Thursday, August 3, 2023

Porque Fecharam as Empresas Moçambicanas?

Gabriel Muthisse
1 de Dezembro de 2019 ·

Porque Fecharam as Empresas Moçambicanas? - A História da Pequena Borboleta (Conclusão)
Há uma história que me lembra outra contada na minha infância em Madzucane e que me parece apropriada para fechar esta série. Voltei a encontra-la num site electrónico que frequento (Mozambiqueonline). É a história da pequena borboleta. A história ensina que, num belo dia, um homem bondoso viu uma pequena abertura que começava a se evidenciar num casulo. O nosso homem, que não devia ter muita coisa para fazer, sentou-se a observar como, durante horas, uma borboleta se esforçava por passar pelo pequeno buraco do casulo. No início parecia que estava a correr tudo bem. Devia ser, no entanto, o entusiasmo de todos os movimentos pioneiros, de todas as ideias novas e, no caso da borboleta, o entusiasmo que emanava do chamado para a nova vida que se enunciava. Só que, a partir de determinada altura, a pequena borboleta pareceu ter cessado de empreender qualquer esforço. Estava aparentemente exausta e sem força para continuar a lutar pela vida. O nosso homem, que como eu disse, era bondoso, decidiu ajudar a borboleta: ele pegou num canivete e aumentou o buraco do casulo. A borboleta, então, saiu facilmente. Só que o seu corpo parecia enfezado, estava murcho e as asas careciam de qualquer vigor.
O homem continuou a observar a borboleta, esperando que, a qualquer momento, ela conseguisse abrir e esticar as suas asas, de modo a serem capazes de suportar o corpo e voar como todas as borboletas dignas desse nome. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o nosso homem nunca foi capaz de entender foi que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura constituíam um passo necessário para que os fluidos do seu corpo passassem para as asas. Na verdade, uma vez fora do casulo com esforço próprio, a borboleta estaria apta a voar.
A ideia que estes parágrafos pretendem transmitir é que cada corpo, natural ou social, há-de, necessariamente, passar por algumas etapas. Pode ser falta de perspectiva histórica almejar que os nossos países tenham, hoje, as empresas sólidas que caracterizam a Europa ou os Estados Unidos, ou que tenham as instituições sólidas que aqueles países tiveram a paciência, repito, a paciência de construir ao longo de vários séculos. Há uma ideia que o penúltimo texto desta série sublinha e é a de que não se podem transpor as instituições e a moral da Europa ou da América do Norte para os nossos países como se de fatos a pronto vestir se tratassem. O que se pretende dizer é que a eficiência e a eficácia institucional que existe nos países ocidentais não há-de ser estabelecida rapidamente nos nossos países por iluminados reformadores com a ajuda de consultores e de organizações internacionais. Terá que resultar dum esforço próprio de crescimento com respeito pelas idiossincrasias locais. De outro modo seremos como a pequena borboleta.
Escrever para os jornais é uma experiência única (e Elísio Macamo é o principal culpado desta minha aventura...). E não há satisfação maior como aquela que ocorre quando, na rua ou na “barraca”, alguém nos interpela para nos informar que tem lido os nossos artigos. Eu nunca supusera que houvesse tanta gente interessada no tipo de abordagens que faço. Na primeira série de artigos tentei problematizar o entendimento prevalecente sobre a corrupção. Nesta última série, pretendi analisar o fenómeno do encerramento das empresas que ocorreram, principalmente após a introdução do PRE.
Há sempre um enorme risco de se ser mal entendido ao problematizar ideias que foram elevadas à categoria de voz do povo. E já vimos que a voz do povo é a voz de Deus. Amigos a quem pedi para lerem estes artigos antes da sua publicação alertaram-me para uma maneira provável de ser mal-entendido. Essa maneira é simples e, no nosso meio intelectual, costuma ser usada para fechar circularmente o próprio debate. É só dizer, com base numa leitura miópica, que o articulista defende a corrupção e desculpabiliza as pessoas que, irresponsavelmente, afundaram as nossas empresas. É muito comum o uso da expressão "defensor da corrupção" para rotular um adversário, de maneira que a discussão deixa o campo das idéias, passando para o ataque contra uma figura estereotipada (um "espantalho", ou "straw man"): por outras palavras, inventa-se uma posição política que é fácil de criticar, e então atribui-se esta posição ao adversário. Algumas vezes esta é uma estratégia consciente e deliberada, mas, muitas pessoas aceitam esta linha de raciocínio simplista como se fosse verdadeira. Algumas pessoas vão ver nestes artigos uma apologia dos nossos próprios males. Se os outros também são corruptos, se as empresas faliram devido a problemas estruturais e se era impossível resistir aos ventos do neo-liberalismo, porque havemos de nos preocupar? Apenas poderia lamentar se os meus artigos fossem entendidos desta maneira.
A ideia de base que esteve por detrás deste exercício era mostrar que uma empresa está inserida numa envolvente institucional, socio-económica, cultural e internacional específicas. Daí o ter pedido emprestado a outras ciências a noção de “perspectiva ecológica”, em que o conjunto das organizações seria visto como um ecossistema no qual o ambiente exerce uma influência poderosa. Esta perspectiva pode ser útil na preparação das empresas moçambicanas para os desafios que a União Aduaneira no âmbito da SADC encerra. A tónica que tem sido adoptada na análise dos encerramentos de empresas que ocorreram a partir dos meados da década de 80 é aquela que se baseia no exame do perfil dos gestores da época, os quais, muitas das vezes, são rotulados de incompetentes e desonestos. Estes artigos tentaram trazer para esta complexa equação outros factores que poderão estar na origem dum fenómeno arrasador que lançou para o desemprego e para a pobreza milhares de moçambicanos.
Basicamente, o fio condutor que enforma estes artigos pode ser enunciado como segue: A abertura económica do nosso país representou um desafio inultrapassável para empresas que haviam surgido num contexto fortemente proteccionista como era a sociedade colonial dos princípios da década de 60. O modelo socialista adoptado nos primórdios da nossa independência não só não corrigiu o velho paradigma proteccionista, como parece tê-lo exacerbado, tendo em conta alguns dos slogans que vigoravam na altura (Contar com as próprias forças). Como se processará, então, a marcha para a anunciada União Aduaneira se não começarmos a ver a empresa em toda a sua complexidade?





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Constantino Pedro Marrengula

Dr Gabriel Muthisse, parabens pelas provocações. Valeu. A história verdadeira deve estar no meio. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra.

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Gabriel Muthisse

Pois





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Soshangane Waka Waka Machele

Dois desafios, senão um, bifurcado me sugerem estas suas lições madoda: um, palestrar estas suas reflexões em ambiente de debate aberto; e documentar para extrair o sumo desse debate-aprendizado, em formato de áudio e vídeo para gerar podcasts, vídeos para transmitir em série (num canal You Tube e partilháveis por whatsapp), e pequenos livros-receita.








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Gabriel Muthisse

Soshangane Waka Waka Machele, não sou bom a organizar esses debates. Mas é boa ideia





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Soshangane Waka Waka Machele

Mais velho, conecta-te aos bons nisso.primo Luis Mucave pega essa onda





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Gabriel Muthisse

Mas lá para Fevereiro...





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Júlio Mutisse

Soshangane Waka Waka Machele o PC Mapengo alterou o roteiro que havia escrito para apresentar ao mais velho depois que leu estas memórias. Ele tem algo na forma há uns meses.








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Miro Guarda

Uff, finalmente consegui ler todos os artigos da série. O amigo Gabriel Muthisse deve aceitar o desafio do Milton Machel e começar essa série de debates ao vivo.
Obrigado pelos textos. Foram de um grande aprendizado.








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Julião João Cumbane está com Egidio Vaz e
37 outras pessoas.
2 de Outubro de 2016 ·



Será sanha por um pedaço da nossa história?!
A autoria do texto que se segue é atribuída a Elísio Macamo (busto à esquerda, nas imagens). Decidi partilhar o texto aqui, porque tem coisas que me incomodam, quiçá por mau entendimento. O meu comentário, algo extenso, vai a seguir ao texto partilhado. Peço a tua opinião.
------ INÍCIO DE TEXTO PARTILHADO ------
Ídolos
Você ganha a verdadeira dimensão do problema dum país e começa a perceber porque não pode estar em paz, quando você vê por todo o lado gente insuspeita, sensata e até pacata a morrer de saudades dum passado que nos trouxe até onde estamos. Gente que fecha a mente aos ensinamentos da história e se agarra a uma versão do passado que outra função não tem do que fustigar a sua indignação pelo que não está bem hoje.
Doi profundamente ver a exaltação dum período da história em que a diferença de opinião era razão de exclusão do convívio patriótico, em que se aceitava a morte de milhares e milhares de compatriotas como o preço a pagar pelas preferências ideológicas dum grupo sem que essas pessoas tivessem tido a oportunidade de decidir se queriam ou não pagar esse preço, em que uma lei podia ser promulgada espontaneamente ao som dum assobio arrogante, em que a punição por crimes económicos (ou de guerra) era, como nos tempos medievais europeus, execução em praça pública, em que se obrigava crianças de escola a ficar horas e horas fechadas num comício a ouvir as lucubrações dum indivíduo, em que o discurso bonito sobre o bem-estar do povo não via nenhuma incongruência na existência de lojas especiais para "dirigentes" que deviam ser, segundo a ideologia oficial, os primeiros nos sacrifícios e os últimos nos benefícios, enquanto o povo minguava, em que, enfim, não havia liberdade de expressão, de religião, de pensamento, de associação, de quase nada.
Quando alguém hoje me diz que é por um Moçambique democrático, respeitador dos direitos humanos e pela boa governação, mas tem saudades dum tempo em que Moçambique não quis ser isso, tenho dificuldades de o tomar a sério. Muitas mesmo. Mas percebo. Doutro modo, não haveria como explicar porque vivemos na confusão. Vem das nossas mentes.
------ FIM DE TEXTO PARTILHADO ------
A seguir vai o meu comentário, extenso.
Eu tenho de dificuldades de compreender a sanha do Elísio Macamo com um pedaço da sua própria história. Samora Machel foi o fundador da primeira república no território que o mundo hoje conhece como "República de Moçambique". Durante 11 anos, Samora Machel dirigiu essa primeira república moçambicana, que entretanto se metamorfoseou para hoje ser "República de Moçambique". No tempo de Samora Machel como seu presidente, esta terra chama-se "República Popular de Moçambique". Foi com este nome que Moçambique nasceu como país e os cidadãos começaram a ter nacionalidade própria, original.
Que eu saiba, todas as repúblicas ou reinos que existem no mundo contemporâneo tiveram cada uma as suas metamorfoses. Algumas começaram por serem feudos; outras, impérios; outras ainda, reinos (e algumas continuam reinos neste momento que estou a escrever); e hoje são repúblicas constitucionais, democráticas, socialistas, federativas, etc. Qualquer uma dessas repúblicas teve momentos tenebrosos. Não celebram esses momentos da sua história por terem sido tenebrosos? Bem, acho que nem por isso.
Então por que Moçambique não iria celebrar a sua história na íntegra? Celebrar a vida e obra de Samora Machel não é considera-lo imaculado; não é dizer que ele foi um Santo. Mesmo os "santos" canonizados não foram esses "Santos". Homem algum neste mundo não comete nenhuma atrocidade; Homem nenhum neste Universo poder ser um verdadeiro Santo. Na minha opinião, celebrar a vida e obra de Samora Machel não é pregar que ele foi ídiolo; não é idolatrá-lo. Celebrar a vida e obra de Samora Machel é simplesmente enaltecer o que ele fez, ou foi, e que o povo se sente bem recordando e quer ver perpetuado como bom exemplo de vida.
Qual é o problema em atribuir-se ao Aeroporto Internacional de Maputo um nome que tenha a ver com um período tenebroso da história da república moçambicana? "Aeroporto Internacional Samora Machel – AISM" não seria um bom nome porquê? Porque na república dirigida por Samora Machel não havia liberdade? Quando, por exemplo, os norte-americanos celebram hoje os 240 anos história da história da sua república subtraem o tempo em que a escravatura era legal em todos os estados que compõem aquela república?
Enfim, o que é que Elísio Macamo quer que os moçambicanos entendam com os argumentos que ele cisma em arrolar contra a parte da sua e nossa história colectiva que corresponde ao período em que Samora Machel foi Presidente de Moçambique? Eu pergunto porque ainda não entendo. Quem sabe, talvez uma explicação pudesse ajudar-me a compreender o ponto que o Elísio Macamo está fazendo com o seu argumento contra as boas recordações dos primeiros 11 anos da república moçambicana, porque ninguém está a dizer que foi tudo bonito?! Chego até a pensar que o Elísio Macamo é obcecado pela liberdade. Só que em Moçambique as pessoas hoje não têm fome da liberdade, mas sim da justiça. O discurso de Samora Machel nesse tempo que Elísio Macamo chama "tenebroso" da nossa história está alinhado com a necessidade dos moçambicanos de matar essa fome pela justiça. Isso explica que Samora Machel seja hoje querido ou idolatrado, apesar de tudo. Afinal o que é preciso para agradar um povo? É ir ao encontro das suas necessidades. Eu até acho que o discurso de Samora Machel deveria ensinar pessoas como Elísio Macamo e aos nossos políticos sobre as verdadeiras necessidades dos moçambicanos. Desde a independência desde país (Moçambique) que a fundamental preocupação da maioria dos moçambicanos NUNCA foi a liberdade, mas sim a justiça. Então façamos justiças combatendo veementemente a corrupção, pois é a corrupção que priva as pessoas da justiça!
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PS: Eu não vejo mérito nos argumentos de Elísio Macamo contra a petição para a atribuição do nome de Samora Machel ao Aeroporto Internacional de Maputo. Por isso, eu assinei a petição. Assinei-a porque não vejo mal nenhum em que o Aeroporto Internacional de Maputo seja chamado "Aeroporto Internacional Samora Machel", se esta for vontade de um número significativo de pessoas. Até porque a iniciativa nem é do Governo de Moçambique, mas sim de uma organização da sociedade civil, nomeadamente o "Parlamento Juvenil". O nome de Samora Machel não só está ligado a coisas más, qual a privação da liberdade que o Elísio Macamo defende com algum equívoco; o nome de Samora Machel também está ligado a boas coisas, qual o seu discurso contra a corrupção que constitui um verdadeiro entrave à liberdade e justiça plenas em Moçambique. Eu sou da opinião de que Samora Machel cometeu injustiças inadvertidamente, lutando pela justiça plena para os moçambicanos. São as boas intenções de Samora Machel que o povo celebra, sem equívocos.










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