RENAMO - Uma Descida ao Coração das Trevas
Dossier Makwakwa
Paulo Oliveira
Edição/ reimpressão:2006Páginas:368 Editor:EuropressISBN:97897 25592731Coleção:História Viva
Assassinatos políticos, terrorismo, massacres, (des)in forma ção, propaganda, rapto de portugueses e soviéticos, contactos com o KGB, a vivência com o presidente da guerrilha Afonso Dhlakama, execuções sumárias, espionagem, mistério, e traição contínua, incluindo a eliminação dos dois secretários-gerais da guerrilha, em Pretória e Lisboa, pululam nas páginas do livro e mostram bem toda uma manipulação inerente aos processos militares e políticos que entranham esse coração das trevas do grande continente negro. E não faltam referências ao sombrio papel desempenhado pelas autoridades e serviços militares de informação portugueses - a DINFO - e os seus agentes no terreno, procurando ombrear com a AMI sul-africana, o BND da Alemanha Federal e outros.
Das matas africanas a acção salta para Portugal e Europa ocidental, e toda a trama envolvente, redundando quatro anos depois num regresso a Maputo, após a morte ‘acidentada’ de elementos da delegação em Lisboa, incluindo um antigo embaixador moçambicano, e o fi m misterioso de Samora Machel - aqui também analisado - e toda a subsequente transformação do regime. Afi nal, vai reencontrar um país que nada tem a ver com a terra que antes conheceu, tudo não passa de um tremendo murro nostálgico, numa terra entretanto coberta pelo denso manto da corrupção. Uma cidade cercada pela guerra, entorpecida pelas cálidas águas da baía, e onde não faltam as muitas tentações das sensuais e tórridas mulheres moçambicanas.
Tudo isto jorra impetuosamente no livro, em linguagem escorreita, por vezes ácida, mordaz, a roçar o cinismo. Em suma, um escrito crú, puro e duro.
A óbvia semelhança com pessoas e factos reais nunca é coincidência.
RENAMO - Uma Descida ao Coração das Trevas de Paulo Oliveira
Dossier Makwakwa
Paulo Oliveira
Edição/
Assassinatos políticos, terrorismo, massacres, (des)in forma ção, propaganda, rapto de portugueses e soviéticos, contactos com o KGB, a vivência com o presidente da guerrilha Afonso Dhlakama, execuções sumárias, espionagem, mistério, e traição contínua, incluindo a eliminação dos dois secretários-gerais da guerrilha, em Pretória e Lisboa, pululam nas páginas do livro e mostram bem toda uma manipulação inerente aos processos militares e políticos que entranham esse coração das trevas do grande continente negro. E não faltam referências ao sombrio papel desempenhado pelas autoridades e serviços militares de informação portugueses - a DINFO - e os seus agentes no terreno, procurando ombrear com a AMI sul-africana, o BND da Alemanha Federal e outros.
Das matas africanas a acção salta para Portugal e Europa ocidental, e toda a trama envolvente, redundando quatro anos depois num regresso a Maputo, após a morte ‘acidentada’ de elementos da delegação em Lisboa, incluindo um antigo embaixador moçambicano, e o fi m misterioso de Samora Machel - aqui também analisado - e toda a subsequente transformação do regime. Afi nal, vai reencontrar um país que nada tem a ver com a terra que antes conheceu, tudo não passa de um tremendo murro nostálgico, numa terra entretanto coberta pelo denso manto da corrupção. Uma cidade cercada pela guerra, entorpecida pelas cálidas águas da baía, e onde não faltam as muitas tentações das sensuais e tórridas mulheres moçambicanas.
Tudo isto jorra impetuosamente no livro, em linguagem escorreita, por vezes ácida, mordaz, a roçar o cinismo. Em suma, um escrito crú, puro e duro.
A óbvia semelhança com pessoas e factos reais nunca é coincidência.
RENAMO - Uma Descida ao Coração das Trevas de Paulo Oliveira
O LIVRO E O AUTOR
Nascido em Lisboa a 18 de Setembro de 1959, Paulo Oliveira vai para Moçambique com a família em Agosto de 1960. Residirá sempre em Lourenço Marques (Maputo) até Setembro de 1979, altura em que volta a Portugal.
Foi praticante e instrutor de paraquedismo no Aeroclube de Moçambique, com licença de queda-livre, em 1978 e 1979, e cursou Engenharia Electrotécnica na Universidade Eduardo Mondlane.
Na capital portuguesa, integra-se em Agosto de 1981 na ala externa da Renamo, tendo assumido o cargo de director da emissora Voz da África Livre, na África do Sul, de Fevereiro de 1983 a 16 de Março de 1984, data do Acordo de Nkomáti entre a África do Sul e Moçambique. Parte desse período decorre no mato e em ‘departamentos especiais’ de Pretória.
De novo em Lisboa, após Nkomáti, aparece como director da revista da Renamo, sendo nomeado porta-voz e, mais tarde, em 1986, delegado do movimento para a Europa Ocidental. Simultaneamente exerce funções de jornalista (internacional e investigação) e de colaborador em diversos órgãos de informação portugueses.
Abandona a Renamo em 27 de Outubro de 1987 por divergências quanto ao excessivo controlo sul-africano e à linha de actuação do grupo. Termina pois aqui esse período de sete anos de envolvimento com o movimento de guerrilha africano, e em que trabalhou mais precisamente na área de psychological warfare: guerra psicológica, análise de Informação e propaganda.
Ainda em finais de 1987, edita um primeiro número de um boletim independente sobre Moçambique e a África Austral, o ‘Moçambique Hoje’. Em 14 de Março de 1988, já após uma certa liberalização do regime, regressa a Maputo.
Dessa vivência com o movimento de guerrilha compilou o escrito ‘Renamo – uma Descida ao Coração das Trevas’ (O Dossier Makwákwa). E a verdade de toda esta história, onde mora ela?, perguntam alguns. Poucos, muito poucos, que o conhecem bem, tentam explicar tudo de outra forma: ‘Não, nem de um lado nem de outro, como sempre, jogou só por si e para si’. A trip africana apesar de tudo o que se noticiou e descreveu, não passou disso mesmo: um acumular, uma soma de revanche, nostalgia imensa e um exílio da alma, urgente. Às vezes é assim, ele próprio afirma, ‘procura-se um local de despojamento onde possamos renascer, um deserto para tudo esquecer, e deixarmo-nos renovar nesse estado de contemplação’. Acima de tudo, como garantem, foi um certo exílio da alma e do espírito. Mas ninguém poderá nunca explicar bem porquê, e ele não dirá nunca uma palavra. Sobre isto podemos estar certos.
Possuindo alguns conhecimentos e amigos no Cairo e, mais ao norte, no delta do Nilo, em Mahalla al-Kubra, e entre gente árabe nos banlieues parisienses, o facto permitiu-lhe arranjar material para mais um romance de ficção actual ‘Mak: Operação D7’, que classifica como uma ‘provocação’ ou, quase, um ‘manual de terrorismo’, escrito em 1997.
Informatizou a embaixada e consulado de Moçambique em Lisboa e no Porto, a partir de 1992 e até 1999. Além de programador de computadores, especializando-se na construção de bases de dados para várias instituições e empresas, tem como áreas de interesse a Teoria da Informação e a Teoria do Caos, com alguns programas afins desenvolvidos em Visual Basic.
O LIVRO
Este é o livro sobre a invulgar história que vivi desde a partida de Maputo para Lisboa em 1979 e a minha vivência com o movimento de guerrilha moçambicano, a Renamo, então Resistência Nacional Moçambicana, descrita muitas vezes pelo regime como ‘bandidos armados’.
E se havia sido fácil ‘saltar’ de Maputo para a capital portuguesa, bem diferente foi conquistar o caminho de regresso.
Nas primeiras partes do livro relato precisamente a experiência, o que me foi dado ver, ouvir e saber, ao longo dos oito anos e meio, desde que deixei Moçambique em 1979: o primeiro contacto com a RENAMO, os tempos que vivi com o movimento na África do Sul, e o papel que desempenhei posteriormente como seu representante em Portugal e na Europa ocidental e toda a trama envolvente. E o regresso a Maputo, após a morte de Samora Machel e alguma transformação do regime.
Os capítulos seguintes exibem uma pequena análise pessoal sobre o fenómeno RENAMO e os contactos e apoios que complementaram, ou iam disputando, por vezes, no exterior, a ‘gerência’ sul-africana sobre o grupo.
Alguns apêndices, contêm artigos pertinentes, elaborados ou seleccionados, sobre assuntos pontuais, inseridos porém no emaranhado contexto da África Austral e que, directa ou indirectamente, tocam na questão moçambicana e em partes citadas neste livro.
Espero que o ‘Dossier’ não seja apenas e por si só um fim mas, pelo contrário, uma pista possível para um contínuo trabalho de investigação sobre a situação originada e prevalecente em Moçambique desde os finais da década de 70, associada ao factor ‘RENAMO’, à sua génese, e às manipulações e interesses diversos nos bastidores, envolvendo por vezes entidades portuguesas, sul-africanas e outras.
Nascido em Lisboa a 18 de Setembro de 1959, Paulo Oliveira vai para Moçambique com a família em Agosto de 1960. Residirá sempre em Lourenço Marques (Maputo) até Setembro de 1979, altura em que volta a Portugal.
Foi praticante e instrutor de paraquedismo no Aeroclube de Moçambique, com licença de queda-livre, em 1978 e 1979, e cursou Engenharia Electrotécnica na Universidade Eduardo Mondlane.
Na capital portuguesa, integra-se em Agosto de 1981 na ala externa da Renamo, tendo assumido o cargo de director da emissora Voz da África Livre, na África do Sul, de Fevereiro de 1983 a 16 de Março de 1984, data do Acordo de Nkomáti entre a África do Sul e Moçambique. Parte desse período decorre no mato e em ‘departamentos especiais’ de Pretória.
De novo em Lisboa, após Nkomáti, aparece como director da revista da Renamo, sendo nomeado porta-voz e, mais tarde, em 1986, delegado do movimento para a Europa Ocidental. Simultaneamente exerce funções de jornalista (internacional e investigação) e de colaborador em diversos órgãos de informação portugueses.
Abandona a Renamo em 27 de Outubro de 1987 por divergências quanto ao excessivo controlo sul-africano e à linha de actuação do grupo. Termina pois aqui esse período de sete anos de envolvimento com o movimento de guerrilha africano, e em que trabalhou mais precisamente na área de psychological warfare: guerra psicológica, análise de Informação e propaganda.
Ainda em finais de 1987, edita um primeiro número de um boletim independente sobre Moçambique e a África Austral, o ‘Moçambique Hoje’. Em 14 de Março de 1988, já após uma certa liberalização do regime, regressa a Maputo.
Dessa vivência com o movimento de guerrilha compilou o escrito ‘Renamo – uma Descida ao Coração das Trevas’ (O Dossier Makwákwa). E a verdade de toda esta história, onde mora ela?, perguntam alguns. Poucos, muito poucos, que o conhecem bem, tentam explicar tudo de outra forma: ‘Não, nem de um lado nem de outro, como sempre, jogou só por si e para si’. A trip africana apesar de tudo o que se noticiou e descreveu, não passou disso mesmo: um acumular, uma soma de revanche, nostalgia imensa e um exílio da alma, urgente. Às vezes é assim, ele próprio afirma, ‘procura-se um local de despojamento onde possamos renascer, um deserto para tudo esquecer, e deixarmo-nos renovar nesse estado de contemplação’. Acima de tudo, como garantem, foi um certo exílio da alma e do espírito. Mas ninguém poderá nunca explicar bem porquê, e ele não dirá nunca uma palavra. Sobre isto podemos estar certos.
Possuindo alguns conhecimentos e amigos no Cairo e, mais ao norte, no delta do Nilo, em Mahalla al-Kubra, e entre gente árabe nos banlieues parisienses, o facto permitiu-lhe arranjar material para mais um romance de ficção actual ‘Mak: Operação D7’, que classifica como uma ‘provocação’ ou, quase, um ‘manual de terrorismo’, escrito em 1997.
Informatizou a embaixada e consulado de Moçambique em Lisboa e no Porto, a partir de 1992 e até 1999. Além de programador de computadores, especializando-se na construção de bases de dados para várias instituições e empresas, tem como áreas de interesse a Teoria da Informação e a Teoria do Caos, com alguns programas afins desenvolvidos em Visual Basic.
O LIVRO
Este é o livro sobre a invulgar história que vivi desde a partida de Maputo para Lisboa em 1979 e a minha vivência com o movimento de guerrilha moçambicano, a Renamo, então Resistência Nacional Moçambicana, descrita muitas vezes pelo regime como ‘bandidos armados’.
E se havia sido fácil ‘saltar’ de Maputo para a capital portuguesa, bem diferente foi conquistar o caminho de regresso.
Nas primeiras partes do livro relato precisamente a experiência, o que me foi dado ver, ouvir e saber, ao longo dos oito anos e meio, desde que deixei Moçambique em 1979: o primeiro contacto com a RENAMO, os tempos que vivi com o movimento na África do Sul, e o papel que desempenhei posteriormente como seu representante em Portugal e na Europa ocidental e toda a trama envolvente. E o regresso a Maputo, após a morte de Samora Machel e alguma transformação do regime.
Os capítulos seguintes exibem uma pequena análise pessoal sobre o fenómeno RENAMO e os contactos e apoios que complementaram, ou iam disputando, por vezes, no exterior, a ‘gerência’ sul-africana sobre o grupo.
Alguns apêndices, contêm artigos pertinentes, elaborados ou seleccionados, sobre assuntos pontuais, inseridos porém no emaranhado contexto da África Austral e que, directa ou indirectamente, tocam na questão moçambicana e em partes citadas neste livro.
Espero que o ‘Dossier’ não seja apenas e por si só um fim mas, pelo contrário, uma pista possível para um contínuo trabalho de investigação sobre a situação originada e prevalecente em Moçambique desde os finais da década de 70, associada ao factor ‘RENAMO’, à sua génese, e às manipulações e interesses diversos nos bastidores, envolvendo por vezes entidades portuguesas, sul-africanas e outras.
LER ÍNDICE DE 'RENAMO – UMA DESCIDA AO CORAÇÃO DAS TREVAS'
(O DOSSIER MAKWAKWA) por Paulo Oliveira
*O AUTOR 5 *O LIVRO 6
UMA REDE DA CIA, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA E O CONTACTO COM A ‘RESISTÊNCIA’ 11
O CONTACTO COM O TEMÍVEL SNASP, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA POPULAR, E COMO SE FABRICA O ‘AGENTE ALCINO’ 12
AS ‘RESISTÊNCIAS’ LISBOETAS, A FUMO, O MIRN DE KAÚLZA DE ARRIAGA, A MALTA DO ‘7 DE SETEMBRO’ E A PONTE PARA UM ENIGMÁTICO ‘ROBERTO CHIPANGA’ 14
EVO FERNANDES, ‘EMBAIXADOR’ DA RESISTÊNCIA, EMPREGADO DE MANUEL BULLOSA, CABECILHA DA ‘COMPONENTE PORTUGUESA’ 17
CHEGA A LISBOA O OPERACIONAL ORLANDO CRISTINA, SECRETÁRIO-GERAL DA RESISTÊNCIA, O HOMEM DE MÃO DE JORGE JARDIM 21
************************** ***********************
ÁFRICA DO SUL: A DESCIDA AO CORAÇÃO DAS TREVAS 23
LA COURT MONIQUE: A PENSÃO DA MORTE LENTA, UM REDUTO PARA A RENAMO DIRIGIDA PELO EX-PIDE ‘CARVALHO DAS BARBAS’ 24
O ZANZA BUILDING, DE PRETÓRIA, CENTRO DO FURACÃO DE TODA A DESESTABILIZAÇÃO NA ÁFRICA AUSTRAL 25
A ‘FARM’, UMA BASE PARA OS DIRIGENTES DA RENAMO JUNTO AO CORAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL 27
VINTE E SETE GUERRILHEIROS NA BAIXA DE PRETÓRIA 28
O ESTRANHO INDIANO ‘DOIS DEDOS’, O HOMEM À FRENTE DA TEIA NO MALÁWI 29
AFONSO DHLAKAMA: JOVEM E ‘VERDE’ POLITICAMENTE, ADORA COCA-COLA, MOTAS E FILMES DE ‘KARATÉ’ 31
COMO A INTRIGA MINA O MOVIMENTO 32
ASSIM FUNCIONA O ESTADO-MAIOR DA RESISTÊNCIA MOÇAMBICANA EM ‘BASE DE COMANDO RECUADO’ NO VIZINHO TERRITÓRIO DA ÁFRICA DO SUL 33
UM AGENTE DA DINFO PORTUGUESA DESTACADO JUNTO DA GUERRILHA, E COMO UM TIRO NA NOITE ABATE UM DOS MITOS DO MOVIMENTO 38
UM ASSASSINO DE VULTO. ESTARÁ O HOMEM QUE MATOU HUMBERTO DELGADO ENVOLVIDO NA MORTE DE ORLANDO CRISTINA? 44
TERROR E CAOS COM UMA TREMENDA BOMBA EM PRETÓRIA 45
ESCONDIDA ALGURES NAS MONTANHAS DE POTGIETERSRUST, A NOVA BASE SECRETA DA RENAMO NA ÁFRICA DO SUL 46
GIANCARLO COCCIA: COMO UM ‘JORNALISTA’ E AGENTE ESPECIAL, DÁ COBERTURA À EXECUÇÃO MUITO SUI GENERIS DO PILOTO DE MIG-17 ADRIANO BOMBA 51
ESTA INICIÁTICA DESCIDA AO MATO. COMO É O DIA A DIA NA BASE DA GUERRILHA. QUEM SÃO OS HOMENS DA RENAMO. O RESSURGIR DA ‘VOZ DA ÁFRICA LIVRE’ 53
PHALABORWA: O VERDADEIRO CENTRO DE LOGÍSTICA E TREINO PARA AS VÁRIAS GUERRAS NO SUB-CONTINENTE AFRICANO, BASE DE MERCENÁRIOS E DO CÉLEBRE BATALHÃO 32 ‘BUFFALO’ 57
OS REABASTECIMENTOS AÉREOS: A LINHA CONDUTORA, O SANGUE VITAL PARA A GUERRILHA 62
UMA CAMINHADA INFERNAL PELAS MONTANHAS 63
OPERAÇÃO ‘AGOSTO VERMELHO’ E A LUTA PELA TANTALITE, MINERAL ESTRATÉGICO: MORTE E RAPTO DE DUAS DEZENAS DE SOVIÉTICOS 64
ALERTA MÁXIMO. HÁ UMA ‘TOUPEIRA’ INFILTRADA ENTRE NÓS 66
A FUGA PARA PHALABORWA. UM PARAÍSO NO MEIO DA SELVA. A TERRÍVEL SEDE. JAVALIS E ELEFANTES 68
O PLÁCIDO RIO DOS ELEFANTES DESLIZA PELAS MARGENS DESTA GUERRA. A NOVA BASE JUNTO AO KRUGER PARK 70
VASSALAGEM TOTAL: DE COMO PRETÓRIA AMEAÇA E CONTROLA DHLAKAMA 74
OS SECRETOS PARAQUEDISTAS DA RENAMO 76
MAIS SABOTAGENS: FOGO TOTAL SOBRE CAHORA-BASSA. E DHLAKAMA É OBRIGADO A LIBERTAR OS RESTANTES RUSSOS 80
MANTO DE INCÓGNITA, NEBLINA E SILÊNCIO. RECEITAS PARA UM REABASTECIMENTO. CHUVA DILUVIANA, UMA TREMENDA TROVOADA TROPICAL, E A PERIGOSA TRAVESSIA DAS CHEIAS DO SELÁTI 81
NOITE DE TERROR NO ACAMPAMENTO 86
OS DIAS DE NKOMÁTI. FIM DA B.C.R. E ADEUS À ÁFRICA DO SUL 88
************************** *********************
A DELEGAÇÃO EM LISBOA: UM ‘SACO DE GATOS’ 93
A OUTRA GUERRA — COMUNICADOS E PROPAGANDA 96
LISBOA NÃO TRAVA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA. UM ENCONTRO COM O K.G.B 98
UMA MÃOZINHA DO C.D.S. NA REVISTA ‘A LUTA CONTINUA!’ 100
O ENGODO DAS CONVERSAÇÕES DE PRETÓRIA 103
O AGENTE ESPECIAL COCCIA RESSURGE EM LOBBY SUL-AFRICANO EM ITÁLIA 105
O GOLPE DA DERROTA EM ‘CASA BANANA’, E COMO DHLAKAMA FOGE DE MOTA 107
TOM SCHAAF: UM SANTO TENTÁCULO AMERICANO 110
GABINETE DE ESTUDOS 114
O MISTERIOSO E SINISTRO ALEXANDRE CHAGAS 115
UMA ‘GORONGOSA’ EM QUELUZ. A HISTÓRIA DE UMA REPORTAGEM QUE NUNCA EXISTIU E COMO SE ENGANA A IMPRENSA 116
A ESTRONDOSA QUEDA DE EVO FERNANDES 118
UMA JOGADA DE SITHOLE 122
O ‘HOMEM DO MALÁWI’ ATERRA EM LISBOA EM MISSÃO DE INVESTIGAÇÃO 124
ALERTA EM MAPUTO. A ESPERADA MORTE DE SAMORA MACHEL 128
O PENOSO CALVÁRIO DOS REFÉNS PORTUGUESES, E DE COMO O C.D.S. PRETENDE INTERVIR 133
A DINFO NA GORONGOSA. UMA JOGADA DO GENERAL LEMOS FERREIRA 134
O FIM DO CATIVEIRO 139
DE COMO MANUEL BULLOSA QUER SUBSIDIAR UMA CONFERÊNCIA DA RENAMO 140
UM ‘ENVIADO ESPECIAL’ CAÍDO DE PARAQUEDAS EM LISBOA 141
AS ‘SECRETAS’ OFERTAS DA DINFO À RENAMO 142
TENSÃO NA DELEGAÇÃO. O ‘SACO DE GATOS’ PRESTES A REBENTAR 144
VAGA DE EXCURSÕES À GORONGOSA. E DHLAKAMA ESPATIFA-SE DE MOTA 146
O PLANO MANHOSO DE ÁLVARO RÉCIO 147
A CONSPIRAÇÃO ALASTRA EM LISBOA 148
A VISITA A LISBOA DE ‘CHARLIE’ VAN NIEKERK: A INSTALAÇÃO DE APARELHAGEM SOFISTICADA DE CRIPTOGRAFIA 153
A GOLPADA NA DELEGAÇÃO DE LISBOA 156
‘ACIDENTE’ E MORTE NO MALÁWI 159
O REGRESSO DA ‘EMINÊNCIA PARDA’ 162
MOÇAMBIQUE: UM NOVO CENÁRIO 163
************************** *********************
MOÇAMBIQUE 1988-’91: UM RETORNO ENTRE A BRUMA DA NOSTALGIA E A TEIA DA CORRUPÇÃO 167
RETORNO. DESDE A CINZENTA PARIS, NAS MÃOS DA D-13, A CONTRA-INTELIGÊNCIA...168
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DENUNCIA OS LAÇOS DA RENAMO COM A ÁFRICA DO SUL, O GENERAL LEMOS FERREIRA E A CASA BRANCA 171
‘ELES ANDAM AÍ!’: O ESQUADRÃO DA MORTE ENVIADO PELOS SUL-AFRICANOS A MAPUTO 173
RAPTO EM CASCAIS. EXECUÇÃO NA MALVEIRA. O MISTÉRIO SOBRE EVO FERNANDES 176
HISTÓRIA DE UM EXÍLIO FORÇADO EM NAMPULA 178
DEPOIS DA TEMPESTADE A BONANÇA: O REGRESSO À CAPITAL. AS LOUCAS NOITES DO CALIFÓRNIA E AS TÓRRIDAS MULHERES DE MAPUTO 185
NA EMBAIXADA DA URSS: AINDA OS RUSSOS DESAPARECIDOS. A ENTREVISTA COM A PRÉMIO NOBEL NADINE GORDIMER 190
AS CÁLIDAS ÁGUAS DA CATEMBE E A ESCALDANTE DILMA 192
A DROGA INUNDA MAPUTO: UM MERGULHO A PIQUE PARA A MORTE 197
PUNIÇÃO E DISSUASÃO: A NECESSÁRIA DOSE DE ULTRA-VIOLÊNCIA 200
A GUERRA CHEGA À CATEMBE. UM DUELO DE ARTILHARIA VISTO DA JANELA 206
A LULÚ E AS ETERNAS TENTAÇÕES. GAJAS, COPOS, VÍDEO & ROCK AND ROLL 207
SEMPRE ALERTA, CIDADE COMPLICADA. COMO AMESTRAR ESTA BANDIDAGEM. PROVOCADORES E CORRUPTOS A RODOS 211
A HISTÓRIA DE UMA. UMA TERRÍVEL PEDRADA. CIÚMES, BEBEDEIRAS E DEVANEIOS..216
A ‘SULFÚRICA’ E LASCÍVIA ROSA DO PRÉDIO ZAMBEZE 221
O APERTO DA NOSTALGIA NA COOP E MALHANGALENE: ‘NUNCA VOLTES A UM LOCAL ONDE JÁ FOSTE FELIZ’ 225
O CURIOSO FILHO DO EMBAIXADOR AMERICANO. NO REINO DA BAGUNÇA 230
UMA FUGA E ‘OPERAÇÃO ESPECIAL’ NA BEIRA. A EPOPEIA DAS VIAGENS EM ‘ANTONOVS’, ESSAS CARROÇAS DOS CÉUS DIGNAS DE UM FILME DE KUSTURIKA 233
COMO É FÁCIL CAIR NUMA TEIA DE ACUSAÇÕES. PERIPÉCIAS E CURANDEIRAS. O DIA EM QUE POR CIÚMES IA SENDO MORTO COM UMA RAJADA DE AK-47 243
AS REPORTAGENS ‘VIP’ PARA A SEGURANÇA E DIGNATÁRIOS DO REGIME. AS DERRAPAGENS DO NEGÓCIO. PRAÇA DOS COMBATENTES, UM BAZAR DE IMUNDÍCIE..246
A LUTA CONTINUA! O CAMPEONATO DE SAIAS PROSSEGUE: FRACA É A CARNE 250
COMO OS NEGÓCIOS DESCAMBAM E TEMOS AS ‘GANGS’ E A BÓFIA À PERNA 253
ESTES LOUCOS DESPERTARES. 257
EPIFANIA À VOLTA DO CASO EVO FERNANDES: A TERRÍVEL REVELAÇÃO 260
O ADEUS À AVENTURA… SERÁ? 264
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C O N C L U S Ã O 269
DOS OBJECTIVOS DA GUERRA 270
A. PRETÓRIA E OS ASPECTOS ECONÓMICOS REGIONAIS 270
B. PRETÓRIA E ALGUNS ASPECTOS ECONÓMICOS DE MOÇAMBIQUE 271
C. PRETÓRIA E OS ASPECTOS POLÍTICOS E DIPLOMÁTICOS 272
D. PRETÓRIA E O ASPECTO MILITAR 272
E. OUTROS OBJECTIVOS POLÍTICOS 273
F. OS OBJECTIVOS DO GRUPO RENAMO 273
G. A IMPORTÂNCIA DA ‘NOVA ORDEM GLOBAL’ 273
DOS MEIOS EMPREGUES 274
E PORTUGAL? A ‘COMPONENTE PORTUGUESA’ 275
************************** ***************
A P Ê N D I C E S 278
1. DENÚNCIAS DA EXECUÇÃO DE SUSPEITOS DA MORTE DE EX-SG DA RENAMO ENVOLVEM DHLAKAMA 279
2. A HISTÓRIA DOS PLANOS PARA A ELIMINAÇÃO DO CABO ROLAND HUNTER COM VENENO DE COBRA MAMBA 281
3. MBUZINI: COMO TERÁ SIDO MORTO SAMORA MACHEL. HISTÓRIA DE UM DESPENHAMENTO ANUNCIADO 283
4. A HISTÓRIA SECRETA DA VOZ DA ÁFRICA LIVRE OU ‘RÁDIO QUIZUMBA’ (HIENA) 288
5. A HISTÓRIA DO ‘NAMORO’ ENTRE WASHINGTON E MAPUTO 290
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(O DOSSIER MAKWAKWA) por Paulo Oliveira
*O AUTOR 5 *O LIVRO 6
UMA REDE DA CIA, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA E O CONTACTO COM A ‘RESISTÊNCIA’ 11
O CONTACTO COM O TEMÍVEL SNASP, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA POPULAR, E COMO SE FABRICA O ‘AGENTE ALCINO’ 12
AS ‘RESISTÊNCIAS’ LISBOETAS, A FUMO, O MIRN DE KAÚLZA DE ARRIAGA, A MALTA DO ‘7 DE SETEMBRO’ E A PONTE PARA UM ENIGMÁTICO ‘ROBERTO CHIPANGA’ 14
EVO FERNANDES, ‘EMBAIXADOR’ DA RESISTÊNCIA, EMPREGADO DE MANUEL BULLOSA, CABECILHA DA ‘COMPONENTE PORTUGUESA’ 17
CHEGA A LISBOA O OPERACIONAL ORLANDO CRISTINA, SECRETÁRIO-GERAL DA RESISTÊNCIA, O HOMEM DE MÃO DE JORGE JARDIM 21
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ÁFRICA DO SUL: A DESCIDA AO CORAÇÃO DAS TREVAS 23
LA COURT MONIQUE: A PENSÃO DA MORTE LENTA, UM REDUTO PARA A RENAMO DIRIGIDA PELO EX-PIDE ‘CARVALHO DAS BARBAS’ 24
O ZANZA BUILDING, DE PRETÓRIA, CENTRO DO FURACÃO DE TODA A DESESTABILIZAÇÃO NA ÁFRICA AUSTRAL 25
A ‘FARM’, UMA BASE PARA OS DIRIGENTES DA RENAMO JUNTO AO CORAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL 27
VINTE E SETE GUERRILHEIROS NA BAIXA DE PRETÓRIA 28
O ESTRANHO INDIANO ‘DOIS DEDOS’, O HOMEM À FRENTE DA TEIA NO MALÁWI 29
AFONSO DHLAKAMA: JOVEM E ‘VERDE’ POLITICAMENTE, ADORA COCA-COLA, MOTAS E FILMES DE ‘KARATÉ’ 31
COMO A INTRIGA MINA O MOVIMENTO 32
ASSIM FUNCIONA O ESTADO-MAIOR DA RESISTÊNCIA MOÇAMBICANA EM ‘BASE DE COMANDO RECUADO’ NO VIZINHO TERRITÓRIO DA ÁFRICA DO SUL 33
UM AGENTE DA DINFO PORTUGUESA DESTACADO JUNTO DA GUERRILHA, E COMO UM TIRO NA NOITE ABATE UM DOS MITOS DO MOVIMENTO 38
UM ASSASSINO DE VULTO. ESTARÁ O HOMEM QUE MATOU HUMBERTO DELGADO ENVOLVIDO NA MORTE DE ORLANDO CRISTINA? 44
TERROR E CAOS COM UMA TREMENDA BOMBA EM PRETÓRIA 45
ESCONDIDA ALGURES NAS MONTANHAS DE POTGIETERSRUST, A NOVA BASE SECRETA DA RENAMO NA ÁFRICA DO SUL 46
GIANCARLO COCCIA: COMO UM ‘JORNALISTA’ E AGENTE ESPECIAL, DÁ COBERTURA À EXECUÇÃO MUITO SUI GENERIS DO PILOTO DE MIG-17 ADRIANO BOMBA 51
ESTA INICIÁTICA DESCIDA AO MATO. COMO É O DIA A DIA NA BASE DA GUERRILHA. QUEM SÃO OS HOMENS DA RENAMO. O RESSURGIR DA ‘VOZ DA ÁFRICA LIVRE’ 53
PHALABORWA: O VERDADEIRO CENTRO DE LOGÍSTICA E TREINO PARA AS VÁRIAS GUERRAS NO SUB-CONTINENTE AFRICANO, BASE DE MERCENÁRIOS E DO CÉLEBRE BATALHÃO 32 ‘BUFFALO’ 57
OS REABASTECIMENTOS AÉREOS: A LINHA CONDUTORA, O SANGUE VITAL PARA A GUERRILHA 62
UMA CAMINHADA INFERNAL PELAS MONTANHAS 63
OPERAÇÃO ‘AGOSTO VERMELHO’ E A LUTA PELA TANTALITE, MINERAL ESTRATÉGICO: MORTE E RAPTO DE DUAS DEZENAS DE SOVIÉTICOS 64
ALERTA MÁXIMO. HÁ UMA ‘TOUPEIRA’ INFILTRADA ENTRE NÓS 66
A FUGA PARA PHALABORWA. UM PARAÍSO NO MEIO DA SELVA. A TERRÍVEL SEDE. JAVALIS E ELEFANTES 68
O PLÁCIDO RIO DOS ELEFANTES DESLIZA PELAS MARGENS DESTA GUERRA. A NOVA BASE JUNTO AO KRUGER PARK 70
VASSALAGEM TOTAL: DE COMO PRETÓRIA AMEAÇA E CONTROLA DHLAKAMA 74
OS SECRETOS PARAQUEDISTAS DA RENAMO 76
MAIS SABOTAGENS: FOGO TOTAL SOBRE CAHORA-BASSA. E DHLAKAMA É OBRIGADO A LIBERTAR OS RESTANTES RUSSOS 80
MANTO DE INCÓGNITA, NEBLINA E SILÊNCIO. RECEITAS PARA UM REABASTECIMENTO. CHUVA DILUVIANA, UMA TREMENDA TROVOADA TROPICAL, E A PERIGOSA TRAVESSIA DAS CHEIAS DO SELÁTI 81
NOITE DE TERROR NO ACAMPAMENTO 86
OS DIAS DE NKOMÁTI. FIM DA B.C.R. E ADEUS À ÁFRICA DO SUL 88
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A DELEGAÇÃO EM LISBOA: UM ‘SACO DE GATOS’ 93
A OUTRA GUERRA — COMUNICADOS E PROPAGANDA 96
LISBOA NÃO TRAVA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA. UM ENCONTRO COM O K.G.B 98
UMA MÃOZINHA DO C.D.S. NA REVISTA ‘A LUTA CONTINUA!’ 100
O ENGODO DAS CONVERSAÇÕES DE PRETÓRIA 103
O AGENTE ESPECIAL COCCIA RESSURGE EM LOBBY SUL-AFRICANO EM ITÁLIA 105
O GOLPE DA DERROTA EM ‘CASA BANANA’, E COMO DHLAKAMA FOGE DE MOTA 107
TOM SCHAAF: UM SANTO TENTÁCULO AMERICANO 110
GABINETE DE ESTUDOS 114
O MISTERIOSO E SINISTRO ALEXANDRE CHAGAS 115
UMA ‘GORONGOSA’ EM QUELUZ. A HISTÓRIA DE UMA REPORTAGEM QUE NUNCA EXISTIU E COMO SE ENGANA A IMPRENSA 116
A ESTRONDOSA QUEDA DE EVO FERNANDES 118
UMA JOGADA DE SITHOLE 122
O ‘HOMEM DO MALÁWI’ ATERRA EM LISBOA EM MISSÃO DE INVESTIGAÇÃO 124
ALERTA EM MAPUTO. A ESPERADA MORTE DE SAMORA MACHEL 128
O PENOSO CALVÁRIO DOS REFÉNS PORTUGUESES, E DE COMO O C.D.S. PRETENDE INTERVIR 133
A DINFO NA GORONGOSA. UMA JOGADA DO GENERAL LEMOS FERREIRA 134
O FIM DO CATIVEIRO 139
DE COMO MANUEL BULLOSA QUER SUBSIDIAR UMA CONFERÊNCIA DA RENAMO 140
UM ‘ENVIADO ESPECIAL’ CAÍDO DE PARAQUEDAS EM LISBOA 141
AS ‘SECRETAS’ OFERTAS DA DINFO À RENAMO 142
TENSÃO NA DELEGAÇÃO. O ‘SACO DE GATOS’ PRESTES A REBENTAR 144
VAGA DE EXCURSÕES À GORONGOSA. E DHLAKAMA ESPATIFA-SE DE MOTA 146
O PLANO MANHOSO DE ÁLVARO RÉCIO 147
A CONSPIRAÇÃO ALASTRA EM LISBOA 148
A VISITA A LISBOA DE ‘CHARLIE’ VAN NIEKERK: A INSTALAÇÃO DE APARELHAGEM SOFISTICADA DE CRIPTOGRAFIA 153
A GOLPADA NA DELEGAÇÃO DE LISBOA 156
‘ACIDENTE’ E MORTE NO MALÁWI 159
O REGRESSO DA ‘EMINÊNCIA PARDA’ 162
MOÇAMBIQUE: UM NOVO CENÁRIO 163
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MOÇAMBIQUE 1988-’91: UM RETORNO ENTRE A BRUMA DA NOSTALGIA E A TEIA DA CORRUPÇÃO 167
RETORNO. DESDE A CINZENTA PARIS, NAS MÃOS DA D-13, A CONTRA-INTELIGÊNCIA...168
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DENUNCIA OS LAÇOS DA RENAMO COM A ÁFRICA DO SUL, O GENERAL LEMOS FERREIRA E A CASA BRANCA 171
‘ELES ANDAM AÍ!’: O ESQUADRÃO DA MORTE ENVIADO PELOS SUL-AFRICANOS A MAPUTO 173
RAPTO EM CASCAIS. EXECUÇÃO NA MALVEIRA. O MISTÉRIO SOBRE EVO FERNANDES 176
HISTÓRIA DE UM EXÍLIO FORÇADO EM NAMPULA 178
DEPOIS DA TEMPESTADE A BONANÇA: O REGRESSO À CAPITAL. AS LOUCAS NOITES DO CALIFÓRNIA E AS TÓRRIDAS MULHERES DE MAPUTO 185
NA EMBAIXADA DA URSS: AINDA OS RUSSOS DESAPARECIDOS. A ENTREVISTA COM A PRÉMIO NOBEL NADINE GORDIMER 190
AS CÁLIDAS ÁGUAS DA CATEMBE E A ESCALDANTE DILMA 192
A DROGA INUNDA MAPUTO: UM MERGULHO A PIQUE PARA A MORTE 197
PUNIÇÃO E DISSUASÃO: A NECESSÁRIA DOSE DE ULTRA-VIOLÊNCIA 200
A GUERRA CHEGA À CATEMBE. UM DUELO DE ARTILHARIA VISTO DA JANELA 206
A LULÚ E AS ETERNAS TENTAÇÕES. GAJAS, COPOS, VÍDEO & ROCK AND ROLL 207
SEMPRE ALERTA, CIDADE COMPLICADA. COMO AMESTRAR ESTA BANDIDAGEM. PROVOCADORES E CORRUPTOS A RODOS 211
A HISTÓRIA DE UMA. UMA TERRÍVEL PEDRADA. CIÚMES, BEBEDEIRAS E DEVANEIOS..216
A ‘SULFÚRICA’ E LASCÍVIA ROSA DO PRÉDIO ZAMBEZE 221
O APERTO DA NOSTALGIA NA COOP E MALHANGALENE: ‘NUNCA VOLTES A UM LOCAL ONDE JÁ FOSTE FELIZ’ 225
O CURIOSO FILHO DO EMBAIXADOR AMERICANO. NO REINO DA BAGUNÇA 230
UMA FUGA E ‘OPERAÇÃO ESPECIAL’ NA BEIRA. A EPOPEIA DAS VIAGENS EM ‘ANTONOVS’, ESSAS CARROÇAS DOS CÉUS DIGNAS DE UM FILME DE KUSTURIKA 233
COMO É FÁCIL CAIR NUMA TEIA DE ACUSAÇÕES. PERIPÉCIAS E CURANDEIRAS. O DIA EM QUE POR CIÚMES IA SENDO MORTO COM UMA RAJADA DE AK-47 243
AS REPORTAGENS ‘VIP’ PARA A SEGURANÇA E DIGNATÁRIOS DO REGIME. AS DERRAPAGENS DO NEGÓCIO. PRAÇA DOS COMBATENTES, UM BAZAR DE IMUNDÍCIE..246
A LUTA CONTINUA! O CAMPEONATO DE SAIAS PROSSEGUE: FRACA É A CARNE 250
COMO OS NEGÓCIOS DESCAMBAM E TEMOS AS ‘GANGS’ E A BÓFIA À PERNA 253
ESTES LOUCOS DESPERTARES. 257
EPIFANIA À VOLTA DO CASO EVO FERNANDES: A TERRÍVEL REVELAÇÃO 260
O ADEUS À AVENTURA… SERÁ? 264
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C O N C L U S Ã O 269
DOS OBJECTIVOS DA GUERRA 270
A. PRETÓRIA E OS ASPECTOS ECONÓMICOS REGIONAIS 270
B. PRETÓRIA E ALGUNS ASPECTOS ECONÓMICOS DE MOÇAMBIQUE 271
C. PRETÓRIA E OS ASPECTOS POLÍTICOS E DIPLOMÁTICOS 272
D. PRETÓRIA E O ASPECTO MILITAR 272
E. OUTROS OBJECTIVOS POLÍTICOS 273
F. OS OBJECTIVOS DO GRUPO RENAMO 273
G. A IMPORTÂNCIA DA ‘NOVA ORDEM GLOBAL’ 273
DOS MEIOS EMPREGUES 274
E PORTUGAL? A ‘COMPONENTE PORTUGUESA’ 275
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A P Ê N D I C E S 278
1. DENÚNCIAS DA EXECUÇÃO DE SUSPEITOS DA MORTE DE EX-SG DA RENAMO ENVOLVEM DHLAKAMA 279
2. A HISTÓRIA DOS PLANOS PARA A ELIMINAÇÃO DO CABO ROLAND HUNTER COM VENENO DE COBRA MAMBA 281
3. MBUZINI: COMO TERÁ SIDO MORTO SAMORA MACHEL. HISTÓRIA DE UM DESPENHAMENTO ANUNCIADO 283
4. A HISTÓRIA SECRETA DA VOZ DA ÁFRICA LIVRE OU ‘RÁDIO QUIZUMBA’ (HIENA) 288
5. A HISTÓRIA DO ‘NAMORO’ ENTRE WASHINGTON E MAPUTO 290
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AS ‘RESISTÊNCIAS’ LISBOETAS, A FUMO, O MIRN DE KAÚLZA DE ARRIAGA, A MALTA DO ‘7 DE SETEMBRO’ E A PONTE PARA UM ENIGMÁTICO ‘ROBERTO CHIPANGA’
Descartar-me da situação... Era importante. Não sabia o que iria acontecer quando os ‘serviços’ coligissem informações e verificassem que o novo colaborador que recrutaram era, afinal, o mesmo indivíduo que outra repartição já vigiava por críticas ao regime, tanto no Aeroclube como na Faculdade de Engenharia Electrotécnica. A situação parece séria.
Em Lisboa, começo a pensar profundamente no assunto. Estabeleço um primeiro contacto com o Dr. Domingos Arouca, então líder de um movimento, a FUMO, Frente Unida e Democrática de Moçambique, que era de certa forma notada em alguma imprensa de direita. Arouca era já entrado em idade, é casado com uma senhora portuguesa, professora, e salienta-se por ter sido o primeiro advogado negro moçambicano, tendo estado preso pela PIDE.
Agora, Arouca aconselha-me a não regressar a Maputo. E fala entretanto das divergências dele com a Resistência, a R.N.M. - Resistência Nacional Moçambicana ou Movimento Nacional de Resistência - ‘excessivamente controlada pelos rodesianos’, afirma. Mas, à entrada para um dos encontros posteriores que com ele tive, vejo a sair da moradia dele no Restelo um português que, mais tarde, iria reconhecer como sendo Orlando Cristina, secretário-geral da Resistência Nacional Moçambicana.
Domingos Arouca acrescenta ir formar as suas próprias guerrilhas e que acaba de conseguir três mil uniformes de combate.
Domingos Arouca acrescenta ir formar as suas próprias guerrilhas e que acaba de conseguir três mil uniformes de combate.
Os anos seguintes desmentiriam a vontade, ou possibilidades, de organização militar da FUMO. Ao mesmo tempo eram expostas proezas de elementos que lhe são próximos, como teria sido a explosão do seu próprio carro, atribuída a um tal Carlos Lacerda, ex-colono em Moçambique, membro da conhecida família Lacerda, e um dos envolvidos no movimento do 7 de Setembro que se tentou opor aos Acordos de Lusaca que abriram caminho à descolonização. Era essa pois a maneira de Lacerda propagandear a FUMO. Uma das reuniões do movimento no Hotel Roma, em Lisboa, esteve para ser contemplada com publicidade idêntica mas Domingos Arouca opusera-se firmemente à ideia.
Arouca anuncia-me, por outro lado, que irão rebentar bombas em Maputo, o que efectivamente acontece semanas depois, quando eu já estou de volta à capital moçambicana: três carros armadilhados explodem no centro da cidade.
Agosto de 1979. Cá estou de novo em Maputo, regressado de breves férias e para uma estada, afinal, também breve. Resolvo últimos assuntos que tenho a tratar, informo a família da situação, a ‘situação’, e trato da ida, rápida, para Lisboa. Contorno os encontros tentados por Fernando Chombe e parto por fim a 14 de Setembro.
Em Lisboa, sigo atentamente pela Imprensa a questão moçambicana, as conversações sobre o futuro da ex-Rodésia, os acordos de Lancaster House e a independência do Zimbabwe, já em Abril de 1980. Claro, claro, tudo isto ia influenciar decisivamente a questão moçambicana, o futuro próximo do regime e da oposição.
Até ao regresso de toda a família a Portugal, em Fevereiro de 1981, não efectuo nem tento qualquer contacto com a Resistência, que sobrevive afinal e relativamente bem à queda da Rodésia de Ian Smith. Pudera, com a mais possante mão sul-africana logo a sustê-la após ser largada dos periclitantes braços rodesianos.
Até ao regresso de toda a família a Portugal, em Fevereiro de 1981, não efectuo nem tento qualquer contacto com a Resistência, que sobrevive afinal e relativamente bem à queda da Rodésia de Ian Smith. Pudera, com a mais possante mão sul-africana logo a sustê-la após ser largada dos periclitantes braços rodesianos.
Os encontros que tenho com Arouca são cada vez mais espaçados. Compreendo a falta de apoio que a FUMO sofre, preterida tanto por rodesianos como, posteriormente, pelos sul-africanos, em favor da Resistência.
A FUMO esvaziava-se progressivamente como um balão largado, flácido. Mesmo já em 1979, soube muito depois por um antigo elemento, uma boa parte dos militantes em Portugal havia-se passado para o lado da R.N.M. Contactos com o Maláwi, a pedido de Domingos Arouca, e feitos nesse ano por um mulatão idoso morador em Camarate, antigo quadro prestigiado dos Caminhos de Ferro de Moçambique, bem como por mais gente, para uma alternativa militar à Resistência, haviam ficado sem resposta.
Duas figuras avultam contudo aqui neste naipe: Ivete Corte-Real Fernandes, a esposa de Evo Fernandes, um dos fundadores da R.N.M., e o pai dela, Álvaro Corte- Real. Entre outros, são apontados como exemplos de ex-FUMOs que, instigados pelo empresário Jorge Jardim, então baseado no Gabão, e pelo Evo, se passaram para a Resistência. E o próprio Evo, relatam-me, conhecera a Ivete numa das reuniões com a FUMO, em que se tentara persuadir Arouca a aderir ao projecto ‘R.N.M.’
Se bem que na Imprensa e nos meios de retornados, os ex-colonos, o nome de Domingos Arouca ficasse vincado, por obra de toda a carreira do período anterior à Independência, do velho e bojudo advogado, doravante os apoios de antigos colonos iriam inclinar-se mais para Cascais, onde se baseia Fernandes.
Da FUMO, em Lisboa, resta apenas a publicação de três números de um boletim. Em 1982 Arouca entregaria a presidência do movimento ‘por motivos de saúde’ a um jovem advogado moçambicano, quase desconhecido.
Evo Fernandes, como delegado da Resistência em Portugal, mantém-se com um perfil relativamente apagado até 1982, utilizando até o pseudónimo de Roberto Chipanga. Os jornais ‘Tempo’, ‘O Dia’ e ‘O Diabo’, são alguns dos órgãos de Imprensa da direita que privilegiam a informação da Resistência mas que não focam, a seu pedido, a figura do delegado. Regularmente, Fernandes assegura uns textos para ‘O Diabo’ que assina sob o nome de Hermenegildo Vasques, ‘correspondente em Mbabane, Swazilândia’.
E quanto ao muito falado Jorge Jardim, a figura grada de Moçambique, capitalista, agente secreto, etc., etc., das últimas décadas coloniais? A viver em Libreville, no Gabão, onde residirá até à data da sua morte em 1982, e que acaba por ser ultrapassado pelos rodesianos e pelo próprio Evo Fernandes. Dele, ficaria essencialmente uma simbólica primordial.[Note-se por exemplo a simbólica das setas (mais tarde adoptada nas bandeiras da FUMO e da RENAMO) e retratada já a páginas 150 do ‘Moçambique – Terra Queimada’: “... a moda das capulanas fora lançada, na memorável apresentação no Ritz, em que até as flores vinham do Chimoio. Exibindo as setas moçambicanas (símbolo da tradição lusíada, da unidade das gentes, do progresso e da paz) as nossas moças tinham sido inexcedíveis. Lembro a resposta de uma delas a categorizada dama que elogiava a harmonia e bom gosto da nossa insígnia: ‘É lindo, minha senhora, e mais belo ficará na bandeira, quando formos independentes’. Por infelicidade de todos, a bandeira veio a ser diferente. Mas a culpa não foi nossa”.]
Após 1976, ano em que convencera os rodesianos a fazer de Orlando Cristina, um seu antigo homem de mão e pisteiro, o secretário-geral da Resistência, a influência de Jardim vinha a decrescer dentro do movimento. A sua participação é tida por Fernandes como um mero ‘show off ’ de quem pretendia controlar a R.N.M. sem ter já meios concretos, militares, para o fazer.
A condução da guerra seria efectuada, predominantemente, a partir do eixo Salisbúria-Pretória, como o futuro se encarregaria de demonstrar.[Veja-se o livro ‘Moçambique Terra Queimada’, Jorge Jardim – Lisboa 1976, Ed. Intervenção – a páginas 415, já no final da obra, marcada pela perspectiva imediata, o ‘sonho’ que tinha para o futuro de Moçambique. Muito da retórica e da simbólica ‘renamista’ encontra-se já aqui presente: a ‘resistência’, o azul da bandeira (da FUMO e da RENAMO) e mesmo a frase – irónica! – ‘a luta continua’. “Os tanques russos não podem passar nas nossas picadas; as armas modernas de nada servem contra as armas que não temos; e as nossas aldeias são tantas que não há mercenários comunistas suficientes para as ocuparem. Mas eles, que são poucos, podem ser alvo fácil para a resistência do povo, quando se desencadeie a sua revolta. (...) Regressarão muitos, para todos nos ajudarmos (...) Sobretudo para termos, finalmente, liberdade. Surgem já raios de sol a romper o fumo da queimada. Em breve veremos o céu que é azul. E essa será a cor da nossa bandeira. A bandeira de Moçambique erguida pelo governo da maioria. Sob essa bandeira espero ainda viver em Moçambique. (...) Tal como eu, haverá milhares que regressarão. Porque não sabem viver noutra terra. Porque querem viver nessa a que pertencem. Neste livro contei uma história triste. Espero poder escrever outro a contar coisas diferentes. Haverei de o fazer nessa terra em que quero viver e onde espero poder, um dia, vir a morrer. Entretanto, a luta continua... E construiremos o Moçambique Novo.”]
Como faço então para contactar esta gente de sangue na guelra, os que estão no terreno, o Roberto Chipanga e companhia? São vagos, nos vários jornais que contacto, até que indicam uma pista: o partido do ‘general’, tem lá malta de Moçambique que está ‘ligada’…
O Movimento Independente para a Reconstrução Nacional, o MIRN, é um partido, uma organização corpuscular da extrema-direita portuguesa. Tem à sua frente o Kaúlza de Arriaga. Conheço uma tarde este velho general da Operação Nó Górdio. Claro que o homem ainda se movimenta, embora quase senil, assim como um tal coronel Repas, que havia estado nos teatros de operações de Angola, sonhando ambos com o ex-Ultramar naquele quinto andar por cima da Lufthansa, num prédio da Avenida da Liberdade.
O MIRN, ou gente do agrupamento, constituía assim em 1981 um dos círculos não muito distanciados de Evo Fernandes. Eu que já antes tentara, em vão, por intermédio de alguns jornalistas, saber do paradeiro desse tal ‘Roberto Chipanga’ e andava em círculos, parece que tenho aqui uma das pontas da meada. ‘Malta de Moçambique’... A ‘malta’ mais não será porém, aqui e agora, que o rotundo Manuel Gomes dos Santos, o ‘locutor Manuel’, desse Movimento Moçambique Livre, surgido em 7 de Setembro de 1974 contra a independência de Moçambique, e agora militante do MIRN, e quem me vai dar o endereço de Evo Fernandes.
E ao estar perante este Gomes dos Santos, no seu gabinete apertado, ou é ele que é enormíssimo, gordo, balofo mesmo, parece que ouço e vejo agora momentaneamente, de volta, toda a sonância, as labaredas, desses dias terríveis e de ódio que abalaram a então bucólica Lourenço Marques, agitada por este punhado de gente que pôs a urbe a ferro e fogo, trazendo a reacção da população negra, culminando tal façanha com umas centenas de mortos, moradias e carros calcinados, e uma sensação de pânico e desconfiança que foi factor determinante para a partida de muitos. Não resisto: ‘e então, porque é que falhou tudo?’ Deve ter ouvido a mesma merda de pergunta milhares de vezes desde 1974. ‘Foda-se e porras, e mais palavras com ‘f ’s e ‘c’s, e toma lá o endereço, está aqui neste papel!’, um papelucho que acaba de rabiscar e dobrar.
Agosto de 1981. Rua Tenente Valadim 16, rés-do-chão, Cascais. Fica perto da cidadela. Acabo de subir uma rampa íngreme, calcetada, esgueirar-me sob um velho arco em pedra. Tenho no bolso e gravadas na mente as indicações do ‘locutor Manuel’. Toco à campainha. Estou pois ufano, expectante, à porta da Resistência, e no início de uma tortuosa estrada que iria percorrer durante mais de seis anos.
Agosto de 1981. Rua Tenente Valadim 16, rés-do-chão, Cascais. Fica perto da cidadela. Acabo de subir uma rampa íngreme, calcetada, esgueirar-me sob um velho arco em pedra. Tenho no bolso e gravadas na mente as indicações do ‘locutor Manuel’. Toco à campainha. Estou pois ufano, expectante, à porta da Resistência, e no início de uma tortuosa estrada que iria percorrer durante mais de seis anos.
É a própria Ivete quem vem abrir. O Evo não se encontra em casa. Partiu numa das muitas digressões que efectua ao estrangeiro em prol do movimento. ‘Nos princípios de Setembro estará de regresso’. E a princípio fico na dúvida se esta Ivete Fernandes que se me apresenta ao abrir a porta será mulher ou filha do Evo Fernandes. É quase uma moça ainda, mestiça, franzina, frágil mesmo, e graciosa, de longos cabelos lisos, e que mais parece uma mulata saída de uma qualquer telenovela do Rio. Uns olhos castanhos, amendoados e vivos, brilham no topo daquele rosto esguio. ‘Não, o Evo agora não está!’, repete ela ainda com o olhar a interrogar-me e como se eu não tivesse compreendido bem à primeira.
Setembro. O escritório. Fica num amplo quarto andar a meio da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, entre a Praça de Espanha e Sete Rios, em Lisboa. Evo Fernandes, finalmente. Comigo, levo mais três ou quatro jovens, todos à volta dos vinte anos, curiosos em conhecer e talvez apoiar a ‘Resistência’, e regressar depois, se possível, a um ‘Moçambique libertado’. Nunca tinha visto sequer alguma foto ou descrição dele. Quem me abre a porta é um tipo de altura média, bem proporcionado, onde se destaca um sorriso simpático neste rosto bonacheirão perlado por um sinal proeminente no lábio superior. Fernandes, devia ter visto logo pelo nome, é pois de ascendência goesa. Os primeiros minutos permitem logo saber que estou perante alguém culto e bem preparado como aliás viria a confirmar. Afável, brincalhão, que até ostenta um certo estilo de ‘playboy’ refinado. E em resumo, o Evo torna-se por algum tempo o verdadeiro ‘public relations’ do movimento.
RENAMO – UMA DESCIDA AO CORAÇÃO DAS TREVAS (O DOSSIER MAKWAKWA)
(...)
1. UMA REDE DA CIA, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA E O CONTACTO COM A ‘RESISTÊNCIA’
O CONTACTO COM O 'TEMÍVEL SNASP', O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA POPULAR, E COMO SE FABRICA O ‘AGENTE ALCINO’
A história demoraria para mim quase dez anos a completar-se. Precisar o seu início é ainda hoje um pouco custoso fazê-lo. Contudo, aquele mês de Junho de 1979 foi deveras decisivo. Em Fevereiro do ano anterior havia visitado Lisboa e, após a estadia na buliçosa metrópole, em comparação, é claro, com a pacatez de Maputo, decidira que além de estudar Electrotecnia havia de fazer algo mais movimentado. Decidi. Decidi que me iria inscrever no novo curso de pára-quedismo do Aeroclube de Moçambique.
Os episódios das emergências em queda-livre, dos pára-quedas que não funcionavam, as ameaças de abate da avioneta, etc., etc., seriam questões menores perante tudo o que se seguiu.
No princípio de 1979 o vice-cônsul americano em Maputo era Jimmy Kolker. Este mesmo Kolker atingiria mais tarde o posto de embaixador, nomeado americano no Uganda de 2002 a 2005.
Por iniciativa própria, fiz algumas visitas à representação dos Estados Unidos na capital, tentando obter para o clube alguns dos chamados para-quedas ‘abatidos’ da Força Aérea norte-americana. As relações entre Washington e Maputo conheciam uma fase problemática e não houve nenhuma possibilidade de ajuda.
Kolker, trinta e tal anos, jovial, afável, cabelo acastanhado, fala extremamente bem português. Apresenta-me agora o oficial de comunicações da Embaixada, Donald Anthony Becker, que já fizera uns dois saltos de pára-quedismo nos ‘States’ e quer falar comigo.
Dias depois Becker ingressa no Aeroclube tendo-lhe eu instruído os procedimentos gerais sobre queda-livre. Becker é alto, cabelo revolto, meio arruivado, óculos, extremamente brincalhão, ex-marine no Vietname. Participa normalmente nos convívios do clube e organiza inclusive festas em sua casa, concorridas pelos colegas do pára-quedismo. Por diversas vezes ‘piso o risco’, entro com ele na Base Aérea de Mavalane, com um carro da Embaixada, um Volkswagen Passat azul-celeste. Nada de suspeito ocorreu. Donald Becker saltaria ainda de um avião ‘Antonov-26’ da Força Popular Aérea, tripulado por moçambicanos e soviéticos.
Tudo bem até aqui. Uma grande trama, Embaixada-CIA-Aeroclube, só iria estoirar com Fred Laundale, outro diplomata americano, dois anos mais tarde, em meados de 1981. Nem eu nem Becker estaríamos em Maputo para assistir ao fim deste rastilho que fora ateado.
Toda esta absurda história tem raízes no ainda mais absurdo episódio dos ‘coelhos californianos’ e que se explica em meia dúzia de linhas, e conduz inevitavelmente à Teoria do Caos e ao chamado ‘efeito borboleta’: um bater de asas de borboleta em Pequim redunda num ciclone em Nova Iorque. Pois bem, nós aqui temos um ‘efeito coelho’. Pilotos e paraquesdistas combinaram arranjar verbas para o clube, criando coelhos, coelhos californianos, aqueles de pelo branco, fofinhos e dóceis, de olhinhos rubi, e comercializando-os.
Não tardam porém as desavenças entre os dois universos e eu estava com um pé em cada mundo: ao mesmo tempo paraquedista e aluno-piloto. Num conclave, a malta paraquedista decide um ponto final à coelhada, numa noite de sexta-feira ‘rapta’ os bicharocos. Heresia das heresias! A malta da pilotagem dos teço-tecos até apresenta queixa no comando da polícia.
Sábado estamos em casa de um dos instrutores já a ferrar o dente nos coelhos à caçador quando tocam à campainha, é a autoridade. O americano Becker está estupefacto: police, rabbits (coelhos)? E está visto, vai tudo de escantilhão para o Comando da Polícia na ex-Andrade Corvo. O comandante não sabe o que fazer, tudo aquilo é surrealista demais para ele… deita as mãos à cabeça: ‘vocês, resolvam lá isso entre vocês… mas ainda trazem aí algum coelho?’ – Não!!!
E no Aeroclube a coisa é resolvida, instrutores, chefes de equipa, eu incluído, estamos ‘apeados’, sem saltar por várias semanas. Ainda hoje, tantos anos volvidos me pergunto: seria esta história tão diferente, não fosse o rocambolesco episódio dos coelhos? Creio que seria… tudo isto precipitou uma série de acontecimentos em cascata.
E é assim que num fatídico domingo, 10 de Junho de 1979 eu não saltara, tendo levado para as pistas de aterragem da Costa do Sol o veículo da Embaixada atribuído a Becker, mais um par de binóculos pessoais e uma máquina fotográfica, com teleobjectiva, que pertencia ao diplomata norte-americano juntamente com um rádio transmissor.
As posições do exército na zona não haviam sido informadas pelo Estado-Maior sobre os saltos de pára-quedismo previstos para esse dia e, tal como os outros, eu acabaria por ser detido, com a agravante de ter comigo uns binóculos e câmara fotográfica. De caminho, somos ainda obrigados a partilhar do almoço servido à guarnição anti-aérea, carne guisada. Corrijo: nervos e tendões guisados, com farinha de milho.
Encaminhado depois para a Base Aérea de Mavalane, identificado, e apreendido o material, fui mandado embora, como todos os outros, aliás. Segunda- feira de manhã falo com o comandante da base, o capitão João Carneiro Gonçalves, que me diz para aguardar em casa e permanecer calmo, pois seria convocado posteriormente.
Carneiro Gonçalves seria bem conhecido dois anos mais tarde como o célebre ‘agente Magalhães’ ao serviço da Segurança moçambicana, e que ajudaria a descobrir essa tal rede da CIA em Maputo, alegadamente enraizada, precisamente, no Aeroclube de Moçambique.
Quinta-feira, 14 de Junho. O telefone toca.
Um quadro da Segurança pede a minha comparência às 14h30 nas instalações do SNASP, o Serviço Nacional de Segurança Popular, na Avenida Ahmed Sekou Touré, o antigo Colégio Maristas, a dois passos dos ex-Velhos Colonos e do altíssimo prédio Invicta que alberga a revista ‘Tempo’. Mas agora, este é um espaço tenebroso de fama, conotado com desparecimentos vários, tortura e morte…
Três horas de conversa, de palheta escorreita, afinal, com um tal Fernando Chombe, que é até um africano bonacheirão, sorridente, um pouco a atirar para o forte. Binóculos, rádio, câmara fotográfica, Embaixada, americanos, espionagem, Revolução, etc. Os ‘serviços’ sabiam e confirmavam que eu não era um espião. Contudo, exigem colaboração: ‘o que é que o americano, os americanos, pretendiam?’
Mais uma reunião de três horas na Migração, dependente da Segurança, então na Avenida Eduardo Mondlane, no dia seguinte, com o Chombe e um seu superior, apresentado apenas como ‘camarada Ferreira’, alto e magro, ríspido no trato.
Eu passaria a funcionar sob o nome de código de ‘Alcino’, após um juramento que tive que fazer, uma série de cinco pontos, culminando com o ‘estar ciente de que sobre mim agirá a justiça popular’ caso não cumprisse com os outros quatro preceitos. Os encontros seriam na Pastelaria Princesa, no Smarta e no Safari, na avenida 24 de Julho.
Não tinha, é verdade, vontade para aquilo, nem eram muitas, à altura, as minhas simpatias para com o regime. Pelo contrário. Fui fazendo o jogo, dando informações confusas, mas pensando desde logo em me descartar desta embrulhada. Informo até o Donald Becker sobre o que se passava.
10 de Julho de 1979. Becker deixa definitivamente Maputo para ser colocado em Kingston, na Jamaica. Na tarde do mesmo dia o ‘agente Alcino’ segue de férias para Lisboa, com a família.(...)
(...)
1. UMA REDE DA CIA, O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA E O CONTACTO COM A ‘RESISTÊNCIA’
O CONTACTO COM O 'TEMÍVEL SNASP', O SERVIÇO NACIONAL DE SEGURANÇA POPULAR, E COMO SE FABRICA O ‘AGENTE ALCINO’
A história demoraria para mim quase dez anos a completar-se. Precisar o seu início é ainda hoje um pouco custoso fazê-lo. Contudo, aquele mês de Junho de 1979 foi deveras decisivo. Em Fevereiro do ano anterior havia visitado Lisboa e, após a estadia na buliçosa metrópole, em comparação, é claro, com a pacatez de Maputo, decidira que além de estudar Electrotecnia havia de fazer algo mais movimentado. Decidi. Decidi que me iria inscrever no novo curso de pára-quedismo do Aeroclube de Moçambique.
Os episódios das emergências em queda-livre, dos pára-quedas que não funcionavam, as ameaças de abate da avioneta, etc., etc., seriam questões menores perante tudo o que se seguiu.
No princípio de 1979 o vice-cônsul americano em Maputo era Jimmy Kolker. Este mesmo Kolker atingiria mais tarde o posto de embaixador, nomeado americano no Uganda de 2002 a 2005.
Por iniciativa própria, fiz algumas visitas à representação dos Estados Unidos na capital, tentando obter para o clube alguns dos chamados para-quedas ‘abatidos’ da Força Aérea norte-americana. As relações entre Washington e Maputo conheciam uma fase problemática e não houve nenhuma possibilidade de ajuda.
Kolker, trinta e tal anos, jovial, afável, cabelo acastanhado, fala extremamente bem português. Apresenta-me agora o oficial de comunicações da Embaixada, Donald Anthony Becker, que já fizera uns dois saltos de pára-quedismo nos ‘States’ e quer falar comigo.
Dias depois Becker ingressa no Aeroclube tendo-lhe eu instruído os procedimentos gerais sobre queda-livre. Becker é alto, cabelo revolto, meio arruivado, óculos, extremamente brincalhão, ex-marine no Vietname. Participa normalmente nos convívios do clube e organiza inclusive festas em sua casa, concorridas pelos colegas do pára-quedismo. Por diversas vezes ‘piso o risco’, entro com ele na Base Aérea de Mavalane, com um carro da Embaixada, um Volkswagen Passat azul-celeste. Nada de suspeito ocorreu. Donald Becker saltaria ainda de um avião ‘Antonov-26’ da Força Popular Aérea, tripulado por moçambicanos e soviéticos.
Tudo bem até aqui. Uma grande trama, Embaixada-CIA-Aeroclube, só iria estoirar com Fred Laundale, outro diplomata americano, dois anos mais tarde, em meados de 1981. Nem eu nem Becker estaríamos em Maputo para assistir ao fim deste rastilho que fora ateado.
Toda esta absurda história tem raízes no ainda mais absurdo episódio dos ‘coelhos californianos’ e que se explica em meia dúzia de linhas, e conduz inevitavelmente à Teoria do Caos e ao chamado ‘efeito borboleta’: um bater de asas de borboleta em Pequim redunda num ciclone em Nova Iorque. Pois bem, nós aqui temos um ‘efeito coelho’. Pilotos e paraquesdistas combinaram arranjar verbas para o clube, criando coelhos, coelhos californianos, aqueles de pelo branco, fofinhos e dóceis, de olhinhos rubi, e comercializando-os.
Não tardam porém as desavenças entre os dois universos e eu estava com um pé em cada mundo: ao mesmo tempo paraquedista e aluno-piloto. Num conclave, a malta paraquedista decide um ponto final à coelhada, numa noite de sexta-feira ‘rapta’ os bicharocos. Heresia das heresias! A malta da pilotagem dos teço-tecos até apresenta queixa no comando da polícia.
Sábado estamos em casa de um dos instrutores já a ferrar o dente nos coelhos à caçador quando tocam à campainha, é a autoridade. O americano Becker está estupefacto: police, rabbits (coelhos)? E está visto, vai tudo de escantilhão para o Comando da Polícia na ex-Andrade Corvo. O comandante não sabe o que fazer, tudo aquilo é surrealista demais para ele… deita as mãos à cabeça: ‘vocês, resolvam lá isso entre vocês… mas ainda trazem aí algum coelho?’ – Não!!!
E no Aeroclube a coisa é resolvida, instrutores, chefes de equipa, eu incluído, estamos ‘apeados’, sem saltar por várias semanas. Ainda hoje, tantos anos volvidos me pergunto: seria esta história tão diferente, não fosse o rocambolesco episódio dos coelhos? Creio que seria… tudo isto precipitou uma série de acontecimentos em cascata.
E é assim que num fatídico domingo, 10 de Junho de 1979 eu não saltara, tendo levado para as pistas de aterragem da Costa do Sol o veículo da Embaixada atribuído a Becker, mais um par de binóculos pessoais e uma máquina fotográfica, com teleobjectiva, que pertencia ao diplomata norte-americano juntamente com um rádio transmissor.
As posições do exército na zona não haviam sido informadas pelo Estado-Maior sobre os saltos de pára-quedismo previstos para esse dia e, tal como os outros, eu acabaria por ser detido, com a agravante de ter comigo uns binóculos e câmara fotográfica. De caminho, somos ainda obrigados a partilhar do almoço servido à guarnição anti-aérea, carne guisada. Corrijo: nervos e tendões guisados, com farinha de milho.
Encaminhado depois para a Base Aérea de Mavalane, identificado, e apreendido o material, fui mandado embora, como todos os outros, aliás. Segunda- feira de manhã falo com o comandante da base, o capitão João Carneiro Gonçalves, que me diz para aguardar em casa e permanecer calmo, pois seria convocado posteriormente.
Carneiro Gonçalves seria bem conhecido dois anos mais tarde como o célebre ‘agente Magalhães’ ao serviço da Segurança moçambicana, e que ajudaria a descobrir essa tal rede da CIA em Maputo, alegadamente enraizada, precisamente, no Aeroclube de Moçambique.
Quinta-feira, 14 de Junho. O telefone toca.
Um quadro da Segurança pede a minha comparência às 14h30 nas instalações do SNASP, o Serviço Nacional de Segurança Popular, na Avenida Ahmed Sekou Touré, o antigo Colégio Maristas, a dois passos dos ex-Velhos Colonos e do altíssimo prédio Invicta que alberga a revista ‘Tempo’. Mas agora, este é um espaço tenebroso de fama, conotado com desparecimentos vários, tortura e morte…
Três horas de conversa, de palheta escorreita, afinal, com um tal Fernando Chombe, que é até um africano bonacheirão, sorridente, um pouco a atirar para o forte. Binóculos, rádio, câmara fotográfica, Embaixada, americanos, espionagem, Revolução, etc. Os ‘serviços’ sabiam e confirmavam que eu não era um espião. Contudo, exigem colaboração: ‘o que é que o americano, os americanos, pretendiam?’
Mais uma reunião de três horas na Migração, dependente da Segurança, então na Avenida Eduardo Mondlane, no dia seguinte, com o Chombe e um seu superior, apresentado apenas como ‘camarada Ferreira’, alto e magro, ríspido no trato.
Eu passaria a funcionar sob o nome de código de ‘Alcino’, após um juramento que tive que fazer, uma série de cinco pontos, culminando com o ‘estar ciente de que sobre mim agirá a justiça popular’ caso não cumprisse com os outros quatro preceitos. Os encontros seriam na Pastelaria Princesa, no Smarta e no Safari, na avenida 24 de Julho.
Não tinha, é verdade, vontade para aquilo, nem eram muitas, à altura, as minhas simpatias para com o regime. Pelo contrário. Fui fazendo o jogo, dando informações confusas, mas pensando desde logo em me descartar desta embrulhada. Informo até o Donald Becker sobre o que se passava.
10 de Julho de 1979. Becker deixa definitivamente Maputo para ser colocado em Kingston, na Jamaica. Na tarde do mesmo dia o ‘agente Alcino’ segue de férias para Lisboa, com a família.(...)
(...) You asked me, what I miss more?... the deep and free horizontal abyss in green dyes expanding in all 360 degrees of azymuts, any directions we could choose from to fall on... Parachuting there, I dream alive... The smell, the morning scent of this wet green, or the black earth, the soaked soil, amid wild creatures at dusk, bathed by the orange hue of a setting sun... and also, I can never forget, the warmth, this calid and metalic touch of my Kalash, its oily odour, this eternal confort always by my side, under a deep blue sky covering this land full of promises...
P. Oliveira / 2006
*
Marraquene, 30 quilómetros ao norte de Maputo Maio de 1992.
João Fifteen era o tipo perfeito de matsangaíssa, o guerrilheiro da Resistência, que a imprensa estereotipara. Cabelo sujo estilo rasta, roupa esfarrapada, sorriso boçal escancarado deixando perceber uns dentes podres, desalinhados.
Mas Fifteen saía-se bem nas emboscadas ou mesmo em qualquer execução ordenada pelos chefes. O dedo do gatilho e uma boa visão nunca o atraiçoaram. Ele era mesmo bom, se fosse necessário fazer sangue, e não era a perda do polegar esquerdo, anos antes, nas minas de ouro do Transvaal, que o perturbava.
Avançava agora com os outros dez homens da sua secção, de regresso à base. Seguiam-no. Obedientemente. De madrugada haviam cruzado de novo o Incomáti, nas duas barcaças de madeira, desviando-se sabiamente dos hipopótamos e tufos de vegetação flutuante, atracando uns três quilómetros a montante de Marraquene.
As ordens haviam sido precisas e simples: colocar mais cinco minas anti-carro, as que sobravam, de um lote capturado já antigo, meio ferrugento, de fabrico russo, na estrada de areia que ligava o cais do batelão à estância balnear da Macaneta. A meia dezena de ‘marmitas’ fora devidamente enterrada, cada uma das minas separada centenas de metros da seguinte.
Quatro dos mortíferos engenhos rebentariam nas semanas posteriores, matando dois técnicos da multinacional britânica LONRHO e dezassete soldados governamentais, ao mesmo tempo que mais umas toneladas de metal eram enviadas para a sucata e se punha fim à procissão turística dos fins-de-semana.
A quinta mina, defeituosa, esperaria mais uns anos, a espoleta cedendo pouco a pouco. Parecia estar marcada...
Fifteen e a sua secção, aliás, todo o pelotão, estavam longe de saber que viviam os últimos feitos naquela que apelidavam de ‘segunda luta de libertação’. Um mês depois, em Junho de 1992, localizado e confirmado por informadores de Maputo o seu acampamento, todo o grupo foi aniquilado num ataque relâmpago aéreo e terrestre, dirigido a partir de um héli MI-25, um dos poucos aparelhos sobreviventes da Base Aérea de Mavalane.
Do pelotão, restava Massala, chefe de secção, embora cego de vez pelo rebentamento de uma granada RPG-7.
Nenhum deles viu ou celebrou o Dia da Paz, o cessar-fogo que chegaria em Outubro desse ano.
Quando a Comissão Militar Mista pouco depois iniciou os trabalhos de desminagem, já ninguém se lembrava ou sabia da localização de qualquer engenho anti-carro, perdido algures na estrada da Macaneta.
*
Maputo. Três anos mais tarde.
A maleta estilo ‘James Bond’ tinha o couro um pouco carcomido e as dobradiças a ficarem enferrujadas. O grosso dossier, o arquivo com a história dele, ocupava a maior parte do volume e repousava envolto num sem-número de papéis, certificados escolares, caderneta de pára-quedista, caderneta de aluno-piloto, caderneta militar, e toda a habitual série de documentos de identificação, coleccionados obrigatoriamente ao longo de três décadas e tal.
Cély, recém-viúva, mexia e remexia a papelada, cercada pelas perguntas e olhos curiosos de meia-dúzia de sobrinhos:
– Posso levar pitóla do tio Pálo?
- Para que é todos esses papéis tia Célia? O que é que tia Célia tá à procura?
- Vá! Vá! Sai daqui, todos! Estes trombadinhas... Esse sacana também só queria era saber de política, guerra!
E ia resmungando entre dentes. Mecanicamente, levava de novo à boca o copo com o líquido licoroso. Era já a segunda garrafa de ‘Grants’ em três dias, desde que aquilo acontecera. Não! Não quisera ir ver como ficara a viatura, o Nissan Langley turbo, azul metálico, transformado numa pilha de metal retorcido e calcinado na picada para lá de Marraquene, já perto da Macaneta. Uma mina paciente, pensou.
Esperara meses sem explodir. Aguentara ainda três anos depois do cessar-fogo para, ironicamente, vir acabar com ele, sim, ele. Sim, isto tinha mesmo que lhe acontecer... A ele, que um dia havia até sido cabecilha dos matsangaíssas... A detonação do potente engenho tinha posto mesmo um ponto final à sua teimosa vida de aventureiro.
Ele, que escapara já à morte no primeiro salto em queda-livre, à prisão e possível fuzilamento por parte da Frelimo no início da década de oitenta, e às garras e dentes de leopardos e leões do Kruger National Park da África do Sul. Nem em 1988 os sul-africanos haviam conseguido dar conta dele, quer em Lisboa, quer meses depois já em Maputo. Enfim...
Ia tão entusiasmado quando partira na manhã de sexta-feira… parecia que ainda o estava a ver. Chapéu de boer, Kalashnikov numa mão e a câmara de filmar na outra. Era a primeira reportagem que fazia no mato desde que tinham regressado a Moçambique, há quinze dias.
Em 1991, a guerra, cada vez mais intensa, impedira-o de chegar aos tandos de Marromeu, para assistir e gravar uma caçada-safari aos búfalos. Agora, que o país respirava uma calma como desde há décadas não se conhecia, pelo menos nas partes centro e sul, o director Matias, da EMOFAUNA, tinha dado o seu ok para o trabalho em vídeo, uma filmagem aos hipopótamos do Incomáti, perto de Marraquene.
A morte deve ter sido imediata. O carro aterrara uns vinte metros à frente da enorme cratera aberta no trilho de areia. Patrick, o camera-man e ajudante de há longa data, sobrevivera ainda dois dias com as pernas e um braço amputados, mas não resistira às queimaduras.
A garrafa voltou a tinir ao pousar, agora mais ligeira, quase vazia.
- Bem, a tia Célia, logo, vai ler uma história para vocês, mas agora, de-sa-pa-re-çam!
- Qual história, ti Célia?
- Esta! Esta, trombadinhas! Esta, que o maluco do tio Pálo escreveu. E, brandia no ar aquele volume. Na capa podia-se ver em letra grossa de imprensa: ‘Renamo – uma Descida ao Coração das Trevas’.
- Mas isso ‘conteceu mesmo ti Célia, ou era brincadeira do tio?
- Olhem, se calhar isso só aconteceu na cabeça dele, vocês já sabem como era... Não sei.
- Mas vai ler tudo, tudo hoje? Tia está a castigar-nos... É, já está bêbada mesmo!
- Seus cabrõezinhos, hein? Agora, agora, ouviram, ninguém sai daqui até eu acabar, tudo. Se quiserem vão pentear macacos, durmam, mas eu vou ler!
(...).
P. Oliveira / 2006
*
Marraquene, 30 quilómetros ao norte de Maputo Maio de 1992.
João Fifteen era o tipo perfeito de matsangaíssa, o guerrilheiro da Resistência, que a imprensa estereotipara. Cabelo sujo estilo rasta, roupa esfarrapada, sorriso boçal escancarado deixando perceber uns dentes podres, desalinhados.
Mas Fifteen saía-se bem nas emboscadas ou mesmo em qualquer execução ordenada pelos chefes. O dedo do gatilho e uma boa visão nunca o atraiçoaram. Ele era mesmo bom, se fosse necessário fazer sangue, e não era a perda do polegar esquerdo, anos antes, nas minas de ouro do Transvaal, que o perturbava.
Avançava agora com os outros dez homens da sua secção, de regresso à base. Seguiam-no. Obedientemente. De madrugada haviam cruzado de novo o Incomáti, nas duas barcaças de madeira, desviando-se sabiamente dos hipopótamos e tufos de vegetação flutuante, atracando uns três quilómetros a montante de Marraquene.
As ordens haviam sido precisas e simples: colocar mais cinco minas anti-carro, as que sobravam, de um lote capturado já antigo, meio ferrugento, de fabrico russo, na estrada de areia que ligava o cais do batelão à estância balnear da Macaneta. A meia dezena de ‘marmitas’ fora devidamente enterrada, cada uma das minas separada centenas de metros da seguinte.
Quatro dos mortíferos engenhos rebentariam nas semanas posteriores, matando dois técnicos da multinacional britânica LONRHO e dezassete soldados governamentais, ao mesmo tempo que mais umas toneladas de metal eram enviadas para a sucata e se punha fim à procissão turística dos fins-de-semana.
A quinta mina, defeituosa, esperaria mais uns anos, a espoleta cedendo pouco a pouco. Parecia estar marcada...
Fifteen e a sua secção, aliás, todo o pelotão, estavam longe de saber que viviam os últimos feitos naquela que apelidavam de ‘segunda luta de libertação’. Um mês depois, em Junho de 1992, localizado e confirmado por informadores de Maputo o seu acampamento, todo o grupo foi aniquilado num ataque relâmpago aéreo e terrestre, dirigido a partir de um héli MI-25, um dos poucos aparelhos sobreviventes da Base Aérea de Mavalane.
Do pelotão, restava Massala, chefe de secção, embora cego de vez pelo rebentamento de uma granada RPG-7.
Nenhum deles viu ou celebrou o Dia da Paz, o cessar-fogo que chegaria em Outubro desse ano.
Quando a Comissão Militar Mista pouco depois iniciou os trabalhos de desminagem, já ninguém se lembrava ou sabia da localização de qualquer engenho anti-carro, perdido algures na estrada da Macaneta.
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Maputo. Três anos mais tarde.
A maleta estilo ‘James Bond’ tinha o couro um pouco carcomido e as dobradiças a ficarem enferrujadas. O grosso dossier, o arquivo com a história dele, ocupava a maior parte do volume e repousava envolto num sem-número de papéis, certificados escolares, caderneta de pára-quedista, caderneta de aluno-piloto, caderneta militar, e toda a habitual série de documentos de identificação, coleccionados obrigatoriamente ao longo de três décadas e tal.
Cély, recém-viúva, mexia e remexia a papelada, cercada pelas perguntas e olhos curiosos de meia-dúzia de sobrinhos:
– Posso levar pitóla do tio Pálo?
- Para que é todos esses papéis tia Célia? O que é que tia Célia tá à procura?
- Vá! Vá! Sai daqui, todos! Estes trombadinhas... Esse sacana também só queria era saber de política, guerra!
E ia resmungando entre dentes. Mecanicamente, levava de novo à boca o copo com o líquido licoroso. Era já a segunda garrafa de ‘Grants’ em três dias, desde que aquilo acontecera. Não! Não quisera ir ver como ficara a viatura, o Nissan Langley turbo, azul metálico, transformado numa pilha de metal retorcido e calcinado na picada para lá de Marraquene, já perto da Macaneta. Uma mina paciente, pensou.
Esperara meses sem explodir. Aguentara ainda três anos depois do cessar-fogo para, ironicamente, vir acabar com ele, sim, ele. Sim, isto tinha mesmo que lhe acontecer... A ele, que um dia havia até sido cabecilha dos matsangaíssas... A detonação do potente engenho tinha posto mesmo um ponto final à sua teimosa vida de aventureiro.
Ele, que escapara já à morte no primeiro salto em queda-livre, à prisão e possível fuzilamento por parte da Frelimo no início da década de oitenta, e às garras e dentes de leopardos e leões do Kruger National Park da África do Sul. Nem em 1988 os sul-africanos haviam conseguido dar conta dele, quer em Lisboa, quer meses depois já em Maputo. Enfim...
Ia tão entusiasmado quando partira na manhã de sexta-feira… parecia que ainda o estava a ver. Chapéu de boer, Kalashnikov numa mão e a câmara de filmar na outra. Era a primeira reportagem que fazia no mato desde que tinham regressado a Moçambique, há quinze dias.
Em 1991, a guerra, cada vez mais intensa, impedira-o de chegar aos tandos de Marromeu, para assistir e gravar uma caçada-safari aos búfalos. Agora, que o país respirava uma calma como desde há décadas não se conhecia, pelo menos nas partes centro e sul, o director Matias, da EMOFAUNA, tinha dado o seu ok para o trabalho em vídeo, uma filmagem aos hipopótamos do Incomáti, perto de Marraquene.
A morte deve ter sido imediata. O carro aterrara uns vinte metros à frente da enorme cratera aberta no trilho de areia. Patrick, o camera-man e ajudante de há longa data, sobrevivera ainda dois dias com as pernas e um braço amputados, mas não resistira às queimaduras.
A garrafa voltou a tinir ao pousar, agora mais ligeira, quase vazia.
- Bem, a tia Célia, logo, vai ler uma história para vocês, mas agora, de-sa-pa-re-çam!
- Qual história, ti Célia?
- Esta! Esta, trombadinhas! Esta, que o maluco do tio Pálo escreveu. E, brandia no ar aquele volume. Na capa podia-se ver em letra grossa de imprensa: ‘Renamo – uma Descida ao Coração das Trevas’.
- Mas isso ‘conteceu mesmo ti Célia, ou era brincadeira do tio?
- Olhem, se calhar isso só aconteceu na cabeça dele, vocês já sabem como era... Não sei.
- Mas vai ler tudo, tudo hoje? Tia está a castigar-nos... É, já está bêbada mesmo!
- Seus cabrõezinhos, hein? Agora, agora, ouviram, ninguém sai daqui até eu acabar, tudo. Se quiserem vão pentear macacos, durmam, mas eu vou ler!
(...).
TROPAS PÁRA-QUEDISTAS DA “RENAMO”
Um dos capítulos mais interessantes deste livro tem início na página 103, com o subtítulo “OS SECRETOS PARAQUEDISTAS DA RENAMO”.
Nele, o leitor é informado de alguns pormenores muito interessantes, sobre a selecção, o treino, e a preparação de um numeroso grupo de guerrilheiros da RENAMO que frequentou e concluiu um CURSO DE PÁRA-QUEDISMO MILITAR, ministrado por instrutores pára-quedistas sul-africanos.
Este acontecimento já tinha sido tornado público, em Fevereiro de 2000, num artigo documentado com excelentes fotografias e da autoria do Dr. Tom Marks. Porém, como foi publicado pela controversa revista “SOLDIER OF FORTUNE”, e apesar das fotografias que aqui reproduzimos, foi-lhe atribuído pouca credibilidade.
Do citado capítulo (págs. 103 e 104) extrai-se o seguinte texto:
«… Os aviões só regressam à África do Sul de madrugada. E largaram também, de pára-quedas, mais de duzentos militares do movimento que haviam terminado cursos de sabotagem, técnicas de guerrilha, armamento e…pára-quedismo, obviamente. E obviamente que tudo isto é “top”, “top secret”, pois oficialmente Pretória nunca deu um alfinete que seja à RENAMO.
Pois, os paraquedistas do movimento…o esquema de formação acelerou-se imenso nestes últimos tempos. Há todo um incremento do vector que leva gente e material de território da África do Sul até aos confins de Moçambique. E eu estivera precisamente, nos dois dias anteriores, a acompanhar estes saltos de treino, tanto na zona de aterragem como de bordo do avião, um DC-3”Dakota”.
É demasiado radical estar a bordo, o piloto deve ser um dos loucos destas coisas, a aterrar nesta simples estrada de terra batida, o mecânico de bordo desfolha uma revista com gajas, e eu sem paraquedas algum estou aqui em pé à porta, a incentivar a saída desta malta toda, a uns mil pés (trezentos metros de altitude) a levar com estes golpes de vento tremendo, agarrado apenas à moldura da saída ou aos cabos onde engancham as tiras amarelas dos paraquedistas, estes “espantas-galinhas”, como no Aeroclube, antes, apelidávamos os que saltavam em “automático”. Deliro com este barulho, o troar dos motores, a chicotada bem sonora da ventania…»
«…A pista de areia e a zona de saltos, separadas uns quatro quilómetros entre si, ficam mais ou menos a vinte quilómetros a noroeste de Phalaborwa e a uns quinze quilómetros para sudoeste do campo de treino que visitei em Agosto. Bom, creio que é mais ou menos isso. O “Voluntário” efectuou nove saltos de treino, juntamente com outros oficiais ligados à RENAMO. E na tarde deste dia 30 ocorreu a cerimónia de entrega das “asas” de páraquedistas a todos do curso.»
Da leitura atenta deste pequeno extracto, podemos concluir que os pára-quedistas ao serviço da RENAMO tiveram de efectuar nove saltos em pára-quedas para poderem ostentar o seu distintivo de qualificação pára-quedista “sobre o bolso esquerdo”, e que o curso de pára-quedismo foi frequentado em infra-estruturas militares nos arredores de PHALABORWA.
Recordo que Phalaborwa é uma grande cidade situada nas proximidades do Parque Nacional Kruger e rica em cobre e fosfatos. Esta cidade é, também, conhecida por ter temperaturas muito elevadas (35 graus) e o seu nome, dado pelas tribos de Sotho, significa “melhor que o sul”. Em 1980 foi seleccionada para acantonar uma unidade de tropas especiais: o 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS.
O distintivo de qualificação pára-quedista em causa (ver foto) foi fabricado localmente (África do Sul), possuindo uma sólida construção metálica. O “Escudo-de-Armas da RENAMO”, ao centro, é uma peça independente fixada por um parafuso.
Existe outra versão semelhante, mas com os espaços entre os cordões do pára-quedas preenchidos a vermelho.
Informação não oficial e sujeita a confirmação histórica atribuem o pormenor das duas cores para distinguir os guerrilheiros da RENAMO que executavam saltos de abertura manual (vermelho) dos que saltavam em pára-quedas de abertura automática (azul).
O livro, escrito numa linguagem simples e acessível, acaba por em cada um dos quatros capítulos principais, conclusões e apêndices, revelar outros pormenores que “cruzados” com o artigo da revista “SOLDIER OF FORTUNE” de Fevereiro de 2000, permite-nos reconstruir um pouco da pequena, mas frutífera, história dos “pára-quedistas secretos da RENAMO”que o ACORDO DE PAZ estabelecido em Roma (1992) extinguiu.
Um dos capítulos mais interessantes deste livro tem início na página 103, com o subtítulo “OS SECRETOS PARAQUEDISTAS DA RENAMO”.
Nele, o leitor é informado de alguns pormenores muito interessantes, sobre a selecção, o treino, e a preparação de um numeroso grupo de guerrilheiros da RENAMO que frequentou e concluiu um CURSO DE PÁRA-QUEDISMO MILITAR, ministrado por instrutores pára-quedistas sul-africanos.
Este acontecimento já tinha sido tornado público, em Fevereiro de 2000, num artigo documentado com excelentes fotografias e da autoria do Dr. Tom Marks. Porém, como foi publicado pela controversa revista “SOLDIER OF FORTUNE”, e apesar das fotografias que aqui reproduzimos, foi-lhe atribuído pouca credibilidade.
Do citado capítulo (págs. 103 e 104) extrai-se o seguinte texto:
«… Os aviões só regressam à África do Sul de madrugada. E largaram também, de pára-quedas, mais de duzentos militares do movimento que haviam terminado cursos de sabotagem, técnicas de guerrilha, armamento e…pára-quedismo, obviamente. E obviamente que tudo isto é “top”, “top secret”, pois oficialmente Pretória nunca deu um alfinete que seja à RENAMO.
Pois, os paraquedistas do movimento…o esquema de formação acelerou-se imenso nestes últimos tempos. Há todo um incremento do vector que leva gente e material de território da África do Sul até aos confins de Moçambique. E eu estivera precisamente, nos dois dias anteriores, a acompanhar estes saltos de treino, tanto na zona de aterragem como de bordo do avião, um DC-3”Dakota”.
É demasiado radical estar a bordo, o piloto deve ser um dos loucos destas coisas, a aterrar nesta simples estrada de terra batida, o mecânico de bordo desfolha uma revista com gajas, e eu sem paraquedas algum estou aqui em pé à porta, a incentivar a saída desta malta toda, a uns mil pés (trezentos metros de altitude) a levar com estes golpes de vento tremendo, agarrado apenas à moldura da saída ou aos cabos onde engancham as tiras amarelas dos paraquedistas, estes “espantas-galinhas”, como no Aeroclube, antes, apelidávamos os que saltavam em “automático”. Deliro com este barulho, o troar dos motores, a chicotada bem sonora da ventania…»
«…A pista de areia e a zona de saltos, separadas uns quatro quilómetros entre si, ficam mais ou menos a vinte quilómetros a noroeste de Phalaborwa e a uns quinze quilómetros para sudoeste do campo de treino que visitei em Agosto. Bom, creio que é mais ou menos isso. O “Voluntário” efectuou nove saltos de treino, juntamente com outros oficiais ligados à RENAMO. E na tarde deste dia 30 ocorreu a cerimónia de entrega das “asas” de páraquedistas a todos do curso.»
Da leitura atenta deste pequeno extracto, podemos concluir que os pára-quedistas ao serviço da RENAMO tiveram de efectuar nove saltos em pára-quedas para poderem ostentar o seu distintivo de qualificação pára-quedista “sobre o bolso esquerdo”, e que o curso de pára-quedismo foi frequentado em infra-estruturas militares nos arredores de PHALABORWA.
Recordo que Phalaborwa é uma grande cidade situada nas proximidades do Parque Nacional Kruger e rica em cobre e fosfatos. Esta cidade é, também, conhecida por ter temperaturas muito elevadas (35 graus) e o seu nome, dado pelas tribos de Sotho, significa “melhor que o sul”. Em 1980 foi seleccionada para acantonar uma unidade de tropas especiais: o 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS.
O distintivo de qualificação pára-quedista em causa (ver foto) foi fabricado localmente (África do Sul), possuindo uma sólida construção metálica. O “Escudo-de-Armas da RENAMO”, ao centro, é uma peça independente fixada por um parafuso.
Existe outra versão semelhante, mas com os espaços entre os cordões do pára-quedas preenchidos a vermelho.
Informação não oficial e sujeita a confirmação histórica atribuem o pormenor das duas cores para distinguir os guerrilheiros da RENAMO que executavam saltos de abertura manual (vermelho) dos que saltavam em pára-quedas de abertura automática (azul).
O livro, escrito numa linguagem simples e acessível, acaba por em cada um dos quatros capítulos principais, conclusões e apêndices, revelar outros pormenores que “cruzados” com o artigo da revista “SOLDIER OF FORTUNE” de Fevereiro de 2000, permite-nos reconstruir um pouco da pequena, mas frutífera, história dos “pára-quedistas secretos da RENAMO”que o ACORDO DE PAZ estabelecido em Roma (1992) extinguiu.
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