Editorial
Crise sem precedentes pode obrigar a mudanças no regime
No dia anterior a ter sido anunciada oficialmente a formalização de nova candidatura de José Eduardo dos Santos à liderança do MPLA, o Supremo Tribunal do país mandou libertar os 17 activistas que estavam presos há um ano. Foi uma libertação inesperada, apesar de os próprios nunca terem desistido de lutar pelos seus direitos e das campanhas internacionais terem conseguido manter o tema dos direitos humanos naquele país, quer no radar das grandes organizações humanitárias, quer em cima da mesa das mais importantes chancelarias mundiais, cujo apoio é vital para o regime de Luanda evitar o isolamento externo e recuperar da difícil situação económica em que se encontra.
Talvez por isso é muito curioso observar, agora, o esforço da justiça angolana para retirar deste processo toda a carga política que ele tem desde 20 de Junho de ano passado, dia em que ocorreram as detenções, quando os activistas estavam reunidos a debater um texto intitulado Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura. Filosofia Política da Libertação. Ainda ontem, Rui Mangueira, ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, afirmou: “Nós continuamos a dizer que este caso é essencialmente técnico-jurídico, não há questões de natureza política nesta situação”. Esqueceu-se, no entanto, que os activistas foram condenados, em Março, pelos crimes de “actos preparatórios de rebelião e de associação de malfeitores”. Além do mais, o Ministério Público acabou por deixar cair a acusação de que estavam a planear um atentado contra o Presidente, o que talvez tenha sido o primeiro sinal premonitório do desfecho de ontem.
Aliás, sinais é o que não tem faltado na política angolana, todos sintomaticamente emitidos a partir do Futungo de Belas, residência oficial do Presidente da República. Primeiro com o anúncio, em Março, de que se pretende retirar da política em 2018; depois, com notícias cada vez mais insistentes sobre a possibilidade de Isabel dos Santos vir a integrar o Comité Central do MPLA, no próximo congresso do partido, marcado para Agosto. Pelo meio, ficam as críticas duras (e surpreendentes) de José Eduardo dos Santos à forma como têm sido geridas as empresas públicas, feitas numa importante reunião do partido. Mas a política de Luanda está longe de ser linear e as palavras dos seus dirigentes não devem ser levadas à letra, porque todos se vão atropelando neste permanente jogo de sombras em que se transformou um partido que está no poder há mais de 40 anos. Daí o cepticismo com que foi recebido o anúncio de Eduardo dos Santos. Já aconteceu antes, a história pode repetir-se. A novidade é que há um quadro de crise sem precedentes no país e, nestas circunstâncias, o regime pode ser obrigado a uma certa abertura para manter o controlo da situação. Não será por acaso que o nome de Isabel dos Santos é atirado para a ribalta política. A filha do Presidente pode ser o rosto ideal para cortar com a Angola dos generais e protagonizar a ideia de um país mais moderno e cosmopolita. Às vezes, basta parecer que algo muda…
Talvez por isso é muito curioso observar, agora, o esforço da justiça angolana para retirar deste processo toda a carga política que ele tem desde 20 de Junho de ano passado, dia em que ocorreram as detenções, quando os activistas estavam reunidos a debater um texto intitulado Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura. Filosofia Política da Libertação. Ainda ontem, Rui Mangueira, ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, afirmou: “Nós continuamos a dizer que este caso é essencialmente técnico-jurídico, não há questões de natureza política nesta situação”. Esqueceu-se, no entanto, que os activistas foram condenados, em Março, pelos crimes de “actos preparatórios de rebelião e de associação de malfeitores”. Além do mais, o Ministério Público acabou por deixar cair a acusação de que estavam a planear um atentado contra o Presidente, o que talvez tenha sido o primeiro sinal premonitório do desfecho de ontem.
Aliás, sinais é o que não tem faltado na política angolana, todos sintomaticamente emitidos a partir do Futungo de Belas, residência oficial do Presidente da República. Primeiro com o anúncio, em Março, de que se pretende retirar da política em 2018; depois, com notícias cada vez mais insistentes sobre a possibilidade de Isabel dos Santos vir a integrar o Comité Central do MPLA, no próximo congresso do partido, marcado para Agosto. Pelo meio, ficam as críticas duras (e surpreendentes) de José Eduardo dos Santos à forma como têm sido geridas as empresas públicas, feitas numa importante reunião do partido. Mas a política de Luanda está longe de ser linear e as palavras dos seus dirigentes não devem ser levadas à letra, porque todos se vão atropelando neste permanente jogo de sombras em que se transformou um partido que está no poder há mais de 40 anos. Daí o cepticismo com que foi recebido o anúncio de Eduardo dos Santos. Já aconteceu antes, a história pode repetir-se. A novidade é que há um quadro de crise sem precedentes no país e, nestas circunstâncias, o regime pode ser obrigado a uma certa abertura para manter o controlo da situação. Não será por acaso que o nome de Isabel dos Santos é atirado para a ribalta política. A filha do Presidente pode ser o rosto ideal para cortar com a Angola dos generais e protagonizar a ideia de um país mais moderno e cosmopolita. Às vezes, basta parecer que algo muda…
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