Direcção do partido Frelimo expulsa jornalistas da reunião com autarcas

Por “ordens superiores”

 

“Não temos nada a fazer, porque recebemos ordens superiores de última hora, para os jornalistas não terem acesso à reunião”, disse Damião José, porta-voz do partido Frelimo, desculpando-se aos escribas

Matola (Canalmoz) – A Direcção Central do partido Frelimo expulsou, na manhã desta última quarta-feira, os jornalistas nacionais da sala onde decorre a VI Reunião da Direcção do Partido com os dirigentes dos órgãos autárquicos por si dirigidos, que iniciou ontem e termina hoje, quinta-feira, na Escola Central da Frelimo, na cidade municipal da Matola.

A Frelimo alegou “restrição do encontro e da agenda” para escorraçar os jornalistas que se encontravam no local em número considerável “diga-se quase todos órgãos de comunicação social públicos e privados” desde às 7 horas para cobrir o evento a pedido daquela formação política, cuja abertura estava prevista para às 9 horas pelo presidente da Frelimo e da República, Armando Guebuza.

Antes da chegada de Armando Guebuza à cerimónia de abertura, os jornalistas bem como os autarcas e convidados encontravam-se na sala. O presidente chegou e foi “acomodado” numa outra sala – onde se reuniram por alguns instantes – com alguns quadros do seu partido, dentre eles o secretário-geral Filipe Paúnde.

Momentos antes do fim da “acomodação” e da entrada de Guebuza ao encontro, foi anunciada a retirada compulsiva dos jornalistas da sala, “por ordens superiores” para não cobrirem a sessão de abertura, numa clara violação ao direito à informação e liberdade de Imprensa.

Para além de terem sido preteridos da sala da sessão, aos jornalistas foi-lhes proibido o acesso ao discurso de Armando Guebuza, a agenda do encontro, sessão de encerramento e de manter contacto com qualquer um dos 41 autarcas da Frelimo.

Os restantes autarcas, para completar o número de 43 edis que o País possui, são do MDM e dirigem as cidades de Quelimane e Beira, não participam neste encontro que é partidário.

Quando os jornalistas foram expulsos da sala de sessões, aglomeraram-se na porta da entrada, à espera de quaisquer explicações sobre a atitude de censura da Frelimo.

Depois de Guebuza ter “brincado” com os presidentes dos municípios em jeito de “discurso de abertura”, retirou-se da sala. Foi quando o porta-voz do partido, Damião José, saiu ao encontro dos jornalistas para se desculpar pelo sucedido.

“Pedimos desculpas, por ter-vos convidado para aqui nesta sessão. Quando organizamos, pensávamos que seria como nas sessões anteriores em que as aberturas e encerramentos a Imprensa teve acesso”, disse Damião José explicando que “não temos nada a fazer, porque recebemos ordens superiores de última hora para os jornalistas não terem acesso à reunião”.

Questionado pela Reportagem do Canalmoz quem teria sido essa pessoa superior do partido que ordenou a expulsão dos jornalistas e se a medida não revelava falta de coordenação dentro da própria Frelimo, Damião José respondeu: “agora está a entrevistar-me, quando não estou autorizado a falar nada!”, disse.

Apesar da insistência dos jornalistas, como Filipe Mabutana, da Rádio Moçambique, de pelo menos a Imprensa ter acesso ao discurso, a agenda ou esperar no local para durante o intervalo falar com alguns autarcas, o pedido foi recusado por Damião José, em cumprimento de “ordens superiores”. Finalizou mesmo dizendo: “lamento ter-vos convidado erradamente, porque não sabíamos que eram precisos”. (Bernardo Álvaro e Cláudio Saúte, na Matola)