Do Lado da Evidência (crónica 47)
Luis Nhachote
Os factos da impunidade em exponencial do crime organizado, são indisfarçavéis diante de uma quase cristalina capitulação do Estado.
É como se um ‘Estado Paralelo’, estivesse a emitir claros recados sobre quem de facto manda nesta aclamada “pátria de hérois”. E o Estado de Direito e as suas instituições, estivessem enclausurados num cativeiro à espera que alguém paga o resgate, pelo seu sequestro.
É dificil, mas temos que assumir: o Estado foi sequestrado. Os sequestradores, ou raptores se encontram enraizados nas entranhas desse aparato, com direito a armas e sentenças ditadas, que são executadas quando, e bem lhes apetecer.
Num espaço de cerca de 72 horas, as cidades de Beira e Maputo, foram sacudidas pelo crime violento. Duas figuras distintas, uma da arena politica e outra da magistratura do Ministério Público foram regadas de balas. José Manuel, membro do Conselho nacional de Defesa e Segurança e Marcelino Vilankulos, procurador da República foram ASSASSINADOS.
Foi assim com o juiz de instrução criminal Dinis Silica, que próximo mês faz dois anos sem que se saiba quem foram os seus assassinos.
Foi assim com o constitucionalista franco-moçambicano, Gilles Cistac, assassinado há um ano no coração de Maputo.
Foi assim com o ‘espião’ dos Serviços de Informação e Segurança do Estado, Ianlamo Mussa. Também não se lhe conhecem os assassinos.
Num dia do século que passou e, em plena Assembleia da República, o então deputado Teodato Hunguana disse para quem o quis ouvir: “A única forma de evitar que o Estado caia definitivamente nas malhas do crime é desencadear uma guerra sem quartel contra os mentores da alta criminalidade e, também, dos seus executantes ou instrumentos. Um combate apenas dirigido contra estes, deixando aqueles incólumes e intocáveis, significa manter intactas as fontes da sua reprodução, fontes que se tornam cada vez mais poderosas e capazes de se apropriarem dopróprio Estado”.
O crime organizado causa elevados danos para uma economia frágil de um país periférico, por desencorajar o investimento e o desenvolvimento, sobretudo da indústria turística, de que Moçambique deveria gozar de vantagens comparativas.
Ninguém se ira surpreender se esses impunes criminosos comecem a operar no palácio da Ponta Vermelha ou na Presidência da República.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: O Estado foi sequestrado pelo Crime Organizado?
Minha crónica no jornal Correio da Manhã de hoje
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