21.03.2015
AFONSO CAMÕES
A ministra Assunção Cristas não teve agenda para estar hoje na conferência que assinala, em Proença-a-Nova, o Dia Mundial das Florestas. É pena. Ali, de mais alto e mais longe, é que se vê melhor como só um país de ricos, deslumbrados ou mal governados vota ao abandono a metade interior de si mesmo.
O debate, mais que oportuno, é sobre os riscos, a economia e a estratégia que nos falta para que Portugal valorize um dos maiores dons com que a natureza nos brindou.
As áreas de matos e incultos representam quase dois milhões de hectares, o equivalente a um quarto do território nacional. E, no entanto, temos temperaturas, humidade e solos que podem fazer de Portugal um grande produtor florestal. Também já temos - das universidades aos gabinetes ministeriais - estudos e informação suficientes sobre as espécies mais adequadas a cada parcela do território. O que nos falta é planeamento, uma estratégia nacional e coragem política para a conduzir.
Ora, a definição de uma estratégia florestal é quase sempre um problema de longo prazo - 40 a 50 anos. Os grandes países florestais criaram florestas que hoje têm mais de 50 anos. Abatem à volta de 2% por ano. E aprenderam a gerir o seu património, valorizando-o. Em Portugal temos vindo a abandonar a floresta, especialmente a de longo prazo. Temos a floresta de (montado) sobreiro, a do eucalipto (invasiva e já predominante), a do pinheiro (adoentada e a definhar), mas não temos em boas condições a floresta de folhosas e resinosas de longo prazo.
Nunca tão poucos portugueses se ocuparam das áreas produtivas tradicionais como a agricultura e a floresta. Aí, em poucos anos, perdemos quase metade da força de trabalho. Eram mais de 600 mil em 2007, hoje não chegam aos 350 mil. E, no entanto, estamos a falar do que é nosso!
Um Estado que vota metade do seu chão ao despovoamento e ao abandono é a nação inteira a abdicar de si própria.
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