sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

África sofre uma nova colonização

África sofre uma nova colonização

África sofre uma nova colonização

As trocas comerciais entre a China e África bateram, no ano 2013, o novo recorde totalizando os 200 mil milhões de dólares. Estes dados mais recentes acabam de ser revelados pelo presidente chinês, Xi Jinping, que recebeu no final de fevereiro, na capital da China, o seu homólogo do Senegal, Macky Sall.

A sublinhar a importância de África para Pequim, Xi Jinping ainda em março do ano passado, tinha visitado a Tanzânia, África do Sul e a República do Congo, numa primeira deslocação ao estrangeiro depois de assumir o cargo de presidente.
No entanto, o crescente papel da China também contribuiu para criar tensões em alguns países africanos.
Conforme escreve o Jornal de Madeira, editado no Funchal, centro administrativo do arquipélago português, o Governo da Zâmbia assumiu no ano passado o controlo de uma companhia chinesa de extração de carvão por não respeitar os regulamentos de segurança e proteção ambiental. Refere ainda que em 2012, trabalhadores da mina mataram um gerente chinês, durante confrontos causados por divergências quanto às condições laborais.
A imprensa madeirense segue de perto a situação em países africanos já que existe a tradição de emigração da Madeira para África, em especial para a África do Sul, onde se encontram quase meio milhão de imigrantes, quase todos de origem madeirense.
Agência noticiosa francesa AFP publicou recentemente uma entrevista da famosa antropóloga britânica Jane Goodall, baseada na Tanzânia, a dizer que a China está a explorar os recursos de África como os colonizadores europeus fizeram, com efeitos desastrosos para o ambiente.
“África continua a ser um destino muito importante e estratégico para as cerca de 2 mil empresas chinesas que operam no continente”, diz um analista do Standard Bank, uma instituição presente em 18 países africanos.
Pequim tem interesse especial nas ex-colónias portuguesas, sendo Angola o maior cliente da China na exportação de petróleo para aquele gigante asiático. Recorde-se que Angola tem uma parceria estratégica firmada com a China desde 2010, que veio reforçar três décadas de relações comerciais mantidas entre os dois países. Com uma forte presença no setor energético, as empresas chinesas têm ainda interesses em Angola nas áreas da construção civil, tecnologia, minas, agricultura e finanças.
Alguns exemplos recentes do envolvimento da China em África incluem a aquisição de uma participação nos campos de gás natural ao largo de Moçambique, o investimento na extração de ouro na República do Congo, a aquisição de uma participação numa mina de urânio namibiano, e o investimento numa mina de minério de ferro na Serra Leoa.
Conforme vários analistas, o que verdadeiramente faz movimentar a China e os seus interesses estratégicos são as matérias-primas africanas. É um modelo de negócio em que os países africanos trocam a exportação de recursos naturais (energéticas e minerais) por investimentos em infraestruturas, assegurados pelas empresas chinesas.
Aqui começam cada vez mais problemas, até ao nível quotidiano, face ao aumento enorme de mão-de-obra chinesa em África, às vezes em detrimento de populações locais. Angola, por exemplo, tem sido invadida nos últimos tempos por um exército de trabalhadores chineses, em números estimados de 100 a 500 mil.
Na internet angolana neste contexto pode-se encontrar comentários como “Depois da colonização europeia nos séculos passados, segue-se agora a chinesa, que vai durar tanto ou mais que a europeia” e (sobre a qualidade de trabalho chines) “Chinês faz rápido, mas a obra parte ainda mais depressa” e “Os chineses foram os últimos a desembarcar por aqui, mas já formam o maior contingente. Ninguém sabe ao certo, mas dizem que são mais de 600.000 deles espalhados pelo país – dá algo como 3% da população”.
Os angolanos queixam-se de que o asfalto de muitas estradas construídas no país por empresas chinesas desaparece com as primeiras chuvas. O exemplo mais emblemático são as obras de construção do Hospital Geral de Angola, em Luanda. Passados vários anos após a inauguração, o centro de saúde teve de ser evacuado por causa das fissuras que se abriram no edifício.
Muitos dos analistas internacionais falam de falta de transparência na cooperação sino-africana, de necessidade a divulgar os termos dos acordos estabelecidos e proibir a empresas chineses a alimentar os circuitos locais de corrupção, beneficiando desta maneira grupos restritos ligados ao poder.

Os fatos citados e as opiniões expressas são de responsabilidade do autor

1 comentário:

Bmonteiro disse...

A qualidade da construção derivada da presença da China, RPC, a lembrar uma história da URSS, anos 60/70. Um empreendimento habitacional, com casas cujas paredes com pouca idade, começavam a desmoronar.
A velha pecha da exploração pela exploração. 'Socialista' ou Capitalista pura.