Não há dúvidas, pelo menos para os entendidos, que o processo Carlos Cardoso esteve prenhe de lacunas. Isto foi notório desde a investigação, audiências de julgamento e o próprio acórdão dos juízes-conselheiros do Tribunal Supremo.
De certeza que os que têm 20 e poucos anos de idade nem se recordam do processo com profundidade, embora fosse amplamente difundido pelas televisões. Foi mais um espectáculo gratuito do que um julgamento cujo cerne era encontrar os verdadeiros culpados e responsabilizá-los.
Até hoje, pessoas há que me questionam sobre o facto de ter sido condenado no processo Carlos Cardoso, quando tenho sempre defendido que sou inocente. Eu nunca tive nenhum envolvimento com o processo Carlos Cardoso. Aliás, em vida, Cardoso atacava mais a nomenklatura política, os filhos do chefe do Estado e os grandes tubarões. Fazia um jornalismo responsável longe desse jornalismo sensacionalista feito por alguns jornalistas de meia-tigela que andam ai aos magotes.
15 anos depois
António Jorge Frangoulis, ex-director da PIC e investigador principal do processo Carlos Cardoso, há dias, conforme atesta o vídeo aqui postado, disse que as pessoas que deviam ter sido presas ficaram de fora e que houve interrupção nas investigações do processo. Ele disse ainda que o único problema de Nini foi ter pago dinheiros por questões comerciais pois sabia-se que ele fazia negócios com o outro (Nyimpine Chissano).
Na verdade, todos sabem que antes da minha prisão, eu exercia actividade cambial. Tinha várias casas de câmbio e Nyimpine Chissano era um dos meus clientes. De maneira que havia transacções que fazia com ele e no final de cada exercício mandava-lhe as contas para os pagamentos. Eu, sinceramente, não sabia para que se destinavam determinados pagamentos. Fazia-os e mais tarde compensava-me.
Investigação
O processo Carlos Cardoso foi um dos maiores e mais mediáticos que o país já conheceu. Mas, como disse anteriormente, teve muitas falhas. Falhas propositadas porque havia um certo interesse em condenar alguns e deixar de fora os verdadeiros culpados. Em norma a investigação na fase preparatória do processo dura entre 34 a 90 dias. O processo Carlos Cardoso foi arrancado às mãos de Frangoulis pela Procuradoria, só com 15 dias.
Em 21 dias o processo já estava acusado pelo Ministério Público e entregue ao juiz Nhantumbo da 10ª Secção. Quando o juiz Nhantumbo se apercebeu que havia conspiração para prejudicar Ayob, Nini e Vicente Ramaya, foi imediatamente substituído e no seu lugar colocado o marionete Augusto Raul Paulino.
Tudo foi feito às pressas e alegou-se que o móbil do assassinato de Carlos Cardoso foi a fraude ao BCM. Isto só foi para sustentar a nossa condenação. Todos sabem que a fraude ao BCM ocorreu em 1996 e Cardoso foi assassinado em Novembro de 2000. Tantos anos depois. Nessa altura, o processo BCM já havia sido acusado e entregue ao tribunal. Tudo o que havia por escrever nos jornais sobre o BCM já havia sido escrito. Portanto, não havia nada que Cardoso fosse escrever sobre o BCM para que fosse assassinado.
Exoneração
António Jorge Frangoulis é docente e foi polícia durante mais de trinta anos. Do cargo de director da PIC foi exonerado justamente quando preparava-se para emitir mandados de captura contra Nyimpine Chissano. Lembro-me quando ele veio ter comigo à BO e lhe provei que o mandante do assassinato de Carlos Cardoso era Nyimpine Chissano.
À sua saída da BO, ligou para o então ministro do Interior Almerino Manhenge, a informar que ia emitir mandados de captura contra Nyimpine Chissano. A sua exoneração foi imediata. Antes de Frangoulis chegar ao edifício-sede da PIC, a sua exoneração já estava lá. Havia sido enviada por fax. Portanto, houve muita manipulação deste processe e o desfecho prejudicou a muitos em detrimento de algumas pessoas só porque estavam ligadas ao poder político do dia.
Vejam o vídeo do investigador principal do processo e cheguem às vossas conclusões.
Nini Satar
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