O autor"kota"em 09. 2014 |
MEMÓRIAS
Angola
1951-1975
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Atenção pessoal de
Angola! Aqueles que nasceram depois de 1975
(Dipanda) certamente lhes foi ensinado nas escolas que foi o MPLA e Agostinho
Neto, o chamado "pai da pátria angolana" que lutou pela descolonização para que
o povo se libertasse do jugo colonial e tivesse uma vida melhor. Neste site
vereis pormenorizadamente que isso não passa de uma utopia e que não corresponde
à verdade dos factos devido às guerras fraticidas provocadas pela ambição do poder do MPLA e dos outros partidos porque,
actualmente, Angola sendo um país com uma riqueza natural enorme, está bem pior
em certos aspectos do que em 1975 que era o país mais próspero da costa
ocidental de África.
Já fui acusado de não ser imparcial no que escrevi neste site. O que escrevi foi baseado nas minhas memórias e no que encontrei em livros, jornais e na Internet. Por isso, peço a quem quiser relatar as suas memórias baseado em factos reais e credíveis que o façaa e me envie os textos ou fotos que eu os colocarei neste site para que se possa ver a opinião de ambos os lados do que se passou antes e depois da descolonização. Há muita coisa que não está nos livros nem na Internet mas há vivências pessoais que contadas me ajudarão a repor a verdade doa a quem doer. Podem usar um pseudónimo se quiserem, o mais importante é que os factos relatados sejam reais, credíveis e sem faciosismo político. Obrigado pela vossa colaboração.
Já fui acusado de não ser imparcial no que escrevi neste site. O que escrevi foi baseado nas minhas memórias e no que encontrei em livros, jornais e na Internet. Por isso, peço a quem quiser relatar as suas memórias baseado em factos reais e credíveis que o façaa e me envie os textos ou fotos que eu os colocarei neste site para que se possa ver a opinião de ambos os lados do que se passou antes e depois da descolonização. Há muita coisa que não está nos livros nem na Internet mas há vivências pessoais que contadas me ajudarão a repor a verdade doa a quem doer. Podem usar um pseudónimo se quiserem, o mais importante é que os factos relatados sejam reais, credíveis e sem faciosismo político. Obrigado pela vossa colaboração.
Introdução
Fui para Angola em 1951 ainda jovem
com 19 anos cheio de ilusões para conseguir uma vida melhor do que aquela que
tinha em Portugal continental. Como milhares de outros portugueses (cerca de 500
mil) devido à cegueira política de alguns ultra-esquerdistas do MFA
mentores do 25 de Abril, a minha esposa e os meus quatro filhos tiveram de
abandonar em 8 de Junho de 1975 a sua querida e amada terra que os viu nascer.
Eu só regressei ao meu país natal em 25 de Outubro de 1975 por não haver
condições para viver em segurança e com risco da própria vida, tendo deixado
tudo o que conseguimos com muito trabalho e sacrifício durante mais de 20 anos
colaborando para que Angola fosse uma grande Nação para
TODOS.
Pesquisando na Internet sobre a
descolonização de Angola encontrei muita coisa que me servirá de base para
escrever estas Memórias além da minha vivência pessoal. Depois de muitas horas
de pesquisa intensiva encontrei muitas opiniões de jornalistas, de
individualidades que tiverem responsabilidade na dita descolonização, de
políticos e relatos dos valentes que combateram a barbárie no Norte de Angola e
muitas outras coisas mas não encontrei nenhum escrito de memórias pessoais que
relatassem com fidelidade o que realmente se passou em Angola desde 1961. Tive
também a sorte de ter encontrado, já amarelecidos pelo tempo, (mais de 30 anos)
alguns jornais da Província de Angola de 1974/75 que tinha guardado na cave de
onde tirei informalões fidedignas do que aconteceu naquela
época.
Li alguns livros e vi imagens de
jornalistas que, com risco da sua vida acompanharam os nossos valentes soldados
nas operações no Norte de Angola de onde obtive a maior parte das fotografias,
algumas incrivelmente chocantes que irei colocar no texto para assim poder
mostrar ao mundo da Internet a realidade nua e crua que propositadamente foi
encoberta e desmistificar o que se disse e escreveu em Portugal sobre a
descolonização de Angola, sobretudo pelos partidos de extrema esquerda.
Eventualmente poderei escrever algumas imprecisões nas datas dado os anos que já
se passaram e que terei de citar de memória pelo que me
penitencio.
Começarei por uma descrião sumária
do que aconteceu em Angola a partir de 1961 até à independência em Novembro de
1975 e, só depois, escreverei a minhas Memórias desde a minha infância até à
data que regressei a Portugal, inclusivamente dos primeiros anos que aqui
residimos. Não omitirei nada que seja do meu conhecimento mesmo que isso vá dar
uma provável má imagem nossa. Tenho conversado com alguns dos meus amigos que
viveram noutras localidades de Angola diferentes onde vivi procurando obter
informações fidedignas que me ajudem a repor a verdade doa a quem doer. Vai ser
um trabalho árduo e que só será possível levá-lo a bom termo graficamente e
ilustrado com fotografias dada a minha experiência na ediçao de sites na
Internet.
1961
Janeiro
4-24
Prelúdio ao inferno.
Na Baixa do Cassange, em Angola, negros fazem greve nas plantações algodoeiras
(com motivos para isso) e lançaram a "Guerra de Maria", assim chamada por um dos
seus inspiradores ter sido António Mariano, próximo da União das Populações de
Angola (UPA). Queimaram sementes, destruirão pontes fluviais, missões católicas,
lojas e casas de brancos assassinando-os barbaramente, louvando Patrice Lumumba,
lider revolucionário do Congo e clamam pela independência de Angola só para os
angolanos nativos. As Forças Armadas Portuguesas esmagaram a revolta com
companhias de caçadores especiais e bombas incendiárias lançadas de aviões
militares. Um responsável da Força Aérea diz ao embaixador americano em Lisboa,
C. Burke Elbrick, que a violência teve origem na exploração dos nativos pela
Cotonang, firma algodoeira luso-belga. O turbilhão na Baixa do Cassange é
omitido da opinião pública. O esforço militar português orienta-se desde 1959
para África e retem lições da Argélia, onde a França enfrenta a subversão
nacionalista, com meio milhão de soldados, mas os preparativos de defesa
continuam em lume brando.
Fevereiro 4-5
Centenas de negros
atacam a Casa de Reclusão Militar e as cadeias civis de Luanda, com o objectivo
falhado de libertarem presos políticos. Nos confrontos morrem quarenta
assaltantes e sete polícias. O Governo vai ser forçado a emitir um aviso contra
os esforços dos brancos para fazerem justiça pelas próprias mãos. A partir de
Conackry, o MPLA reclama o 4 de Fevereiro como o início da luta armada em
Angola. (...)
Durante o funeral dos
polícias, grupos civis armados fazem batidas aos musseques na periferia de
Luanda e deixam algumas vítimas. (...) Uma combustão de violência e de pãnico
convulsiona Luanda. A mitologia da coexistência racial e da harmonia social -
trave mestra da política africana de Portugal - sofre um abalo de credibilidade.
(...)
Março 6
Botelho Moniz
(Ministro da Defesa) e Elbrick encontram-se durante três horas. Na maior da
confidência, o embaixador diz ter recebido instruções do secretário de Estado,
Dean Rusk, para pressionar Salazar a aceitar o princípio da autodeterminação em
África. Botelho Moniz defende uma remodelação que
dilate a base social do Governo, de forma a incluir elementos não comunistas da
oposição, e a autonomia ultramarina no quadro de uma relação de "tipo
Commonwealth". Introduz assim no imaginário político português uma perdurável e
falhada projecção: a comunidade transcontinental, de inspiração britanica, que
durante treze anos inspirou personalidades como Marcelo Caetano e António de
Spínola.
Março 7
Elbrick transmite a
Salazar o documento enviado por Rusk, a mando de Kennedy. Os Estados Unidos
prevêem convulsões graves em Angola, do tipo das do Congo ou piores, e vão votar
contra Portugal em 15 de Março. Sentem que faltariam ao seu dever, como aliados
na NATO, se não pedissem a Portugal a realização de reformas graduais em África,
no sentido da "autodeterminação dentro de um prazo realista". (...) Salazar
recusa a proposta de Washington para que Portugal acerte o passo com a
comunidade internacional e, ao fazê-lo, assume a solidão num mundo
hostil.
Março 15-18
No Conselho de
Segurança das Nações Unidas (...) os Estados Unidos, numa inversão da política
da Administração Eisenhower, votam pela primeira vez contra Portugal ao lado da
União Soviética.
De madrugada, na
Fazenda Primavera, perto de São Salvador, grupos de bacongos, empunhando catanas
e canhangulos e julgando-se imunes às balas dos brancos que chamavam de "maza"
(água), lançam uma ofensiva contra propriedades e povoações na zona de fronteira
com o Congo, na Baixa do Cassange, atacam as cercanias de Vila Carmona (Uige). O
Norte de Angola é avassalado por uma onda de brutalidade tribal: assassínios em
massa, incêndios, destruições e rapina de haveres, violação de mulheres e
crianças. Os tumultos espalham-se às plantações de café isoladas, aos postos de
abastecimento, às vias de transporte. Esse terror apocalíptico lançado pela UPA
tem por objectivo arrasar o sistema vital das comunidades brancas.
(...)
Richard Beeston, do
Daily Telegraph único reporter estrangeiro a viajar pelas áreas da
violência depois do 15 de Março, conta a um diplomata americano em Londres que
oitocentos portugueses, entre uma população de dez mil, foram massacrados em
três dias. "Os rebeldes não estavam bem armados e, antes de lanaçarem a sua
ofensiva, pareciam ter uma fraca organização. Foram convencidos por feiticeiros
de que podiam matar os portugueses sem perigo para eles próprios e que as terras
e propriedades dos brancos ficariam para eles." Muitos fazendeiros empreendem a
fuga do inferno, chegam a Luanda e partem daí para Portugal. Mas outros
juntam-se para defender o que é seu pelo trabalho, pegam em armas e formam
milícias. Sem surpresa, a contra-ofensiva faz depredações semelhantes às dos
bacongos e por todo o Norte vulgarizam-se cenas de horror e crueldade.
(...)
Março 22
Concentração de
tropas no Norte de Angola. A Força Aérea bombardeia povoações nos distritos do
Congo, Cuanza Norte e Malanje. O ministro do Ultramar, almirante Lopes Alves,
parte para Angola. Mais de três mil e quinhentos colonos são evacuados por ponte
aérea. Em Luanda, cerca de quatrocentos brancos cercam e isolam o consulado
americano e atiram às àguas da baía o carro do consul William Gibson. A
inspiração americana da revolta da UPA é indisfarçável. (...) Henry Kissinger,
secretário de Estado, confirmou mais tarde o apoio a Holden Roberto.
(...)
"História e Ciência" - João Ferreira Nunes.
"História e Ciência" - João Ferreira Nunes.
Acordo de
Alvor
Na sequência
do 25 de Abril, finalmente, no Alvor (Portugal), os três partidos concertaram
com o Governo português um acordo sobre a fórmula pela qual Angola se tornaria
independente.
No Alvor, os três movimentos foram reconhecidos como únicos e legítimos representantes do povo angolano, e Angola como país indivisível, incluindo o enclave de Cabinda.
Seria estabelecido um governo de transição, baseado numa fórmula de coligação. Um alto-comissário seria nomeado por Portugal, sob ordens directas do presidente da República, Costa Gomes, e o Governo de transição seria constituído por 12 ministros, três portugueses e os restantes nove distribuídos igualmente pelos movimentos de libertação.
No Alvor, os três movimentos foram reconhecidos como únicos e legítimos representantes do povo angolano, e Angola como país indivisível, incluindo o enclave de Cabinda.
Seria estabelecido um governo de transição, baseado numa fórmula de coligação. Um alto-comissário seria nomeado por Portugal, sob ordens directas do presidente da República, Costa Gomes, e o Governo de transição seria constituído por 12 ministros, três portugueses e os restantes nove distribuídos igualmente pelos movimentos de libertação.
Um conselho
presidencial, constituído por um representante de cada movimento, presidiria ao
Governo, rotativamente, até à data marcada para a independência a 11 de
Novembro.
O Governo
devia tomar posse até ao fim de Janeiro, marcar eleições no prazo de nove meses,
e deveria ser constituído um exército unificado. Na altura da independência,
essas forças militares unificadas deveriam ter 48 mil homens - 24 mil efectivos
portugueses e oito mil de cada um dos movimentos. Os militares portugueses em
excesso seriam evacuados até 30 de Abril, e todas as tropas portuguesas deveriam
deixar Angola até Fevereiro de 76.
Os
interesses dos portugueses residentes eram assegurados, e os movimentos
comprometiam-se a considerar angolanos todos os que tivessem nascido em Angola,
ou os que ali vivessem e se declarassem angolanos por opção. Contudo, a
concessão de cidadania aos não nascidos em Angola era remetida para o que fosse
estabelecido na futura Constituição.
Assinaram
por baixo, por Portugal, o ministro sem pasta major Melo Antunes, o ministro dos
Negócios Estrangeiros, Mário Soares, o ministro da Coordenação Interterritorial,
Almeida Santos, e, por Angola, os líderes do MPLA, da FNLA e da
UNITA.
JN temas especiais - José Gomes
JN temas especiais - José Gomes
Independência e Guerra
Civil
Na
sequência do derrube da ditadura em Portugal (25 de Abril de
1974), abre-se perspectiva imediata para a independência de Angola. O Governo
português, negoceia com os três principais movimentos de libertação ( MPLA -
Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação
de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola ), o
período de transição e o processo de implantação de um regime democrático em
Angola (Acordos de Alvor, Janeiro de
1975).
A
independência de Angola não foi o inicio da paz, mas o inicio de uma nova guerra
aberta. Muito antes do dia da Independência, a 11 de Novembro de 1975, já os
três grupos nacionalistas que tinham combatido o colonialismo português lutavam
entre si pelo controle do país, e em particular da capital, Luanda. Cada um
deles era na altura apoiado por potências estrangeiras, dando ao conflito uma
dimensão internacional.
A União
Soviética e Cuba apoiavam o MPLA, que controlava a cidade de Luanda e pouco
mais. Os cubanos não tardaram a desembarcar em Angola (5 de Outubro de
1975).
A África do
Sul que apoiava a UNITA, por seu lado, invade Angola (9 de Agosto de
1975).
O Zaire que
apoiava a FNLA invade também este país (Julho de 1975). A FNLA conta também com
o apoio da China, mercenários portugueses e também com o apoio da África do
Sul.
Os EUA que
apoiaram inicialmente apenas a FNLA, não tardam a ajudar também a UNITA. Neste
caso, o apoio manteve-se até 1993. A sua estratégia foi durante muito tempo
dividir Angola.
Lusotopia - Carlos Fontes.
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MEMÓRIAS
Nasci a 25 de Março
do ano de 1931 na Freguesia de Stª Maria na cidade de Bragança no Nordeste
Transmontano. O meu pai era sargento do exército na altura prestando serviço no
Regimento de Infantaria 10 mais tarde Batalhão da Caçadores 3 que estava
instalado junto do castelo e que mais tarde foi demolido para dar uma visão mais
ampla do castelo. Infelizmente o meu pai faleceu aos 33 anos de idade e tinha eu
apenas 3. Sou o mais velho de três irmãos felizmente ainda vivos. A nossa mãe,
viuva mas ainda jovem, tinha um irmão mais velho em Angola na povoação do
Chengue próxima da cidade de Silva Porto (Kuito) onde tinha uma casa e a uma
loja comercial. Por isso resolveu ir para Angola com a intenção de voltar a
casar e nos poder dar um futuro melhor.
Este meu tio que não
cheguei a conhecer pessoalmente, vivia com uma preta e tinha, como é evidente,
filhos mestiços, todos eles reconhecidos. Mesmo assim, em 1974/75 foi
barbaramente assassinado à catanada pelos chamados "fiado" (a crédito) tudo o
que eles necessitavam.
Ficámos entregues a
uma tia que nos criou com muito carinho e sacrifício não obstante recebermos uma
pequena pensão do Estado pela morte do nosso pai. Esta tia foi praticamente a
nossa mãe tendo inclusivamente vendido todo o seu património que herdara para
nos criar porque a nossa mãe, embora já casada, devido às complicações com a
Segunda Grande Guerra Mundial, nem sempre tinha possibilidade de nos enviar os
meios suficientes para o nosso sustento.
A minha querida tia Maria
Como se fora hoje,
recorda-me da velha escola primária que frequentei no bairro da Estacada e o meu
primeiro professor Sr. Vinhas, pessoa respeitável com barba comprida tipo judeu.
Nas proximidades da velha escola estava já a ser construida uma escola nova
moderna com caracteristicas arquitetónicas completamente diferentes, mandada
construir pelo governo de Salazar. Toda a estrutura principal era de granito,
amplas salas de aula com lareira e havia sanitários num recinto coberto para nos
intervalos das aulas nos abrigarmos quando chovia. Em Bragança havia pelo menos
quatro dessas escolas, duas para rapazes e outras duas para raparigas. Ainda
cheguei a frequentar uma dessas escolas novas na 4ª
classe.
Eu e os meus dois irmãos mais novos
Tenho bem presente
na memória que nas salas de aula na parede por detrás da mesa do professor,
havia dois quadros: um com o retrato do Presidente da República na altura
Marechal Carmona e do Primeiro Ministro Dr. Oliveira Salazar. No centro um
crucifixo. Nas paredes laterais da sala de aulas havia quadros, não me lembra
quantos, os chamados quadros de Salazar. Recorda-me apenas de dois que ficaram,
não sei porquê, gravados na minha memória. Num deles do lado esquerdo via-se uma
velha escola e o professor bebado. Os alunos insubordinados saltavam pelas
janelas para a rua. Do lado direito viam-se as escolas tal como aquela que eu vi
construir. O outro era um quadro onde, do lado esquerdo, se via um automóvel da
época talvez um Ford circulando numa estrada toda cheia de buracos. Do lado
direito as estradas novas mandadas construir pelo Governo de
Salazar.
Recordo, também, que
num recital feito na escola se exaltavam os quadros de Salazar. A mim coube-me
dizer a introdução: "Os quadros de Salazar são a mais alta lição que ao
Mundo se pode dar à Grei e a toda a Nação". E, naquele tempo, assim foi.
Foram construídas as ditas escolas nas principais cidades, estradas cujo piso
em paralelipipedos ligavam as principais cidades do país e pontes modernas para
a época que ainda hoje estão activas. Foram também construídas outras
importantes obras de arte.
Foto do meu primeiro BI quando entrei
para a Escola Industrial.
Terminado o estudo
primário (4ª classe) fui matriculado na Escola Industrial de Bragança que,
naquele tempo, tinha apenas duas especialidades para os alunos do sexo
masculino: carpintaria e serralharia. O liceu devido às nossas fracas
possibilidades económicas era interdito às classes mais desfavorecidas porque
não havia dinheiro para pagar as propinas e os livros. Por isso, a escola
industrial era o meio mais económico para quem queria continuar estudando e
fazer um curso prático que lhe daria no futuro algumas possibilidades de
emprego.
Nas tardes quentes
de Verão íamos tomar banho no rio Sabor que é um afluente do Douro e ficava a
cerca de 2 km da cidade. As suas águas, naquele tempo cristalinas, com muitos
peixes: barbos, escalos e bogas que nós pescávamos. Aproveitávamos para tomar
banho, principalmente nos fundões e na represa da ponte nova que tinha
uma agueira (canal) para o moinho do Castanheira. No início dessa
agueira que era ladeada por arbustos, salgueiros e amieiros, as jovens
costumavam tomar banho vestindo apenas as camisas interiores de Verão que, com a
água, ficavam transparentem e pegadas aos corpos e nós, já rapazotes,
aproveitávamos para dar uma espreitadela e apreciar com volúpia a intimidade dos
seus esbeltos corpos
Ponte nova do Sabor (foto do autor)
A estrada que ia de
Bragança a Miranda do Douro já era asfaltada e passava junto rio ao Sabor
estando ladeada de cerdeiros (cerejeiras) bravos que davam frutos mais
pequenos mas que depois de maduros eram muito saborosos. Era o que nos valia
para saciar o apetite depois de uma tarde inteira no rio. Essas árvores tinham
mais de 6 metros de altura e o seu tronco era muito liso, por isso, era preciso
muita destreza para engatar (trepar) até ao cimo e poder comer as
apetecíveis cerejas o que nem todos conseguiam
fazer.
Entretanto, para
conseguir algum dinheiro e também ocupar o tempo principalmente nas noites de
Inverno, juntamente com alguns amigos fui para a banda dos Bombeiros Voluntários
de Bragança onde aprendi música e a tocar um instrumento que na altura estava
vago. Sax soprano e depois mais tarde Sax alto.
Nos dias de romaria
nas aldeias no distrito de Bragança era costume contratarem uma banda de música
para animar a festa e a banda dos Bombeiros Voluntários de Bragança era, na
altura, a preferida por ser a melhor da região. No final do Verão, os lucros da
nossa actividade nas festas eram distribuídos pelos elementos da banda que,
naquele tempo, dava pelo menos, para comprar um bom fato de fazenda de lã e
também um bom par de sapatos.
O nosso grupo da Banda dos BVB (1950)
Estávamos em plena
2ª Grande Guerra Mundial e Salazar para agradar agregos e troianos
enviava para a Inglaterra e para a Alemanha as "sobras" de Portugal.
Havia racionamento de todos os bens alimentares e cada família tinha de adquirir
senhas para os comprar de acordo com o agregado familiar. A nossa alimentação
diária devido â escassez de meios financeiros era frugal, uma sopa de legumes
com um courato e um fio de azeite por cima. Um copito de tinto
normalmente acompanhava as refeições diárias que pouco variavam. Para quem
vivesse na cidade como nós mas tivesse meios financeiros, havia sempre
possibilidade de comprar no mercado negro o que era
necessário.
Mesmo assim, com
essa alimentação simples e natural nunca tomei nenhum medicamento e a primeira
injeção que apanhei foi contra a febre amarela quando embarquei para Angola
tinha cerca de 19 amos de idade. As constipações por vezes muito frequentes no
Inverno devido ao frio eram curadas com suadouro: um copo de bom vinho
tinto bem quente adoçado com mel. Normalmente resultava mas houve amigos meus
com mais posses que morrerem de tuberculose.
Recordação saudosa do Jardim da Vila em Bragança e a Praça da Sé em 1950 (fotos autor)
No nosso distrito
havia minas de volfrâmio, mineral que era utilizado juntamente com o aço no
fabrico de canhões e que era vendido a bom preço aos países beligerantes. Muita
gente ganhou bastante dinheiro com o volfrãmio mas como não estavam habituados a
tanta fartura era gasto em bens desnecessários e supérfluos e, assim como vinha,
também se ia rapidamente.
Num local onde se
fazia a feira semanal em Bragança chamado Toural havia uma separadora de
volfrâmio alemã. Nas imediações viam-se escórias provenientes do metal
purificado ou apenas grosseiramente separado do minério bruto. Os largos portões
da separadora eram de madeira mas estavam quase sempre em repararação tantas
vezes eram partidos. Viatura carregada de volfrâmio e perseguida pelas
autoridades que entrasse na dita separadora alemã estava a
salvo.
Bragança vista do Jardim da Vila e o Calvário, 1950 (fotos autor)
Em Maio de 1945 a
Alemanha assinou a rendição. Logo pela manhã a banda da qual fazia parte deu uma
volta à cidade tocando uma marcha alegremente para comemorar a rendição que
acabava com o tormento da guerra e, consequentemente, com o racionamento que nos
fora imposto durante alguns anos.
Havia um convívio
saudável entre rapazes e raparigas da mesma geração e nas romarias ou nas festas
da cidade eram frequentes os bailaricos donde saía por vezes um namorico que no
início era quase sempre escondido.
Bragança Cidadela. A casa onde residi antes de ir para Angola (foto autor 1980)
Concluído o curso
industrial não era fácil conseguir um emprego. Com sorte, um amigo que pertencia
também à banda do Bombeiros Voluntários disse-me que no Notário onde era
amanuense precisavam de mais um empregado. Fui recomendado para o lugar pelo meu
amigo e por lá fiquei durante uns anos onde pratiquei dactilografia numa velha
máquina de escrever Remington e também escrita manual nos livros do cartório,
aperfeiçoando assim o estilo de escrever. O vencimento para a época não era
grande coisa, por isso, ou continuava como amanuense no Notário até melhorarem
as condições ao que parecia estava para breve, ou teria de procurar outro modo
de vida. Só me restavam poucas alternativas: aos 19-20 anos ir como voluntário
para a aviação em Alverca, fazer o curso de furriel miliciano e por lá ficar o
que não era fácil ou, então, ir para a PIDE como alguns dos meus amigos fizeram.
Sempre era melhor do que estar desempregado.
Como amanuense do
único notário de Bragança, conhecia muitas pessoas e, entre elas, algumas jovens
que depois da conclusão do 5º ano do liceu e para ingressarem na Escola Nornal
(Escola Superior de Educação) para se formarem em professoras do Ensino Primário
(Essino Básico) precisavam reconhecer as assinaturas dos respectivos
requerimentos. Por isso, quando me encontrava com elas na rua ou nos jardins
mantinhamos uma conversa amena e agradável que ainda hoje, passados 58 anos,
recordo com saudade e muito amor, porque não dizê-lo também. Naquela época (anos
50) recorda-me também de uma canção romântica brasileira que se chamava COPACABANA cantada
pelo "Braguinha" que uma dessas minhas amigas na foto acima do lado esquerdo,
uma jovem linda e amorosa que era minha namorada íntima, frequentemente cantava
quando passeáva-mos a sós abraçados no jardim da Vila. Quando nos beijámos pela
primeira vez com muito amor ela disse-me: "ladrão roubas-te o meu pudor".
Essa canção era transmitida
pela Emissora Nacional ou pelo Radio Clube Português a qual, depois de muita
pesquisa na Net consegui obter na versão original que podereis ouvir aqui. Estou
certo de que as pessoas desse tempo que a ouvirem sentirão a mesma nostalgia que
eu sinto.
Eu (no centro) e os meus dois irmãos (1951)
Como sempre tive uma grande aptidão para a electrónica, com algum
sacrifcio, comprei alguns livros sobre o tema, muito comuns naquela época
traduzidos do Francês, onde ensinavam a fazer receptores cpm detectores de
galena, as chamadas simplesmente Galenas. Montei um desses receptores com o
parco material que consegui eu mesmo fazer, inclusivamente os auscultadores que
eram a peça principal e que foram feitos com fio muito fino do secundário de uma
bobina de ignição avariada de um automóvel e com duas caixas de pomada para
calçado vazias. Como não tinha minério de galena natural preparei-a com enxofre
e limalha de chumbo tudo fundido num tubo de vidro até cristalizar. Com esse
aparelho rudimentar conseguia escutar a BBC. Foi uma alegria indescritível. Mais
tarde, já com mais conhecimentos de electrónica e mais possibilidades
económicas, fiz um receptor com válvulas alimentado por pilhas e com os
auscultadores apropriados. Com este pequeno receptor e com uma antena exterior
conseguia ouvir não só a BBC como a Emissora Nacional e
outras.
Entretanto a minha mãe que tinha casado há anos e estava vivendo
em Vila Luso (Luena), Angola, sabendo da minha situação, escreveu-me dizendo-me
que era melhor eu ir para Angola porque lá teria mais facilidade de conseguir um
emprego possivelmente na Diamang. Que me enviaria os meios monetários necess
ários para a passagem e a respectiva carta de chamada na altura estupidamente
obrigatória. Perante todas as alternativas que tinha optei por ir para
Angola.
Contactei uma agência no Porto que se encarregava de conseguir
passagens por via marítima para Angola. Em Junho de 1951 fui contactado por eles
dizendo-me que tinha passagem marcada no navio Moçambique para 15 (?) de Junho
e, por isso, comprei passagem de comboio para o Tua, dali para o Porto e depois
para Lisboa.
Foi uma viagem longa a que não estava habituado. Chegado a Lisboa,
tinha á minha espera um primo que trabalhava como contino no Ministério das
Colónias. Passei de elétrico pelo Terreiro do Paço e, foi aí, que pela primeira
vez na vida vi o Tejo e o mar. Não fiquei muito surpreendido. No dia seguinte
fomos à Companhia Colonial de Navegação para confirmar a passagem. Como ele
tinha contactos frequentes com os funcionrios da companhia perguntou a um dos
seus amigos se havia uma passagem marcada em meu nome para o navio Moçambique.
Para meu espanto não estava nada marcado. A agência do Porto sacou-me o dinheiro
e fui enganado. Como o meu primo tinha conhecimentos na companhia, pediu ao
amigo que me conseguisse uma passagem em terceira suplementar. Ouvi o
funcionário dizer-lhe baixinho:
- Esse é
um dos "nossos"
primos?
- Náo, este é mesmo meu primo, vê lá o que podes
fazer.
E fez mesmo, conseguiu-me uma passagem em terceira suplementar
para o Lobito no navio Moçambique. Entretanto, à noite, no Terreiro do Paço
assisti encantado à passagem das Marchas Populares de Santo António de
Lisboa.
No dia seguinte foi mostrar-me o navio Moçambique que estava
atracado no cais da Rocha. Foi a primeira vez que vi um navio daquele porte.
Mas, mesmo assim, no meu imaginário, pareceu-me pequeno e, por isso,
perguntei-lhe:
- É pá isso não é um navio muito
pequeno?
Ele respondeu-me: - Não, é um barco normal e leva muitos
passageiros e carga para a África.
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