Oposição critica as medidas e duvida da sua eficácia. Réplicas constantes (já foram 657) do sismo de sábado mantêm o clima de medo.
O Presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou um significativo aumento de impostos para enfrentar as consequências económicas do forte sismo queabalou o país no sábado passado, causando 587 mortos e mais de oito mil feridos.
"A reconstrução será longa, mas juntos vamos superar esta tragédia", disse o Presidente Rafael Correa num comunicado ao país. No entanto, perante uma economia estagnada pela queda do preço do petróleo e agravada pelo terramoto, a eficácia de um aumento de impostos foi posta em causa pela oposição.
Entre as novas medidas destaca-se o aumento de dois pontos percentuais do IVA, que passa de 12 para 14% já no ano que vem. Os trabalhadores que tenham um vencimento mensal de mil dólares (cerca de 876 euros) vão descontar um dia do seu salário por mês; os que ganhem dois mil dólares o equivalente a dois dias de trabalho; e assim sucessivamente até um limite máximo de cinco dias por mês, explica o jornal espanhol El País. Será ainda criado um imposto único sobre as fortunas superiores a um milhão de dólares (885 mil euros), correspondente a 0,9 % da riqueza.
O Presidente equatoriano estima que os danos causados pelo sismo rondem custos na casa dos três mil milhões de euros e espera que estas medidas permitam ao Estado angariar entre 650 milhões e mil milhões de dólares. As áreas afectadas pelo terramoto estarão isentas de impostos.
A oposição não tardou a demonstrar as suas críticas depois de Rafael Correa ter anunciado o aumento dos impostos. O presidente da Câmara de Guayaquil, Jaime Nebot, que pertence ao Partido Social Cristão, considerou que as medidas do Presidente equatoriano são uma “tragédia financeira e tributária".
"Vou opor-me e estou em discrepância absoluta com esta nova tragédia financeira e tributária com que se pretende solucionar uma tragédia anterior", disse Nebot ao jornal equatoriano El Universo.
Também o presidente da Câmara do Comércio de Guayaquil, Pablo Arosemena Marriott, alertou para as consequências no sector, considerando que o Governo deveria tomar medidas que baixassem os impostos, de forma a estimular o consumo.
León Roldós Aguilera, que em 2006 concorreu às eleições presidenciais contra Rafael Correa, questionou as medidas e qualificou-as de "oportunistas". "Tanto o aumento do IVA como o imposto nas mais-valias foram documentos trabalhos antes do terramoto. Foi desvendado o projecto que o Governo tinha", disse Aguilera ao mesmo jornal equatoriano.
Ajuda tarda a chegar às zonas afectadas
Enquanto se discutem as novas medidas económicas, a costa do Equador foi novamente abalada, na noite de quinta-feira, por um sismo de magnitude 6 na escala de Richter, na mesma zona onde ocorreu o fortíssimo terramoto do passado sábado. O sismo ocorreu 33 quilómetros a Noroeste da Baía de Caraquez e a uma profundidade de dez quilómetros, segundo informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Não existem, para já, vítimas registados.
Desde sábado já se registaram no país cerca de 657 réplicas, segundo informações do Instituto Geofísico da Escola Politécnica Nacional de Espanha ao El País, que estima que as réplicas possam continuar pelo menos por mais uma semana.
Num país em recuperação que vive com o medo constante de uma nova tragédia continuam as operações de salvamento e de apoio às populações. No entanto, acentuam-se as denúncias de que a ajuda tarda a chegar a todas as zonas afectadas.
Um dos grandes problemas para que a ajuda chegue com maior eficácia às pessoas necessitadas prende-se com o rígido protocolo, que tem atrasado os trabalhos. As doações são recolhidas na sede do Ministério da Inclusão Económica e Social do país, sendo depois enviadas em camiões para as zonas devastadas. Depois, são os militares que repartem os mantimentos pelas famílias, num sistema de porta-a-porta, mas muitas pessoas queixam-se de que a ajuda, simplesmente, não está a chegar.
Numa das cidades mais afectadas pelo sismo do último sábado, Pedernales, são notórias as dificuldades que os seus habitantes, particularmente crianças, enfrentam para ter acesso a ajuda. "Todos nós temos sido marginalizados. Os outros estão a receber coisas, mas nós não", contou à Reuters Darwin Gachila, de 33 anos, com a sua bebé ao colo, acompanhado pela sua mulher e por duas outras crianças na pequena cidade de Cojimies.
Nas ruas acumulam-se as enormes filas de pessoas que procuram receber água e alimentos, e estádios de futebol e aeroportos tornaram-se em abrigos para os desalojados.
O sismo fez 587 mortos e deixou mais de oito mil pessoas feridas. O número de desaparecidos, entretanto revisto em baixa, é de 155, enquanto o número de desalojados ronda os 20 mil, segundo os últimos números do Governo.
Texto editado por Alexandre Martins
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