A HIENA
Quatro séculos atrás existiu um rei insaciável e ganancioso, que governou o sua terra por 10 anos, mas criou uma pobreza que durou por mais de 100 anos. Os olhos desse rei, quando subtilmente olhava para as pessoas, faziam lembrar os de uma Hiena esfaimada sobre a sua presa. O mais pequeno descuido político, logo caía-se nas suas garras e sem dó nem piedade, sacava até o último cêntimo do povo, para satisfazer os seus sôfregos apetites políticos e empresariais.
A reversão de uma barragem histórica naquele país, em que o rei recebeu uma comissão de 50 milhões de dólares foi o seu primeiro grande negócio de rapina. Além de ter ganho muito dinheiro, o rei colocou o filho de uma das suas irmãs à frente da barragem, sem concurso público.
Por sua vez, o sobrinho, também sem concurso público, contratou uma empresa para construir um palácio de sonhos numa montanha ao pé da barragem, para satisfazer os caprichos infantis do tio. O contrato com a empresa também preconizava que em cada 5 casas que construísse, uma fosse para o sobrinho do rei, numa praia paradisíaca a sul do reino.
O rei não parou por aí. A sua gula empresarial foi crescendo e dominando vários sectores, desde a agricultura, minas, energia e pesca em que se destacou mais um negócio obscuro, com a criação de uma empresa fantasma de captura de atum, através de um endividamento que custou milhões de dólares ao país.
Astuto e hábil para negócios sombrios, já no final do seu mandato, sempre usando o seu estatuto, o rei mandou construir uma ponte para concorrer de forma desleal com o Estado, numa falsa parceria público-privada com a então empresa estatal que zelava pelas estradas do reino. O abuso do poder foi mais longe, quando mandou abolir a taxa 'road trip' de 30 dólares que se pagava na fronteira e obrigou os camionistas a paga-la na portagem da sua ponte.
Rico e sem escrúpulos, o rei era capaz de eliminar politicamente, mas continuar a repetir até ao vómito que o fazia por a¬mor ao seu maravilhoso povo.
A Hiena política é assim mesmo: mente que ama o país só para o controlar, dominar, infantilizar, roubar e até o assassinar, como aconteceu há quatro séculos, precisamente a 3 de Março de 2015, com um Doutor e profundo conhecedor das leis daquele reino, que foi morto a tiros. Precisamente, por¬que era uma Hiena, o rei não era capaz de amar a ninguém, nem de se condoer de ninguém. A propósito, pode uma Hiena insaciável, alguma vez ter entranhas de humanidade?
Nunca, como desde que foi forçado a deixar o reinado e ficou a dirigir o país a partir do edifício da antiga Pereira do Lago, o rei tinha andado tão eufórico. O que fez dele uma hiena política ainda mais perigosa para o povo e para o reino. Sobretudo, porque o reino onde ele exercia a sua crueldade política era uma aldeia onde as populações, cobardes e medrosos por nascença, nunca tiveram a oportunidade de crescer na sua dimensão política, condenadas que tinham sido sucessivamente, primeiro, a ter que viver durante séculos sob a ditadura colonial; depois, sob a tirania de uma máfia disfarçada em partido democrático.
Mas, mesmo assim, o pobre povo, encorajava-se dizendo que tinha o poder, mas o muito que sabiam era reclamar nas barracas, nas mantas, nas redes sociais e ficar por aí. Quanto ao rei, nunca mais o vi, mas diz-se que teve um final triste. Depois de governar na sombra, por mais cinco anos, não resistiu aos problemas de dentes que o apoquentavam desde a juventude e sucumbiu, solitário.
Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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