Livre Pensador
Houve um pleito eleitoral no Quénia recentemente, antecedido que um campanha eleitoral violenta, que faziam antever o pior. Mas nada aconteceu. A vida continua em Nairobi, como já antes vinha sendo.
Trata-se, sem dúvidas, do melhor que o legado de Mwai Kibaki deixou aos seus compatriotas e desde logo, três excelentes contrastes com a realidade moçambicana:
O primeiro, é qu...e a Comissão Eleitoral queniana é independente, ao ponto de admitir em cima dos acontecimentos que o sistema electrónico de votação estava a fazer das suas e comunicar aos eleitores que todos os votos seriam recontados manualmente dadas circunstâncias. Em Moçambique, muito provavelmente, já haveriam ameaças de retorno à guerra e várias chancelarias nervosas. E quanto à CNE, essa estaria é incomunicável.
O segundo, é o facto dos tribunais serem realmente o árbitro da democracia queniana. Se assim não fosse, estaria hoje Nairobi, mergulhada num imenso caos, maior do que aquilo que já é, com recolher obrigatório e outras medidas duras. A reclamação do sr. Odinga vai ser colocada ao tribunal e como poderemos ver, se algo de mal tiver ocorrido, as eleições serão parcialmente repetidas ou mesmo até anuladas. Qualquer que for a decisão do tribunal, será acatada por todos, como poderemos ver.
O terceiro e último, é a liberdade de expressão para aqueles aquem normalmente os juristas do poder gostam de coartar direitos cívicos e até laborais. Isto é, os chamados "prisioneiros ideológicos do sistema", refiro-me aos polícias, militares e outros para-militarizados. No Quénia, os desmobilizados podem ir para a rua protestar, como cá aliás. Podem-no até fazer em frente ao gabinete do PR ou PM. Só lá podem ir todos. Os militares e polícias, não podem protestar em público. Nem à civil, no entanto os seus protestos podem ser ouvidos em público em frente gabinete do PR ou PM. E como eles fizeram isso? Adaptando as leis para que a democracia ficasse a ganhar com a participação inclusiva de todo cidadão queniano, independentemente da sua condição profissional do momento. Criou-se a figura do "manifestante profissional", porta-voz, de todos os que não podem falar em público. Inspirou-se até na tradição local, que sempre teve em cada comunidade, um porta-voz. Mas foi Kibaki quem criou as condições para que ela fosse recuperada pelos quenianos.
Assim, o "manifestante profissional" dirige-se com o seu megafone e por duas horas estaciona em frente ao gabinete do PR ou PM e descarrega tudo que lhe pediram para dizer. A policia, apenas observa sem intervir ou açoitar por palavras indecorosas às estruturas. O "manifestante profissional" é remunerado por quem solicita os seus serviços...
Quando me deu de caras com um desses homens aos berros em frente ao ministério das finanças em Nairobi, a exigir aumento salarial para polícias e militares, numa zona onde é expressamente proibido tirar fotos, perguntei aos donos da terra se não receavam pela vida daquele homem...
Responderam-me: Free speech, um dos pilares da nossa democracia! E eu fiquei a imaginar como seria a democracia em Moçambique se, à semelhança do Quénia, tivéssemos que lidar com uns tipos chamados Al-Shabaab.
Este depoimento, dedico-o em particular aos prof. Elisio MacamoErnst Habermas Rildo Rafael António Francisco Antonio A. S. KawariaEric Morier-Genoud e Joao CabritaSee More
1 comment:
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