várias vezes o suicídio, mas a vida falou sempre mais alto. Norma foi repetidamente abusada por um padre da sua povoação, até que decidiu fugir, ainda miúda. Sonia foi alvejada com um tiro na cabeça, depois de ter sido violada por um estranho. Gloria foi vítima de violência doméstica durante quase toda a vida e degenerou num processo de alcoolismo. Canela tem 76 anos e sofre de síndrome de down. Em comum: todas elas dedicaram boa parte da sua vida ao trabalho sexual.
O livro, cujas receitas revertem em 60% para a Casa Xochiquetzal, pode ser encomendado O livro, cujas receitas revertem em 60% para a Casa Xochiquetzal, pode ser encomendado aqui. Mas para terem um bocadinho mais noção do seu conteúdo e das fabulosas mulheres que lá vão encontrar, deixo-vos o link para a fotogaleria partilhada pela fotógrafa e em baixo o vídeo de apresentação das “Las Amorosas Más Bravas”. Vale muito a pena espreitar.
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