Sunday, September 30, 2012

Quando Samora era Jack Dempsey

 

Samora_25anosdepoisPor razões evidentes de regime, mas também históricas e de senso comum, Samora Machel é lembrado e comemorado, mesmo vinte cinco anos após o seu desaparecimento físico num acidente, ou incidente, aéreo, cujas causas ainda fazem correr tinta (vejam-se os esforços continuados de Mamã Graça e os tiros quase hilariantes trocados entre o Sérgio Vieira e o João Cabrita).
Lamentavelmente (suponho que deve ser qualquer coisa ainda a ver com a herança cultural portuguesa) celebra-se, não o dia em que nasceu, mas o dia em que morreu. Eu sei que Samora Machel nasceu num 29 de Setembro e que em Moçambique este mês já está pejado de feriados. Mas comemorá-lo não tem que ser um feriado. Senão qualquer dia Moçambique fica como Portugal, com tantos feriados que não se trabalha. E acima de tudo, Moçambique precisa que se trabalhe. Não querendo ser dogmático, eu diria: querem celebrar Samora? Então trabalhem mais.
Esta semana, por exemplo, finalmente, lá se fez o gesto de colocar no lugar vago por Mouzinho de Albuquerque uma estátua menos má de Samora (importada da Coreia do Norte, doze metros de altura, sem pedestal, um bocadinho demais ao estilo do Querido Líder lá nos confins da península coreana mas enfim) mais uma vez recompondo a bem conseguida estética da praça em frente ao edifício do Conselho Municipal e, espero, salvando-a de vez de um plano de reconfiguração totalmente surreal que circulou em tempos pelos circuitos subterrâneos da máfia moçambicana na internet, creio que da autoria do Sr. Arquitecto José Forjaz.
36 anos depois de Mouzinho out, Samora in.
Mas, para além de uma romaria ao local do acidente/incidente em Mbuzini, na vizinha África do Sul, e do gesto simpático de Jacob Zuma e de Sua Eternidade salazarenta o Sr. Robert, terem publicamente agradecido qualquer coisinha pela catástrofe libertadora infligida ao povo moçambicano sob a liderança de Samora logo a seguir à declaração de “independência” (na verdade, Moçambique tornou-se independente dez dias após a assinatura dos acordos em Lusaka, no final da primeira semana de Setembro de 1974), o prato forte foi uma conferência sobre Samora em Maputo.
A conferência teve a interessante, e provavelmente única, e irrepetível, característica, de reunir sob o mesmo tecto uma boa parte dos protagonistas ainda vivos dos eventos de que resultou, entre 1974 e 1992, a entrega, ou a tomada, dos governos da maior parte dos países da África Austral, para as mãos de elites nacionais, seguindo apenas um pouco mais tardiamente o curso de quase todo o resto da humanidade.
António Almeida Santos e Graça Machel na Conferência sobre Samora.
Sobre a mesma, com profunda vénia, reproduzo em seguida o magnífico texto da autoria de Fernando Lima, participante, espectador, jornalista e também gestor de media, que viveu muitos dos eventos ali tratados e que pelos vistos esteve sentado lá o dia inteiro a ouvir o que as pessoas tinham para dizer.
Este texto foi publicado no jornal Savana, que se publica em Maputo.
Aqui vai:
Quando Samora era Jack Dempsey
Por Fernando Lima em "Savana", 21 de Outubro de 2011
Terça-feira fui ao Centro de Conferências, ali para os lados do Miramar, aqui na capital, e fiz como disse que faria o Dr. Almeida Santos, um dos ilustres oradores no simpósio dedicado a Samora Machel. Apesar de não ter convite, fiz-me à sala e passei lá o dia todo. Ouvi 15 intervenções e como não levava bloco de notas passo a citar de memória.
Do que gostei mesmo foi das memórias de Albino Maheche, um “mais velho”, enfermeiro de profissão, que fui aprendendo a conhecer pelas bandas do ministério da Saúde no pós-independência.
Maheche, um contemporâneo e amigo de Samora, trouxe à colação as suas recordações da vivência em comum com o então jovem enfermeiro Machel. E ficámos todos a saber do seu fascínio pelo boxe, como era hábito na década de 50/60. Craveirinha, também contemporâneo de ambos, redige o famoso poema de exaltação ao combate de desforra protagonizado pelo pugilista negro Joe Louis em Berlim. (“A desforra do nosso Joe Louis frente ao Max Schmmeling/veio no telégrafo e saiu no jornal Notícias/mas quanto ao resto em Lourenço Marques…/Nada !/O resto não saiu no jornal Notícias/Não saiu na Rádio Clube de Moçambique./Só o Brado Africano é que está a dizer./Portanto guarda bem guardado este Brado/e treina muito bem este boxe !”).
Samora, na camarata onde viviam os aspirantes a enfermeiros, levava a alcunha de Jack Dempsey, um formidável boxeur americano, campeão de pesados entre 1919 e 1926. Para melhorar o seu boxe, Samora golpeava com frequência um saco de areia na casa de banho e assistia aos combates que tinham lugar habitualmente no pavilhão do Malhangalene (hoje Estrela Vermelha).
Também ficámos a saber que um padre católico na Catedral o apoiou nas matérias lectivas do 2º. ciclo dos liceus, que gostava das disciplinas de História, Geografia e Português, sabendo de cor várias estrofes dos Lusíadas de Luís de Camões, leitura obrigatória na escola.
Quase inevitavelmente, os jovens Maheche e Machel cruzam-se com o Dr. Mondlane, então hospedado no Khovo (Missão Suiça), vindo dos Estados Unidos. Ali se cruzam também com o poeta Virgílio de Lemos (exilado desde 1963 em França) que queria que os dois se juntassem ao movimento independentista. Lemos tornou-se conhecido por ter apelidado a bandeira portuguesa de “kapulana verde e vermelha” e mais tarde foi preso durante 14 meses por advogar a independência de Moçambique.
Na opinião de Maheche, o estilo contestatário de Machel não ajudou a sua progressão na enfermagem. Numa das aulas, a propósito de enfermeiros e massagens, Samora jocoso quis saber quem dava massagens ao ditador Salazar, conhecido como asceta e celibatário.
Os monitores tomaram-no de ponta e nem sequer o deixaram fazer prova oral de um exame onde tinha positiva na escrita.
Pelo relato da sua filha Ornila fiquei a conhecer um bocadinho mais do Samora doméstico. Dos jantares em família, apesar de ser o “camarada presidente”. Dos treinos dedicados às meninas “para saberem caminhar como senhoras” equilibrando um livro no alto da cabeça, como cruzar as pernas, como sentar e levantar. De como o trautear a canção “canta, canta minha gente, deixa a tristeza para lá” deu origem a semanas de rigoroso “chá” sobre liberalismo e libertinagem.
Não sabe a Ornila porventura que o dito Martinho da Vila, o autor brasileiro da canção, em carne e osso, na sua primeira visita a Moçambique depois da independência, por causa da “libertinagem”, foi impedido de actuar em Maputo e, para salvar a digressão, foi mandado para a Beira, onde actuou para uma plateia de militantes da Frelimo no pavilhão do Ferroviário.
Por causa da mesma libertinagem, anos mais tarde, Bob Marley foi impedido de vir a Moçambique, pois passou a cerimónia da independência do Zimbabwe, no Rufaro Stadium, a fumar vigorosos charros de suruma, mesmo por detrás da delegação oficial moçambicana. O que me recorda a simpatia que os “freaks” citadinos nutriam por Samora à altura da independência, alegadamente por não ser contrário à legalização da “cannabis”. As razões prendem-se com um famoso discurso, em que perante o rufar inebriante dos tambores, Samora disse qualquer coisa como “a cultura é como a suruma a subir pelas nossas veias”.
Voltando para o Zimbabwe, da ajuda de Samora à independência da Rodésia do Sul se encarregou Robert Mugabe, também convidado do simpósio. E como a história é habitualmente feita pelos vencedores, ficaram na gaveta as memórias de Mugabe como pacato professor de inglês na cidade de Quelimane, enquanto Samora apostava numa guerrilha vitoriosa das forças com a sigla ZIPA (Exército Popular do Zimbabwe). E como a história dá muitas voltas, mais tarde os comandantes do ZIPA acabaram presos em Moçambique por solicitação de Mugabe, como documentado por Dzinashe Machingura. Mas isto seria matéria de dissertação para os saudosos Fernando Honwana e Rafael Maguni, por sinal o primeiro embaixador de Moçambique no novo Zimbabwe.
Mugabe falou de Samora, mas aproveitou o microfone aberto e um moderador temeroso do [seu] estatuto “chefe de Estado” para perorar longamente sobre a guerra no Iraque, a selvajaria de George W. Bush, as maquinações de Sarkozy, a ineficácia da União Africana na questão líbia e até o harém de prostitutas à disposição do primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconni.
Quando um jovem exaltado o interpelou sobre os moçambicanos pretos que hoje se substituem aos colonos brancos na partilha das riquezas, Mugabe passou ao lado do debate dizendo secamente que era melhor que as riquezas fossem desfrutadas por nacionais do que por estrangeiros.
Almeida Santos, provavelmente o mais famoso advogado do Moçambique colonial, amigo de Craveirinha, Nogar, Luís Bernardo, Malangatana, de Graça e Samora, mostrou que tem a oratória em forma. Chamou de “preguiçoso” a Luís Bernardo Honwana, o moderador do seu painel, por continuar a ser o nosso escritor de uma obra só, o cão tinhoso que as nossas crianças descobrem na escola pública.
E como Almeida Santos não deixa créditos por mãos alheias, disse ao simpósio que sugeriu a Samora o pacto com a África do Sul que ficou conhecido como o Acordo de Nkomati e organizou a apresentação em Londres a Harry Oppenheimmer, o sul-africano patrão da Anglo-American e crítico do apartheid. Tal como tinha acontecido com Ronald Reagan, Samora descrito por Almeida Santos como “um conquistador” , “um sedutor” , entrou na sala onde estava Oppenheimmer e, por entre efusivos abraços, tratou-se como “Senhor Capital”. Aparentemente, foi “amor à primeira vista”.
Menos simpático ficou na fotografia o já falecido jornalista Pinto Coelho, a quem Almeida Santos revelou ter pedido o “frete” de fazer uma reportagem favorável sobre Samora para preparar o que depois foi a sua viagem triunfal a Portugal [em 1983]. E lá deixou cair também que Samora se “esqueceu” dos papéis para o discurso na Assembleia da República mas conseguiu arrancar um dos mais espectaculares improvisos da sua primeira visita à antiga metrópole colonial.
Noite fora, Marcelino dos Santos, que já disse que ele era a própria Frelimo, vestiu pose mais modesta para falar do humanismo do companheiro Samora, dando os respectivos recados, socorrendo-se do belo poema de Jorge Rebelo, “não basta que seja pura e justa a nossa causa/ é necessário que a pureza e a justiça vivam dentro de nós”. Uma espécie de desforra à recente afronta na reunião nacional de quadros da Frelimo onde o mandaram calar.
Gostei da postura mais académica, menos presidencial de Joaquim Chissano dissertando sobre o Estado-Nação, dos “conselhos” de Prakash Ratilal à juventude que pensa que o futuro é um pronto-a vestir e Óscar Monteiro, que replicou sobre a tradicional “intuição” atribuída a Samora. Gostei que Mário Machungo tenha desenterrado o “samorismo” que defendia Aquino de Bragança, ele que foi um dos vergastados do congresso de Quelimane por defender regras e o rigor na economia moçambicana. Gostei da intervenção emocionada do general Chipande, clarificando a morte do padre holandês (se não me engano em Nangololo) às mãos de dissidentes da Manu ( que um lapsus linguae atribuiu à Renamo), embora não estivesse lá Gruveta para contestar a teoria do primeiro tiro em Chai. Na versão portuguesa, e na cola dos acontecimentos em Angola e no Congo, o assassinato do padre foi o início da luta armada.
A Universidade Eduardo Mondlane organizou o debate mas esteve muito fraca na matéria crítica que podia e deveria ter trazido ao Simpósio. Quando se elevam a categorias históricas termos como “o pai da nação” e o “criador da geração 8 de Março”, fica a impressão que a academia continua a reboque dos acontecimentos, incapaz de aportes críticos e investigações sérias e seguras, indicativas de protagonismo independente dos poderes do dia. Deliberado ou não, os louros das contribuições foram para fora dos muros da universidade.
Armando Guebuza, fez questão de seguir o debate de fio a pavio. Certamente que já deitou contas à vida de como quer ficar na história dos seus dois mandatos constitucionais: eventualmente pela via das presidências abertas ou pelos sete bis aos distritos.
Porém, na “família da Frelimo”, há duas famílias que lhe estarão indelevelmente gratas: os descendentes de Mondlane e Samora. A presidência Guebuza, aparentemente, sarou ou procurou claramente pôr fim às feridas expostas destas duas famílias com contas a ajustar no seio da Frelimo.
Com a poeira e os ventos que nos afagam a memória, o futuro será certamente o melhor juiz.
SAVANA – 21.10.2011
In http://delagoabayword.wordpress.com/2011/10/21/samora-machel-vinte-cinco-anos-depois-os-eventos-e-a-nota-de-fernando-lima/

Comments

 
Francisco Moises said...
Li o artigo e ri-me as gargalhadas por causas das piadas que o chamado debate sobre Samora Machel cozinhou. Sao sei se os camaradas da Frelimo sabem o que a palavra debate quer significar. Sem que abra nenhum dicionario, defino debate como uma discussao, uma argumentaçao onde uns propoem ideias (tese) e outros as contrapoem (anti-tese) para se desauar numa certa conclusao (sintese). E nada disto se vê neste artigo que fala duma reuniao que tratou de lisonjear Samora Machel, de adula-lo, bajula-lo, glorifica-lo e criar um culto de personalidade em volta da sua pessoa.
Nao sei se Fernando Lima nao viu a contradiçao quando escreveu o seu artigo no qual se fala de Samora Machel como tendo sido enfermeiro e logo, como um tiro que sai por traz, diz-se que a progressao de Samora Machel no curso de enfermagem foi dificultada visto que ele fez uma piada sobre Salazar, perguntando quem lhe dava massagem. Como é que Samora Machel podia ser enfermeiro se nao completou as provas orais por causa da sua piada, embora tivesse alegadamente passado as provas escritas?
Depois fala-se do Samora Machel que teria frequentado cursos liceais do 2o. ciclo. É muito facil fazer passar esta mentira com muitos leitores em Moçambique que nao conhecem como era o sistema educacional em Moçambique que era o mesmo como em Portugal. Se nao me engano, o primeiro ciclo era primeiro e segundo anos dos liceus. E é o que fiz em Moçambique antes de sair para a diaspora.
Samora Machel alegava que tinha o 2o. ano dos liceus, o que quer dizer que nao completou ou completou o 1o. ciclo dos liceus. Mas o colega dele, Aurélio Manave tambem assassino como ele, dizia em Dar Es Salaam que Samora Machel tinha reprovado os exames da 4a. classe e o curso de enfermagem no Hospital Miguel Bombarda de Lourenço Marques. Aurelio Manave e Samora Machel ja nao se davam.
O proprio Samora Machel disse uma vez antes da independencia que depois da quarta classe -- e nao disse se tinha passado ou reprovado -- os padres que nao mencionou de que missao queriam que ele fosse a um seminario e ele recusou.
Boa fantasia que lhe veio a cabeça por odio que ele tinha contra o Seminario de Zobue que tinha formado a elite do centro de Moçambique. O seminario do Zobue era um grande viveiro academico que os Padres Brancos tinham instituido e Mateus Pinho Gwenjere foi um dos primeiros alunos daquele antigo estabelecimento academico em Moçambique. O Bispo Jaime Gonçalves foi tambem entre os primeiros alunos zobuenses.
Um bom numero de ex-zobuenses que se tinham aderido a Frelimo foram eliminados por Samora Machel por causa do seu complexo de inferioridade e odio por pessoa com educaçao.
Miguel Morrupa que se excapuliu das garras da morte ordenada por Samora Machel foi tambem um ex-zobuense.
So para refrescar a memoria, o seminario de Zobue aceitava estudantes que vinham das missoes da Zambézia, de Tete, de Manica e de Sofala. Foi o unico lugar onde vi que a tribo tinha morrido.
O grande contesto era no futebol quando rapazes de Tete se confrontavam com os rapazes de Manica e Sofala -- la havia a regiao sem a tribo.
Também havia jogos com a tropa portuguesa e os seminaristas sempre batiam a tropa. Depois era o seminario contra a equipa de Mwanza no Malawi. Uma vez a nossa equipa foi a Zobue e la batemos os malawianos nos seu proprio terreno. Mas de regresso, os camioes que nos traziam de regresso foram fortemente alvejados a pedradas ao longo do caminho por malawianos que nao estiveram contentes por a sua equipa ter sido batida no seu proprio pais e terreno. Os malawianos vinham tambem ao seminario jogar contra nos (memorias vividas).
Em Zobue falavamos so português e podia haver consequencias se pessoas falassem linguas maternas, excepto no primeiro e o ultimo domingos do mês quando eramos permitidos falar linguas maternas. Mesmo assim, quando chegavam aqueles dias muitos ja nao falavam as suas linguas. Estavam desactualisados.
O senhor Samora Machel nao frequentou o 2o. ciclo. Se tivesse, ele teria sido mais culto do que foi visto que alunos dos 2o. ciclo -- terceiro, quarto e quinto anos dos liceus -- eram realmente cultos. Samora Machel que conheci pessoalmente era muito cru, rude e primitivo.
O 3o.ciclo era 6o. e 7o.anos dos liceus.
Este artigo de Fernando Lima esta cheio de idealisaçoes proferidas por velhacos e mentirosos que se encontraram para bajular Samora Machel*.
*Samora Machel era um boxeiro em Lourenços Maarques. Numa luta foi batido k.o por Vasco Campira de Mutarara, que era um pintor de grande talento. Os frelimistas nao falam disto por pensarem que isto inferiorisa o seu idolo, Samora Machel. Machel tambem trabalhou nas minas da Africa (uma ediçao da revista sul africana "Drum" falou disto quando Moçambique estava para se tornar independente. Sabe-se que fora do trabalho Machel agia como tsotsi, ladrao ou homem violento.
Vasco Campira estava no grupo de Uria Simango, Gumane, Nkavandame e outros. Esteve na prisao depois da independencia, mas diz-se Joaquim Chissano o protegeu, nao admitindo que fosse executado. Um daqueles raros casos onde Chissano, assassino descarado, demonstrou um certo humanismo quando lhe convinha?

3 comments:

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