Quem ajudará a Ucrânia?
Parece que em Kiev decidiram tentar continuar a jogar com as contradições entre o Ocidente e o Leste. Porém, objetivamente, a situação é muito mais complicada. Na teoria dos jogos de azar existe o conceito de “taxa zero”. E, aqui, tudo pode acontecer: os jogadores ou simplesmente ficam “com o seu”, ou perdem todas as apostas anteriormente feitas.
Situação semelhante forma-se atualmente em torno da Ucrânia. A mudança dramática de poder em Kiev “suspendeu” automaticamente todas as declarações e acordos concretos anteriores sobre a ajuda econômico-financeira à Ucrânia. Por razões completamente compreensíveis, a Rússia congelou o processo de concessão de um empréstimo a Kiev, acordado em finais de 2013. Os EUA, por enquanto, abstêm-se de promessas concretas de ajuda financeira, limitando-se a falar de processos democráticos e de perspectivas políticas.
No que diz respeito à União Europeia, ela, de fato, recusou-se a chamar a si o fardo da salvação da economia ucraniana, apelando à realização de uma conferência de doadores com a participação da UE, Japão, China, Canadá, Turquia e EUA. Mas esta lista de participantes pode aumentar.
A situação na economia ucraniana é realmente lamentável, e sobre isto estão de acordo todos os participantes da contenda. Quem poderá vir em ajuda da Ucrânia? Deste ponto de vista, a União Europeia encontra-se na situação mais difícil: os meios fundamentais encontram-se à disposição dos governos nacionais e são gastos não por ordem de Bruxelas, recordou o analista político Nikolai Kaveshnikov, em declarações à Voz da Rússia:
"Nos últimos anos, o orçamento anual da UE como organização constituiu cerca de 140 milhões de euros. Isso corresponde a 1% do produto interno bruto de todos os países membros da UE. No que respeita aos orçamentos nacionais, eles dão 40% do PIB conjunto da União Europeia".
Segundo dados oficiais, cerca de 38% do comércio ucraniano é feito com a Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão. Em 2011, ele constituiu 65,5 bilhões de dólares e, em 2012, 63 bilhões. Com o orçamento anual acima citado de 150 milhões de euros, serão os institutos financeiros da União Europeia capazes de compensar esses valores se Kiev desviar o vetor da política externa para o Ocidente? É preciso ir fazer uma vénia aos principais doadores da própria UE: Alemanha, França, Holanda, Áustria. Nos últimos quatro anos, foram concedidos 500 bilhões de euros para salvar quatro países da zona euro (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha). Em relação à Ucrânia, hoje não se compreender sequer com que fronteiras o país se conservará, para já não de falar da sua futura capacidade de pagar as dívidas.
Por enquanto, os vizinhos da Ucrânia falam mais do que é preciso enviar as próprias tropas (húngaras ou romenas) para defender os concidadãos do que do financiamento do governo em Kiev. E a participação da China na conferência de doadores é particularmente ousada, tendo em conta a proposta recente de Pequim de salvar financeiramente a própria zona euro.
Haverá saída para a situação criada? Porque a Ucrânia precisa realmente de dinheiro. O jornal londrino The Financial Times revelou um dos possíveis cenários: “A longo prazo, isso significa que, do ponto de vista da economia, tem sentido tanto a Ucrânia, como a Rússia tentarem chegar ao comércio livre com a UE”.
E isto, por sua vez, torna não só desejável, mas até necessária a coordenação dos esforços anti-crise de Bruxelas, Kiev e Moscou. Neste caso, claro que é preciso renunciar a “regateios” com o “aumento de apostas”. Porém, claro que o resultado final agradará a todos os jogadores fulcrais.
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