Clínico terá descoberto tudo e denunciou crime ao procurador em Braga. Acabou por se suicidar dias depois em circunstâncias suspeitas.
Foi um médico do Hospital de São João, no Porto, que lançou em 2001 as suspeitas de crime no caso da morte de Diogo Macedo, jovem que era “tuninho” (caloiro) da Tuna Académica da Universidade Lusíada de Famalicão, apesar de então estar no quarto ano do curso de Arquitectura. Quinze anos depois, o caso volta a ser notícia porque uma procuradora quer que a mãe de Diogo Macedo responda em tribunal por ter identificado aqueles que considera que foram os responsáveis pela morte do filho.
O jovem saiu de casa para ir a um ensaio da tuna e não mais voltou. Ter-lhe-ão prometido que iria finalmente passar a tuno, a hierarquia superior? A mãe acredita que sim. Mas terá, afinal, sido castigado com a obrigação de fazer várias flexões. Isso, porém, não o debilitaria, conhecido que era pelo seu porte de atleta e boa saúde. Praticava desporto. Terá sido também agredido com uma revista no pescoço, tendo-se sentido mal depois e ido à casa de banho. Lá ficou inconsciente. Dezanove jovens estiveram no ensaio, mas ninguém conseguiu em tribunal explicar o que sucedeu. Uma espécie de amnésia total surge patente no inquérito-crime e no processo-cível onde voltaram a ser ouvidos, já por um juiz em tribunal que se indignou com o muro de silêncio.
Na madrugada de 8 de Outubro desse ano, o jovem é transferido do Hospital de Famalicão para o Hospital de São João. Nesta unidade estava tudo a postos para a sua chegada: Luís Filipe Macedo, tio do jovem e médico cardiologista naquela unidade, tinha prevenido o então director clinico do hospital, Luís da Cunha Ribeiro.
Apesar de todos os esforços das equipas médicas para salvar o jovem, as máquinas desligam-se a 15 de Outubro. Diogo morre nesse dia, mas há vários dias que já não tinha apego à vida. Os exames não confirmaram um aneurisma congénito, mas os médicos sabiam que a morte se tinha devido a uma hemorragia cerebral. Por isso, não foi feita autópsia. Justificou-se a morte com um azar.
Trabalho de detective
Os médicos nunca suspeitaram de crime até que Luís da Cunha Ribeiro janta nessa noite com António Guimarães, colega do hospital. Conversam sobre a morte de Diogo e rapidamente Guimarães é arrebatado pelas dúvidas. Tomado pela curiosidade, tenta descortinar o caso como um detective. Faz telefonemas. Fica inquieto. Salta-lhe a dúvida: e se a morte está relacionada com a praxe?
Nessa noite, Guimarães recolhe informações que contrariavam a causa de morte acidental que constava dos documentos oficiais de óbito. Diogo teria, afinal, sido assassinado. O médico não resiste ao ímpeto e, a 16 de Outubro, cerca de duas horas antes do funeral do jovem se consumar, redige uma longa denúncia em documentos cunhados com o seu nome — papel de receitas para aviar — que envia depois por fax urgente para o procurador da República do Ministério Público de Braga.
“Venho por isso formalmente denunciar o que pode ter sido uma morte violenta […] e V.Exa, tenho a certeza, tomará a atitude que a lei exige que tome: impedir o enterramento daquele jovem antes que seja tarde”, escreveu na carta ao magistrado, exigindo a sua imediata acção para que fosse feita uma autópsia. Guimarães, que prometia que não ia descansar enquanto não fosse descoberta a verdade, parecia saber ao pormenor o que tinham feito a Diogo e quem seriam os responsáveis. Nunca se perceberá, contudo, como o conseguiu descobrir. O médico acabou por se suicidar dias depois em circunstâncias suspeitas.
O relatório da autópsia ao cadáver de Diogo Macedo desfia um rol de lesões: um hematoma extenso no cerebelo, uma fractura da primeira vértebra cervical, duas escoriações no lábio, uma escoriação na orelha direita, múltiplas equimoses no tórax, múltiplas equimoses na região lombar e uma equimose no testículo. António Guimarães tinha razão.
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