Nyusi vai declarar Estado de Emergência, mas...
O Conselho de Estado recomendou ao Presidente, Filipe Nyusi, que declare o Estado de Emergência, no contexto do Covid 19, pandemia cuja curva gráfica em Moçambique ainda está no seu inicio. Nyusi só pode acatar a recomendação. Com a curva da pandemia ainda no inicio, a única forma de evitar-se um contágio em massa é através da imposição de medidas que restrinjam o contacto social entre as pessoas. "Contacto social" é definido como contacto físico, como apertar as mãos, ou contacto não físico, e trocar mais de três palavras.
A probabilidade de Nyusi decidir pela restrição das nossas liberdades individuais é maior, sobretudo quando surgem estudos como o do Prof. Neil Ferguson, do Imperial College, que aponta para números trágicos se o governo não fizer nada (não restringir o contacto social, por exemplo). As projecções de Ferguson e sua equipa apontam para, se o Governo não fizer nada, “entre 61.000 e 65.000 mortes em Moçambique; 94% da população terá a doença e, no pico, 190.000 precisarão de leitos hospitalares, dos quais 32.000 precisarão de cuidados críticos, muito além da capacidade dos serviços de saúde”.
Se o Governo conseguir reduzir os contactos sociais em 45%, “vai reduzir a taxa de infecção para 63% da população, mas as mortes cairiam apenas para 48.000. Se o governo passar à repressão para cortar os contactos sociais em 75% (isolamento ou bloqueio para a maioria das famílias), mas esperar demais (até 500 mortes por semana), 37% da população será infectada, 30.000 moçambicanos morrerão e a demanda hospitalar será de 84.000.”
São projecções terríveis, mas elas devem ser tomadas em conta. O isolamento social coercivo dos cidadãos terá custos económicos e sociais gritantes. Não creio que um “lookdown”, como fez a África do Sul, seja o caminho. Em Moçambique, o Estado não tem meios para impor essa medida. O esforço de guerra em Cabo Delgado tem consumido meios humanos e logísticos em grande número. E ontem circulou um vídeo mostrando dezenas de imigrantes ilegais moçambicanos regressando da África do Sul de forma ilegal (pulando a cerca), uma indicação de que nossa tropa guarda-fronteira está ausente (talvez em Cabo Delgado).
Por outro lado, trancar as pessoas em casa, quando muitas delas nem água e sabão têm (como diz o Joe Hanlon) é uma medida para aturada ponderação. A experiência mostra que a quantidade de famílias que passam fome em Maputo (pobreza urbana) é enorme. Imaginem todas elas trancadas em casa, a moldura de senhoras que vende nos mercados para sobrevivência?
Cremos que Moçambique poder fazer um “lockdown” a meio termo. Meio dia! Nossa posição como país de baixa renda é uma calamidade. Ontem, vimos um vídeo onde uma senhora chorava porque os preços de alimentos básicos tinham subido exponencialmente nos bairros suburbanos de Maputo. Imaginem com um “lockdown” à bruta, num contexto de abastecimento em bens essenciais limitado?
(Marcelo Mosse, cartamz.com)
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