Acidentes de viação continuam a matar e a mutilar
- pelo menos 1500 pessoas morreram em 2015
Acada dia que passa as estradas
moçambicanos vão
se tornando em autênticos
corredores de morte. Os
números, esses, são simplesmente assustadores.
Só no ano passado, pelo
menos mil e quinhentas (1500) pessoas
morreram vítimas de acidentes
de viação. Para além dessa chacina,
os sinistros, na sua maioria causados
por acção humana, provocaram cerca
de quatro mil (4000) feridos, entre
graves e ligeiros.
Os dados foram divulgados, esta segunda-feira,
em Maputo, pelo ministro
dos Transportes e Comunicações,
Carlos Mesquita, durante a Sessão
do Conselho Nacional de Viação
que decorre na capital moçambicana.
Apesar dos números apresentados
apontarem para uma relativa redu-
ção, quando comparados com os de
2014, que se situaram na ordem de
24 por cento do total dos acidentes
e 22 por cento no que tange ao total
dos óbitos, os números ainda são preocupantes.
Os frequentes casos de acidentes envolvendo
viaturas de transporte colectivo
têm vindo a crescer no país,
semeando dor e luto nas famílias mo-
çambicanas. É um quadro negro que
preocupa a tudo e todos.
“Preocupa-nos a tendência de cada
vez maior envolvimento de viaturas
de transporte público de passageiros
em acidentes de viação violentos”, lamentou
Carlos Mesquita para quem
a sinistralidade rodoviária revela-se
um grande desafio se se tomar em
linha de conta o seu impacto sócio-
-económico e material.
O governante recordou que de Janeiro
a Abril deste ano, em menos de
uma dezena de acidentes de viação
registados e envolvendo veículos de
transporte de passageiros de longo
curso, pelo menos 35 pessoas perderam
a vida. Mesquita destacou o
recente e fatídico acidente ocorrido
na província de Inhambane, concretamente
no distrito de Vilankulo,
localidade de Mavanza, em que um
autocarro chocou, violentamente,
num camião estacionado carregado
de troncos, tendo causado a morte de
15 pessoas e 16 feridos, entre graves
e ligeiros, para além do registo de
avultados danos materiais nas duas
viaturas.
No último fim-de-semana, duas pessoas
morreram vítimas de acidentes
de viação só nas estradas da capital
moçambicana.
Atacar o comportamento
humano
Entretanto, para a redução da sinistralidade
rodoviária no país, o governo
diz que tem como principal
foco o comportamento humano, daí
a necessidade de intensificar as campanhas
de educação e fiscalização. O
facto é que muitos dos acidentes registados
nas estradas moçambicanas
têm como causas o desrespeito pelas
mais elementares regras de trânsito
por parte dos automobilistas.
De resto, o Conselho Nacional de
Viação tem, dentre outros, o papel de
apreciar propostas de medidas para a
redução da sinistralidade rodoviária e
de regulação do ramo rodoviário. Na
sessão que teve lugar segunda-feira
foi apreciado um rol de medidas com
vista à redução de acidentes de viação
em Moçambique.
“Esperamos apreciar, igualmente, um
importante instrumento que vai estabelecer
as regras de aprovação das
marcas e modelos de veículos automóveis
e reboque, instrumento que
vai melhorar a circulação de veículos
que respondam às características
técnicas, melhorando desta forma a
segurança no transporte de pessoas
e bens”, referiu Carlos Mesquita,
acrescentando que tal instrumento
torna-se pertinente tendo em conta
o crescimento vertiginoso do parque
automóvel no país. Aliás, actualmente
estão registados no país cerca de
600 mil veículos e, mensalmente, são
registados cerca de três mil veículos.
Para além do Ministério dos Transportes
e Comunicação, O Conselho
Nacional de Viação é um fórum que
integra os ministérios do Interior, das
Obras Públicas, Recursos Hídricos
e habitação, da Saúde, dos Assuntos
Jurídicos, Religiosos e Constitucionais,
da Economia e Finanças, da
Educação e Desenvolvimento Humano
e o Ministério da Defesa Nacional.
(Rafael Ricardo),
Empresas participadas pelo Estado
Por Armando Nhantumbo
Apar do elevado endividamento
externo para o
qual o país foi empurrado
pelo governo do Presidente
Armando Guebuza, as contas
internas referentes ao reinado
do “filho mais querido da nação”
também são um manual para economistas.
Tal como os Fundos de
Tesouro mal parados nas mãos da
elite frelimista e outras despesas
realizadas à margem da legislação
orçamental, como denunciamos
ainda este ano, as operações de
saneamento financeiro de empresas
participadas pelo Estado
no exercício económico de 2014
estão prenhes de graves inconsistências
que sugerem uso predador
do dinheiro do povo. São
rios de dinheiro do erário público
aplicados à margem da lei e que
levaram o Tribunal Administrativo
(TA) a emitir novos recados,
expressando insatisfação. Se em
alguns casos o governo não sabe
justificar o dinheiro por si usado,
em outros simplesmente mentiu,
como quando afirmou que aplicara
386,2 milhões de Meticais
no aumento da participação do
Estado no capital social do Banco
Nacional de Investimentos
(BNI), SA e na empresa Riopele
(esta última ligada a Guebuza),
quando, na verdade, as despesas
realizadas nestas duas sociedades
consistiram no pagamento de juros
de empréstimos que o BNI e
a Riopele contraíram no Millennium
bim.
De acordo com o Relatório e Parecer
do TA sobre a Conta Geral
do Estado (CGE) de 2014, o
Saneamento Financeiro em empresas
participadas pelo Estado
consumiu, em 2014, 337.450 mil
Meticais, dos quais 328.870 mil
Meticais através do Instituto de
Gestão das Participações do Estado
(IGEPE) e 8.580 mil Meticais
através da Direcção Nacional do
Património do Estado (DNPE).
Mas as disparidades entre os nú-
meros constantes da CGE 2014 e
das auditorias realizadas pelo TA
encerram em si um uso criminoso
do dinheiro do povo.
Por exemplo, na CGE constam
376.250 mil Meticais de aplica-
ções financeiras realizadas pelo
IGEPE. Porém, da auditoria realizada
ao próprio IGEPE pelo
TA, só foram apurados documentos
comprovativos de 328.870 mil
Meticais.
A respeito desta diferença, o Governo
afirmou que se refere aos
pagamentos dos compromissos assumidos
pelo Estado nas empresas
Mabor, SA, Sogir, SA e Scanmo,
no âmbito das Operações Financeiras
Activas. Só que, considerados
os justificativos dessas três
empresas, o valor é de 359.615 mil
Meticais, continuando a existir
uma diferença. Ou seja, o Governo
não foi capaz de justificar 16. 635
mil meticais que o próprio executivo
subtraiu do erário público.
Ainda assim, o Governo refere-
-se ao dispêndio de 293,6 milhões
de Meticais no pagamento de indemnizações
aos trabalhadores da
Empresa de Construções e Manutenção
de Estradas e Pontes (ECMEP)
e da Empresa de Aluguer
de Equipamentos (EAE), mas a
auditoria apurou 309.5 milhões de
Meticais, existindo uma diferença
de aproximadamente 16 biliões de
meticais a mais relativamente ao
que estava orçamentado.
“Foram orçamentados 293.629,6
mil Meticais para as ECMEP´s e
EAE´s, destinados ao pagamento
de salários em atraso aos trabalhadores
e indemnizações aos ex-
-trabalhadores destas empresas. A
despesa executada, no pagamento
desses passivos laborais, foi de
309.491,6 mil Meticais, o que corresponde
a 15.862,1 mil Meticais,
acima do valor orçamentado”, refere
o TA que lembra que a mesma
irregularidade de sobre-execuções
sucedeu no exercício económico
de 2013.
Na resposta, o executivo disse que
a diferença se deve ao facto de o
Estado usar o Regime Contabilístico
de caixa, enquanto o IGEPE
actua no quadro do Regime Empresarial.
Por outro lado, o Governo terá
informado no seu Relatório sobre
os Resultados da Execução Or-
çamental que despendeu 386,2
milhões de Meticais no aumento
da participação do Estado no capital
social de duas empresas, sendo
378,2 milhões de Meticais no
Banco Nacional de Investimentos
(BNI), SA e 8 milhões de meticais
na empresa Riopele.
Contudo, da auditoria realizada ao
IGEPE referente ao mesmo exercício
económico de 2014, a AT
apurou que as despesas realizadas
nestas duas sociedades consistiam
no pagamento de juros de empréstimos
contraídos no Millennium
bim.
Ou seja, ao referir-se ao aumento
de participações do Estado no
BNI e na Riopele, o Governo simplesmente
mentiu para encobrir
a liquidação de dívidas que estas
duas instituições tinham com a
banca.
Mais do que isso, o valor de 378,2
milhões de Meticais, referente ao
BNI, aludido no Relatório sobre
os Resultados da Execução Or-
çamental, difere do montante de
379,6 milhões de Meticais, apurado
no decurso da auditoria realizada
ao IGEPE, do pagamento de
juros dos empréstimos, existindo
uma diferença de 1,4 milhões de
Meticais.
Chamado a responder, o Governo
reconheceu o desembolso de 379,6
milhões de Meticais, entretanto,
justificou que desse montante,
378,2 milhões de Meticais foi com
recurso a fundos da Direcção Nacional
do Tesouro, no âmbito das
Operações Financeiras Activas,
enquanto 1,4 milhões de Meticais
foi com recurso aos fundos da receita
do IGEPE.
Empresa de Guebuza
Em relação à Riopele, uma empresa
ligada ao antigo Presidente mo-
çambicano, Armando Guebuza, o
executivo afirmou, em sede de contraditório,
que a Riopele era uma
sociedade participada pelo Estado
e que, no âmbito da preparação do
novo contracto, o Estado teve de
proceder com o saneamento da
sociedade, tendo na sequência assumido
a dívida que esta sociedade
possuía junto à banca, pelo que a
dívida e os respectivos encargos
passaram para a responsabilidade
do Estado, resultando em aumento
do capital social do Estado junto à
sociedade, à data da operação.
A fábrica têxtil Riopel, localizada
no distrito de Marracuene, província
de Maputo, foi adquirida pelo
consórcio Mozambique Cotton
Manufacturers (MCM), constituído
pelas empresas portuguesas
Mundotêxtil, Mundifios e Crispim
Abreu e pela moçambicana
Intelec Holdings, esta última que
para além de Armando Guebuza,
tem na sua estrutura accionista outro
membro da Frelimo, o empresário
Salimo Abdula.
Por outro lado, o Governo referiu
que foram efectuadas despesas em
outras operações activas, entre as
quais 31,3 milhões de Meticais no
suprimento das empresas Mabor,
Sogir e Scanmo, 9,2 milhões de
Meticais no suprimento da fábrica
de anti-retrovirais, 4,5 milhões de
Meticais no projecto de requalificação
da Polana Caniço, 2,5 milhões
de Meticais no suprimento
da empresa Autogás, 2,0 milhões
de Meticais no suprimento da empresa
Mosaico do Índico, SA e 1,9
milhões de Meticais no suprimento
da Indústria Moçambicana de
Aço.
São números que também diferem
dos apurados pela equipa de auditoria,
divergências que em alguns
casos constituem pagamentos a
mais e, noutros, pagamentos a menos,
relativamente às suas dotações
orçamentais, não tendo, embora
solicitados, sido facultados os correspondentes
processos que justificassem
essas divergências.
Relativamente a este ponto, o Governo
respondeu que a informação
disponibilizada pelo IGEPE inclui
valores pagos através de fundos
próprios do IGEPE, resultando
daí diferenças a mais relativamente
ao valor reportado na GCE e,
para os casos em que a diferença é
a menos, ficaram omissos, no quadro,
à data de auditoria ao IGEPE.
A lista das inconsistências e violação
à legislação orçamental é
simplesmente longa. Apesar do n°.
2 do artigo 15 da Lei n°. 9/2002,
de 12 de Fevereiro, prescrever que
“nenhuma despesa pode ser assumida,
ordenada ou realizada sem
que, sendo legal, se encontre inscrita
devidamente no Orçamento
do Estado aprovado, tenha cabimento
na correspondente verba
orçamental e seja justificada quanto
à sua economicidade, eficiência
e eficácia”, o TA detectou despesas
não orçamentadas no valor de
320, 86 mil Meticais, sendo 303,
36 mil Meticais para o Complexo
Industrial de Chókwè e 17,5 mil
Meticais para a empresa Magma.
Trata-se de despesas que não estão
reflectidas no balancete de execução
do IGEPE. Curiosamente,
ainda em 2014, cerca de 800 trabalhadores
da Magma, a antiga
empresa Minas Gerais de Mo-
çambique, invadiram a Mina de
Muiane, onde tomaram de assalto
as instalações onde funciona a empresa
Tantalum Mineração, como
forma de pressionar o Governo e
resolver as suas indemnizações.
Para o Tribunal que fiscaliza as
contas públicas moçambicanas, a
“inconsistência verificada entre os
dados reportados na GCE e os
apurados durante a auditoria constitui
inobservância do estatuído no
n°. 1 do artigo 46 da Lei n°.9/2002,
de 12 de Fevereiro, segundo a qual
a CGE deve ser elaborada com
clareza, exactidão e simplicidade,
de modo a possibilitar a sua análise
económica”.
Ainda no exercício económico de
2014, o Estado gastou 8.580 mil
meticais no saneamento financeiro
de empresas através da DNPE.
Por outro lado, e à semelhança do
que tem acontecido nos anos anteriores,
são significativas as diferen-
ças entre os valores registados na
CGE e os indicados pelo IGEPE,
do capital social das empresas e
das participações do Estado.
No exercício económico 2014, por
exemplo, essas diferenças atingiram
1.508.618 mil Meticais, no
Capital Social, e 772.579 mil Meticais
e 505.602 mil Meticais, respectivamente,
nas Participações do
Estado e do IGEPE.
A este respeito, o Governo afirmou,
em sede de contraditório,
que “o IGEPE lançou em 2015
o SISMAP – Sistema Integrado
de Monitoria e Avaliação das
Participações, de forma a sanar
as anomalias registadas, melhorar
o registo dos dados referentes às
participações do Estado, permitir a
actualização atempada da situação
financeira e patrimonial, incluindo
eventuais alterações nas mesmas”.
Argumentou igualmente que “o
IGEPE vem paralelamente desenvolvendo
um trabalho no sentido
de fazer um levantamento exaustivo
de todas as participadas do
Estado, incluindo as que estão sob
controlo dos Ministérios e outros
entes públicos, como forma de
assegurar o pleno controlo destas
sociedades.
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