Edgar Barroso adicionou 2 fotos novas.
Tivemos aulas com um professor convidado zimbabweano. Veio falar, dentre outros assuntos, sobre a conturbada reforma agrária que tem estado a acontecer por lá. As imagens na foto são de uma nota da moeda local que o docente trouxe para as aulas, espelhando um dos períodos mais críticos da economia zimbabweana. É uma nota só de CEM BILIÕES DE DÓLARES (que comprava quase nada, naqueles tempos, antes de "extinguirem" a moeda local e começarem a usar o Dólar norte-americano e o Rand sul-africano).
Mas isso, apesar de ser extremamente hilariante, nem foi o que mais andamos a discutir nas aulas. Ficamos a saber que a reforma agrária zimbabweana foi um colossal erro de Robert Mugabe e dos seus correlegionários da ZANU-PF, essencialmente pela forma como foi conduzida. As repercussões na economia daquele país é que desembocaram em taxas surreais de inflação expressas pelo número de zeros que uma simples nota para comprar pão ou açúcar tinha.
O que é que aconteceu com o Zimbábwe, afinal? O regime de Robert Mugabe atravessava um dos piores índices de popularidade, entre os finais da década de 1990 e inícios da década de 2000. Como uma medida desesperada para não perder o apoio popular para o MDC, partido na oposição então em franca ascensão, desencadeou através dos seus órgãos de massas (maioritariamente antigos combatentes), um processo de "reapropriação" das terras sob propriedade dos farmeiros brancos locais para as mãos dos negros. Foi um processo violento (houve assassínios), deliberadamente descontrolado (com a cumplicidade do regime no poder) e altamente destrutivo (vandalização de meios de produção e até culturas agrícolas).
As farmas acabaram sendo retalhadas e atribuídas a antigos combatentes, dirigentes governamentais e membros das forças de defesa e segurança, comprando lealdades e garantido a manutenção do regime. Entretanto, os novos donos das terras não detinham suficiente capital financeiro, tecnológico e "know-how" para manter os níveis de produção e de produtividade agrícola, ou de acesso a mercados. O país começou a sofrer sanções internacionais. Rapidamente, o Zimbábwe passou de "celeiro de África" a "vergonha mundial".
A propalada "reforma agrária" foi, pelo que o professor zimbabweano disse, mais um processo deliberado de apropriação e de vandalismo do que de redistribuição de terras. Não foi conduzida de modo democrático e com respeito às normas legais locais, foi desencadeada por motivações políticas e não trouxe nenhuma transformação social até hoje. As terras simplesmente passaram das mãos da elite branca para as mãos da elite negra; os agricultores negros escancararam os tractores e outros meios de produção, as terras estão ou a produzir marginalmente ou em estado de completo abandono, as massas continuam a viver em palhotas, não há energia e água... A única coisa de diferente quea tal reforma trouxe foi o "orgulho negro" de se ser proprietário de terras, por parte da elite política local.
PS1: Moçambique, felizmente, não tem ainda esses problemas de terra e derivados. Ou, pelo menos, não na dimensão zimbabweana. Mas temos as nossas "reformas" a ocorrer e, mais cedo ou mais tarde, podemos ter também o mesmo fim. A nossa moeda está a derrapar, por conta do processo de "acumulação primitiva de capital" de gente muito bem conhecida. A dívida pública está para lá do vermelho e o Metical, a nossa moeda, pode entrar em queda livre muito mais acentuada a qualquer momento...
PS2: Sobre os fãs da liderança "pan-africanista" de Robert Mugabe (o Mendes Mutenda e o Américo Matavele são apenas dois deles), o docente zimbabweano disse que o "líder" é ovacionado pelos camaradas africanos (e seus associados) apenas pela sua retórica de confrontação demagógica contra o Ocidente. E por ser o mais velho entre os Chefes de Estado africanos. Interessante essa nossa predisposição para desenvolvermos e exibirmos orgulhos vazios, não é verdade? smile emoticon
Mas isso, apesar de ser extremamente hilariante, nem foi o que mais andamos a discutir nas aulas. Ficamos a saber que a reforma agrária zimbabweana foi um colossal erro de Robert Mugabe e dos seus correlegionários da ZANU-PF, essencialmente pela forma como foi conduzida. As repercussões na economia daquele país é que desembocaram em taxas surreais de inflação expressas pelo número de zeros que uma simples nota para comprar pão ou açúcar tinha.
O que é que aconteceu com o Zimbábwe, afinal? O regime de Robert Mugabe atravessava um dos piores índices de popularidade, entre os finais da década de 1990 e inícios da década de 2000. Como uma medida desesperada para não perder o apoio popular para o MDC, partido na oposição então em franca ascensão, desencadeou através dos seus órgãos de massas (maioritariamente antigos combatentes), um processo de "reapropriação" das terras sob propriedade dos farmeiros brancos locais para as mãos dos negros. Foi um processo violento (houve assassínios), deliberadamente descontrolado (com a cumplicidade do regime no poder) e altamente destrutivo (vandalização de meios de produção e até culturas agrícolas).
As farmas acabaram sendo retalhadas e atribuídas a antigos combatentes, dirigentes governamentais e membros das forças de defesa e segurança, comprando lealdades e garantido a manutenção do regime. Entretanto, os novos donos das terras não detinham suficiente capital financeiro, tecnológico e "know-how" para manter os níveis de produção e de produtividade agrícola, ou de acesso a mercados. O país começou a sofrer sanções internacionais. Rapidamente, o Zimbábwe passou de "celeiro de África" a "vergonha mundial".
A propalada "reforma agrária" foi, pelo que o professor zimbabweano disse, mais um processo deliberado de apropriação e de vandalismo do que de redistribuição de terras. Não foi conduzida de modo democrático e com respeito às normas legais locais, foi desencadeada por motivações políticas e não trouxe nenhuma transformação social até hoje. As terras simplesmente passaram das mãos da elite branca para as mãos da elite negra; os agricultores negros escancararam os tractores e outros meios de produção, as terras estão ou a produzir marginalmente ou em estado de completo abandono, as massas continuam a viver em palhotas, não há energia e água... A única coisa de diferente quea tal reforma trouxe foi o "orgulho negro" de se ser proprietário de terras, por parte da elite política local.
PS1: Moçambique, felizmente, não tem ainda esses problemas de terra e derivados. Ou, pelo menos, não na dimensão zimbabweana. Mas temos as nossas "reformas" a ocorrer e, mais cedo ou mais tarde, podemos ter também o mesmo fim. A nossa moeda está a derrapar, por conta do processo de "acumulação primitiva de capital" de gente muito bem conhecida. A dívida pública está para lá do vermelho e o Metical, a nossa moeda, pode entrar em queda livre muito mais acentuada a qualquer momento...
PS2: Sobre os fãs da liderança "pan-africanista" de Robert Mugabe (o Mendes Mutenda e o Américo Matavele são apenas dois deles), o docente zimbabweano disse que o "líder" é ovacionado pelos camaradas africanos (e seus associados) apenas pela sua retórica de confrontação demagógica contra o Ocidente. E por ser o mais velho entre os Chefes de Estado africanos. Interessante essa nossa predisposição para desenvolvermos e exibirmos orgulhos vazios, não é verdade? smile emoticon
Sem comentários:
Enviar um comentário