segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O multiculturalismo falhou rotundamente

 www.ngani.co.mz - Segunda-feira, 21 de Outubro de 2024 - Director-Editorial: Júlio Paulino Propriedade da Info-Media - Edição Semanal 155 - Ano III - Preço: 50,00 MT NGANI A VOZ DA SEMANA, A FORÇA DA VERDADE CULTURA Como ler “Cem Anos de Solidão” de forma eficiente. Pág.14 Até sempre, Herói SOCIEDADE Sociedade Civil intensifica luta pela verdade eleitoral Pág.11 OPINIÃO Desculpas (Elvino Dias) por teres lutado em nome das urnas num país onde há gente armada que decide quem vai à última urna. Por Sérgio Raimundo - Militar Pág.06 2 SOCIEDADE Barbárie!!! E porque se trata de um crime de Estado, os criminosos tiveram tempo suficiente para disparar tantas balas num bairro nobre, onde em princípio, passa um Mahindra da Polícia da República de Moçambique a cada cinco minutos. Elvino Dias estava acompanhado de Paulo Guambe, mandatário do PODEMOS, na noite em que ambos foram regados de balas. As testemunhas no local contam que uma viatura da marca Mazda, modelo BT-50 de cor branca, bloqueou a viatura do finado, e de lá saíram dois homens fortemente armados que abriram fogo sobre o carro que transportava Elvino Dias, Paulo Guambe e uma mulher desconhecida. Testemunhas contam que Elvino Dias morreu no local, mas Paulo Guambe ainda sobreviveu, entretanto acabou por não resistir aos ferimentos. Quanto à mulher não se sabe muito, mas ela, que estava com ferimentos ligeiros, perdeu a vida no hospital central. A morte do Elvino Dias, que se notabilizou durante as últimas eleições autárquicas por dar a cara pelo partido Renamo na persecução da vitória ganha nas urnas, mas perdida na secretária. Aliás, Elvino Dias apoiou Venâncio Mondlane nas mais de 50 marchas, depois o assistiu na Coligação da Aliança Democrática, quando foi isolado e bloqueado pela liderança da Renamo. Elvino destacou-se por ser praticamente o primeiro advogado a questionar a irrevogabilidade e irrecorribilidade das decisões do Conselho Constitucional, órgão supremo eleitoral que se notabiliza nos últimos pleitos por chancelar as fraudes eleitorais à favor do partido Frelimo. Dias se torna mais uma vítima dos esquadrões da morte, grupo criado na polícia de elite, concretamente no Grupo de Operações Especiais e da Unidade da Intervenção Rápida (UIR) para eliminar opositores. E como se o grupo soubesse que tem licença para matar, a polícia demorou horas a chegar para socorrer as vítimas. Este assassinato de Elvino e Paulo acontece numa altura em que o PODEMOS se preparava para levar junto do CC um protesto aos resultados eleitorais manifestamente fraudulentos que dão vitória ao seu principal adversário: Daniel Chapo. O PODEMOS, representado pelo advogado Elvino Dias, diz ter provas de que venceu as eleições gerais de 09 de Outubro. Aliás, por isso mesmo dois dias depois das eleições, o partido divulgou para todos verem as actas na sua posse que mostram a verdade eleitoral. É esta convicção que fez os seus inimigos o colocarem na lista de pessoas a abater. E a mensagem foi bem clara: 25 balas compradas pelos impostos dos nacionais caíram sobre o “incómodo” legal das eleições. Elvino sabia quer era alvo e que não chegaria a 2025 Como se de uma profecia se tratasse Elvino Dias disse numa das suas comunicações ao público, isto é, cerca de 53 mil pessoas só no Facebook, que teme pela sua vida e que crê que não chegaria ao próximo ano de 2025. Em Agosto, Elvino escreveu na sua página a seguinte mensagem: “algo me diz que não chegarei ao ano de 2025; eles atentarão ou tirarão a minha preciosa vida”. Como um mártir acrescentou: se isto for para o bem do povo, eis me aqui, escreveu, para depois lembrar que o gatilho que foi um vendedor de rua na Tunísia que se imolou e provocou o que ficou conhecido por “Primavera Árabe”. A 24 de Setembro, foi reportado uma tentativa de assassinato contra Elvino Dias. Mas saiu ileso porque aparentemente os atiradores ficaram sem munição. Numa live por si divulgada, Elvino Dias, que foi militar, dizia que ninguém se devia atrever a tocar no Venâncio Mondlane. Mas quanto a si, ele se considerava morto a muito tempo: “Nós já morremos a muito tempo. Os vândalos conhecem onde eu vivo, razão pela qual nem há motivos para fugir, porque quando quiserem tirar minha vida, hão de vir tirar-me. Não temos guardas, aliás, quem tem guardas são pessoas que tem dinheiro, nós não temos dinheiro. O dinheiro está com eles”. Elvino tinha convicção de que estava a fazer o justo e por isso acreditava que fosse preciso ir até o fim. “Pela verdade iremos até o fim”, sentenciou o advogado, após expor que fora informado que havia um plano para o enviar para o além. Ao tomar conhecimento de que os esquadrões da morte estavam no seu encalco, pensou em “fugir”, mas Venâncio Mondlane explicou que não havia necessidade de fuga, pois seria fácil a sua localização. “Na verdade, num país avesso como o nosso, a verdade e a justiça têm o seu preço, e o maior preço é a morte de quem o diz”, sentenciou. “De que os esquadrões da morte se reuniram para nos tirar a vida, não tenho dúvidas, mas acima da morte e verdade e por ela, iremos até o fim”. Elvino Dias Os inimigos da democracia, paz, bem-estar social, perderam o debate de ideias e recorreram às armas para silenciar para sempre o advogado Elvino Dias com uma brutalidade de cerca de 25 balas no bairro da Coop, na madrugada de 19 de Outubro. NGANI, 21 de Outubro de 2024 MANGAVA DOS SANTOS Paulo Guambe NGANI, 21 de Outubro de 2024 4 SOCIEDADE NGANI, 21 de Outubro de 2024 Marcha hoje! “Tal e qual a palavra de Deus dizia que o sangue de Abel tinha de ser vingado, este sangue tem que ser vingado, e está nas vossas costas [Forças de Defesa e Segurança]. Fiquem a saber que vocês têm nas vossas costas o sangue destes jovens, mas o sangue destes jovens é o início de uma etapa que só Deus sabe como é que ela vai terminar”, afirmou, durante uma vigília com dezenas de pessoas no local do homicídio dos dois apoiantes, em Maputo. “Na segunda-feira vai ser a primeira etapa, pacífica, em que nós vamos paralisar toda a actividade pública e privada. Vamos para a rua com os nossos cartazes, vamos manifestar o nosso repúdio”, anunciou ainda Mondlane, garantindo que a greve, no sector público e privado, que tinha pedido para segunda-feira, em contestação aos resultados preliminares das eleições de 09 de Outubro, é para manter, passando agora para a rua. “Não se isentem. Foram as vossas forças (…) voltaram a cometer um grande crime”, acusou Venâncio Mondlane, garantindo ter provas da acusação às FDS, que inclui a polícia. Em Maputo, a marcha está convocada para sair às 10:00, com saída do local onde os dois apoiantes foram assassinados na sexta- -feira, no centro da capital. “Se quiserem usar violência [polícia], podem usá- -la, mas fiquem saber que depois da vossa violência há de vir algo extraordinariamente mais forte do que vocês todos e vão-se arrepender disso, do mesmo jeito que na década de 60, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Joaquim Chissano e tantos outros pegaram armas porque havia gente que estava jorrar sangue de jovens inocentes aqui nesta mesma cidade, hoje vocês estão a substituir os opressores de ontem”, acusou. “Então não esperem que o vosso final seja diferente dos opressores de ontem, da mesma maneira que vocês libertaram os opressores de ontem nós, hoje, podemos nos libertar dos opressores de hoje e temos capacidade de o fazer. Estamos em superioridade numérica”, avisou, numa declaração emocionada à comunicação social Assassinato com “motivações políticas” O presidente do partido Podemos considerou hoje que Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário daquela força política, foram mortos por “motivos políticos”. “No nosso entender eles foram assassinados por motivos políticos (…) Foi uma morte planificada e preparada (…), tendo em conta também o contexto em que estamos, com o partido a fazer uma luta pela luta justiça eleitoral. Estamos a terminar agora impugnações a nível dos distritos porque as eleições foram fraudulentas”, declarou Albino Forquilha, presidente do Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), em declarações à comunicação social no local onde as duas vítimas perderam a vida, em Maputo. “Estes assassínios que ocorreram aqui não diferem do que aconteceu em 2019 [ano em que o activista moçambicano Anastácio Matavel foi morto a tiro por um grupo composto por elementos das forças policiais, nas vésperas das eleições gerais]. São pessoas do nosso sistema, comandados pela Frente de Libertação de Moçambique [Frelimo]”, declarou Forquilha, lembrando que as duas vítimas, que estiveram envolvidas na fundação do partido, desempenhavam um papel fundamental na luta pela justiça eleitoral que o partido está desencadear. Reações de condenação MIA COUTO: O escritor Mia Couto defendeu ontem que a situação de tensão em Moçambique apela a uma liderança que entenda que a violência não é solução e que a tranquilidade não será conseguida com tumultos ou com repressão policial. “Situações de tensão como esta apelam para uma liderança que entenda que a violência não é a solução”, sustentando que “a qualidade de um verdadeiro líder revela-se exactamente no modo como é capaz de superar a crise a bem de todos e no interesse do país que pretende governar”. Mia Couto disse hoje esperar que as forças policiais “sejam capazes de provar a sua eficiência, sobretudo, a sua isenção e sua credibilidade como força ao serviço da ordem pública que não é propriedade de nenhum partido”. Para isso, acrescentou, “é necessário que se apresentem provas irrefutáveis a partir de uma investigação policial célere e independente”. O escritor considera igualmente necessário “o mesmo processo de esclarecimento com provas e factos” em relação ao processo eleitoral. “Já não bastam perceções, já não bastam proclamações de um e de outro lado. É preciso factos concretos que sejam incontestáveis”, afirmou, considerando que “não se pode simplesmente repetir os mesmos processos já contaminados pela suspeita generalizada de fraude” e ser preciso que, “como sugeriu a Ordem dos Advogados, se tornem públicas as atas e os editais de modo que se revele a verdade dos resultados”. GUTERRES: O porta- -voz adjunto de Guterres, Farhan Haq, disse em comunicado que o secretário- -geral da ONU “condena veementemente” as mortes em Maputo de Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), partido que apoia o candidato presidencial, mortos a tiro na sexta- -feira à noite. “O secretário- -geral expressa as suas mais profundas condolências às famílias e entes queridos das vítimas e insta as autoridades a investigarem rapidamente os assassinatos e a levarem os seus autores à justiça”, observou. António Guterres apela ainda “a todos os moçambicanos, incluindo os dirigentes políticos e os seus apoiantes, a manterem a calma, exercerem contenção e a rejeitarem todas as formas de violência antes do anúncio oficial dos resultados”, das eleições. No comunicado hoje divulgado este domingo, Guterres reitera ainda “a solidariedade das Nações Unidas para com o povo de Moçambique e reafirma o seu apoio inabalável à paz e à estabilidade durante esta importante fase da história do país.” Portugal: Presidente do parlamento português condena “com veemência” O presidente da Assembleia da República portuguesa, José Pedro Aguiar- -Branco, condenou este sábado “com veemência” o assassínio, pedindo às autoridades que salvaguardem “a paz social e a democracia”. Numa mensagem de “preocupação pelos acontecimentos trágicos em Moçambique”, o presidente do parlamento português classificou o duplo homicídio como um acto de “violência política”, reiterando “que os parlamentos são as instituições por excelência para um justo combate de ideias”. “Condeno com veemência este ato de violência política”, escreveu Aguiar-Branco, enviando as suas “condolências aos familiares das vítimas e ao povo moçambicano”. “Continuarei ainda a acompanhar os desenvolvimentos da situação moçambicana, reafirmando os laços de proximidade e de solidariedade que unem os nossos povos”, disse. VM falando à imprensa no local onde Elvino Dias e Paulo Guambe foram assassinados Cidadãos moçambicanos deverão paralisar as suas actividades hoje para marchar pacificamente em repúdio ao homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, assassinados na última sexta-feira pelos esquadrões de morte, em plena cidade de Maputo, anunciou Venâncio Mondlane. MANGAVA DOS SANTOS NGANI, 21 de Outubro de 2024 6 OPINIÃO & CRÓNICAS Democracia ou Barbárie! A democracia em Moçambique está diante de um impasse histórico. O brutal assassinato de Elvino Dias, advogado defensor de opositores do regime, sacudiu os alicerces já fragilizados do Estado de Direito moçambicano. Sua morte, perpetuada por esquadrões da morte — assim denominados, contudo, mais do que isso são símbolos de uma violência institucionalizada — levanta uma questão que não pode ser mais ignorada: os moçambicanos encontram-se agora ante a encruzilhada definitiva entre a democracia e a barbárie. O acto ignóbil que ceifou a vida de Dias não é apenas um ataque a uma pessoa ou a uma família enlutada. É, antes de tudo, um ataque à própria essência da justiça, à integridade de um sistema que deveria proteger seus cidadãos e promover a liberdade de expressão e de dissidência. Quando as forças de um Estado recorrem à eliminação física de seus críticos, e quando esses actos são tolerados, senão orquestrados, pelos detentores do poder, o pacto democrático é desfeito. A democracia, que deveria ser um farol de esperança, converte-se num espectro amedrontador, perdendo sua substância e reduzindo-se a uma miragem. A história é rica em exemplos que ilustram o destino das nações que permitiram que a barbárie sobrepujasse a razão. Quando se elege a violência como forma de contenção do pensamento divergente, o Estado transforma-se numa máquina opressiva, onde o medo substitui a lei e a força bruta destrói o debate. A história de Elvino Dias é um grito contra esse futuro sombrio, um alerta de que as práticas antidemocráticas, se não forem extirpadas, levarão Moçambique a um abismo do qual será difícil retornar. A oposição ao regime, a livre expressão de ideias, o direito à defesa, são pilares fundamentais de qualquer sociedade que se pretenda justa e equitativa. Um Estado que destrói esses pilares abdica de sua legitimidade. E é nesse sentido que se coloca a questão central aqui: será Moçambique uma democracia ou uma terra condenada à barbárie? A escolha entre esses dois caminhos é, hoje, mais urgente do que nunca. A democracia exige mais do que a mera realização de eleições ou a proclamação de uma Constituição. Ela vive e respira na prática diária de respeito aos direitos humanos, na garantia de que as vozes dissidentes possam ser ouvidas, na transparência dos processos judiciais e na segurança oferecida a cada indivíduo para que exerça seus direitos sem medo de represálias. Quando Elvino Dias se levantou para defender opositores do regime, ele não fazia mais do que aquilo que qualquer cidadão consciente faria: defendia o princípio de que todos têm direito a uma defesa justa e a uma vida digna. Ao calá-lo com balas, os responsáveis por sua morte nos lançaram a uma luta entre dois princípios: ou se restaura o Estado democrático de Direito, ou se afunda, irremediavelmente, no caos da tirania. Por outro lado, a barbárie, que já insinua seus tentáculos nas sombras da violência estatal, promete uma sociedade de medo e desordem. Os esquadrões da morte, operando à margem da lei, representam o colapso do pacto social, onde as vidas humanas tornam-se descartáveis e a dignidade é obliterada pela força. A história de Elvino Dias é um testemunho de resistência, mas também um aviso: se Moçambique não resgatar os valores democráticos, seus cidadãos estarão à mercê de um futuro onde o direito à vida e à liberdade será determinado pela arbitrariedade do poder. O silêncio, neste momento, seria cúmplice da barbárie. Cada cidadão, cada instituição, cada líder tem a responsabilidade de denunciar e agir contra os sinais de degeneração do tecido democrático. Não se trata de uma luta apenas da oposição política ou de advogados como Elvino Dias; trata-se de uma luta de todos os moçambicanos, de todos aqueles que se recusam a viver num país onde a justiça é substituída pelo medo. É preciso, por fim, sublinhar que a democracia não é apenas uma escolha moral, mas uma necessidade para a construção de um futuro estável e próspero. Na ausência dela, Moçambique arrisca-se a ser engolido pelo caos, pela violência sectária, pela destruição do convívio pacífico entre seus cidadãos. Os exemplos trágicos de outros países onde a tirania e a repressão prevaleceram mostram que a barbárie não se limita aos seus primeiros passos; ela alastra-se, corroendo a sociedade até que esta já não possa ser reconhecida como civilizada. Assim, diante do martírio de Elvino Dias, não podemos permanecer passivos. Seu sacrifício não pode ser em vão. A sua morte, embora trágica, deve servir como catalisador para uma reflexão nacional profunda sobre o caminho que Moçambique deseja seguir. Democracia ou barbárie? A resposta a esta pergunta definirá o destino do país nos próximos tempos. O povo moçambicano tem nas mãos o poder de transformar esta tragédia num ponto de viragem. Que se eleja a democracia, pois na barbárie não há futuro possível. NGANI, 21 de Outubro de 2024 Boaventura Monjane Sérgio Raimundo - Militar S oube pela madrugada, meu respeitável advogado e amigo, que foste estilhaçado a vida por uma rajada de vinte e tal tiros. E o Paulo estava contigo. O Paulo que em 2012, encantado pelos meus versos imaturos, publicou o meu primeiríssimo livro de poesia. E nisso, caríssimo Elvino, quero pedir-vos desculpas. Desculpas a ti, ao Paulo e às vossas famílias. Desculpas porque as armas que acabaram convosco tinham as munições ferozes do nosso silêncio, desculpas porque todos nós, que hoje choramos a vossa morte, também estivemos ali a disparar sem dar a cara. Desculpas, Elvino! Sei que tu, tão teimoso, és capaz de levantar um processo contra todos nós, porque o dedo indicador que vos matou é o mesmo que de forma cobarde usamos para votar no medo, na humilhação e na estupidez no dia 09 de Outubro. Desculpas pela nossa memória curtíssima; hoje choramos a vossa partida, amanhã ficaremos em silêncio à espera de mais uma vítima para plantarmos mais uma lágrima em nosso rosto. Eu imagino tu e o Paulo, elegantes, nos corredores da morte. Tu em fato com o teu sapato bem engraxado, a tua gravata que sempre levitava sobre a tua barriga que espreitava de um botão mal fechado; tu arrastando processos e perguntando aí no céu se há um tribunal para avançares com os teus trabalhos. Eu imagino os vossos filhos totalmente murchos como flores numa jarra sem água, os vossos filhos com os lábios secos de saudades, porque ontem não pincelaram com a língua os lábios para dizer “boa noite, pai”; esses miúdos que terão de enterrar os pais que outros pais de famílias mandaram matar. Desculpas pelo país que vamos construindo todos os dias, pelas armas que fugiram dos ataques de Cabo Delgado, desceram matas e matas com deslocadas, e cercaram-vos ali na praça da OMM. Desculpas por teres lutado em nome das urnas num país onde há gente armada que decide quem vai à última urna. Desculpas pelos tipos que embaciaram de balas os vidros do vosso carro e vos obrigaram a usar as vossas tripas como cintos de segurança nessa longa viagem sem volta. Esses tipos, de certeza, nesta manhã de sábado, estão com os filhos, com as esposas e pousaram sobre a mesa as suas mãos tão limpas mesmo sujas de sangue. Desculpas... Todos nós disparamos contra Elvino e Paulo... 7 AD LITTERAM Afonso Almeida Brandão Há mais de trinta anos que ando a dizer e a escrever que a arte da previsão faz toda a diferença entre a boa e a má governação, seja das empresas seja dos países, seja ainda do percurso profisssional de cada um, bem que, com a aceleração da mudança, aquilo que não se prevê acaba sempre por ultrapassar as nossas piores expectativas. É o caso, por exemplo, das Imigrações oriundas dos países pobres de África e dos Muçulmanos oriundos do Bangladesh, Pasquistão, Nepal e Índia, em direcção à Europa, que não tendo sido previstas em tempo útil se transformaram num problema intratável. E PERIGOSO... Estou à vontade neste domínio, porque há 23 anos, na tentativa de alertar o Partido «Chuxa-lista» e a Internacional Socialista, escrevi dois artigos sobre as Moções aos XII e XIII Congressos do PS, em que escrevi no Capítulo da Globalização a opinião de que algumas dessas propostas poderiam ter sido evitadas para que o desastre que hoje existe na Europa, por via das Imigrações sem controlo, ilegais e selvagens, constituem um perigo iminente... Escrevi então: “Repetimos que o fenómeno da Globalização não pode ser correctamente analisado usando os critérios normais do nosso Tempo e, menos ainda, através dos interesses das sociedades industrializadas. Para compreender a Globalização e, principalmente, para a orientar no sentido dos Valores Humanistas que nos são caros como europeus e cidadãos — independentemente da Raça, da Língua ou das Religiões, devemos ser capazes de antecipar as transformações Políticas, Económicas e Sociais, em que a Solidariedade deve assumir o papel determinante. Nesse sentido, uma segunda reivindicação das O “Jornaleiro” Laurindo Macuácua: A voz ao «Serviço de Causas Perdidas» forças do progresso global deve conter uma transferência global de recursos dos países desenvolvidos do Norte para os países pobres do Sul, recursos a serem geridos nesses países pelas Nações Unidas e destinados apenas à Educação e à Saúde, através de uma taxa de 1% sobre todo o consumo de bens e de serviços dos países desenvolvidos, valor acrescido de 1% sobre as importações oriundas dos países em vias de desenvolvimento”. Estamos conversados quanto a esta constatação. Em relação ao facto da Estupidez, da Ignorância, da Má Educação e do Mau Exercício da Profissão ao serviço da Comunicação Social em Moçambique, estamos de novo perante nova (e velha!) constatação. Referimo-nos, a título de exemplo, ao pseudo-jornaleiro LAURINDO MACUÁCUA que não passa de um imbecíl convencido da “treta”, no sentido de se considerar um jornalista de «cinco estrelas» quando, de facto — e afinal— nem de “uma estrela” vale. Outro facto inquestionável. Na edição do passado dia 16 de Outubro do corrente mês, esta “cove de alface” que ostenta o nome “pomposo” de DN — teve o atrevimento de destacar, em letras garafais, na Primeira Página do “seu” PASQUIM (em caixa alta), o surrealista título de que o político e candidato às Eleições Presidenciais do dia 9, Venâncio Mondlane, É ACUSADO PELO PGR DE AGITAÇÃO SOCIAL E INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA (sic). Esta “rasca” notícia é merecedora de figurar, isso sim, num jornal humoristico e não num Órgão de Informação que se “intitula” sério e credível... Chegados aqui resta-nos acrecentar que este “aprendiz” de jornaleiro, — perdão, quisemos dizer Jornalista —, tem de crescer muito para se comparar com quem exerce de facto e de forma profissional o Jornalismo. Ou seja, para o considerado “esperto e cretino” LAURINDO MACUÁCUA, o DN — que não passa de um jornaleco afecto aos “metralhas” do Partido FRELIMO —, tudo tem feito para ENVENENAR este político honesto, responsável, sério, patriota e que ama acima de tudo e verdadeiramente o seu Povo: Venâmcio Mondlane. Trata-se de um político que não “joga sujo”, com aldrabice e que “fabrica” Votos a favor de Daniel CHAPO, recomendados préviamente pelos principais responsáveis frelimistas. CHAPO é considerado por muitos como um adversário falso e cheio de “diatribes” e jogadas empacotadas por quem está por detrás dele... a começar pelos três últimos Presidentes da República que estiveram no “poleiro” de Moçambique desde 1975 a 2024 e que parteciparam nestas Eleições de forma inaceitável e vergonhosa... Agitação Social? Incitação à Violência? Desde quando? Só nos “miolos” deste “jornaleiro” de nome Laurindo Macuácua é que não há nada melhor do que favorecer o “crescimento” do CHAPO aos olhos do POVO e de todos aqueles que o têm apoiado com mentira e falsidade, em termos de Votos forjados, com as habituais aldrabices do Sistema Político que a FRELIMO vem sustentando há cerca de 50 anos a esta data — sempre com os seus alicerçes antidemocráticos e de má Governação (ou desgovernação) como lhe queiram chamar. O PGR deve estar “A VER MAL O FILME”. Acusar Venâncio Mondlane de AGITAÇÃO SOCIAL e INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA por alma de quem? Francamente, Senhores do PGR! Haja um mínimo de juízo, atitude e Verdade. Venâncio de Mondlane apenas está REVOLTADO com o NOJO que FORAM estas Eleições Presidenciais e com as falsificações simuladas e VENENOSAS que têm sido metidas nas Caixas das Urnas das Mesas de Votos, de Norte a Sul do País — e também no país vizinho da África do Sul... Daniel CHAPO perdeu estas Eleições. Os números que a FRELIMO diz ter ganho, a nível de todas as Mesas do País, não são reais mas sim “uma brincadeira” para boi dormir. Venâncio Mondlane tem mais de 50% dos Votos que foram registados e exercidos, em consciência, por todos os Eleitores Moçambicanos, do Revuma ao Maputo, de forma responsável e sentida O Candidato VM concorreu às Eleições Presidenciais do Dia 9 de Outubro de 2024, em representação do Povo Optismista Para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS). E o resto são balelas! E essas leva-as o Vento para longe. Moçambique precisa isso sim, de MUDANÇA, de Directrizes Fortes, de Novos Horizontes, de uma Governação Séria, Honesta e Transparente, com GENTE digna e capaz — e não com Ladrões e com Vendedores de Sonhos de Falsas Promessas!... O País vai parar na 2ª Feira, Dia 21? Pois que páre, se for essa a Vontade do Povo, pois a Verdade precisa de ser reposta e respeitada. Sejamos Solidários e saibamos AMAR juntos este País massacrado, que é Moçambique! E que precisa de todos NÓS, Moçambicanos de Alma e Coração, para que possamos crescer em sintonia e sermos exemplo Digno para toda a África Austral, além Fronteiras. . NGANI, 21 de Outubro de 2024 Fique por dentro de notícias que realmente importam. Assine o NGANI hoje! Contactos: 851621795- 878932899 www.ngani.co.mz LAURINDO MACUÁCUA: Um “promovido” jornaleiro a Jornalista 8 PENSAMENTOS À TONA Juleca Paposseco Professora, Cronista e Gestora de Conflitos NGANI, 21 de Outubro de 2024 Casamentos prematuros A união entre pessoas, por meio de um casamento, é uma prática comum no mundo inteiro. Há quem diz que o casamento é uma instituição com a missão exclusiva de preservar a família. Há quem diz ainda que o casamento é um contrato entre as partes envolvidas. Seja quais forem as definições que cada povo, cultura ou religião decida dar, é importante ressaltar, que o casamento exige o respeito de alguns critérios pré-estabelecidos entre os que nele são envolvidos. Normalmente as pessoas usam parâmetros legais, culturais ou religiosos para se casar. E dentro desses parâmetros, destaca-se como um dos principais requisitos, a idade. No nosso entender, parece que todos são unanimes em relação ao facto de se aguardar a idade apropriada para casar. Pelo menos é o que se diz por ai. É por essa unanimidade que em todo o lado existe uma idade mínima, definida por lei ou pelos parentes dos noivos, para casar. E quando há um desrespeito a estes requisitos, estamos diante de um casamento prematuro. Indo ao nosso contexto, legalmente um indivíduo abaixo de 18 anos é considerado inapto para casar. Em lugares onde os parâmetros culturais tem mais notoriedade, existem sinais que são tidos como indicadores da aptidão ao casamento. Por exemplo, o crescimento dos seios da menina, o saber cozinhar, o saber cumprir com as tarefas domésticas podem constituir requisitos para se casar. E indo um pouco mais para as zonas rurais, encontramos o saber fazer machamba, a busca de água no rio, o volume do corpo de entre outros, constitui outros requisitos. Portanto varia de zona, de região e de cultura de cada povo. Uma matéria, escrita no jornal eletrónico, Gazeta News, datada de Setembro 2023, publicou que em alguns países como a Bolívia, Peru e parte dos Estados Unidos, é permito que um indivíduo se case com a idade mínima de 16 anos, com autorização dos seus pais, representante legal ou por um juiz. Isto mostra uma outra realidade muito diferente da nossa. Portanto, é importante pontuar que apesar desta oscilação nas idades mínimas, nesses países, o casamento prematuro constitui um problema em várias nações e por isso, vemos no mundo a surgirem várias organizações engajadas nessa causa vista como um mal. Assim, o casamento prematuro parece ser um daqueles problemas muito complexos e difíceis de gerir uma vez que em vários lugares no mundo mostra-se ser uma prática enraizada nas famílias onde ela é praticada. Os motivos que levam a existência desta realidade são vários. Um deles pode ser o desejo de acabar com a pobreza. Em outros casos trata-se de famílias que, de dia para noite, acham que chegou a hora de a sua filha se casar. Alguns acham que só os meninos podem ou tem o direito de estudar. Neste rol de motivos, o mais caricato é existir alguns que fazem por pensar em diminuir o número de agregado familiar, visto que segundo eles, casando a menor, pode constituir menos um “fardo” na família, ou seja, menos uma pessoa menos um prato. É difícil falar de casamentos prematuros, sem inclinar para o género feminino, pois é o mais notório. São as meninas que mais sofrem. São adolescentes que de forma precoce são envolvidas num casamento por obrigação dos familiares e outras ainda por várias circunstâncias que só elas ou um estudo podem esclarecer. As famílias, que se envolvem neste tipo de práticas, podem estar somente a olhar para as vantagens que o casamento prematuro lhes traz naquele momento, esquecendo por completo o “suicídio” do futuro da rapariga. É como se não houvesse paciência para esperar a idade legalmente prevista. Esquecem que o casamento prematuro traz consequências nefastas na vida da menina. Biologicamente falando, se assim se pode dizer, o corpo da miúda ainda não está pronto para encarar tudo que advém do casamento como por exemplo a gravidez. Sem esquecer o facto de se ter alineado a infância da menina. E se olharmos profundamente, diríamos que casar alguém de forma precoce, torna-se numa das piores formas de violência que um individuo pode sofrer. Neste tipo de situações, não há como dizer que houve consentimento, pois pela idade, há limitação em questionar aos parentes sobre as reais causas que os levam a cometer aquele erro mas também a percepção do que realmente está acontecer é deficiente. Talvez se nos questionássemos: Ela estará bem? Como ela irá relacionar-se com um adulto? Como esta irá gerir suas emoções, num meio em que viu arrancada sua infância? Não estaria a bloquear o futuro e os sonhos dela? Se para um adulto já é difícil gerir um casamento, o que ela fará? Acreditamos que todos conseguimos ver com muita facilidade quando estamos diante de uma menor quais as dificuldades a vários níveis esta tem enfrentado. Note-se que quando há este tipo de casamentos, tudo é tratado entre os adultos e a menor simplesmente é FICHA TÉCNICA: Avenida 25 de Setembro - Recinto da Cruz Vermelha de Moçambique - Nampula - Registo 23/GABINFO/Março de 2018 - Tel: +258 823597819/878932899/876238540 - E-mail: semanariongani@gmail.com/jornal@ngani.co.mz Chefe da Redacção: Agostinho Miguel - Redacção: António Cintura, Lourenço Soares e Victor Xavier- Opinião: Afonso Almeida Brandão, Cleiton Celestino e Juleca Paposseco Grafismo e Fotografia: ngani - www.ngani.co.mz comunicada: “a partir de hoje és casada com o tal fulano, ou simplesmente arrume suas roupas e segues o tio Guimarães, de hoje em diante passas a viver com ele”. É horroroso... Todavia, é importante considerar que os casamentos prematuros já vinham acontecendo desde a época dos nossos ancestrais. Basta fazer um olhar atento a idade dos nossos pais e avós e comparar com a nossa própria idade. Isto significa que eles já viviam assim, antes da formalização das leis. Isto traz um entendimento que o casamento prematuro constituiu uma prática normal, numa dada época. Porém os momentos são totalmente diferentes há que desistir desta pratica, e há que olharmos as coisa numa outra perspectiva dai que ainda há muito trabalho por se fazer no sentido de sensibilizar as famílias para que mudem de mentalidade e que percebam que o casamento prematuro é uma violação dos direitos da criança. As meninas merecem uma oportunidade de viver a sua infância, seguir adiante com os estudos, seus sonhos, escolher uma profissão, uma vida própria e casar se quando for a hora que elas acharem oportuna. Por fim, queremos apelar a todos que, para acabar com este mal, há que travarmos uma guerra e essa luta é de todos nós. Como é de conhecimento de todos, as escolas, tanto públicas como privadas constituem centros de ensino e aprendizagem. Portanto quando matriculamos os nossos filhos, levámo-los cientes de que, de lá tragam o saber científico. Mas de um tempo para cá, assistimos sobre tudo nas escolas públicas, um fenómeno não comum, pelo menos até alguns anos atrás. Pois não é de hoje que ouvimos ou mesmo em alguns momentos presenciamos desmaios nas escolas. Por que será? O curioso é que na maioria das vezes senão todas, o fenómeno ataca somente as meninas. E dia após dia vemos mais vídeos alarmantes de situações idênticas um pouco por todo o país. O que antes parecia problema de uma escola ou de uma região passou a se constatar em várias escolas do nosso país, com maior destaque para escolas secundárias. Note-se que algumas das imagens que circulam nas redes sociais, mostram diferentes tipos de comportaPor que será? mentos entre as vítimas dos desmaios. Como por exemplo: Umas ficam “quietas”, isto é, desligadas do mundo real e minutos depois “despertam” como se nada tivesse-lhes acontecido. Outras de forma inconsciente, adoptam comportamentos agressivos, atacam colegas ou todo aquele que tiver a audácia de se aproximar delas. Outras simplesmente poem-se a chorar e a gritar por vários minutos neste estado. Algumas tem vontade de discutir com as pessoas em volta. Porém, apesar de se ter convidado vários psicólogos e antropólogos, dá-nos a entender que até hoje, parece não haver alguma interpretação científica ou religiosa, que leve a compreensão das reais causas deste fenómeno. Algumas entrevistas feitas a alguns gestores escolares, pais e encarregados de educação, assim como a sociedade civil, mostram explicações nada certeiras uma vez que todas elas são apoiadas em suposições. Por conseguinte, esta falta de clareza pode fazer com que a vítima seja rotulada como doente epiléptica, visto que, a epilepsia é uma das doenças conhecida como causadora de desmaios. Assim, cada dia que passa, mais imagens circulam, e isto mostra que o fenómeno dos desmaios, ainda continua a perturbar as nossas alunas. Com vista a procurar soluções para o assunto, não seria altura de se criar uma equipa multissectorial, para fazer um estudo mais profundo sobre o fenómeno? Uma equipa que fosse constituída por técnicos de diferentes áreas como educação, saúde e quiçá outros ministérios que poderiam fazer parte de modo a, fazer face esta situação, que como anteriormente dissemos, já vem apoquentando várias famílias e a sociedade no geral. De salientar que seriam estes técnicos que nos trariam respostas de várias perguntas como por exemplo: As alunas que desmaiam são as mesmas que noutras ocasiões ou há uma rotatividade? Em que momento elas caem, no intervalo ou durante as aulas? Há um momento especifico em que elas desmaiam? O que faz com que elas desmaiem? Será que a fome ou a temperatura contribuem? Porque na maioria das vezes os desmaios afectam mais as meninas do que os rapazes? Assim como outras perguntas que se fariam aos familiares das vítimas, visto que eles podem ter dados relevantes que pudessem ajudar ao esclarecimento do fenómeno em causa. Como por exemplo: quando começaram os desmaios e se existe outro lugar onde a menina tem sofrido desmaios fora do recinto escolar? Conhecendo bem as causas do problema, poderá ser mais fácil desenhar algumas estratégias afins de solucionar o problema. Diante deste tipo de situações, me impressiona o facto de termos várias Universidades dentro do país, que não “tiram proveito” deste tipo de situações para constar como um campo de estudo ou de investigação nas suas instituições. Elas podiam também abraçar esta causa criando grupos de pesquisa, de modo a colaborar na busca de soluções, pois o problema apoquenta toda a sociedade moçambicana. Também me impressiona o facto das várias confissões religiosas não se terem pronunciado a cerca do assunto em causa, não na vertente superficial, mas de modo a ajudar na busca de soluções. Muitos de nós, prefere simplesmente concluir que se trata de espíritos maus. Algumas escolas contribuíram e realizaram cerimónias tradicionais envolvendo líderes locaia e alguma entidades do governo, mas o problema ainda persiste. Não que a teoria de maus espíritos seja descartável, mas a questão é que para se chegar a esta conclusão, é preciso estudar o assunto e provar com dados reais que de facto trata-se de espíritos maus. Parece me perigoso, que este tipo de conclusões, cause um certo relaxamento da nossa sociedade. A verdade é que de uma ou de outra as meninas precisam da nossa ajuda para que acabemos com os desmaios nas escolas. Momade Cássimo A adjudicação de contratos para construção de estradas em Moçambique sempre levanta dúvidas, principalmente em relação aos critérios de seleção das empresas e à qualidade das obras entregues. Muitos cidadãos se perguntam como, apesar dos elevados custos pagos, as estradas frequentemente sofrem de má qualidade, com problemas visíveis após curtos períodos de uso. Em algumas ocasiões, o valor pago é até três vezes maior que o custo real de execução da obra, o que levanta suspeitas sobre transparência e eficiência no uso dos recursos públicos. Se o custo das obras fosse diretamente proporcional à qualidade, a população ficaria mais satisfeita ao ver que os impostos estão sendo aplicados de forma justa. No entanto, o que falta é uma maior clareza sobre o que realmente ocorre durante o processo de contratação e execução de obras públicas. Uma solução interessante seria a inclusão de um critério mais rigoroso para avaliar a capacidade técnica das empresas contratadas, como a construção de um trecho experimental de 1 km de estrada antes da adjudicação final do contrato. Este trecho funcionaria como uma amostra do trabalho a ser realizado e permitiria a fiscalização da qualidade com base em parâmetros pré-definidos, como a quantidade de material utilizado (ex. proporção de pedra e alcatrão) e a espessura do asfalto. Esse modelo de avaliação intermediária poderia ser incorporado ao processo de procurment, após a pré-seleção das empresas concorrentes. Isso daria ao Ministério responsável e aos fiscais uma base sólida para monitorar e comparar os trabalhos no terreno, confrontando a obra final com o trecho experimental. Propostas de Soluções 1. Trecho Experimental como Critério de Avaliação: • A construção de 1 km de estrada, antes da adjudicação final, garantiria que as empresas candidatas demonstrassem a qualidade do serviço que pretendem fornecer. • Isso serviria como um parâmetro para a fiscalização e para evitar surpresas desagradáveis, como o uso inadequado de materiais, que é uma queixa comum. 2. Reforço na Transparência e Prestação de Contas: • O governo poderia implementar uma plataforma digital de monitoramento das obras, onde a população poderia acompanhar os detalhes dos contratos, custos, prazos e a execução das obras em tempo real. • Empresas contratadas deveriam ser obrigadas a fornecer relatórios regulares de progresso, acessíveis ao público, como forma de prestação de contas. 3. Punições por Não- -Conformidade: • Empresas que falharem em cumprir os padrões de qualidade ou que forem descobertas a utilizar materiais de baixa qualidade, como saibro ou areia vermelha em vez de alcatrão, devem ser penalizadas com multas severas ou exclusão de futuros processos de licitação. 4. Auditoria Externa Independente: • Auditores independentes poderiam ser contratados para verificar a qualidade das obras durante a execução e após a conclusão, aumentando a confiança da população na qualidade das estradas e na responsabilidade do governo. 5. Incentivos para Inovações Tecnológicas: • O governo pode incentivar o uso de novas tecnologias e práticas de construção sustentável que aumentem a durabilidade das estradas e reduzam os custos a longo prazo. Implementar essas soluções pode garantir que os recursos sejam usados de maneira mais eficiente e que a qualidade das estradas melhore, resultando em menos desgaste, maior durabilidade e mais transparência nos processos de contratação e construção de obras públicas. Mais não disse. Que tal, só que tal? Se Melhorarassem o processo de adjudicação de obras públicas em Moçambique Ananias Chomola 11 PUBLICIDADE 11 SOCIEDADE NGANI, 21 de Outubro de 2024 O director da Plataforma D E C I D E , Wilker Dias, foi o porta-voz das inquietações sobre as irregularidades constatadas durante as eleições de 9 de Outubro. Segundo Dias, a Plataforma DECIDE já submeteu aos órgãos eleitorais moçambicanos, como a Comissão Nacional de Eleições (CNE), uma série de denúncias detalhadas sobre discrepâncias no processo eleitoral. A expectativa é que essas queixas sejam abordadas antes de se recorrer a instâncias internacionais, A Sessão Plenária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, realizada em Banjul, capital da Gâmbia, entre os dias 17 e 19 de Outubro, trouxe à tona preocupações cruciais sobre a integridade das eleições em Moçambique. VÍCTOR XAVIER Membros da Plataforma DECIDE em Banjul conforme prevê a legislação eleitoral de Moçambique. A reação das autoridades moçambicanas às denúncias foi mista. Enquanto alguns sectores do governo reconheceram a necessidade de investigar os ilícitos, outros se mostraram defensivos, questionando a veracidade das alegações. Organizações como o Consórcio Mais Integridadea, que inclui entidades de renome como MISA Moçambique, CESC, NAFEZA, FAMOD, Solidariedade Moçambique, CIP e a Comissão Episcopal de Justiça e Paz de Moçambique, continuam a pressionar por uma resposta clara e transparente. Desconfiança em torno dos resultados eleitorais Edson Cortez, membro sénior do Consórcio Mais Integridade, destacou em conferência de imprensa que as irregularidades observadas durante a contagem paralela de votos criaram sérios obstáculos para determinar o verdadeiro resultado das eleições. “O que vimos no dia da apuração e o que foi exibido nos editais no dia seguinte eram números completamente diferentes. Diante disso, chegamos à conclusão de que os resultados das eleições de 9 de Outubro não reflectem a vontade dos eleitores”, afirmou Cortez, sublinhando o impacto devastador dessa manipulação no processo democrático. As organizações da sociedade civil, por sua vez, mantêm a pressão tanto no plano nacional quanto internacional. A expectativa é que a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos actue com imparcialidade e rigor, investigando todas as denúncias de irregularidades eleitorais e responsabilizando os infractores. Além disso, espera-se que a Comissão recomende medidas concretas para evitar que tais irregularidades se repitam no futuro, garantindo a integridade do processo eleitoral em Moçambique. Em plena luta por justiça, a Embaixada dos Estados Unidos em Moçambique emitiu um comunicado elogiando o povo moçambicano pelo exercício de seu direito ao voto. O comunicado frisou a importância de um apuramento transparente e credível por parte da CNE e do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), que respeite a vontade expressa nas urnas e os direitos constitucionais dos eleitores. Com a verdade eleitoral em jogo, as organizações da sociedade civil continuam vigilantes, exigindo não apenas respostas, mas também acções que garantam que a democracia seja preservada e que os infractores sejam punidos. A legitimidade das eleições de 9 de Outubro depende dessas investigações e das medidas que serão tomadas para garantir que a vontade do povo seja respeitada, Sociedade Civil intensifica luta pela verdade eleitoral em Moçambique PUBLICIDADE Edson Cortez NGANI, 21 de Outubro de 2024 14 CULTURA NGANI, 21 de Outubro de 2024 Como ler “Cem Anos de Solidão” de forma eficiente Ler “Cem Anos de Solidão” de Gabriel García Márquez é uma experiência literária exigente e rica, que combina o esplendor narrativo com profundas reflexões históricas, sociais e filosóficas. Para abordar essa obra monumental de forma eficiente, o leitor deve adotar uma estratégia que equilibre atenção aos detalhes, compreensão do contexto e sensibilidade estética. A seguir, delineio um guia erudito e detalhado para auxiliar uma leitura inteligente e produtiva. 1. Compreender o Contexto Histórico e Literário A leitura eficiente de “Cem Anos de Solidão” começa com uma compreensão sólida do contexto em que foi escrito. Publicado em 1967, no auge do chamado Boom Latino-Americano, o romance reflete as turbulências políticas, sociais e econômicas da América Latina. Gabriel García Márquez se inspira no cenário colombiano, especialmente na região caribenha, para construir Macondo, a cidade fictícia onde se desenrola a saga da família Buendía. No entanto, Macondo extrapola a geografia colombiana e se torna um microcosmo da experiência latino-americana, com suas lutas, revoluções e dilemas pós-coloniais. Compreender esse pano de fundo é fundamental, pois permite ao leitor situar os eventos do romance dentro de uma matriz cultural e histórica mais ampla. A exploração de temas como imperialismo, violência, opressão e ciclos de poder será muito mais eficaz se o leitor for capaz de reconhecer as alusões às realidades sociopolíticas da época. 2. Familiarizar-se com o Realismo Mágico “Cem Anos de Solidão” é uma das obras mais representativas do realismo mágico, um estilo literário em que o fantástico e o sobrenatural se entrelaçam com a realidade cotidiana de forma natural. Para ler a obra com eficiência, é crucial entender como esse gênero funciona. Ao contrário de narrativas tradicionais em que o sobrenatural é explicado ou tratado como algo inusitado, no realismo mágico os elementos mágicos são tratados como parte integrante da realidade. Logo, cenas como a ascensão de Remedios, a Bela, ao céu, ou o nascimento de crianças com características estranhas devem ser lidas não como fantasias sem sentido, mas como expressões simbólicas das realidades mais profundas de Macondo e da América Latina. A chave é não buscar uma explicação lógica para tais eventos, mas sim entender o que eles simbolizam dentro do contexto da obra. 3. Atenção ao Ciclo Temporal e Estrutural A estrutura temporal de “Cem Anos de Solidão” é cíclica, uma característica fundamental que espelha a repetição histórica e familiar. A narrativa segue sete gerações da família Buendía, e a repetição dos nomes (como José Arcadio e Aureliano) é um recurso deliberado que sublinha a recorrência dos destinos familiares e históricos. Uma leitura eficiente requer atenção cuidadosa à genealogia dos Buendía. É útil manter uma árvore genealógica à mão para não se perder na vastidão de personagens e para entender melhor como os traços e destinos se repetem entre as gerações. Além disso, o leitor deve estar atento aos temas recorrentes de solidão e predestinação. García Márquez nos mostra como a família Buendía está presa a um ciclo de erros e isolamento, de modo que a compreensão dos padrões narrativos ajudará a desvendar as relações simbólicas entre os personagens. 4. Ler Devagar e Contemplar as Imagens e Temas A prosa de García Márquez é densa, repleta de imagens poéticas e simbólicas. Para uma leitura eficaz, é necessário absorver essas descrições lentamente. Por exemplo, a presença da natureza exuberante em Macondo, muitas vezes, espelha a vitalidade e o caos da vida dos personagens, enquanto a chuva incessante simboliza o declínio e o desespero que se abate sobre a cidade. Os temas de memória, esquecimento e história também desempenham papéis centrais na obra. O tempo, em Macondo, parece funcionar de forma diferente: ele é fluido e circular, refletindo uma visão mítica do passado e do futuro. Prestar atenção a esses aspectos permitirá ao leitor não apenas seguir a trama, mas também captar as camadas profundas de significado que envolvem o texto. 5. Reconhecer a Importância dos Mitos e das Tradições Orais Muitas das histórias contadas em “Cem Anos de Solidão” remetem a mitos, lendas e tradições orais latino-americanas. Por exemplo, a figura do coronel Aureliano Buendía pode ser vista como uma fusão de heróis revolucionários, enquanto os eventos sobrenaturais estão profundamente enraizados nas crenças e mitologias indígenas e afro- -latinas. Ao identificar essas influências, o leitor poderá compreender melhor as camadas culturais e históricas que permeiam o romance. O leitor deve estar atento também ao modo como García Márquez dialoga com outras tradições literárias, especialmente o realismo europeu e a ficção épica. Ele mescla essas influências com uma abordagem distintamente latino- -americana, criando uma obra que é ao mesmo tempo universal e profundamente regional. 6. Interpretar o Final com Cuidado O final de “Cem Anos de Solidão” é ao mesmo tempo apocalíptico e revelador. A destruição de Macondo e a revelação das profecias de Melquíades marcam o ponto culminante de um ciclo predeterminado. Este é o momento em que o leitor deve refletir sobre o tema do tempo na obra: as gerações dos Buendía estavam fadadas a repetir os mesmos erros, e Macondo, como a própria América Latina, parece estar presa em um ciclo de violência, exploração e esquecimento. Entender o final é crucial para uma leitura eficiente, pois ele sintetiza muitos dos temas que vinham se desenvolvendo ao longo da narrativa. É um momento de profunda catarse literária, em que a história da família Buendía se revela como um grande mito, uma alegoria da condição humana em sua luta contra o destino e a solidão. Considerações Finais Ler “Cem Anos de Solidão” de forma eficiente requer uma abordagem que combine atenção aos detalhes, sensibilidade para as nuances culturais e históricas, e uma disposição para mergulhar no mundo onírico e cíclico de Macondo. É uma obra que recompensa o leitor atento com insights profundos sobre a condição humana e a história latino-americana, sendo ao mesmo tempo uma meditação sobre a própria natureza da narrativa e do tempo. Ao adotar essa estratégia de leitura, o leitor não apenas compreenderá o enredo, mas também será capaz de apreciar plenamente a genialidade estética e filosófica de Gabriel García Márquez. Oliver Harden Gabriel García Márquez 15 CULTURA NGANI, 21 de Outubro de 2024 Moreira Chonguiça, Iveth Mafundza e Anabela Adrianoupolos são convidados da 10ª Feira do Livro em Maputo A p r i m e i r a mesa subordinada ao tema “Direito à literatura: como os livros mudaram a minha vida”, com a participação do etnomusicólogo e saxofonista Moreira Chonguiça, da apresentadora, actriz e produtora de TV Anabela Adrianoupolos e da rapper, jurista e activista dos Direitos Humanos Iveth Mafundza e com a moderação da curadora brasileira Juci Reis, é um dos destaques do certame, que decorrerá no dia 24 de Outubro, pelas 14h00, no Jardim Tunduru. A festa literária acontecerá no Jardim Tunduru e nos espaços culturais como o Instituto Guimarães Rosa, AEMO, a Escola de Comunicação de Artes da Universidade Eduardo Mondlane, a Universidade APolitécnica, Escola Superior de Jornalismo, além de programações que acontecem nas escolas primárias e secundárias. A edição 2024 homenageia os escritores e jornalistas João Albasini e Nelson Saúte. O tema central da 10 edição da Feira do Livro de Maputo (re)inaugura um esforço de aproximação entre duas entidades historicamente comprometidas com a promoção de cultura e da liberdade, e propõe reflexões importantes sobre os reflexos da conjuntura na vida de quem escreve, seja a escrita jornalística ou literária. Literatura e jornalismo são actividades que se complementam, se entrecruzam e, diversas vezes, trocam de lugar. Duas formas de se contar histórias, cada uma com sua dose de verdade e sua apropriada medida ficcional. As confluências entre literatura e jornalismo em Moçambique atendem e consagram dois temas dos mais sérios e actuais, a liberdade de imprensa e o valor da produção literária que os veículos de imprensa transmitem para o povo. No mesmo dia segue a mesa cujo mote da conversa parte do verso da poeta Noémia de Sousa “Viemos do outro lado da cidade/com nossos olhos espantados”, onde os convidados são o escritor moçambicano Mélio Tinga, a escritora brasileira Manoela Barbosa e o escritor brasileiro Marcos Cajé Já pelas 15 horas do mesmo dia 24, os participantes da mesa intitulada Histórias que Transformam: identidade, criatividade e inclusão para o desenvolvimento sustentável, são Halima Essá, Trisha Mamba, Elcídio Bila, Laliana Mahumane, Alcinio Muimela, com moderação da Antónia Tembe, sob a direcção do PROCULTURA. Haverá ainda, no dia 24, um workshop sobre A escrita da narrativa afrofantástica infanto-juvenil, dinamizada pelo escritor brasileiro Marcos Canjé no Centro Cultural Moçambique-Alemanha. As manhãs são consagradas ao público infantil e juvenil, com actividades a partir das 09h00, que passam pela dança, contos, teatro, música e oficinas. Também estarão presentes editoras e museus ngani Moreira Chonguiça, Iveth Mafundza e Anabela Adrianoupolos, a 24 de Outubro, ou Jeremias Langa e Álvaro Carmo Vaz, no dia 25, fazem parte da plêiade dos convidados da 10ª Feira do Livro de Maputo, a realizar-se de 24 a 26 de Outubro, no Jardim Tunduru. Moreira Chonguiça A Gala-Gala Edições tem o gosto de anunciar o lançamento do livro “Um Retrato das Crianças e Menores Privadas de Liberdade no Estabelecimento Penitenciário Especial de Recuperação Juvenil de Boane”, da autoria de Tina Lorizzo e Lourenço Sigaúque. A obra é um relatório de pesquisa que oferece uma análise profunda da situação das crianças e adolescentes em conflito com a lei em Moçambique. O estudo, conduzido em 2022 pela Reformar — Research for Mozambique, no único estabelecimento penitenciário do país destinado à recuperação juvenil, apresenta o retrato de noventa e duas crianças e menores entre 16 a 21 anos que cumpriam pena. “Um Retrato das Crianças e Menores Privadas de Liberdade” explora aspectos ligados à situação familiar, saúde, educação e condição económica dos detentos, oferecendo uma visão das condições de vida e dos desafios enfrentados por esse grupo alvo. Entre as recomendações destacam-se o aprimoramento de programas de educação e formação profissional, o fortalecimento do apoio psicossocial e a implementação de estratégias para melhorar a condição económica e social das famílias deste grupo alvo. De acordo com Helena Mateus Kida, Ministra da Justiça, dos Assuntos Constitucionais e Religiosos, que prefacia o livro, “as conclusões apresentadas traduzem o posicionamento do elevado trabalho levado a cabo pela REFORMAR e poderão, igualmente, servir como um instrumento de base para uma reflexão mais ampla e abrangente sobre a matéria junto de todos os intervenientes”, escreveu a governante. O livro, de 100 páginas, é constituído por 6 partes principais que apresentam dados sobre o crime na juventude em Moçambique. Conforme a pesquisa, por exemplo, 15,2% da população dos presos, que representa a maioria, é proveniente do bairro de Chamanculo, em Maputo; a maioria foi detida por furto (51%) e a 62% vivia com os pais. “Um Retrato das Crianças e Menores Privadas de Liberdade” visa, acima de tudo, a conscientizaçãoa sociedade sobre a importância da reabilitação e reintegração de menores, além de promover reflexões sobre políticas públicas e direitos humanos. O livro será lançado no dia 24 de Outubro, às 16h00, no auditório do Ministério da Justiça, dos Assuntos Constitucionais e Religiosos. O lançamento contará com a apresentação da Dra Sílvia Matavel. “Pesquisa sobre crianças e menores privados de liberdade em moçambique divulgada em livro” 16 OS ÓCULOS DO DIABO Afonso Almeida Brandão Haja coragem para impor ordem à «imigração» do Bangladesh, Paquistão, Nepal e India Numa altura em que tanto se fala de imigração descontrolada e após a manifestação que o Partido CHEGA convocou recentemente em Setembro último, relembro um assunto que é fulcral para a cidade de Lisboa: a potencial proliferação do Islão radical, trazido pelas Comunidades Migrantes dos países do Indostão. Recordo que os partidos com presença no executivo da Câmara Municipal de Lisboa aprovaram por unanimidade, no dia 28 de Outubro de 2015, a proposta 628/2015 em cujo texto se deliberava “aprovar requerer ao Governo a declaração de utilidade pública de expropriação, com carácter urgente, dos direitos ao arrendamento que incidem sobre um prédio municipal, para a execução do projecto da Praça da Mouraria, bem como submeter à apreciação da Assembleia Municipal a declaração de utilidade pública de expropriação, com carácter urgente de três prédios particulares e de todos os direitos a eles inerentes, por necessários à execução do mesmo projecto e abrangidos pelo Plano de Urbanização do Núcleo Histórico da Mouraria (PUNHM)”. O que é facto é que, desde 2015 e até hoje, o proprietário dos três prédios alvo de expropriação tem resistido estóica e corajosamente, a expensas suas e em Tribunal, a essa violenta decisão. Pese embora o anterior executivo camarário tenha seguido os trâmites procedimentais, essa expropriação configura um atropelo aos mais elementares direitos fundamentais, em especial à propriedade privada deste Munícipe. O senhor António Barroso é um comerciante com mais de setenta anos e que exerce a sua actividade na Rua do Benformoso há cerca de cinquenta. Por via do esforço do seu trabalho de décadas, investiu em 2006 todas as suas economias para adquirir os referidos imóveis. Posteriormente, procedeu à reabilitação dos mesmos de acordo com as apertadas regras impostas pela Câmara de Lisboa. Foi obrigado a manter e restaurar os vários elementos decorativos interiores, de que são exemplo os azulejos setecentistas. Após ter concluído o processo de reabilitação viu-se confrontado com uma expropriação que tem motivações ideológicas e cujas consequências, entre outras, é a destruição de património histórico da cidade. O que é certo é que a Rua do Benformoso faz parte do Núcleo Histórico da Mouraria, tendo resistido ao Terramoto de 1755 e também, in extremis, à enorme demolição aí ocorrida nos anos quarenta do Séc. XX. Está praticamente intacta do ponto de vista arquitectónico, remontando grande parte dos imóveis aos Sécs. XVII e XVIII. É uma das artérias de Lisboa que mantém ao longo de toda a extensão a traça original e a sua coerência urbanística. Devido ao seu peso histórico e à sua autenticidade, são precisamente estas vias da cidade de Lisboa que devemos manter inalteradas por respeito pela nossa Arquitectura e Cultura. Registe-se que a frente do mesmo quarteirão da Rua da Palma está também ela totalmente intacta, conservando na íntegra a traça oitocentista. A demolição dos referidos edifícios e do quarteirão que liga à Rua da Palma é, só por si, um atentado patrimonial à cidade de Lisboa, mas importa outros problemas de enorme complexidade. O executivo camarário e os partidos (PS, PSD, CDS e PCP) que, em 2015, aceitaram a destruição de um quarteirão para a concomitante construção de uma Mesquita incorreram, por inúmeras razões, num erro colossal e com consequências imprevisíveis para a nossa cidade e sociedade portuguesa. A zona da Mouraria tem sido, desde há vários anos, um local para onde têm afluído e concentrado de forma maciça migrantes provenientes da Ásia (com destaque, a título de exemplo, de países como Bangladesh e Paquistão), para além do Nepal e Índia. Uma parte significativa destes indivíduos têm entrado em Portugal de forma abusiva e ilegal, trazidos por máfias dedicadas ao tráfico humano a que a Comunicação Social portuguesa tem dado notícia. São inúmeros os relatos de violências, rixas, extorsão e outros crimes, como tráfico de droga, que ocorrem naquele local e que deveriam ser motivo de reflexão, para não dizer vergonha dos dirigentes políticos da cidade. Esta actual “imigração”, contrariamente à que afluía ao nosso País até ao princípio do Séc. XX, maioritariamente dos PALOP e do Brasil e, portanto, com raízes históricas, culturais e religiosas comuns, nada tem que ver com os nossos costumes, língua e tradições. É bom que se diga isto com frontalidade e sem “papas na língua”. Estes imigrantes, na sua esmagadora maioria, professam a Religião Muçulmana. No entanto, não são como os muçulmanos portugueses, moderados, que se regem pela Constituição Portuguesa, lutam pela defesa da Pátria Lusitana e reúnem-se em oração na Mesquita Central de Lisboa. Há que reconhecer e dizê-lo com frontalidade. Os imigrantes do Paquistão e Bangladesh pretendem ter o seu gueto e o seu local de culto à força. Ora, o islão moderado não só não sanciona como se opõe a que um local de culto seja edificado contra privados ou em conflito, na medida em que o respectivo solo deve estar pacificado. Este não é de todo o caso, teremos de reconhecer e constatar. Já o islão radical que o anterior Executivo Camarário do Partido «Chuxa-lista», com a complacência de todos os restantes partidos, parece que se esforçou por fomentar, faz “tábua rasa” desses preceitos teológicos e tal como afirmou o imã Abu Sayed em entrevista ao Diário de Notícias, não tem dúvidas de que a construção da Mesquita para as Comunidades do Bangladesh e Paquistão acontecerá mais cedo ou mais tarde. «Será construída e aqui, onde vivemos e trabalhamos» (sic). Enquanto portugueses, cristãos ou até mesmo aqueles que não têm religião, não queremos nem podemos aceitar pactuar com a ignorância e a barbárie. O multiculturalismo falhou rotundamente, foi denunciado há mais de dez anos pelos principais actores políticos europeus e as suas respectivas sociedades estão conscientes de que não é mais solução. O Primeiro-Ministro inglês David Cameron, em 2012, no discurso que proferiu na Conferência de Segurança de Munique, deu o seu ponto de vista sobre o tema “sob a égide da doutrina do multiculturalismo de Estado temos encorajado culturas diferentes a viver vidas separadas, afastadas umas das outras e afastadas da corrente dominante” e concluiu “temos até tolerado que essas comunidades segregadas se comportem de forma que vão completamente contra os nossos valores”. Posteriormente, outros líderes europeus, como os primeiros-ministros franceses e espanhol, reforçaram o falhanço do Multiculturalismo. Vejo com enorme preocupação que o Martim Moniz, local histórico e simbólico da cidade de Lisboa, esteja a tornar-se um foco de crescimento do islão radical que tem como propósito a instauração da “Sharia”. É absolutamente intolerável continuar a permitir o avanço de costumes e práticas contrárias à nossa Democracia Liberal, desde logo o tratamento vexatório dado às mulheres onde são admitidos e praticados crimes de honra e a mutilação genital feminina. Na Europa do Séc. XXI, e numa Capital Europeia, não podemos deixar replicar o que aconteceu em inúmeros bairros de Londres, Bruxelas, Amsterdão e Paris. Nesta última cidade, no bairro de Saint Denis, está o panteão das primeiras dinastias francas. Na magnífica catedral que dá o nome à povoação está o túmulo de Carlos Martel, grande defensor da Europa Cristã e vencedor da Batalha de Poitiers (ano de 732) contra o avanço dos muçulmanos. Pois neste local a população muçulmana é cerca de 70% e cada vez menos franceses a frequentam, abandonando resignadamente os seus heróis nacionais e a sua história à sua sorte. Devemos fazer TUDO POR TUDO para que em memória de Martim Moniz, grande herói da conquista de Lisboa aos árabes não aconteça o mesmo. E nem podemos aceitar que o nosso Património Histórico e Arquitectura possam ser arrasados para a construção de locais de culto fomentadores de ódio contra a nossa Cultura, Tolerância, Respeito e Civilização. A verdade é que temos de impor, quanto antes, a ordem para evitar atropelos e vergonhas da parte desta “imigração” que nos «entrou pela porta dentro» oriundos do Bangladesh, Paquistão, Neparl e Índia. Haja coragem e determinação politica. Doa a quem doer. Nós apelamos veemente. NGANI, 21 de Outubro de 2024 PUBLICIDADE

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