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Grã-Bretanha vive à espera de novos atentados terroristas. Os serviços secretos vinculam-no ao retorno de combatentes munidos de passaportes britânicos que estão guerreando no bando oposicionista da Síria.
Num relatótio apresentado ao parlamento britânico, o Ministério do Interior do país adverte sobre a eventualidade de ataques terroristas. O governo do Reino Unido reforçou as medidas de precaução nos aeroportos, controlando com especial cuidado terroristas potenciais. Isso rende certos resultados. Contudo, arrestos e vigilância, por si sós, são incapazes de reverter a situação, porquanto o problema radica na própria política exterior britânica, obsessionada pela idée fixe de derrubar Assad custe o que custar e esquecendo do bom senso. Aliás, a ideia de desmantelamento do atual regime sírio rege a política de toda uma coalizão chefiada pelos Estados Unidos.
No centro do problema está, naturalmente, Assad. Não vamos discursar agora se ele é “bom ou mau menino”, mas é justamente seu regime laico que se opunha à radicalização islâmica de toda a região e à infiltração de radicais na Europa. Todavia, a mesma Europa ajuda hoje os inimigos de Assad, a maioria dos quais são, por ironia do destino, radicais islâmicos. É pouco provável que essas pessoas vão se satisfazer só com a Síria. Pode-se afirmar com certeza que os islamistas odeiam seus patrocinadores ocidentais, os que lhes dão com tanta imprevidência tudo quanto necessitem, ainda mais fortemente do que a Assad.
É muito estranho que os britânicos, sendo entusiastas de sua própria segurança, neste caso não vejam mais longe do que a ponta de seu nariz, não queiram aperceber o que é evidente. Para os ouvintes da Voz da Rússia fala o editor-chefe da revista Natsionalnaya Oborona (Defesa Nacional), Igor Korotchenko:
“Incontestavelme nte, a Grã-Bretanha e sua capital são lugares muito cômodos para ataques terroristas. Londres é uma maior megalópole do mundo. Está concentrado lá enorme potencial financeiro. Não devemos esquecer que em Londres há um estrato populacional bastante quantioso de pessoas oriundas dos países muçulmanos. Ora já são súditos da coroa britânica, ora têm autorização de residência. Por outras palavras, tem sido criado um meio social apropriado. E este meio favorece o aparecimento de células islâmicas, ou seja, produz as ótimas condições para assestar golpe no “coração da Europa”. É um cenário bem realizável, e poderia ser prólogo de futuros atentados terroristas de larga envergadura.”
No entanto, nem todos os analistas são propensos a compartilhar os enfoques alarmistas. Os países como a Grã-Bretanha, Dinamarca e Holanda, entre outros, dispõem de sistemas de prevenção de ameaças terroristas que funcionam de forma bastante eficaz, argumantam eles. Embora qualquer ataque terrorista possa tornar-se realidade por coincidência de circunstâncias, a experiência da última década patenteia que esses riscos podem ser vencidos. De forma que a ameaça é exagerada em certa medida, acredita o analista do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, Azhdar Kurtov.
“Os países europeus já há muito desenvolveram normas rígidas e o sistema de alarme multinível. Não obstante, é impossível assegurar um controle total de organizações terroristas clandestinas. Não descarto a probabilidade de alguns atentados. Mas não creio que se produza algum auge, digamos, maciço. Terroristas vêem os países da Europa Ocidental como um porto tranquilo onde podem abrigar-se e repousar em sossego. Para eles, não é um teatro de operações onde devem conduzir hostilidades ativas, nada disso.”
Por outro lado, não parece que os radicais islâmicos, encontrando-se na Europa, receiem os serviços secretos locais. Não param de tramar algo, turvando as águas no continente. No entanto, as autoridades de vários países europeus assumem uma estranha atitude de tolerância perante seus cidadãos que publicamente mobilizam os correligionários para a jihad. Analistas explicam essa espécie de miopia política pelos complexos post-coloniais. Pode ser que seja assim. Mas se é efetivamente assim, então, é preciso combater os complexos. Fala o presidente do Instituto do Oriente Médio, Evgueni Satanovski:
“A Europa, no decorrer de vários decênios, tinha suas portas escancaradas para o Islã radical. Muitas centenas de pessoas dentre os milhões de muçulmãos europeus são adeptos das vertentes islâmicas mais intransigentes e mais radicais. Incontestavelmen te, esta ameaça pode ser neutralizada. Mas para tal é preciso reconsiderar por completo o conceito de multiculturalism o que hoje em dia prevalece sobre o bom senso. O sistema político que atualmente existe na Europa, é incapaz de fazê-lo.”
É bem possível que, afinal, não vá ocorrer nada trágico. Porém, não vale a pena alimentar esperanças de que os combatentes, ao retornaram à Europa, vão experimentar um ataque de amor repentino por sua nova pátria. É que, simplesmente, ainda existe probabilidade de que os serviços secretos nacionais possam adiantar e prevenir os acontecimentos. Todavia, não o sucederá graças, mas sim a despeito das políticas do Ocidente, que insiste em cortar obstinadamente o galho sobre o qual se aninhou comodamente “o bilhão dourado” dos habitantes do planeta.
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