Hofer vai à segunda volta, mas esta vitória prova a capacidade de a crise dos refugiados "provocar ondas de choque a toda a Europa".
O candidato da extrema-direita é o claro vencedor das presidenciais deste domingo na Áustria, segundo indicam as primeiras projecções. Norbert Hofer não está, no entanto, dispensado de uma segunda volta, marcada para 22 de Maio.
Hofer, do Partido da Liberdade da Áustia (FPÖ), candidatou-se com uma agenda anti-imigração e anti-Europa. Terá conseguido 36% dos votos, segundo a projecção do canal ORF, com base em sondagens à boca das urnas. Este é o melhor resultado do partido numas eleições nacionais desde a II Guerra Mundial, e é bastante mais elevado do que previam os estudos de opinião. O jornal Financial Times escreve que esta "vitória poderosa" vem mostrar a capacidade de a crise dos refugiados "provocar ondas de choque a toda a Europa".
Ainda não é totalmente claro se Hofer irá concorrer contra o veterano do Partido dos Verdes, Alexander van der Bellen (a quem as primeiras sondagens dão 19,7%), ou o antigo juiz do Supremo Tribunal, o independente Irmgard Griss (com 18,8%).
Os dois grandes partidos que têm ocupado o poder desde 1945 ficaram eliminados nesta primeira votação. Os candidatos social-democrata Rudolf Hundstorfer e o conservador Andreas Khol foram excluídos com cerca de 11% dos votos cada um.
Este é um resultado inédito para os partidos que governam o país em coligação desde 2007. E ainda que o cargo de Presidente seja sobretudo honorífico, o resultado é um revés para o chanceler Werner Faymann (do SPÖ) e o seu vice Reinhold Mitterlehner (do ÖVP).
Cerca de 6,4 milhões de eleitores foram chamados às urnas para escolher o sucessor do social-democrata Heinz Fischer, que termina agora o seu segundo mandato. Segundo os politólogos, era previsível que fossem penalizar o Governo, desgastado pela crise dos refugiados e por uma subida do desemprego.
Norbert Hofer, de 45 anos, é vice-presidente do Parlamento e representa a ala “liberal” do seu partido – terá beneficiado ainda de um recentramento da imagem do FPÖ, que nas eleições locais do ano passado conseguiu 30% dos votos.
Na Áustria, o Presidente é o chefe das Forças Armadas e pode, em certas circunstâncias, dissolver o Parlamento. Foi isso que Hofer ameaçou fazer no decorrer da sua campanha, caso a maioria não seguisse as suas recomendações sobre como responder à crise dos migrantes. Hofer afirmou em comícios que a Áustria, que recebeu centenas de milhares de refugiados, "não é o departamento social do mundo", e que o islão não pode fazer parte da cultura austríaca.
O analista Franz Schellorn, director do think tank Agenda Austria, comenta ao Financial Times que a questão dos refugiados se tornou central. "Não podemos simplesmente dizer que vamos lidar com isto, que não há problema. Esta é uma lição que nos dá a Áustria".
O mesmo diário prevê que uma vitória de Hofer vá abrir uma crise política no país, especialmente se tentar dissolver o Parlamento. Para já, fica provada a desconfiança dos austríacos nos partidos do establishment. "O sistema, tal como o conhecemos, chegou ao fim", comenta o analista político Thomas Hofer. "Há uma enorme frustração como se vê com estes resultados".
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