© Colagem: Voz da Rússia
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O ano passado foi assinalado pelas duas rondas de conversações travadas com Teerã sobre o programa nuclear iraniano.
Antes de 2012, não tinha havido negociações sobre esta temática durante um ano inteiro. Foi por esse motivo que muitos peritos depositaram grandes esperanças no processo negocial do ano transato. Todavia, o conflito ficou sem solução, tendo decorrido quase 10 anos desde a altura em que o sexteto de mediadores internacionais e a AIEA lançaram um apelo oficial para que o Irã desistisse dos testes relacionados com o enriquecimento de urânio. Neste contexto, a emissora Voz da Rússia contatou peritos na matéria que anuíram em dar a sua visão sobre os acontecimentos.
A situação se vai complicando pelo facto de os países do Ocidente e os EUA se tornarem mais dependentes do processo de conversações. Ao passo que o Irã se mostra cada vez mais "independente" nesse sentido. Até a Rússia, que estava solidária com a República Islâmica no início da década, se manifesta apreensiva com o evoluir da situação em volta da questão nuclear iraniana, tendo aderido às sanções do CS da ONU. Moscou compreende que se a arma atômica for projetada, o conflito no Médio Oriente será impossível de evitar, esclarece Vladimir Sajin, colaborador científico do Instituto de Pesquisas do Mundo Oriental.
"O perigo de nuclearização do Irã consiste, primeiro, no fato de seus oponentes e adversários políticos (antes de mais, do Golfo Pérsico) seguirem o seu exemplo. Segundo, possuindo potencial nuclear e a possibilidade de criar armas nucleares, o Irã poderá mudar a sua linha política nessa região que, neste caso, será mais dura e radical."
Atualmente, uma das tarefas do sexteto e da AIEA consiste em colher informações dos serviços secretos sobre os trabalhos relativos ao enriquecimento de urânio no território iraniano. Acontece que os membros do sexteto não confiam uns nos outros nessas questões. Nos finais do ano de 2011, segundo a mídia ocidental, o decurso da preparação das sanções foi afetado pelo dossiê "invulgar" da AIEA que alegadamente incluía dados fornecidos pelos serviços secretos de Israel, nomeadamente, provas da existência da componente militar no programa atômico iraniano.
Há quem afirme que o Irã não precisa da bomba atômica. Tais afirmações não carecem de fundamentos. Alguns peritos assinalam que tal arma, pura e simplesmente, não terá uma zona de eventual emprego. Em Israel se encontram santuários muçulmanos e infligir um golpe contra a região asiática, a Rússia ou os EUA tampouco fará sentido, acentuam os analistas. A temática iraniana permanece em foco por outras razões, admite Serguei Drujilovski, professor catedrático do Instituto das Relações Internacionais.
Era necessário fazer com que o Irã fosse vigiado pelo CS da ONU. Os motivos como os direitos do homem, da mulher ou as torturas em prisões eram insuficientes para que o CS pudesse incluir o Irã no alvo de suas críticas mais veementes. Depois, surgiu a ideia de abordar a sério o seu programa nuclear. O Ocidente quer derrubar o atual regime, inconveniente e incontrolável, que costuma dizer a verdade crua e nua sobre todos os problemas internacionais atuais. Mas tal postura é inadmissível.
Segundo outro ponto de vista, se o Irã não precisa da arma atômica agora, isto não significa que ele não venha a precisar dela dentro de algum tempo. Teerã está preparando a base tecnológica para a produção de armas nucleares, considera Vladimir Sajin.
"Não acredito que o Irã se ocupe muito da criação do próprio engenho explosivo. O seu programa nuclear tem por objetivo preparar a infraestrutura industrial para a possível criação da arma atômica no momento em que surja a necessidade premente para tal medida."
Até hoje, em relação ao Irã vigoram quatro resoluções do CS da ONU. Alguns países introduziram sanções unilaterais com uma exigência: o Irã deverá conduzir uma política nuclear transparente e comprovar o caráter pacífico de seus projetos nessa área. Este mês de janeiro deverá decorrer mais uma ronda de conversações do Irã com o sexteto de mediadores em Istambul. Espera-se que ali seja firmado um acordo sobre a problemática nuclear. A Teerã resta pouco tempo para aceitar as condições impostas pelo Ocidente e Os EUA, opina Serguei Drujilovski.
"As trocas comerciais reduziram-se praticamente para metade. Por isso, para o Irã, a tarefa primordial seria encontrar uma saída para a atual crise. Se Teerã continuar firme e não ceder diante de quaisquer iniciativas sensatas (basta recordar uma proposta russa no sentido de acolher o urânio enriquecido em 3,5% e transformá-lo em o urânio enriquecido em 20%), o país inteiro será abalado, daqui a um ou dois anos, pela gravíssima crise econômica e social."
As pretensões ao Irã têm tido um caráter moral e jurídico. Teerã tinha assinado o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Mas, ao que parece, não só o viola, mas também tem planos de prosseguir com a prática de transgressões sem ligar muita importância à AIEA e ao sexteto de mediadores, diz Evgueni Satanovski, presidente do Instituto do Médio Oriente.
Do ponto de vista iraniano, as conversações mantidas são muito bem-sucedidas por terem desviado a atenção da real situação, permitindo ao Irã possuir armas atômicas. Depois disso, não fará sentido atacá-lo, será preciso entabular novas conversações. As cargas nucleares estarão prontas até à Primavera, até o Verão ou até os finais do ano corrente.
O que é que se pode esperar das negociações sobre a problemática nuclear iraniana? Ninguém sabe responder ao certo a esta pergunta. Os peritos são unânimes na opinião de restar pouco tempo para colocar os pontos nos iis. Ou o Irã suspenderá o seu projeto, ou o conflito atingirá o seu auge. Neste caso, o sexteto terá o direito de proceder à realização de medidas mais radicais.
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