Entra atarantado um ilustre analista político do G 40 no gabinete do Presidente da República, este que, envolto em papéis e outros expedientes burocráticos, nem sequer se dá conta da visita inusitada.
E o ilustre visitante, destes que às vezes actuam como analistas outras vezes como assessores, já de costas curvadas, qual genuflexão vertebral, atira:
- Boa tarde, camarada Presidente.
- Boa tarde, camarada. – responde o Presidente.
Envolto em papéis, o Presidente nem sequer olha para o recém-chegado, que sem ser convidado, aconchega-se na poltrona e ali deixa-se estar, com os joelhos respeitosamente unidos. Estamos em véspera de eleições e todo o tipo de escova pode ser útil nas mãos de um G 40.
- Ouvi dizer que S. Excia o Sr. Camarada Presidente me mandou chamar. – atira.
- Pois, pois, acho que mandei sim. – responde o Presidente, que nem sequer se recorda de ter mandado chamar o ilustre analista político, um homem de recados que gravita entre os laboratórios ideológicos do partido e as rádios e televisões.
- Sempre às ordens, Sr. Camarada Presidente.
Instantes pensativos, o Presidente desembaraça-se da situação:
– É só para me dizer que horas são, camarada.
Mil macacos!
O analista televisionável esperava receber os mesmos recados de sempre a fim de ir à televisão poluir a opinião pública, não que S. Excia o camarada Presidente lhe tivesse chamado ao seu gabinete de trabalho para lhe perguntar que horas são. Lembrando muito uma daquelas personagens que podiam fazer parte da corte do Rei Sol, que por desfastio perguntou a um cortesão venal, servil e baixo, só para desfrutar do bandalho, que horas eram, o ilustre analista político do G 40, de cócoras quase, lábio abjecto, expressão senil de criatura para quem já morrreu o brio e o carácter, responde babado, porém apanhado:
- São as horas que V. Excia o Sr. Camarada Presidente quiser que sejam!
É que nem sempre a verticalidade da espinha e o dom da palavra, atributos com que Deus dignificou o homem, servem em certas criaturas de Deus para lhes dar o cunho da sua grandeza, como estes ilustres analistas políticos que andam por ai além a poluir a opinião pública nas nossas televisões, praticando o escovismo exacerbado, o lambebotismo e o culto de personalidade jamais visto na história contemporânea do nosso presidencialismo. É este tipo de genuflexões vertebrais que nos são dadas a assistir todos os domingos, quartas e quintas-feiras nos nossos serviços públicos de televisão. Nada mais patusco!
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