sexta-feira, 15 de abril de 2016

Alternativas

Quando você vive num país em desenvolvimento a sua vida resume-se a duas opções essenciais. Ou você está bem, ou você não está bem. Se está bem, você não tem que se preocupar. Mas se está mal, você tem de novo duas opções. Você vai passar mal, ou vai se safar de alguma maneira. Se vai se safar (por exemplo, montando ONG, lambendo as botas do poder, roubando, ou beneficiando de “booms” fátuos que nem você sabe donde vêm), então não precisa de se preocupar. Mas se vai passar mal, você volta a ter duas opções. Ou morre em consequência disso (para encurtar a história), ou então consegue uma saída miraculosa. Se consegue uma saída miraculosa (não faço ideia como, talvez como deputado), então você não precisa de se preocupar. Mas se morre, não vai poder se preocupar na mesma…
Moral da história: quem vive toda a sua vida sem nenhuma noção de tudo quanto acontece nos bastidores do mundo para que ela seja como ela é, reage à realidade como vítima. Há muita gente na Pérola do Índico que não tem nenhuma noção do país em que vive. Confunde a obra do acaso com a essência das coisas e, pior ainda, com o mérito próprio. Há muita gente com um nível de vida com o qual muita gente em posição social semelhante em países com economias mais sólidas só sonha, que acredita profundamente nas suas próprias qualidades excepcionais. Essa gente nunca achou a sua própria condição estranha num país como o que nele vive. Quando a realidade bate à porta essa gente responde ao seu instinto procurando desenfreadamente por bodes expiatórios. Nessa altura lembra-se de todos os outros que sofrem, solidariza-se com eles e esquece que esses outros nunca conheceram outra sorte senão essa. Não sei se vem a propósito, mas Amílcar Cabral escreveu sobre algo semelhante quando ao rejeitar a “negritude” e seu apelo para o retorno às raízes notou que a esmagadora maioria do povo nunca tinha abandonado as raízes…

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