Por Machado da Graça
Olá amigo Luís
Como vai a tua saúde e a da tua família? Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Queria hoje falar-te da marcha que fizemos, aqui em Maputo, para protestar contra o assassinato do Prof. Gilles Cistac.
Não sei quantas pessoas éramos. Sou mau a fazer esse tipo de contas. Amigos meus calcularam entre 2000 e 4000. Mas éramos muitos e profundamente indignados. Havia gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as idades. Muitos jovens, provavelmente estudantes universitários.
Vi lá dirigentes do MDM, nomeadamente Manuel de Araújo e Lutero Simango, e da Renamo, de que recordo Ivone Soares e António Muchanga.
Só não vi ninguém do partido Frelimo nem do Governo. Apesar de ambas as entidades terem, nos dias anteriores, declarado publicamente o seu choque com o assassinato, nem um só dos seus dirigentes, a qualquer nível, encontrou na sua ocupada agenda espaço para estar presente na marcha.
De resto o Governo só se fez representar ali mesmo em frente à Faculdade de Direito. Eram talvez uns 20 a 30 representantes e, tal como tinham pedido os organizadores da marcha, estavam totalmente vestidos de preto. Parecem é não ter percebido que se tratava de uma marcha pacífica porque estavam armados até aos dentes. E, curiosamente, virados no sentido contrário ao de todos os outros manifestantes.
Com estas atitudes Frelimo e Governo deram mais um tiro no seu próprio pé. Em vez de saírem à rua para protestar contra o assassinato de um cidadão colocaram-se, de alguma forma, do lado dos assassinos. Ao não aderirem à marcha e, pelo contrário, ao hostilizá-la, mostraram a sua opinião tão claramente como os milhares de manifestantes mostraram a deles.
Não é que eu tivesse grandes dúvidas sobre qual seria a posição dessas duas entidades, mas tenho de dizer que não esperava uma demonstração tão aberta e clara. Tão pouco inteligente.
A mediocridade com que fomos governados nos últimos anos estampou-se ali, à nossa frente, com fardas negras dignas de filmes de ficção científica. Fardas para as quais houve aquele dinheiro que nunca existe quando é necessário para coisas úteis.
E não houve ali bicefalia nenhuma. Frelimo e Governo estiveram unidos.
Uma enorme tristeza.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 10.03.2015
Queria hoje falar-te da marcha que fizemos, aqui em Maputo, para protestar contra o assassinato do Prof. Gilles Cistac.
Não sei quantas pessoas éramos. Sou mau a fazer esse tipo de contas. Amigos meus calcularam entre 2000 e 4000. Mas éramos muitos e profundamente indignados. Havia gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as idades. Muitos jovens, provavelmente estudantes universitários.
Vi lá dirigentes do MDM, nomeadamente Manuel de Araújo e Lutero Simango, e da Renamo, de que recordo Ivone Soares e António Muchanga.
Só não vi ninguém do partido Frelimo nem do Governo. Apesar de ambas as entidades terem, nos dias anteriores, declarado publicamente o seu choque com o assassinato, nem um só dos seus dirigentes, a qualquer nível, encontrou na sua ocupada agenda espaço para estar presente na marcha.
De resto o Governo só se fez representar ali mesmo em frente à Faculdade de Direito. Eram talvez uns 20 a 30 representantes e, tal como tinham pedido os organizadores da marcha, estavam totalmente vestidos de preto. Parecem é não ter percebido que se tratava de uma marcha pacífica porque estavam armados até aos dentes. E, curiosamente, virados no sentido contrário ao de todos os outros manifestantes.
Com estas atitudes Frelimo e Governo deram mais um tiro no seu próprio pé. Em vez de saírem à rua para protestar contra o assassinato de um cidadão colocaram-se, de alguma forma, do lado dos assassinos. Ao não aderirem à marcha e, pelo contrário, ao hostilizá-la, mostraram a sua opinião tão claramente como os milhares de manifestantes mostraram a deles.
Não é que eu tivesse grandes dúvidas sobre qual seria a posição dessas duas entidades, mas tenho de dizer que não esperava uma demonstração tão aberta e clara. Tão pouco inteligente.
A mediocridade com que fomos governados nos últimos anos estampou-se ali, à nossa frente, com fardas negras dignas de filmes de ficção científica. Fardas para as quais houve aquele dinheiro que nunca existe quando é necessário para coisas úteis.
E não houve ali bicefalia nenhuma. Frelimo e Governo estiveram unidos.
Uma enorme tristeza.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 10.03.2015
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